sábado, 30 de março de 2019

VOCÊ PODE PERDER A SALVAÇÃO?

Uma pessoa que aceitou Jesus, e foi salva, pode perder sua salvação? Há diferentes respostas para essa importante questão, cada uma delas defendida por pessoas sérias e estudiosas da Bíblia. Ou seja, não existe consenso entre os estudiosos sobre essa questão. 

E há coisas na Bíblia que vão gerar debate até o final dos tempos e esse tema é uma dentre elas. Somente vamos ter certeza absoluta sobre quem está certo ou errado quando do julgamento final. 

Existem quatro formas diferentes de responder a essa pergunta, conforme discuto a seguir:

Universalismo 
Essa linha de pensamento defende que um Deus amoroso não poderia punir ninguém com o inferno e, portanto, todos acabarão salvos, de uma forma ou de outra. Para os universalistas, a pergunta que abre este texto - você pode perder sua salvação? - não tem significado, pois não se pode perder o que todos vão ganhar.

Mas, gostemos ou não, a Bíblia é muito clara quanto à existência do inferno e à existência de pessoas salvas e condenadas (Mateus capítulo 25, versículos 31 a 46). E, antes que alguém saia por aí acusando Deus de insensível, é preciso entender que quem se coloca no inferno é a própria pessoa, quando deliberadamente escolhe se afastar de Deus e não aceitar Jesus como salvador. Deus apenas respeita essa decisão e se afasta e é por isso que alguns teólogos afirmam que as portas do inferno estão trancadas por dentro. 

Tudo depende das obras realizadas 
A base da salvação é a fé no sacrifício de Jesus (veja mais). Mas, em Tiago capítulo 2, versículos 17 a 24, aparece a seguinte afirmação: 
Assim também a fé, se não tiver obras, por si só está morta. Mas alguém dirá: Tu tens fé e eu tenho obras; mostra-me essa tua fé sem obras e eu, com as obras, te mostrarei a minha fé...Verificais que uma pessoa é justificada por obras e não por fé somente... 

Há quem interprete esse texto afirmando que as obras têm papel importante na salvação. Ou seja, a pessoa seria salva tanto por conta daquilo que acredita (sua fé) como também por aquilo que faz (suas obras). Essa é essencialmente a doutrina seguida pela igreja católica. 

Mas, penso que isso está errado por duas razões. Primeiro, porque a Bíblia é clara quanto ao fato que a salvação se deve apenas à fé da pessoa e à atuação da graça de Deus (por exemplo, Efésios capítulo 2, versículos 8 e 9). 

Segundo, se as obras pesassem na salvação, ninguém poderia ter certeza dela. Afinal, quais e quantas obras seriam necessárias para satisfazer os requisitos de Deus? A Bíblia nada fala a esse respeito. Portanto, para uma pessoa que crê assim, nunca haverá segurança quanto à salvação. E a pergunta que abre este texto - você pode perder sua salvação? -, não faz sentido, pois não se pode perder o que ainda não se ganhou.

Acho que essa linha de pensamento parte de uma interpretação errada do que Tiago quis dizer. O que ele disse de fato é que as obras são como um “medidor” da fé pessoal: se você tem dentro de si a fé que realmente traz a salvação, essa mesma fé vai criar em você o desejo de realizar obras. A fé que salva não é estéril, ela necessariamente gera mudanças na vida da pessoa e resultados práticos. Portanto, as obras simplesmente dão testemunho da fé existente. 

Deus pré-estabelece quem vai ser salvo 
Essa linha de pensamento é defendida pelos seguidores de Calvino (como os presbiterianos). Ela afirma que Deus já pré-definiu (predestinou) aqueles que serão salvos. Afinal, o poder de Deus é incontestável e se Ele resolveu criar uma pessoa para ser salva, ninguém pode questionar isso. 
Ainda na mesma linha de pensamento, a graça de Deus é irresistível, ou seja, ninguém pode deixar de aceitá-la plenamente. Portanto, quem foi escolhido para ser salvo nunca pode perder sua salvação.

Penso que o problema com essa linha de pensamento é a outra face da moeda: se há também quem seja predestinado para ser salvo, também há quem seja predestinado para o inferno. E não importa o que essas pessoas pensem ou façam, elas vão acabar condenadas. 

Acho que é muito difícil reconciliar essa visão com a ideia de um Deus que ama incondicionalmente suas criaturas. Não discuto que Deus tenha poder para predestinar as pessoas conforme deseje, mas questiono se Ele age mesmo dessa forma. 

E, além disso, se Deus já fez tal escolha antes mesmo das pessoas nascerem, parece-me que toda a discussão bíblica sobre convencer o pecador dos seus erros, levá-lo ao arrependimento e assim por diante, não faz qualquer sentido. É vazia.

Finalmente, nunca vi qualquer um dos defensores dessa abordagem reconhecerem-se como predestinados para o inferno. Todos sempre escrevem ou pregam do ponto de vista de quem já está salvo. E aí fica muito fácil defender esse ponto de vista. 

Salvação se ganha e se perde
Essa é a posição com a qual simpatizo. Ela alerta que a salvação pode ser ganha, quando a pessoa abraça a fé verdadeira. E perdida, quando a pessoa deixa essa fé morrer.

Salvação é o nosso bem mais precioso, mas ela é como uma planta que precisa de cuidado, carinho e atenção. Deixada por sua própria conta, essa planta pode morrer. Na parábola do semeador (Mateus capítulo 13, versículos 1 a 23), Jesus falou de sementes que chegavam a frutificar, mas as plantas acabavam morrendo porque as raízes não eram suficientemente profundas (a prática de vida delas as afastou de Deus) ou foram abafadas pelos espinhos (as preocupações com o mundo secular acabaram por predominar).

E lembro que olhar para as obras - como a pessoa vive e o que ela faz de fato - é uma boa forma de "medir" a saúde da fé. Obras abundantes e efetivas apontam para uma fé viva e atuante. Obras inexistentes são um grande sinal de alerta.

Com carinho

quinta-feira, 28 de março de 2019

O QUE JESUS FEZ DURANTE OS ANOS "SILENCIOSOS"

Jesus passou por anos silenciosos, isto é um período de tempo com duração de cerca de 20 anos sobre o qual a Bíblia nada conta. Os anos silenciosos vão desde o seu "bar mitzvah", ou seja, sua maioridade religiosa, quando Ele tinha 13 anos, até o início do seu ministério, já com trinta e poucos anos.

A mídia e os escritores sensacionalistas sempre inventam alguma coisa para tentar preencher esse vazio. Há uma grande industria de livros e filmes que busca explicar o que aconteceu nesses cerca de 20 anos. E foram produzidos todos os tipos de absurdos. Vejamos alguns exemplos: 

Alguns afirmam que Jesus teria emigrado para a Índia, onde foi instruído nos mistérios da fé hindu; já outros dizem que Ele teria sido educado pelos essênios, seita judaica muito estrita nos princípios de vida; e ainda há quem defenda que Jesus teria ido até a Inglaterra, onde conheceu a religião celta. 

A maioria dos estudiosos mais responsáveis, e eu concordo com eles, pensa que Jesus passou esses 20 anos no mesmo lugar, na vila de Nazaré. Foi para lá que os pais levaram Jesus quando Ele era ainda um bebê. E foi por isso que Jesus ficou conhecido como o "Nazareno" (Mateus capítulo 2, versículo 23). 

