segunda-feira, 24 de dezembro de 2012

UMA MENSAGEM PARA QUEM ESTÁ TRISTE NESTE NATAL

Eu sempre sinto certa nostalgia no Natal, pois lembro das comemorações na casa da minha avó, quando minha irmã caçula ficava esperando o Papai Noel chegar e eu me sentia orgulhoso, porque já sabia que o "bom Velhinho" não existe. Tudo isso passou, como também passaram os maravilhosos almoços de Natal, sempre no dia 25 de dezembro, na casa da minha mãe. Ficou apenas a saudade.

Muitas pessoas também têm momentos de nostalgia no Natal, ao relembrar as coisas boas que passaram. Mas, para muitas outras, o problema é muito mais sério do que uma saudável nostalgia - trata-se de tristeza profunda e cruel. 

E esse sentimento pode vir de famílias irremediavelmente fraturadas, onde as pessoas não podem nem mais comemorar o Natal em conjunto. Ou pode vir de sonhos frustrados pelas circunstâncias da vida, como desemprego, falta de dinheiro, etc. Pode ter vir também de doença incapacitante de alguém querido. Ou ainda pode se dever àquela sensação de profunda solidão ou completo fracasso, que se traduz na chamada “noite escura da alma”.         

É para você, que se sente triste assim neste Natal, que escrevo este texto. E escrevo porque sei bem como é terrível estar triste num momento em que o mundo parace cobrar uma grande alegria de todos - "afinal, é Natal", dizem os outros. 

Aí vão então algumas sugestões, testadas por mim na prática, quando enfrentei minha própria “noite escura da alma”:

1) Admita a tristeza para si mesmo e, se necessário, para os outros. Não tente mascarar o que está acontecendo. E deixe claro para os outros que você não quer estragar a comemoração de ninguém, mas que não vai aceitar pressões para “ficar alegre” - ninguém merece enfrentar horas de tortura numa festa, onde não quer estar.

2) Faça um bom exame de consciência sobre a causa dessa tristeza. O que deu errado? Em alguns casos isso é evidente. Mas, é muito comum que sentimentos como raiva, angústia, inveja e medo estejam sejam difíceis de identificar e “organizar” na mente.

3) É aí que entra a Deus: fale com Ele e abra seu coração. Diga tudo que vai na sua alma - não precisa usar meias palavras, pois Ele já sabe mesmo de tudo. Ao falar, você estabelecerá um vínculo espiritual com Ele, como aquele que existe entre dois confidentes, e isso é muito importante.  

4) Peça ajuda para Ele e reconheça sua dependência total d´Ele. E insista: fale com Deus mais de uma vez - isso foi o que Jesus nos ensinou a fazer. Sua insistência demonstrará seu compromisso com uma solução.

5) Tenha confiança que Deus vai vir em seu socorro: não sei quando, nem como, pois Ele não segue a lógica humana. Mas Ele virá a tempo, posso garantir isso para você.

6) Finalmente, esteja atento/a para perceber quando e como a ajuda está sendo dada. Uma vez eu precisava de   certa quantia, para pagar uma prestação de um apartamento - aí por volta de 1990. Vinha orando para que Deus mandasse ajuda. Aí minha madrasta ligou, oferecendo dinheiro emprestado. Minha primeira reação foi dizer que não precisava, pois confiava na solução que viria de Deus. Então ela me disse algo que nunca vou esquecer: “como você sabe que não foi justamente Deus que me enviou para ajudar você”. Portanto, Ele vai ajudar da forma como entende ser a melhor, que não é necessariamente aquela que você imagina. 

Faça da tristeza deste Natal o início de uma nova caminhada, tendo Jesus como guia e protetor. Posso garantir que não há nada melhor.

Com todo o meu carinho, um bom Natal para você

domingo, 9 de dezembro de 2012

O DIVÓRCIO É PECADO?

Esse é um tema muito, mas muito controvertido, entre os cristãos. Hesitei um pouco em me pronunciar sobre ele pois, como sou divorciado, poderia não ter a necessária isenção para tratar dele. Mas, pensando melhor, acho que não posso me furtar a dizer o que penso, mesmo que seja criticado por isso - os leitores deste blog merecem isso de mim.

E quero deixar bem claro, desde o início, que o divórcio não é uma boa saída para os problemas conjugais. Pode ser até a única saída disponível, em determinados casos, mas o divórcio sempre traz sofrimento, tanto para o casal, como para os filhos. E sempre deixará atrás de si a sensação de fracasso, pois o divórcio é exatamente isso - o fracasso de manter uma relação muito importante. Portanto, todo esforço deve ser feito para preservar os casamentos, sempre que possível.

Mas ainda assim é preciso ter uma resposta para as inúmeras pessoas cristãs, como foi meu caso, que se vêem ante o divórcio. Divorciar-se é pecado? Divorciar-se e casar de novo é adultério?

Uma discussão apropriada do tema, em todas as usas nunaces, seria muito longa para o espaço que tenho aqui. Assim, poderei apenas esboçar os principais argumentos para tentar tirar o peso que muitas vezes é jogado sobre os ombros das pessoas, que já sofrem com a separação em si, quando esse ato é rotulado de "pecado" grave.
O que Jesus disse 
A base dessa discussão está em dois textos bíblicos, um de Jesus e outro do apóstolo Paulo e vou começar pelo que Jesus disse. 

