domingo, 29 de dezembro de 2013

AS ENCHENTES NO ESPÍRITO SANTO E MINAS GERAIS

Chega o verão é os desastres causados por chuvas intensas voltam a acontecer. Agora foi no Espírito Santo e em parte de Minas Gerais. Mas, em anos anteriores, aconteceu na região serrana do Rio de Janeiro ou em Santa Catarina. 

Assim, ano após ano, as mortes e a destruição da propriedade da população pobre se repetem. Como também repetem-se as desculpas das autoridades. Primeiro, culpando o tempo, esquecendo-se que chuvas intensas nessa época do ano são perfeitamente normais num clima como o nosso. Depois, alegando que estão tomando todas as providências necessárias e, tempos depois, a imprensa noticia o quão pouco foi feito para reparar os danos - um bom exemplo é a situação de Petrópolis e Itaipava, no Rio de Janeiro, dois anos depois da catástrofe que ali ocorreu. 

O que nunca vejo são autoridades assumindo a responsabilidade pelo que deixaram de fazer: pela falta de sistemas de drenagem adequados, por não removerem o lixo que entope esses sistemas, por não retirarem as pessoas residentes em áreas de risco, dando-lhes um lugar mais seguro para morar, enfim, por não cumprirem sua obrigação.

Impressiona-me muito como a vida humana é "barata" no Brasil. Como a morte ou a perda dos bens das pessoas mais pobres é encarada com tanta naturalidade. Como quase todos os governantes são tão insensíveis.

Como será que esses governantes, permanentemente preocupados apenas com seus jogos de poder e as próximas eleições, podem dormir tranquilos?  O pior é que essas pessoas tornam-se tão insensíveis, com o coração tão "endurecido", que dormem perfeitamente bem, achando que não tem culpa nenhuma. É muito triste, mas é a mais pura realidade.

Fica aqui meu desabafo.

sábado, 7 de dezembro de 2013

O PODER DO PERDÃO

Tempos atrás morreu Nelson Mandela, o Madiba, aos 95 anos de idade. Ele talvez tenha sido o maior líder político mundial das últimas décadas. E sua trajetória, indo de prisioneiro político, até Presidente da República, parece enredo de filme. Mas, sua grande contribuição para a África do Sul foi a política de reconciliação entre as populações branca e negra.

A África do Sul adotou durante séculos uma política oficial de discriminação racial (o apartheid), que deixava os negros, maioria da população local, destituída de boa parte dos direitos políticos e econômicos. E para manter os negros obedientes, os dirigentes do país cometeram muitas e sérias violações aos direitos humanos.

Mas, com o passar do tempo, a política do apartheid foi ficando cada vez mais difícil de manter. A ONU chegou a decretar um embargo econômico contra a África do Sul. E a elite branca finalmente percebeu que seria preciso promover uma abertura política. Os brancos temiam que os negros, ao tomarem o controle do governo, viessem a se vingar, como aconteceu em outros países da África, como a Rodésia (hoje Zimbabwe).

Então, Mandela entrou em cena. Ele estava preso havia décadas, por conta da sua luta contra o apartheid e era um ídolo para os negros. O governo racista o procurou e perguntou se ele toparia conduzir um processo de transição do poder, que desse aos negros os direitos devidos, mas que garantisse a integridade física e econômica da população branca.

Mandela aceitou, mesmo contra a opinião de muitos dos seus seguidores, que estavam sedentos por vingança. Ele foi libertado da cadeia, concorreu em eleições livres e foi eleito Presidente. E tornou-se, a partir daí, o garantidor da paz social na África do Sul.

Mandela teve a grandeza de saber perdoar aqueles que lhe tinham causado sofrimento, pois tinha sido torturado na cadeia. E pregou a conciliação para toda a população. E, por conta da sua forte liderança, os negros aceitaram esse compromisso e a transição foi feita de forma pacífica.

