terça-feira, 30 de agosto de 2016

O QUE É MAIS IMPORTANTE: EMOÇÃO OU RAZÃO?

O apelo para a emoção das pessoas durante os cultos evangélicos é muito comum. O louvor e pregação costumam dar preferência a temas que levantam o astral das pessoas, fazendo-as se sentir amadas, protegidas e abençoadas por Deus.

Eu não vejo nada errado em apelar para a emoção das pessoas, seguindo o exemplo do cinema, televisão, teatro e literatura. É possível sim falar de coisas sérias - como do relacionamento com Deus - e ao mesmo tempo encantar e entreter as pessoas. 

O problema real aparece quando as igrejas só fazem isso. Culto após culto, a ênfase é sempre na emoção e no entretenimento. E as pessoas acabam aprendendo a se relacionar com Deus somente dessa forma. Para muitos(as) evangélicos(as), cultos onde as pessoas não venham a se emocionar parecem não ter espiritualidade real. São percebidos como "frios". E isso não é verdade.

Esse problema é muito mais comum do que talvez você tenha se dado conta - afinal, boa parte das igrejas pentecostais age exatamente assim.

Quando o apelo é somente para emoção, fica faltando um outro lado: a busca do conhecimento e do entendimento da doutrina cristã. Na verdade, é isso que faz as pessoas crescerem na fé e encontrarem forças para enfrentar o desafio de viver uma vida cristã em meio às dificuldades e aos problemas que sempre aparecem. Esse é um território onde as emoções pouco ajudam.

Há uma "lenda urbana" no meio evangélico que defende a tese que a fé verdadeira deve ser "cega" - não é preciso buscar explicações para nada, basta sentir e crer. E seria isso que Deus espera de nós.

Mas não é isso que a Bíblia ensina, como é possível ver no exemplo do texto abaixo:
Antes, santificai ao Senhor Deus em vossos corações; e estai sempre preparados para responder com mansidão e temor a qualquer que vos pedir a razão da esperança que há em vós. 1 Pedro capítulo 3, versículo 15

O apóstolo Pedro orientou as pessoas a darem respostas para quem lhes pedir a razão para a sua esperança (fé). Ora, somente pode apresentar a razão para sua fé quem entendeu o que a doutrina diz e aprendeu como aplicá-la na prática.

Em outras palavras, o apóstolo Pedro não defendeu uma fé cega, muito ao contrário disso. Ele falou de uma fé apoiada na razão, no estudo da doutrina. Na discussão das eventuais dúvidas.

Comunidades de fé que somente exploram a emoção e não investem em ensinar as pessoas a usar seu entendimento, sua razão, ficam "capengas". Acabam por gerar cristãos(ãs) infantilizados(as), que nunca sabem responder os questionamentos que ouvem sobre sua fé. Não conseguem enfrentar por conta própria os desafios que a vida vier a colocar à sua frente, tornando-se dependentes espiritualmente dos seus pastores. Mas esse não é o ensinamento da Bíblia - Jesus preparou seus discípulos para irem pelo mundo e viverem o cristianismo.

As igrejas costumam explorar mais as emoções porque conseguem resultados mais rápidos e mais fáceis. Um único pregador pode, numa pregação bem feita, emocionar milhares de ouvintes em poucos minutos. Discipular essas mesmas pessoas nos caminhos de Jesus pode levar anos e requerer o concurso de dezenas de discipuladores(as).

Repare que Jesus, ao longo dos seus três anos de ministério, desenvolveu apenas doze apóstolos. Ele pregou sim para milhares de pessoas, curou centenas de doentes, mas somente discipulou de fato um punhado de homens.

Agora, o que tudo isso tem a ver com você? Simples: ao escolher a igreja que irá frequentar, onde vai desenvolver suas atividades religiosas, busque uma comunidade que desenvolva as duas coisas de forma equilibrada. Fale sim á emoção, pois isso é necessário para motivar e inspirar. Mas também não deixe de ensinar, em Escola Bíblica ou pequenos grupos de estudo, a doutrina cristã, conforme a Bíblia apresenta. As duas coisas precisam andar sempre juntas. 

Com carinho

domingo, 28 de agosto de 2016

JESUS, O MAIOR DENTRE OS CONTADORES DE ESTÓRIAS

Uma das características mais marcantes do ministério de Jesus é ter sido um grande contador de estórias - acredito que o maior que já existiu. Estórias como a do "bom samaritano", a do "filho pródigo", a do "rico e do Lázaro" e a do "devedor sem compaixão" emocionaram e ensinaram verdade eternas a incontáveis gerações de pessoas.

