Pesquisa recente feita nos Estados Unidos trouxe uma informação aterradora: 92% dos bebês portadores de síndrome de Down são abortados, quando os pais descobrem a doença. Por conta disso, algumas igrejas fizeram uma campanha baseada no cartaz abaixo: a imagem é de uma linda criança com Down e o texto diz "eu sou um dos 8%".
Confesso que chorei por dentro quando vi esse material, ao pensar no desperdício de vidas e na dureza dos corações de 92% desses pais. Mas aí me lembrei da frase de Jesus, que abre este post. Nela, Ele nos adverte para não julgar o próximo com dureza e olhar antes para nossos próprios defeitos.
Fiquei imaginando então o que eu teria feito, lá por volta dos meus trinta anos, se tivesse recebido a notícia de que iria ter um filho portador de uma necessidade especial. Teria recebido bem essa criança? Como eu nasci num meio cristão, gostaria de acreditar que não teria pensado em aborto. Mas, no fundo, bem lá no fundo, eu não tenho essa certeza.
Eu me julgava importante, poderoso, no sentido que até então somente tinha tido sucesso em tudo. E um filho portador de deficiência seria uma prova viva do meu “fracasso”, da minha pequenez. E não sei se eu teria conseguido suportar isso.
E ainda há a questão do comodismo: como eu reagiria ao pensar no trabalho contínuo, trabalho esse que não iria acabar nunca? Afinal, um filho especial não é um problema que se supera - ele estará ali presente, requerendo cuidados e atenção, por toda a vida.
Deus foi bom comigo e me permitiu aprender que as coisas não são assim. E aprendi muito ao ter o privilégio de conviver com várias dessas pessoas, ditas especiais. Tenho podido ver como elas são mesmo especiais, mas num sentido muito mais amplo da palavra. A inocência presente nos olhos delas e o amor incondicional que são capazes de sentir, fazem sim delas pessoas diferenciadas e muito mais próximas de Deus.
Nas aulas de Escola Dominical que ministrei na igreja que frequento, sempre, ao final, eu corria a roda perguntando às pessoas por pedidos de oração, para que todos, juntos, pudéssemos orar por essas necessidades.
Frequentemente, estava presente uma moça, portadora de necessidades especiais, porque a aula que ela assistia terminava mais cedo e ela vinha ficar junto a sua mãe, uma amiga querida. Ao chegar na vez dessa moça pedir algo, ela sempre dizia: “peço pelo papai”. E o amor que eu via nos olhos e no sorriso discreto daquela moça, era algo maior do que ela mesma. E tenho certeza que aquele pai nunca foi, nem será amado por ninguém, com tanta entrega, como por aquela filha.
Então, voltando à pesquisa que abriu esta reflexão, parece-me que falta aos 92% dos pais, àqueles que resolvem tirar das suas vidas as crianças com necessidades especiais, o conhecimento e a vivência do amor de Deus. E isso é algo que as pessoas precisam ser ensinadas a fazer.
Por isto, nós, cristãos, não podemos nos limitar a apontar o dedo acusador para esses 92%, porque temos temos parte de responsabilidade nessa tragédia. Afinal, cabe a nós refletir o amor de Deus neste mundo e espalhar a mensagem do Evangelho de Jesus, de forma que todos possam ouvir e entender. E, muitas vezes, temos ficado calados, na nossa zona de conforto, sem cumprir com nossa obrigação.
Com carinho