Para facilitar a transição, Mandela instituiu tribunais onde as violações dos direitos humanos cometidas pelos brancos racistas foram reveladas, mas as pessoas que tinham cometido esses delitos não sofreram qualquer punição. A punição foi apenas moral. Assim, quem tinha sofrido violência teve sua voz ouvida, mas isso foi feito sem desequilibrar o delicado equilíbrio político do país.

O famoso autor cristão Philip Yancey fez, num dos seus livros, o relato de uma sessão desse tribunal. Naquela vez, uma mulher negra se levantou para acusar um policial branco de ter matado seu marido e filho e tocado fogo nos corpos deles, tudo isso na presença dela. Ao falar no tribunal, olhando para o criminoso, sentado à sua frente, a mulher disse que o perdoava. E comentou que esperava receber visitas dele, pois não tinha mais família e queria que aquele homem passasse a fazer parte da sua nova família. O criminoso e aquela mulher se abraçaram, aos prantos, e se reconciliaram, dando um grande exemplo para todos.

Foi exatamente por usar a arma do perdão e da tolerância que Nelson Mandela conseguiu evitar um banho de sangue na África do Sul. E, por causa disso, ganhou um muito merecido Prêmio Nobel da Paz. Ao longo do tempo, até os brancos passaram a amá-lo, e ele se tornou o "Madiba", o pai de toda a nação.

Mandela era cristão (metodista) e encarnou, como ninguém, o ensinamento do perdão e da reconciliação que Jesus nos deu. E provou que Jesus estava certo, pois só o perdão constrói. O mundo ficou menor quando o Madiba morreu. Descanse em paz, Nelson Mandela. Pode ter certeza que seu exemplo frutificou.

Com carinho

terça-feira, 3 de dezembro de 2013

A DISCUSSÃO SEM FIM SOBRE A DECORAÇÃO DE NATAL

Todo ano é a mesma coisa: chega dezembro, as decorações de Natal aparecem em todo lugar e o mundo evangélico acaba mergulhado numa discussão interminável: é aconselhável, ou não, para os cristãos, usar esse tipo de enfeite (árvores, bolas, figura de Papai Noel e outros) nas casas e igrejas? Será que a Bíblia proíbe tal tipo de prática?

Eu já me pronunciei sobre isso aqui no blog e, portanto, não vou repetir meus argumentos - minha opinião pessoal é que esse tipo de enfeite não tem impacto espiritual negativo e pode ser usado (veja mais). Mas compreendo perfeitamente, e respeito, aqueles que não aceitam essa prática e querem banir esses enfeites da sua prática de vida. 

Na verdade, qualquer tipo de conclusão sobre essa questão, seja pró ou contra, vai sempre depender de interpretações indiretas dos ensinamentos da Bíblia, já que o tema não é tratado diretamente nela (nem poderia ter sido). Tanto é assim, que várias denominações evangélicas sérias - como é o caso do Metodismo, onde congrego - não se colocam formalmente sobre essa questão, deixando a decisão para a consciência de cada pastor, liderança de igreja local e membro. 

Portanto, a controvérsia não vai acabar. O que fazer então? Como uma comunidade cristã deve agir num caso como esse? Minha receita envolve dois passos, ambos igualmente importantes. 

O primeiro passo é eliminar as decorações que incomodam várias pessoas dos espaços coletivosO ensinamento bíblico que dá suporte a esse tipo de postura é que, se algo escandaliza meu irmão, eu devo evitar fazer isso quando estiver junto dele, como prova de amor cristão e respeito pela sua sensibilidade (1 Corintíos capítulo 8, versículos 8 a 13). Os enfeites podem não incomodar a mim, mas se atrapalham o irmão(ã) que senta ao meu lado no banco da igreja, é um erro insistir neles nos espaços comuns. 

O segundo passo, igualmente importante, é tratar do tema em classes de Escola Dominical ou de estudo bíblico, quando devem ser apresentadas as duas posições - contra e a favor -,  de preferencia por pessoas que pensem de forma diferente. 