A melhor explicação para a ausência de informação na Bíblia sobre esse período de tempo e que nada significativo tenha acontecido com Jesus. E esse raciocínio faz todo sentido por uma razão simples. O espaço disponível num pergaminho (o rolo feito de couro usado para escrever nos tempos bíblicos) era muito limitado. Assim, os autores dos textos precisavam escolher que informações incluir ou deixar de fora para seu relato caber no espaço disponível. 

E se nada tiver acontecido de importante nesse período da vida de Jesus, não é de admirar que os autores dos Evangelhos nada tenham dito. Assim, eles economizaram espaço precioso para poder relatar o que importava de fato (seu ministério, a crucificação e a ressurreição). 

Mas, ainda assim, cabe a pergunta: o que Jesus fez nesses 20 anos? A resposta é simples: Ele trabalhou como carpinteiro para sustentar sua família. A Bíblia não se refere a José após o bar mitzvah de Jesus, logo é razoável supor que ele tenha morrido algum tempo depois dessa cerimônia. E Jesus, como filho mais velho, passou a ser responsável pelo sustento da família como um todo. 

Jesus precisou então trabalhar pesadamente como carpinteiro, que era uma espécie de operário especializado da construção civil. Suas mãos certamente ficaram calejadas por muitas horas de trabalho diário muito duro. 

E Jesus usou também esse longo período para aprofundar seu relacionamento pessoal com Deus, à medida em que foi amadurecendo e tomando consciência da missão que lhe estava reservada. 

Finalmente, foi nesse período em que Jesus foi instruído na Palavra de Deus. Como Ele não teve uma formação teológica sistematizada, coisa reservada apenas para sacerdotes e escriba. Então foi preciso que Deus instruísse Jesus naquilo que Ele precisava saber e não sabemos como isso se deu. E tanto foi assim, que, em determinado momento do ministério de Jesus, lhe perguntaram como um simples carpinteiro conhecia tanto a Palavra de Deus, Ele respondeu: "O meu ensino não é meu, e sim, d`Aquele que me enviou" (João capítulo 7, versículos 16 e 17). Foi esse ensinamento que deu a Jesus condições de ensinar o povo com autoridade, desafiando aqueles que questionavam sua doutrina. 

Em resumo, durante os anos silenciosos, Jesus trabalhou duro para sustentar sua família e se preparou para seu futuro ministério. Não foi um período cheio de glamour ou mesmo de experiências memoráveis, mas teve grande importância na sua vida. 

Lembre-se disso quando você chegar em casa desanimado/a, ao final do dia, cansado do trabalho ou do estudo. lembre-se que esse tempo pode vir a ser muito útil para aprendizado e crescimento espiritual e emocional. Afinal, a Bíblia diz, em 1 Coríntios capítulo 10, versículo 31, que mesmo as coisas mais simples da vida - como comer e beber - são importantes quando feitas para honra e glória de Deus. 

E foi isso que Jesus fez: santificou cada gota de suor que derramou. Cada hora que dedicou ao estudo ou à oração. 

Com carinho

terça-feira, 26 de março de 2019

ENCONTRANDO A VIDA

O tema de hoje é: encontrando a vida. E escolhi falar dele porque muitas pessoas passam pela vida pensando que não têm muito valor. E essa baixa auto-estima é fruto de muitos fatores diferentes, como a má relação com os pais, experiências de vida traumatizantes e assim por diante.

Pensando que não têm valor, essas pessoas sofrem muito e muitas até vão pelo caminho do suicídio. Mas, a Bíblia ensina que cada ser humano tem muito valor aos olhos de Deus. E a maior prova disso é que Jesus morreu na cruz por cada um/a de nós, sem qualquer distinção. 

Encontrando a vida. Pense nisso quando estiver se sentindo sem valor ou vir algum ente querido se sentindo assim. Veja o vídeo aqui.

Veja outros vídeos recentes meus aqui e aqui.

domingo, 24 de março de 2019

CUIDADO COM O JOGO DO "SE"

Muitas pessoas vivem dentro de um eterno jogo do "se”: "se tivesse acontecido isso, minha vida teria sido melhor" ou "se tal coisa vier a acontecer, tudo vai se resolver". E esse jogo pode causar muito mal na vida das pessoas.

Há dois tipos de "ses" que costumam afetar as pessoas:
  • O “se” voltado para o passado: “se tal coisa não tivesse acontecido comigo...”. Esse tipo de percepção costuma causar frustração, rancor, tristeza e até depressão.
  • O “se” dirigido para o futuro: “se tal coisa vier a acontecer...”. Nesse caso, as consequências podem ser insegurança, ansiedade e medo.
Pessoas que vivem presas no passado sofrem por aquilo não pode ser mudado – a única coisa que ainda pode ser mudada sobre o passado é a interpretação da pessoa sobre o significado daquilo que lhe aconteceu.

Anos atrás, passei por problemas financeiros difíceis e durante muito tempo interpretei essa experiência como uma coisa ruim, sofrida. Com o passar do tempo, entendi que aquele período de sofrimento me trouxe maturidade e me fez entender melhor e ter muito mais empatia com o sofrimento das outras pessoas. Em outras palavras, meu passado não mudou, mas minha interpretação do que havia acontecido comigo, é bem diferente hoje em dia.

O "se" voltado para o futuro se torna muito pesado para as pessoas excessivamente preocupadas em controlar as variáveis da sua vida, para garantir segurança, estabilidade, felicidade e assim por diante. 

Mas a luta por manter o controle sobre a própria vida é interminável e nunca pode ser de fato vencida, pois as circunstâncias que nos afetam mudam a partir de forças que não estão debaixo do nosso controle. Um bom exemplo desse tipo de situação são as doenças inesperadas ou os desastres naturais.

Penso que há dois ensinamentos importantes a tirar dessa reflexão sobre o jogo do "se". Primeiro, aprender a viver mais no presente e menos no passado ou no futuro. A realidade é o presente, o momento que você vive agora e ele precisa ser bem aproveitado. Jesus se referiu a isso, num ensinamento sobre a ansiedade, quando afirmou: “basta a cada dia o seu mal...” (Mateus capítulo 6, versículo 34).

Viva mais o presente e deixe de sofrer com o que aconteceu no passado e não mais pode ser mudado, como também não fique se preocupando tanto com o futuro, pois você tem muito pouco controle sobre o que vai de fato acontecer na sua vida.

Segundo, concentre-se num um outro tipo de "se", muito melhor do que os outros dois. E o episódio da ressurreição de Lázaro explica bem sobre o que estou falando. 

Jesus chegou à casa de Lázaro cerca de 4 dias depois da morte dele. Marta, irmã do falecido, recebeu Jesus com um “se” voltado para o passado: se Jesus tivesse chegado antes, Lázaro não teria morrido (João capítulo 11, versículo 21). Mas, Jesus lidou com a situação de forma totalmente inesperada, ao dizer para Marta (João capítulo 11, versículo 40): se você tiver fé, verá Deus agir. E aí foi lá e ressuscitou Lázaro.

O terceiro tipo “se” é aquele que leva o ser humano a focar sua atenção em Deus e não em si mesmo e nas suas circunstâncias de vida. Esse outro "se" leva a pessoa a depositar sua confiança em Deus. Assim, ela não congela sua vida num passado problemático, pois sabe que pode ser perdoada e mudar sua vida, como também não fica ansiosa pela tentativa inútil de controlar um futuro que nunca pode ser domesticado.