Jesus não inventou o discurso baseado em "parábolas", como essas pequenas estórias são conhecidas. Há registro na Bíblia de outros profetas usando o mesmo recurso antes d´Ele, como Natã, quando foi convencer o rei Davi do seu pecado com Bate-Seba (2 Samuel capítulo 12, versículos 1 a 14). 

Mas nenhum profeta fez tanto uso das parábolas, como Jesus. Por isso, quando se fala em parábolas, de cara o nome Jesus vem à mente das pessoas. Assim, como quando se fala em salmos, o nome de Davi aparece. Ou quando se fala em provérbios, Salomão é de quem todos se lembram.

Por que Jesus escolheu esse meio simples de se comunicar com as pessoas? Afinal, Jesus podia ter escolhido outras formas para ensinar. Penso que há várias razões para essa escolha.

E a primeira delas é o poder didático que as estórias têm. Se você quiser ensinar um princípio moral importante para crianças, qual é melhor forma? Sem dúvida, contar uma bonita estória, como "Branca de Neve", ou "Cinderela" ou "Bela Adormecida".

Estórias ensinam enquanto encantam e são tão poderosas que ficam gravadas nas mentes das pessoas para sempre. 

O segundo motivo porque as estórias foram escolhidas por Jesus como meio de ensinar é a simplicidade e facilidade com que permitem transmitir conceitos teológicos sofisticados. Por exemplo, quando Jesus reforçou o mandamento de "amar ao próximo como a sim mesmo", um homem veio e lhe perguntou quem era o "próximo". Se fosse um fariseu, Jesus provavelmente teria dado uma série de regras para estabelecer quem é o próximo, mas não fez isso. Ele contou a estória do "bom samaritano", onde um homem cuidou de outro, desconhecido dele, que encontrou machucado à beira da estrada.

Uma simples estória explicou tudo muito bem, de forma simples e poderosa. Até hoje, se alguém quiser saber quem é seu "próximo", a melhor forma de explicar é contar essa parábola.

Outro conceito teológico sofisticado que Jesus explicou através de parábolas foi "reino de Deus" e sua chegada entre nós. Por exemplo, Ele usou a imagem de uma pequena semente que cresce até virar árvore frondosa. Compare a facilidade de entender esse conceito com o ensinamento da "salvação pela fé apenas", conforme Paulo transmitiu na sua carta aos Romanos - sem dúvida esse é um texto árido e difícil de acompanhar, embora seja fundamental para o cristianismo.

E houve uma terceira razão para Jesus ter recorrido às parábolas como meio de passar ensinamentos:

E, acercando-se dele os discípulos, disseram-lhe: Por que lhes falas por parábolas? Jesus, respondendo, disse-lhes: Porque a vós é dado conhecer os mistérios do reino dos céus, mas a eles não lhes é dado... Por isso lhes falo por parábolas; porque eles, vendo, não vêem e, ouvindo, não ouvem e nem compreendem... Porque o coração deste povo está endurecido e ouviram de mau grado com seus ouvidos e fecharam seus olhos... Mas, bem-aventurados os vossos olhos, porque vêem, e os vossos ouvidos, porque ouvem. Mateus capítulo 13, versículos 10 a 16


Em outras palavras, para alguém verdadeiramente entender o que Jesus ensinou nas suas parábolas, para se deixar impactar pelos ensinamentos contido nelas, a pessoa precisa ter coração aberto para o Evangelho.


Isto porque os ensinamentos contidos nas estórias de Jesus são essencialmente espirituais. O que importa não é o que aconteceu em cada uma dessas estórias e muito menos nos detalhes contidos nelas e sim o quê o Espírito Santo transmite para cada uma de nós que as lê. Simples assim.

As demais pessoas, aquelas que ainda não foram tocadas pelo Evangelho de Cristo, vão ouvir as mesmas estórias e perder seu significado mais profundo. Não serão impactadas de fato por elas: essas pessoas verão e não perceberão, ouvirão e não entenderão, como diz a passagem bíblica acima. 

Portanto, toda vez que você estudar uma parábola de Jesus - e tenho diversos posts aqui falando sobre isso, como exemplo 1 e exemplo 2 - saiba estar tendo acesso a uma pequena obra-prima. Uma estória concebida por Jesus especialmente para lhe ensinar algo importante.

