terça-feira, 4 de abril de 2017

SER JUSTO É UMA COISA. QUERER SE JUSTIFICAR É OUTRA

Felipe Moura é psicanalista e especialista na Bíblia Hebraica (Velho Testamento). Escreve neste site na condição de convidado. 
E disse Saul: De Amaleque as trouxeram; porque o povo poupou ao melhor das ovelhas, e das vacas, para as oferecer ao Senhor teu Deus; o resto, porém, temos destruído totalmente. 1 Samuel capítulo 15, versículo 15
Imagine-se olhando para o rei Saul após a grande vitória de Israel sobre um de seus principais inimigos (os amalequitas). O povo estava feliz e orgulhoso, e o rei falava sobre tomarem tudo do bom e do melhor para oferecer ao Senhor.

Muito provavelmente a maioria de nós olharia para o rei Saul e diria que ele era uma pessoa justa e com grande amor pelo Criador. Mas as aparências enganam.

Existem dois tipos de pessoa com quem você se depara diariamente: Aquelas que tentam ser justas e aquelas que tentam se justificar. O rei Saul se insere na segunda categoria.

Saul não via as palavras do Eterno como sendo uma oportunidade de servi-Lo, mas sim de se servir. Ele pensava primeiro no que desejava, para depois tentar se justificar.

Saul queria se dar bem. A partir daí, procurou a desculpa necessária para se sentir bem consigo mesmo. Mas, isso não é ser justo. É procurar se justificar.

Recordo-me de um líder religioso que se envolveu num caso extraconjugal. Ao ser confrontado, passou a tentar se justificar com base no fato da Bíblia não proibir poligamia.

Independente da questão da poligamia ser certa ou errada – o que não estou discutindo aqui – a atitude daquele líder foi errada.

Ele não procurou a Bíblia para saber o que fazer. Ele queria fazer e procurou a Bíblia para se justificar. E a Bíblia é grande o suficiente para que se justifique quase qualquer coisa. Basta ser bom na argumentação.

Mas é quase impossível ao ser humano discernir na outra pessoa se ela é justa ou apenas procura se justificar. Porque a diferença não está na aparência, nem na prática, mas sim no propósito. É uma questão de onde o coração está.

Ironicamente, se você é justo isso não importa! Porque o justo não lê a Bíblia pra julgar o outro, mas sim para ser uma pessoa melhor e mais conectada ao Criador.

Aquele que lê a Bíblia para avaliar o outro está na segunda categoria, pois para ele é importante se justificar, rebaixando aqueles que estão à sua volta.

Isso, portanto, deve ser uma questão de foro íntimo: Como estamos agindo? Como é nossa abordagem ao ler a Bíblia? E o que podemos fazer para nos alinhar ao Criador.

O justo saberá fazer as mudanças necessárias.

Felipe Moura

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