Mas, isso é mais fácil de falar do que de fazer. Acreditar que o passado vai assumir um significado melhor, uma vez "coberto" pelo sangue de Jesus e descansar, confiando inteiramente em Deus, vai contra a natureza humana. mas esse é o único tipo de jogo do "se" que vale, de fato, à pena ser jogado.

Com carinho

sexta-feira, 22 de março de 2019

NÃO MATARÁS: ANALISANDO O SEXTO MANDAMENTO

O sexto mandamento, da lista de dez que Deus nos deu, diz simplesmente o seguinte: não matarás (Êxodo capítulo 20, versículo 13). Esse é o primeiro mandamento, dentre os dez, que se refere diretamente ao estabelecimento das bases de comportamento mínimas para o funcionamento da vida em sociedade. 

O princípio que está por trás desse mandamento é o respeito incondicional à vida humana, que a Bíblia ensina ser um dom de Deus. 

O mandamento parece ser bem fácil de cumprir: não podemos matar e pronto. Mas a realidade é muito mais complexa do que isso. Há vários dilemas éticos – situações em que é difícil diferenciar o que está certo do que está errado - para serem considerados. Vamos ver alguns deles mais de perto:

Pena de morte
A Bíblia traz diversas leis que estabelecem pena de morte, em outras palavras, há sim crimes que merecem esse tipo de punição. 

A primeira consequência dessa constatação é que o significado real do sexto mandamento é: não assassinarás. Em outras palavras, não se pode matar por conta própria, de forma ilegal. Mas é aceito matar em certas situações, como quando há condenação judicial, em defesa própria ou de outra pessoa, e também na guerra.

A Bíblia não questiona a validade da pena de morte em si, mas discute sim a forma pela qual essa punição é decretada e aplicada. Há alguns princípios a serem seguidos: ela somente pode ser decretada e aplicada por quem tem autoridade legal e também moral para fazer isso. 

E há uma passagem que exemplifica esses conceitos com clareza. Uma mulher adúltera, que, pela Lei Mosaica, deveria ser morta por apedrejamento, é trazida até Jesus. E os homens questionam nosso Mestre o que deveria ser feito. Aí Jesus lhes disse: 
...aquele que dentre vós estiver sem pecado, seja o primeiro que lhe atire a pedra. João capítulo 8, versículo 7 
Em outras palavras, a pena de morte, naquele caso, seguia a Lei, era legal. Mas, os homens que iriam aplicá-la não tinham autoridade moral para fazer isso, pois estavam cobertos de pecados. E é claro que ninguém atirou pedra na mulher adúltera.

E é exatamente por causa disso que sou contra a pena de morte na prática: não vejo nos sistemas legais dos diferentes países e, muito menos ainda, no sistema brasileiro, legitimidade moral para aplicar esse tipo de pena. Os sistemas legais costumam privilegiar pessoas com mais recursos e deixam desprotegidos os pobres e mais fracos. 

Assim, se tivermos pena de morte no Brasil, certamente vamos acabar matando pessoas inocentes, provavelmente pobres e humildes, porque os erros judiciais são uma realidade em nosso país, especialmente contra quem não consegue se defender com vigor.

A pena de morte não viola o sexto mandamento, mas sua aplicação precisa seguir princípios de legalidade e moralidade que raramente estão presentes na vida real. Portanto, em termos práticos, não acho que ela seja uma medida certa.

Aborto
Acredito que nenhum cristão pode ser a favor do aborto. Ainda mais se tiver tido oportunidade de ver filmes de fetos sendo extraídos do útero materno – são imagens que causam arrepios, pois os corpos são despedaçados.

Mas, há situações relacionadas com a gravidez que envolvem dilemas éticos muito complicados. E um caso desses é quando a vida da mãe corre risco se a gravidez for levada a termo. Há, portanto, uma escolha a ser feita: qual vida deveria ser preservada, a do feto ou a da mãe? 

Conheço situações em que mães resolveram dar continuidade à gravidez e algumas até pagaram essa decisão com a própria vida. Já, em outros casos, as mães escolheram interromper a gravidez. 

É uma decisão difícil, de foro íntimo, e cabe exclusivamente à mãe (se ela estiver lúcida) decidir o que fazer e ela precisa contar com o apoio do pai. E ninguém tem direito de passar julgamento sobre a decisão tomada, pois a interrupção na gravidez, nesse caso, não me parece ser uma violação do sexto mandamento, caindo mais na linha da defesa própria.

Eutanásia
Há duas situações a considerar. A primeira delas é a orto-eutanásia, ou seja, os médicos deixam de fazer novos procedimentos, que prolongariam a vida da pessoa de forma artificial, porque os familiares decidem deixar a natureza seguir seu curso. 

Ora, como todos vamos mesmo morrer, essa é uma posição aceitável e que não contraria o que diz a Bíblia. A natureza segue seu curso normal e a pessoa morre. E a maioria das igrejas cristãs concorda com essa posição.

A outra situação é quando se provoca a morte através, por exemplo, da ministração de medicamentos (como uma injeção letal). O objetivo pode até parecer nobre, como diminuir o sofrimento ou poupar recursos (por exemplo, é muito caro manter uma pessoa internada em UTI por longo tempo). Ou seja, aqui a participação para abreviar a vida da pessoa é ativa.

Eu penso que fazer isso viola o sexto mandamento, pois quem se sente com direito de decidir apressar o fim de uma vida, está invocando um direito que não tem, pois a vida é um dom de Deus. E a maioria das igrejas cristãs concorda com essa posição.

Palavras finais
Há muitas outros dilemas éticos não abordados nesta postagem: aborto no caso de feto sem cérebro ou fruto de estupro, uso de cobaias humanas para testar tratamentos novos e assim por diante. São situações com alta carga emocional e que dividem as pessoas, mesmo aquelas que querem fazer o certo e obedecer as leis de Deus.

Não tenho espaço para discutir cada uma dessas possibilidades aqui, mas acredito que meus comentários anteriores tenham ajudado você a entender como olhar para essas questões e aplicar o sexto mandamento na prática. 

Com carinho

quarta-feira, 20 de março de 2019

A TERRÍVEL HISTÓRIA DE SIMÃO, O MAGO

Você já ouviu falar de Simão Mago? Trata-se de um personagem da Bíblia que tem uma história terrível:
E, descendo Filipe à cidade de Samaria lhes pregava o Evangelho. E as multidões unanimemente prestavam atenção ao que Filipe dizia, porque ouviam e viam os sinais que ele fazia; pois que os espíritos imundos saíam ...e muitos paralíticos e coxos eram curados ...E estava ali um certo homem, chamado Simão, que anteriormente exercera naquela cidade a arte mágica, e tinha iludido o povo ...dizendo que era uma grande personagem ...Mas, como cressem em Filipe, que lhes pregava acerca do reino de Deus, e do nome de Jesus Cristo, se batizavam, tanto homens como mulheres. E creu até o próprio Simão; e, sendo batizado, ficou de contínuo com Filipe; e, vendo os sinais e as grandes maravilhas que se faziam, estava atônito ...Pedro e João ...tendo descido [a Samaria], oraram por eles para que recebessem o Espírito Santo (porque sobre nenhum deles tinha ainda descido; mas somente eram batizados em nome do Senhor Jesus). Então lhes impuseram as mãos, e receberam o Espírito Santo. E Simão, vendo que pela imposição das mãos dos apóstolos era dado o Espírito Santo, lhes ofereceu dinheiro, dizendo: Dai-me também a mim esse poder ...Mas disse-lhe Pedro: O teu dinheiro seja contigo para perdição, pois cuidaste que o dom de Deus se alcança por dinheiro. Tu não tens parte nem sorte nesta palavra, porque o teu coração não é reto diante de Deus. Atos dos Apóstolos capítulo 8, versículos 5 a 24.
Simão Mago é provavelmente a pior figura da igreja cristã. O legado que deixou foi tão ruim, que os Pais da Igreja (as primeiras gerações de cristãos que se seguiram aos apóstolos) o consideraram como o fundador de todas as heresias. Mas, o que será que ele fez de tão terrível? Simples, tentou comprar dons espirituais visando obter vantagens financeiras. 