Deve ser ainda explicado que os defensores das duas posições são igualmente sinceros, na sua tentativa de seguir fielmente o que a Bíblia ensina. E também deve ser esclarecido que haver duas posições teológicas concorrentes, num caso onde o tema em discussão não questiona os fundamentos da fé cristã, é perfeitamente aceitável. E, finalmente, precisa ser dito que, num caso como esse, as pessoas devem adotar o comportamento que suas consciências ditarem, nos seus espaços de vida pessoal. 

O primeiro passo demonstra amor cristão. Já o segundo, respeita a inteligência e o livre arbítrio de cada ser humano. Acredito que essa postura evitaria que as comunidades cristãs ficassem perdendo tempo com disputas teológicas que não vão levar a lugar nenhum. E, o pior, que a disputa teológica venha a tirar o foco da pessoa de Jesus, razão principal da comemoração do Natal. 

Afinal, os cristãos já enfrentam o problema da erosão contínua do significado do Natal, por conta do apelo excessivo ao consumo. Portanto, tudo que não precisamos é um debate como esse para tornar as coisas ainda mais difíceis. 

Com carinho

domingo, 1 de dezembro de 2013

O QUE SE DEVE AGRADECER A DEUS?

O Dia de Ação de Graças foi comemorado três dias atrás. Nessa data os evangélicos se dedicam a agradecer a Deus as bençãos recebidos. Eu não tenho dúvida quanto à enorme importância dessa prática, pois Deus se agrada de corações gratos, conforme a Bíblia ensina. 

Agora, as questões relacionadas com o reconhecimento das bençãos recebidas de Deus não são simples e, confesso, nem tudo faz sentido. Eu me explico.

Um exemplo vai ajudar a explicar o tipo de situação que costuma incomodar muitas pessoas. Houve um desastre de avião, no qual todos os passageiros, menos um, morreram. O sobrevivente era um cristão e, ao ser entrevistado, após seu resgate dos destroços, agradeceu a Deus o milagre da sua salvação. 

Ora, se aceitarmos que aquela pessoa foi salva por Deus, também precisaremos aceitar que as demais não o foram. Em outras palavras, que Deus escolheu salvar um e condenar (ou pelo menos não interferir quanto) os demais e isso não parece estar de acordo com o caráter de Deus. 

Uma situação parecida ocorre quando, num culto de Ação de Graças, dois cristão sinceros estão juntos: um louva para agradecer as enormes bençãos materiais recebidas, enquanto o outro pratica o chamado "sacrifício de louvor" (louvar mesmo sem vontade de fazer isso), pois vem passando por enormes dificuldades. Eu já vivi essa experiência nas duas condições e sei bem como é isso. 

Como entender o fato de uns parecerem mais abençoados do que outros, mesmo quando não há diferença de mérito para justificar essa assimetria? 

O fato é que não entendemos todas as razões de Deus. Não mesmo. Mas devemos nossa existência a Ele - não existiríamos se Deus não tivesse nos criado e a tudo que nos rodeia. Assim, Ele tem direitos sobre a nossa existência e nós, criaturas, não temos como questionar nosso Criador. 

Muitos não querem reconhecer essa verdade, pois atribuem a si mesmos uma importância que não têm de fato. E por conta disso se julgam no direito de questionar o que entendem ser as "injustiças" de Deus. 

Precisamos aceitar a soberania de Deus, mesmo quando não entendemos suas razões - especialmente quando elas nos parecem "injustas". A Bíblia chama a essa atitude ter "temor" a Deus. 

Mas essa aceitação não deve ser simplesmente conformada, por não haver o que fazer. Deve ser mais: trata-se de aceitar porque existe total confiança em Deus. Que suas razões, mesmo incompreensíveis, são sempre as melhores e somente visam o bem. 

E essa certeza deve nos sustentar. Por isso agradeça a Deus hoje, amanhã e sempre - não apenas no Dia de Ação de Graças. Não importa sua situação ou o que você vê acontecer com as outras pessoas no seu entorno. Seja grato pela sua vida e pelo que Ele está fazendo, mesmo que você não saiba ou não entenda. 

Com carinho