Antes de tudo, é preciso entender o pano de fundo para o pronunciamento de Jesus. Em Deuteronômio capítulo 24, versículo 1, a lei que diz que o marido podia se divorciar da mulher no caso de "coisa indecente" praticada por ela. A questão que havia, então, era como definir "coisa indecente" - é importante perceber que a discussão é sempre dos direitos do homem quanto a pedir o divórcio, pois a mulher nunca podia tomar essa iniciativa.

Havia duas escolas rabínicas que competiam entre si: a de Hillel e a de Shamai. Hillel sempre interpretava as leis de forma mais liberal e, quase sempre, Jesus concordava com suas abordagens. E na controvérsia sobre o divórcio, Shamai interpretou a lei dizendo que o divórcio somente poderia ser possível se a esposa fosse infiel ou se deixasse de prover cuidado emocional e material ao marido (Êxodo capítulo 21, versículos 10 e 11). Já Hillel, entendeu que "coisa indecente" se aplicava a muitas situações e, portanto, um homem podia se divorciar até por não gostar da comida da esposa ou por ela ter envelhecido. 

Jesus foi pressionado pelos fariseus a se pronunciar sobre essa controvérsia e ele respondeu da seguinte forma (Mateus capítulo 19, versículo 9): 
"Quem repudiar sua mulher, não sendo por relações sexuais ilícitas, e casar com outra, comete adúlterio (e o que casar com a repudiada comete adultério"
Em outras palavras, Jesus disse que, nesse caso, Ele apoiava a interpretação mais restritiva de Shamai, limitando as razões válidas para divórcio. E a razão foi simples: a posição mais rígida era a que melhor defendia a mulher, a parte mais fraca no casamento.

Infelizmente há muitos que olham para as palavras de Jesus e as tomam ao pé da letra: entendem que Ele proibiu o divórcio, em qualquer situação, exceto em caso de adultério. Mas essa interpretação é muito problemática, pois se levarmos o texto ao pé da letra, a proibição se aplicaria apenas ao divórcio por iniciativa dos homens e as mulheres estariam livres para se divorciar sem restrição, pois elas não foram citadas por Jesus.

Mas é claro que Jesus não se referiu às mulheres porque elas não podiam pedir divórcio e certamente o ensinamento se aplica também a elas. Ora, para chegar a essa conclusão é preciso considerar as circunstâncias em que o ensinamento foi dada e aí a interpretação não é mais apenas ao pé da letra. 

E, se vamos levar em conta as circunstâncias, é preciso considerar a questão entre Hillel e Shamais, que mencionei acima e que Shamais, com quem Jesus concordou, também também admitia como válidas, para fins de divórcio, a negação de cuidados físicos e emocionais. 

Portanto, a melhor leitura do ensinamento de Jesus é: o divórcio não pode ser fator de injstiça, quer contra o homem, como contra a mulher. Quando isso ocorre, o divórcio é pecado. E a injustiça está sempre presente quando não motivo aceitável: infidelidade e negação de cuidados físicos ou emocionais.

O que Paulo disse                                                              (1 Coríntians capítulo 7, versículos 3 a 15)
"O marido conceda à esposa o que lhe é devido e também semelhantemente a esposa a seu marido...Ora, aos casados, ordeno, não eu mas o Senhor, que a mulher não se separe do marido (se, porém, ela vier a separar-se que não se case, ou que se reconcilie com seu marido); e que o marido não se aparte da sua mulher ... Mas, se o descrente quiser apartar-se, que se aparte; em tais casos não fica sujeito à servidão, nem o irmão, nem a irmã; Deus vos tem chamdo à paz."
Paulo começa por dizer que os esposos devem conceder um ao outro o que lhe é devido. E não detalha o que é isso, exceto no que tange aos direitos relacionados com o direito ao sexo. Isso porque todos os leitores daquela época conheciam os textos de Êxodo e Deuteronômio que citei acima, que se referem à fidelidade e obrigação de cuidados físicos e emocionais.
 
A seguir Paulo usa palavras fortes proibindo o divórcio. Mas, pela ordem do texto, onde ele colocou antes a obrigação e depois a proibição, fica claro, a meu ver, que a proibição se aplica desde que a obrigação tenha sido cumprida. Ou seja, se a esposa (ou o marido) cumprir for fiel, der apoio moral e material ao seu marido, é proibido divorciar-se dela. 

O que vemos aqui é Paulo falando mais ou menos o que Jesus já tinha dito: o divórcio por motivos fúteis, é pecado

Mais adiante, Paulo dá uma outra possibilidade que pode ser alegada para pedir divórcio: o abandono de um cônjuge pelo outro. E faz todo sentido, porque um cônjuge abandonado não pode receber apoio material e emocional. 


Ao final, Paulo diz ainda algo de grande importância: Deus nos chama para termos paz! Ou seja, aparece aí um qualificador para o casamento, que permite entender melhor quando é possível pedir divórcio, de forma lícita: onde não há mais esperança de haver paz.  


Palavras finais
Assim, situações onde um dos cônjuges nega ao outro amor, comete abusos emocionais e físicos, trai repetidamente ou abandona, dentre outras, podem caracterizar uma quebra de confiança irrecuperável dentro do casamento. E aí a paz conjugal não mais poderá ser reestabelecida. 

Abre-se, então, espaço para o divórcio, sem que haja pecado, bem como para reconstrução da vida daquele/a que se divorciou com outro/a parceiro/a. 

Concluindo, o divórcio em si não é pecado, desde que haja razões justas para ele. Pecado é aquilo que antecede e justifica o divórcio: desamor, falta de tolerância, quebra da confiança, e assim por diante.

Com carinho