O relato dessa história na Bíblia começa quando Felipe chegou em Samaria, no norte da Palestina, para pregar o Evangelho. Ali encontrou Simão, que atraía muita atenção por praticar atos que pareciam sobrenaturais. Ele era especialista em curandeirismo, leitura de sortes, consulta aos astros sobre o futuro, práticas para atrair boa sorte, etc. Ele era tido como uma pessoa que tinha poder e ganhava bom dinheiro por causa disso.

Felipe chegou no lugar onde Simão vivia e começou a pregar o Evangelho e confirmou sua autoridade espiritual praticando milagres importantes, como curas e expulsão de demônios. E Simão ficou impressionado com o que viu, pois o poder de Felipe era real. 

Ele então decidiu se "converter" e foi batizado por Felipe. Simão pensou que o batismo iria acrescentar mais alguns recursos ao seu repertório de truques sobrenaturais. 

Foi nessa altura que chegaram no local os apóstolos Pedro e João, para reforçar o trabalho de Felipe. E Simão Mago viu os apóstolos impondo as mãos sobre as pessoas, para fazê-las receber o poder do Espírito Santo, através de dons espirituais. E cobiçou ter o mesmo poder. 

Aí ele cometeu um pecado terrível: procurou os apóstolos e lhes ofereceu dinheiro, se recebesse esse poder. E acabou expulso do meio dos cristãos por Pedro, pois esse ato terrível comprovou que sua "conversão" não tinha passado de uma completa farsa.

O relato da Bíblia acaba nesse ponto, mas os escritos dos Pais da Igreja expandem bastante o relato do que aconteceu. Houve um choque espiritual de grandes proporções, pois Simão certamente foi usado por Satanás e os apóstolos, cheios do Espírito Santo, resistiram a esse ataque. E, ao final, Simão Mago tornou-se o símbolo de tudo aquilo que os cristãos não devem ser. E as razões para isso são claras. 

Em primeiro lugar, a sua conversão foi uma fraude. É evidente que houve um erro de Felipe, embora de boa fé, a quem faltou discernimento espiritual suficiente. E Felipe atestou como verdadeira uma conversão que de fato não tinha ocorrido. 

Situações assim - onde pessoas iludem a si mesmas e aos outros, parecendo ter se convertido - são comuns. Por exemplo, isso é comum de acontecer nas cadeias, pois os presos sabem que se parecerem ter se convertido, vão ter vantagens e passar a gozar de maior respeito. E há muitas pessoas também que são levadas a dizer que aceitaram Jesus por esperarem receber bênçãos - isso é mais comum do que parece. 

O segundo problema de Simão Mago foi a tentativa de "comprar" dons espirituais. Ele queria pagar para ter acesso a um poder vindo diretamente de Deus. E, infelizmente, esse problema continua a acontecer com frequência. É claro que as coisas hoje em dia não são colocadas tão abertamente, de forma tão crua. O processo é mais sofisticado e vem "embrulhado" em intenções que parecem nobres. 

Não é errado pedir a Deus dons espirituais. A própria Bíblia ensina que devemos procurar os melhores dons (1 Coríntios capítulo 12, versículo 31). A questão verdadeira é o propósito da pessoa quando pede isso a Deus. Se ela deseja sinceramente fazer o Reino de Deus avançar, sem pensar em qualquer vantagem pessoal, ela está no caminho certo. Mas, se estiver pensando nas vantagens que vai obter, estará agindo como Simão Mago.

E Simão pagou um peso terrível pelo que fez: simplesmente perdeu sua salvação. E o mesmo vai acontecer com quem cometer o mesmo tipo de erro.

Dons espirituais são manifestações de Deus que nos transmitem poder para fazer sua obra. Não podem nunca gerar vantagens pessoais, de qualquer espécie. A única recompensa que a pessoa pode ter é a alegria de fazer essa obra. O que passar disso não vem do alto. 

Com carinho

segunda-feira, 18 de março de 2019

JOGUE PARA O TIME

A Bíblia ensina que a obra de Deus é feita por um time com vários jogadores, sendo que cada um tem uma função diferente. Há jogadores que aparecem mais - os craques - e há quem "carregue o piano", dando condições aos outros de brilharem.

A metáfora que Paulo usa, já que na sua época não havia times como conhecemos hoje em dia, é a do corpo humano, com seus diferentes órgãos que precisam trabalhar de forma harmoniosa.

Todos que trabalham na obra de Deus, desde aqueles que aparecem mais, como os pregadores ou os dirigentes de louvor, até os que cumprem tarefas muito simples, como distribuir folhetos ou cuidar da arrumação do templo, precisam unir esforços em prol de um objetivo comum. É preciso sempre jogar para o time e não privilegiar as individualidades. 

E é sobre isso que eu falo no meu mais novo vídeo - veja aqui.

Veja outros vídeos recentes meus aqui e aqui.

sábado, 16 de março de 2019

E QUANDO O CRISTÃO NÃO GOSTA DE OUTRAS PESSOAS...

Hoje vamos falar de uma situação muito comum: não gostar de outras pessoas. 

Certa vez perguntaram ao pastor de uma grande igreja nos Estados Unidos porque ele passava muitas horas por dia orando e ele respondeu, com franqueza: “minha igreja é muito grande e tem gente nela de quem não gosto, e eu preciso orar muitas horas por dia para que Deus me ensine a amar todas essas pessoas”.

Esse pastor admitiu abertamente um problema muito comum: mesmo sendo cristãos, na prática, não conseguimos gostamos de várias pessoas, inclusive pessoas com quem convivemos nas nossas igrejas.

Agora, como não fica bem para cristãos admitirem que não gostam de outras pessoas, pois isso seria também admitir não seguir o mandamento de Jesus para amar ao próximo, a solução para esse dilema é bem conhecida: vestimos uma máscara. Fingimos que gostamos de quem, de fato, não gostamos. E, nesse processo, acabamos criando mais um problema para nós mesmos/as: a hipocrisia. 

É claro que frequentemente há razões verdadeiras para não gostarmos de certas pessoas: elas nos fizeram algum mal ou são de difícil convivência (desagradáveis, encrenqueiras e assim por diante). Mas, o problema é que Jesus não nos mandou amar apenas as pessoas que são boas para nós e/ou de convivência agradável. Ele nos disse para amarmos todos/as que vierem a cruzar pelo nosso caminho.

E a parábola do bom samaritano, onde Jesus tratou exatamente da questão do amor ao próximo, deixou claro que não podemos fazer acepção de pessoas no que tange ao cumprimento desse mandamento. De acordo com o relato da parábola, havia um homem judeu caído à beira da estrada e quem cuidou dele, sem nada pedir em troca, foi um samaritano (Lucas 10:25-37). Ora, naquela época, judeus desprezavam samaritanos e esses retribuíam com igual fervor. Mas foi justamente um samaritano quem cuidou do judeu necessitado.

Portanto, nossa obrigação com o próximo não se limita àquelas pessoas de quem já gostamos, que já têm um lugar nos nossos corações. Nossa obrigação vai bem mais além. Precisamos amar também as pessoas que nos desagradam e até aquelas que eventualmente nos fizeram mal. E isso é bastante difícil.

As razões para o mandamento do amor ao próximo
Por que somos cobrados por Jesus para amar ao próximo, sem fazer distinções? Acredito que haja duas razões principais para esse mandamento. E a primeira delas é que, se esse mandamento fosse seguido por todos/as, o mundo seria um lugar muito melhor para se viver.

A alternativa ao mandamento do amor ao próximo é “olho por olho e dente por dente”, ou seja, vingar o mal recebido na medida em que ele nos foi feito. Mas, se isso for levado a ferro e fogo, a humanidade toda acabaria cega e/ou banguela. Afinal, todos/as, mesmo sem querer, fazemos mal ao próximo, assim como também sofremos coisas ruins vindas de terceiros. E todo mundo, portanto, tem agravos a partir do qual poderiam exercer vingança, como também precisaria sofrer na carne a retribuição do que tiver feito de errado. E esse processo de vingança contínuo não acabaria nunca e o mundo seria um lugar muito ruim para se viver.

O mandamento do amor ao próximo quebra esse ciclo, reconhecendo que o ódio e a vingança destroem, enquanto o amor constrói. Simples assim.

A segunda razão para que Jesus tenha nos compelido a amar ao próximo, sem fazer acepção de pessoas, é porque isso é um ato de humildade. E a humildade é necessária porque nos julgamos melhores do que de fato somos, quando comparados às outras pessoas. 

E é fácil de demonstrar isso: quando julgamos o próximo, somos rápidos em apontar para os erros das pessoas, mas quando julgamos a nós mesmos, sempre levamos em conta nossas “boas intenções”, minimizando nossas próprias faltas. Assim, se eu ofendo alguém, justifico-me alegando que fiz isso sem querer, sem ter tido intenção de causar mal. Mas, quando alguém me ofende, fico bravo e cobro satisfações, e, na minha ira, que julgo muito justificada, não me preocupo muito as intenções reais de quem me tiver me ofendido.

Precisamos nos dar conta dessa e de outras contradições que abrigamos dentro de nós mesmos e nos colocar sinceramente diante de Deus, pedindo para o Espírito Santo nos renovar e ensinar a amar o próximo, da mesma maneira como gostaríamos de ser amados. E essa é a motivação do pastor (que citei logo no começo deste texto) passar tantas horas por dia em oração. Ao invés de pedir a Deus para mudar as outras pessoas e fazer com que passem a compreendê-lo melhor e serem mais boazinhas com ele, o pastor pede para Deus mudá-lo. 

E, ao caminhar junto com o Espírito Santo, diariamente, você poderá vir a ser renovado em três áreas muito importantes da sua vida:

1. Caminhar rumo à santificação
A palavra “santo” quer dizer separado ou reservado para determinado uso específico. E é isso que precisamos: tornarmo-nos separados para viver e fazer a obra de Cristo na terra.

E é fácil de ver como estamos longe disso. Faça para você mesmo/a algumas perguntas e responda com sinceridade: será que você é santo, isto é, se comporta de maneira diferente das pessoas que não acreditam em Jesus? Você é diferente delas em casa, no trabalho, na vida social e em todos os demais lugares? 

Infelizmente, não é isso que os estudos mostram. Na prática, não há muita diferença entre cristãos e não cristãos. George Barna, um pesquisador cristão, fez, em 2001, um profundo estudo visando responder exatamente essa questão: quão diferente os cristãos são mesmo do restante da sociedade?

Esse estudo está resumido no livro “A segunda vinda da igreja” (“The second coming of the church”). Os dados usados nele são de outro país (os Estados Unidos), mas não acredito que os brasileiros sejam muito melhores do que os americanos e, portanto, o que foi aprendido lá serve de alerta para nós também aqui.

O estudo fez diferentes perguntas - quem doa para obras assistenciais, quem serve o próximo, qual é o comportamento moral das pessoas, etc – e separou as respostas em dois grupos, semelhantes em tudo, exceto que um deles era composto por crentes e o outro por pessoas não cristãs. E a diferença de comportamento encontrada foi muito pequena - vejamos alguns exemplos interessantes:
  • Prestar serviço ao próximo: 29% dos crentes faziam isso, enquanto 27% dos não cristãos também, ou seja, quase a mesma proporção.
  • Doar para obras assistenciais: 48% dos não cristãos doavam e 47% dos cristãos também. Na média, os não cristãos se mostraram ligeiramente mais generosos. E não podemos deixar de notar que mais da metade dos integrantes do grupo cristão não doava nada.
  • Ler horóscopo e ser deixar influenciar por ele: 36% da população, tanto cristãos, como não cristãos, lia as recomendações do horóscopo e se deixava, de alguma forma, influenciar por ele.
  • Outros tópicos como participar de fofoca ou de promiscuidade sexual também demonstraram pouco diferença no comportamento entre os grupos de cristãos e de não cristãos.
Infelizmente, os cristãos não conseguem se diferenciar dos não cristãos, ou seja, não são santificados, e por isso causam pouco impacto na sociedade. Não são separados para viver uma vida diferente e aí não conseguem ser sal da terra e, muito menos, luz do mundo.

Precisamos mudar nossas atitudes e ações e caminhar no sentido da santidade (1 Pedro 1:14-15). Sem isso, nada vai mudar nas nossas vidas.

E, no caso da nossa relação com outras pessoas, um bom ponto para começar é parar de acusar as outras pessoas, enquanto ficamos arranjando desculpas para nossos próprios erros.

2. Aprender a ouvir e ter empatia
Criticar é muito mais fácil do que ouvir e ainda mais fácil do que amar. Portanto, precisamos pedir a Deus que aumente muito nossa capacidade de ouvir o que as pessoas querem nos dizer e também passar a olhá-las com mais empatia, para entendermos melhor suas razões, circunstâncias e dificuldades.

E precisamos parar de apontar o que não gostamos nos outros. É muito melhor passarmos a descobrir o que gostamos, ou podemos vir a gostar, nas pessoas, especialmente naquelas que nos desagradam.

3. Construir uma nova relação com nosso entorno, incluindo a igreja
Ouço com frequência as pessoas dizerem: “estou procurando uma igreja que preencha minhas necessidades”. Mas quem disse que a igreja existe para nos servir?

Quem pensa assim se esquece que nós somos a igreja e estamos aqui para servir o mundo e não para sermos servidos. Em outras palavras, precisamos deixar de pensar em nós mesmos como se fôssemos o centro do mundo, a razão de ser das coisas. Veja o ensinamento de Filipenses 2:3-5:
Nada façam por ambição egoísta ou por vaidade, mas humildemente considerem os outros superiores a si mesmos. Cada um cuide, não somente dos seus interesses, mas também dos interesses dos outros. Seja a atitude de vocês a mesma de Cristo Jesus...
Precisamos sair do nosso conforto. Servir com paixão. Fazer a diferença. E, sobretudo, aprender a gostar mais de dar do que de receber (Atos 20:35).

Com carinho

quinta-feira, 14 de março de 2019

O TORCEDOR FANÁTICO E O PRIMEIRO MANDAMENTO

Certa vez vi uma reportagem na televisão sobre Giba, um torcedor fanático de um grande time de futebol de São Paulo. Ele é tão fanático que, do começo de dezembro ao começo de fevereiro, período em que não há futebol, fica vagando pela casa, com olhar perdido, sem ter o que fazer. 

Os depoimentos que sua mulher e filha deram ao programa foram impressionantes: elas são absolutamente conscientes que o time de futebol de Giba vem em primeiro lugar e somente depois do time vem a família. E procuram conviver com essa realidade da melhor forma possível. 

Existem milhares de “Gibas” por aí. E foi isso que mostrou um estudo feito por uma empresa de marketing brasileira, cerca de dez anos atrás. A maior fidelidade do homem médio brasileiro é com seu time de futebol. Ele pode trocar de mulher, de casa, de cidade, de profissão e até de religião, mas dificilmente troca de time. Eu não me lembro de ter conhecido nenhum homem que abandonou seu time de coração por outro.

Ora, eu não sou contra o futebol e até fico feliz quando meu time ganha. Mas a ênfase excessiva de Giba e de tantos outros torcedores nos seus respectivos times é totalmente errada, pois beira o fanatismo e a irracionalidade.

E essa situação me faz lembrar do primeiro dentre os Dez Mandamentos: “não terás outros deuses diante de mim” (Êxodo capítulo 20, versículos 1 a 3). Esse mandamento é normalmente compreendido pelas pessoas como se referindo a outras divindades, como, por exemplo, as cultuadas no hinduísmo ou no candomblé. 

Sem dúvida, o mandamento alerta que é errado prestar culto a qualquer outra divindade que não seja Deus. Mas, o significado desse mandamento vai além disso. Ele é aplicável também a todas as coisas que podem dominar a vida da pessoa, incluindo seu time de futebol, dinheiro, seu partido político ou até mesmo sua família. Nada, rigorosamente nada, pode ter prioridade sobre Deus na sua vida. 

É interessante ver como Jesus discutiu essa questão. Ele ensinou que as pessoas devem amar a Deus de toda a alma e de todo o entendimento (Mateus capítulo 22, versículos 35 a 38). As pessoas precisam ter amor por Deus integral, absoluto.

Mas, como Jesus pode ter nos dado um mandamento incentivando as pessoas a amar um Ser? Como pode ser possível legislar sobre sentimentos? Afinal, ninguém controla seus próprios sentimentos e não é um terceiro, mesmo Jesus, que pode fazer isso.

Na verdade, o ensinamento de Jesus não se referiu a um sentimento. Não foi sobre isso que Ele falou. Jesus cobrou das pessoas uma AÇÃO - que elas agissem como se Deus fosse a coisa mais importante na vida delas. É preciso colocar sempre Deus em primeiro lugar e é exatamente isso que o primeiro dentre os Dez Mandamentos fala.

Colocar Deus em primeiro lugar não é fácil e sei disso por experiência própria. As circunstâncias do dia a dia, as relações afetivas, o lazer, etc, tudo isso empurra as pessoas em direção contrária a Deus. E o mandamento de amar a Deus sobre todas as coisas é um alerta contra essa tendência - ele nos empurra em outra direção.

Não estou aqui defendendo que você deixe de lado família, relacionamentos amorosos, trabalho, time de futebol, lazer ou qualquer outra coisa por causa de Deus. Nada disso. O que você não pode fazer é permitir que qualquer uma dessas coisas domine sua vida, pautando suas ações, como acontece com Giba, o torcedor fanático. 

Com carinho

terça-feira, 12 de março de 2019

O "NÃO" SINCERO E O "SIM" SEM COMPROMISSO

Eu prefiro o não sincero ao sim sem compromisso. Parece estranho dizer isso, mas vou me explicar melhor.

Frequentemente, é preciso pedir para algum frequentador da igreja que ajude nas atividades. Nenhuma igreja tem recursos para contratar toda a mão de obra de que precisaria para desenvolver todas as suas atividades (cerimônias religiosas, escola bíblica, ação social, recreação, etc). Assim, a obra de Deus depende essencialmente do trabalho voluntário. 

E quando esse pedido de ajuda é feito, uma resposta bastante comum é a pessoa dizer que não tem tempo para ajudar. Ela alega que até gostaria de fazer isso, mas não tem condições para ajudar. 

Essa é uma resposta que desaponta - afinal, ninguém deve ser tão ocupado a ponto de não ter tempo para fazer aquilo que Deus lhe pede -, mas acho essa resposta melhor do que outra, também muito comum.

Essa outra resposta é o sim sem compromisso. A pessoa até se compromete a ajudar, mas nada faz de concreto. Ou seja, ela disse sim ao pedido de ajuda apenas para não se sentir constrangida e passar uma imagem positiva para quem pediu a ajuda. 

Eu acho o não sincero menos prejudicial do que o sim sem compromisso, pois o primeiro dá a quem pede ajuda condições de saber a quantas anda. Quando alguém promete fazer algo e não cumpre sua palavra, causa um grande estrago na obra de Deus. 

Isso porque a falta de compromisso gera um "buraco" na escala de execução das atividades. Chega na hora, a pessoa que prometeu não aparece, e não tem ninguém disponível para desempenhar aquela atividade. E outra pessoa precisará ser escalada às pressas para tapar o buraco e ficará sobrecarregada (pois certamente já estava cumprindo outra tarefa).

Eu não tenho dúvidas que o sim sem compromisso prejudica o relacionamento da pessoa irresponsável com Deus. E acredito também que, quem age assim, nunca parou para pensar sobre as consequências da sua atitude. Afinal, como ela se sentiria se Deus agisse da mesma forma? Isto é, ela pediu ajuda a Deus, Ele prometeu ajudar, e deixou a pessoa na mão? Como essa pessoa iria se sentir? Provavelmente, revoltada e traída por Deus. E por que deveria ser diferente com Deus. 

Eu acredito que Deus deve ficar muito indignado com quem promete ajudar na sua obra e nada faz. Quem diz sim apenas para parecer ser um bom cristão, mas não tem qualquer compromisso com as coisas de Deus.

Portanto, se você assumir um compromisso qualquer com a obra de Deus, cumpra o que prometeu. Se não quiser fazer ou tiver qualquer dúvida quanto à possibilidade de cumprir aquilo que está lhe sendo pedido, é melhor dizer não. 

Deixar a obra de Deus na mão certamente tem consequências espirituais sérias.

Com carinho

domingo, 10 de março de 2019

ESCUTANDO A VOZ DE DEUS

Escutar a voz de Deus é uma coisa muito importante. E há uma passagem da Bíblia que mostra isso de forma muito clara. Ela está no Gênesis, logo no início do texto bíblico. E descreve o momento em que Deus chama por Adão e Eva, os primeiros seres humanos. Eles tinham se escondido por estarem com vergonha - tinham tomado consciência de estarem nus, depois de comorem o fruto da árvore proibida.

Esse texto traz um grande ensinamento sobre a necessidade de escutarmos a voz de Deus. Quando Ele nos chama, precisamos responder logo, diferentemente do que fizeram Adão e Eva. 

Escutar a voz de Deus e responder de imediato a Deus é fundamental. Afinal, Ele não somente é nosso Criador, como também sempre quer o nosso bem.

É sobre isso que falo no meu mais novo vídeo - veja aqui.

Se você quiser ver outros vídeos recentes meus, veja aqui e aqui.

sexta-feira, 8 de março de 2019

PAI, MÃE E O QUINTO MANDAMENTO

Honra a teu pai e a tua mãe, como o Senhor teu Deus te ordenou, para que se prolonguem os teus dias e para que te vá bem na terra que o Senhor teu Deus te dá. Deuteronômio capítulo 5, versículo 16
O mandamento para honrar pai e mãe tem características diferentes dos nove outros, que também foram os Dez Mandamentos. A primeira delas é ser um mandamento positivo, ou seja, estabelece algo que precisa ser feito, enquanto a maioria dos demais mandamentos tem cunho negativo ("não faça isso ou aquilo").

E os mandamentos positivos geram duas dificuldades para quem deseja cumpri-los fielmente: i) é preciso definir com clareza o que deve ser feito e ii) é preciso ainda saber quando já se fez o bastante.
A outra diferença de do mandamento de honra seu pai e mãe em relação aos demais é ter uma promessa ligada ao seu cumprimento. E se trata de promessa muito importante e especial.
O que é "honrar" pai e mãe
A palavra honrar (em hebraico, "kabed”) significa "dar peso ou importância". E esse é o significado do mandamento: os pais precisam ter importância e peso nas vidas dos seus filhos.
Portanto, aquela situação muito comum, onde os pais idosos são deixados em um “depósito” de velhinhos e os filhos nunca vão lá visitá-los, é uma clara violação do quinto andamento. Os pais podem até ser bem cuidados no tal asilo, mas se não mantiverem sua importância e peso na vida dos filhos, o mandamento não está sendo cumprido. Simples assim. 

E a razão para essa exigência de Deus é fácil de entender. Durante a infância, a criança precisa ser protegida e cuidada pelos seus pais. E essa necessidade de proteção vai diminuindo ao longo do tempo, até que a situação se inverte, quando os pais chegam à velhice. Aí são eles que passam a depender da proteção dos filhos. 

E se os pais têm obrigação de zelar e prover as necessidades dos seus filhos enquanto eles não podem fazer isso, nada mais justo que aconteça a recíproca, quando são os pais que se vêem limitados. 

Mas há mais. Para o povo de Israel, havia uma razão adicional para cobrar a honra a pai e mãe. A Aliança que Deus fez com esse povo, desde Abraão, estava baseada no sangue, isto é as pessoas entravam nela ao nascer. Portanto, os pais funcionavam como "porta de entrada" para a Aliança. E daí vinha sua grande importância. 

Hoje, estamos na Nova Aliança, caracterizada pelo sacrifício de Jesus na cruz. E os pais continuam a ser "porta de entrada" na Aliança com Deus, mas, agora seu papel é diferente: cabe a eles a responsabilidade de encaminhar seus filhos na fé em Cristo, levando-os à igreja, ensinando-lhes a vontade de Deus, dando-lhes o exemplo, etc. E esse também é um papel de enorme importância. 

Ora, tudo isso deixa claro que o quinto mandamento é dirigido para adultos e não para crianças. É preciso ter entendimento pleno para poder "honrar" pai e mãe. Portanto, é errado os pais cobrarem obediência dos filhos pequenos citando esse mandamento. Não é sobre isso que o quinto mandamento fala.

Uma pergunta que ouço com frequência é se maus pais - aqueles que abandonam ou tratam mal os filhos na infância e adolescência - também devem ser honrados. Sei que a resposta não é fácil de aceitar: não há exceções para o mandamento. A Bíblia não diz que somente devem ser honrados pais bons e amorosos. Todos devem ser honrados.

Mas não é exigido dos filhos amem os pais ou fechem os olhos para os desmandos deles. O mandamento é para que os filhos não abandonem os pais à própria sorte, especialmente quando eles ficarem velhos. E os pais que tiverem descumprido suas obrigações terão que se entender com Deus pelo que fizeram de errado. A Ele cabe dar a punição (Efésios capítulo 5, versículo 3).
A promessa
O quinto mandamento é o único que tem uma promessa acoplada. Na verdade, há duas versões para o que é prometido. A primeira está no livro do Deuteronômio (conforme a citação no início desta postagem). A outra versão aparece em Efésios capítulo 5, versículos 2 e 3, sendo ligeiramente diferente:
Honra a teu pai e tua mãe, que é o primeiro mandamento com promessa, para que te vá bem e sejas de longa vida sobre a terra.
Em ambas as versões, a promessa é composta de duas partes. A primeira fala em prolongar a vida sobre a terra, isto é, viver mais tempo. Já a segunda parte da promessa refere-se a "ir bem", ou seja, ter uma vida recheada de coisas positivas.

Na versão do Deuteronômio, o texto fala em ir bem na terra que Deus deu (refere-se à Palestina que é a Terra Prometida). Isso faz sentido porque o público original dos Dez Mandamentos era o povo de Israel, herdeiro dessa terra. 

Já na carta aos Efésios, escrita cerca de 1.300 anos depois do Deuteronômio, o público era constituído tanto de israelitas como gentios (não judeus). Aí Paulo tirou a referência à terra que Deus tinha dado, pois ela não se aplicava ao seu público ouvinte. Mas manteve o mesmo sentido, preservando o conceito de "ir bem". 

Resumindo, a promessa incluída nesse mandamento está relacionada com longevidade e ter uma vida boa, o que acredito seja o desejo de cada pessoa. Portanto, se você não foi convencido a cumprir o quinto mandamento pelas razões que apresentei na primeira parte desta postagem, acredito que a promessa a ele atrelada seja motivo suficiente para que você se convença e passe a fazer isso.  

Com carinho

quarta-feira, 6 de março de 2019

AS RAZÕES PARA PROIBIR AS IMAGENS DE ESCULTURA

O segundo dos Dez Mandamentos – não farás para ti imagens de escultura..., não as adorarás, nem lhes darás culto (Êxodo capítulo 20, versículos 4 e 5) – gera bastante dúvida. Afinal, boa parcela do cristianismo – por exemplo, católicos romanos e católicos ortodoxos – usam regularmente nas suas missas imagens e figuras consideradas sagradas. Já os evangélicos criticam fortemente essa prática e a consideram uma violação clara do segundo dentre os Dez Mandamento.

Por que será que Deus fez essa proibição? Para responder, vou começar analisando o que leva uma pessoa a fazer uma imagem ou figura de Deus ou Jesus e usá-la num momento de culto. 

Imagens e figuras de Deus usadas em oficios religiosos (como as missas) tornaram-se comuns porque não é fácil para a maioria das pessoas adorar um Ser invisível. Essas imagens são usadas, então, para tornar mais concreta a presença de Deus para os fiéis. Mas essa prática gera três tipos de problemas e por isso é proibida na Bíblia. 

Em primeiro lugar, a concepção que mesmo o melhor dos artistas venha a fazer de Deus sempre será muito limitada. Assim, qualquer imagem ou figura usada em momentos de culto, mesmo a mais bonita delas, sempre será uma distorção da realidade. 

E como os fiéis se acostumam com essas representações divinas, acabam imaginando que Deus ou Jesus são exatamente como essas imagens ou figuras mostram. Não é por acaso, portanto, que a maioria das pessoas pense em Deus como um velho bonito, de longas barbas brancas. Mas essa foi a forma como Ele foi representado por Michelangelo nas pinturas do teto da Capela Sistina. E é claro que Deus não é assim, pois é um espírito.

E percepções distorcidas de Deus ou Jesus geram consequências ruins. Por exemplo, Deus sempre foi retratado pelos artistas como um homem e, por causa disso, os fiéis tendem a vê-lo como sendo do gênero masculino, o que não é verdade, pois Ele não tem gênero. E essa percepção ajudou a incentivar a noção que o gênero masculino é superior e gerou, ao longo da história, todo um esquema de dominação da mulher. O mesmo pode ser dito do fato de Deus ser normalmente representando como sendo branco, reforçando a ideia que pessoas dessa cor de pele são superiores.

O segundo problema trazido pelo uso de imagens e figuras divinas em ofícios religiosos é que elas frequentemente acabam se tornando sagradas aos olhos dos fiéis, passam a representar corporificações reais de Deus. Basta ver como as imagens são tratadas pela Igreja Católica para entender o que acabei de falar. Ora, Deus não se agrada disso - a adoração deve ser reservada somente para Ele. Imagens e figuras são obras humanas e nunca podem ter esse papel.

O terceiro problema está relacionado com o poder adquirido pelos sacerdotes que controlam esses objetos sagrados. Há vários exemplos na história da Igreja Católica, por exemplo, de situações em que padres negaram aos fiéis acesso às imagens consideradas sagradas pelas pessoas para obrigá-las a se curvarem à sua vontade. E conseguiram seu objetivo. Ora ninguém pode ter esse tipo de poder. Ninguém.

Resumindo, há boas razões para proibir o uso de imagens e figuras em ofícios religiosos (missas ou cultos). Portanto, os evangélicos estão certos em criticar essa prática. O problema não está nas imagens e figuras em si, mas sim no uso errado que inevitavelmente acaba sendo feito delas. 

Com carinho

segunda-feira, 4 de março de 2019

O SÁBADO E O QUARTO MANDAMENTO

Lembra do dia do sábado para o santificar. Seis dias trabalharás e farás toda a tua obra. Mas o sétimo dia é o shabbat do Senhor teu Deus... Êxodo capítulo 20, versículos 8 a 10
A santificação do sábado é a ordenança de Deus que provavelmente mais gera discussões dentre os Dez Mandamentos. E há duas questões diferentes envolvidas nesses debates: i) qual é o dia da semana que precisa ser preservado e ii) qual é o significado de “santificar” o sábado. 

A qual dia da semana o mandamento se aplica?
O livro do Gênesis no capítulo 1 diz que o mundo foi criado em seis dias e que no sétimo dia Deus descansou. Por causa disso, o último dia da semana foi considerado santo (separado) por Ele.

Agora, não se pode esquecer que, quando o Gênesis descreveu a criação do mundo, era natural que o texto usasse, para compor a narrativa, as referencias de tempo mais conhecidas, ou seja, o "dia" e a "semana". Afinal, dias e semanas sempre foram facilmente observados pelo movimento do sol e pelas fases da lua. 

As interpretações mais aceitas do primeiro capítulo do Gênesis não consideram que esse texto fala realmente de sete dias de 24 horas. A referência feita nele seria simbólica. Portanto, a citação ao sábado feita no relato da criação não se refere ao dia que hoje conhecemos por esse nome. 

Portanto, a discussão para saber qual dia da semana melhor caracteriza aquele que Deus separou para ser santificado - por exemplo, sábado ou domingo - não faz muito sentido. A única coisa que o relato do Gênesis permite mesmo mesmo afirmar é que Deus estabeleceu um dia da semana para ser santificado. Nada mais. 

E os judeus não estão errados em seguir o mandamento contando os seus sábados com o mesmo critério que vêm usando desde tempos imemoriais - o sábado judaico começa ao cair do sol da nossa sexta feira e termina ao cair do sol do dia seguinte. Como também não estão errados os cristãos, ao considerar o domingo santificado, como homenagem ao dia da semana em que Jesus ressuscitou (ver Atos capítulo 20, versículo 7). 

A escolha por um dia ou outro é essencialmente uma questão de tradição e acredito que cada um pode seguir a tradição que preferir, sem violar o mandamento de Deus. 

O que é santificar o sábado?
A palavra hebraica “shabbat” quer dizer “dia separado para descanso”. E esse foi o objetivo de Deus: estabelecer um dia no qual as pessoas não trabalhassem, para que não se transformassem em verdadeiros animais de carga, trabalhando todos os dias do ano.

Deus estabeleceu a necessidade de haver um tempo para conviver em família, criar arte, conversar e, sobretudo, para se relacionar com Ele. E, para que esse dia de descanso fosse respeitado, Ele estabeleceu isso num mandamento - essa foi a razão para o quarto dentre os Dez Mandamentos. 

E a prescrição de um dia para descanso acabou migrando da prática religiosa para a legislação civil e, hoje, as leis trabalhistas de quase todos os países civilizados estabelecem pelo menos um dia de descanso por semana. 

Agora, o mandamento original dizia que não se podia trabalhar no dia santificado (separado). E aí surgiu uma discussão entre os judeus sobre qual seria o significado de “trabalho” nessa situação. Cozinhar seria trabalhar? Afinal, para a mulher que passava a semana cozinhando, certamente seria sim trabalho. E nasceu aí a proibição dos judeus cozinharem nesse dia. 

Mas, e caminhar, seria isso trabalho? É claro que andar dentro de casa não seria trabalhar, mas andar entre uma cidade e outra talvez fosse. E aí passou a ser proibido caminhar mais do que determinada distância no sábado. 

E assim, pouco ao pouco, os judeus foram estabelecendo leis que passaram a regular tudo o que se poderia ou não fazer no sábado. E, para piorar as coisas, surgiram as chamadas “leis de cerca”, regras que tornaram as exigências ainda maiores para trazer garantia absoluta que o mandamento não fosse violado. 

Por exemplo, se a distância limite que se poderia andar no sábado tivesse sido, digamos, estabelecida em 2 km, a lei de "cerca de cerca" cortaria a distância permitida à metade, para que o mandamento não fosse violado, mesmo que alguém se atrapalhasse ao medir a distância caminhada nesse dia da semana. 

E, ao longo dessas discussões constantes, os judeus criaram cerca de 60 leis caracterizando aquilo que era ou não permitido fazer no sábado. E esse dia da semana acabou se tornando um motivo de ansiedade, ao invés de um período para relaxamento. Foi aí que Jesus interveio e alertou para o erro cometido, quando disse, em Marcos capítulo 2, versículo 27: 
...o sábado foi estabelecido por causa do homem e não o homem por causa do sábado
Em outras palavras, o sábado foi feito para preservar a dignidade das pessoas, impedindo que elas só trabalhassem. O sábado foi estabelecido principalmente para dar-lhes condição de manter um relacionamento criativo com Deus. Mas, definitivamente, o sábado não foi estabelecido para se tornar um fim em si mesmo e escravizar as pessoas num emaranhado de regras. 

Santificar o sábado é reservar um dia da semana para aproveitar a vida em família, relaxar e, sobretudo, para estar na presença de Deus - louvando, ouvindo sua Palavra e orando. O que passar disso, foge do espírito do mandamento.

Com carinho