Com carinho

quarta-feira, 24 de agosto de 2016

A PARÁBOLA DOS DOIS DEVEDORES

E rogou-lhe um dos fariseus que comesse com ele, e, entrando em casa do fariseu, assentou-se à mesa. E eis que uma mulher da cidade, uma pecadora, sabendo que ele estava à mesa em casa do fariseu, levou um vaso de alabastro com unguento. E, estando por detrás, aos seus pés, chorando, começou a regar-lhe os pés com lágrimas e enxugava-lhos com os cabelos. E beijava-lhe os pés e ungia-lhos com o unguento ...O fariseu que o tinha convidado, falava consigo: Se este fora profeta, bem saberia quem e qual é a mulher que lhe tocou, pois é uma pecadora ...E [Jesus] respondeu-lhe: Simão, uma coisa tenho a dizer-te ...Certo credor tinha dois devedores: um devia-lhe quinhentos dinheiros, e outro cinqüenta. E ...perdoou-lhes a ambos. Dize, pois, qual deles o amará mais? E Simão, respondeu: Tenho para mim que é aquele a quem mais perdoou. E ele lhe disse: Julgaste bem. E, voltando-se para a mulher, disse a Simão: Vês tu esta mulher? Entrei em tua casa, e não me deste água para os pés; mas esta regou-me os pés com lágrimas e os enxugou com os cabelos de sua cabeça. Não me deste ósculo, mas esta ...não tem cessado de me beijar os pés. Não me ungiste a cabeça com óleo, mas esta ungiu-me os pés com unguento. Por isso te digo que seus muitos pecados lhe são perdoados, porque muito amou; mas aquele a quem pouco é perdoado pouco ama. Lucas capítulo 7, versículos 36 a 47

Era costume na época de Jesus, convidar para jantar, no final do sábado, um mestre itinerante que tivesse pregado na sinagoga durante o serviço religioso. Tal convite era uma honra tanto para o convidado como para o anfitrião.


E foi isso que aconteceu com certo fariseu, chamado Simão (versículo 36). Certamente, antes do convite de Simão, Jesus tinha pregado na sinagoga e impressionado os ouvintes. Não é de estranhar, portanto, que Simão pensasse ser Jesus um profeta cheio do Espírito Santo.

Ora, havia uma mulher pecadora na cidade: ela podia ser uma prostituta, uma adúltera ou até mesmo a esposa de homem com profissão desonrosa, como cobrador de impostos ou curtidor de peles.

A pecadora lavou os pés de Jesus, arrependida que estava dos pecados que cometera e grata de ser recebida por Ele. E suas atitudes provaram isso: o beijo nos pés era sinal de grande gratidão; o fato de ter tirado o véu e exposto os cabelos - motivo de desonra para qualquer mulher - demonstrou seu desprendimento; e o uso de unguento caro indicou que ela tinha Jesus em alta conta. 

Aquela mulher demonstrou gratidão por ser recebida, desprendimento e compromisso, bem como amor verdadeiro por Jesus. Sentimentos fundamentais para quem pretende seguir nosso Salvador.

Por outro lado, Simão começou a duvidar que Jesus fosse mesmo profeta. Não passou pela cabeça dele que Jesus aceitasse uma mulher pecadora, portanto a única explicação para o que estava acontecendo era o fato de Jesus desconhecer quem a mulher era (não foi avisado por Deus a esse respeito).

Jesus respondeu às dúvidas de Simão com uma pequena estória sobre dois devedores que tiveram suas dívidas perdoadas. E perguntou ao fariseu qual deles deveria ser mais agradecido. Simão respondeu que evidentemente aquele que recebeu um perdão de dívida maior.

Aí que Jesus comparou a situação da mulher pecadora com a do próprio Simão. Ela tinha demonstrado grande gratidão e amor porque estava sendo perdoada de muitos pecados e aceita pro Jesus apesar deles. Já Simão, seguidor estrito da Lei, considerava-se homem correto e justo, com muito poucos pecados a perdoar, daí não demonstrar gratidão ou amor significativos por Jesus.

Simão não entendia ainda - e talvez nunca veio a entender - que sobrou naquela mulher aquilo que faltava nele mesmo. E com seus comentários, Jesus forçou o fariseu a olhar para dentro de si mesmo. A questionar suas certezas e a perceber que não era tão bom quanto pensava ser.

Essa é uma situação parecida com aquela que Jesus enfrentou, quando um bando de homens queria apedrejar uma mulher adúltera. Nessa segunda situação, Jesus desafiou os acusadores: "quem não tiver pecado, que atire a primeira pedra..." (João capítulo 8, versículos 1 a 11).

Quem se sabe pecador e recebe o perdão e a salvação de Deus, deveria sentir enorme gratidão e amor por Ele. Já aquele(a) que pensa ser bom(boa) e justo(a) terá pouco incentivo para se aproximar de Deus.

É por isso que quando alguém me confessa ter dificuldade para amar a Deus, eu sempre pergunto à pessoa se ela tem consciência dos seus próprios erros e de quanto precisa da Graça de Deus. Simples assim.

Com carinho

segunda-feira, 22 de agosto de 2016

CAÇANDO POKEMONS

A mídia tem noticiado bastante a febre causada pelo jogo eletrônico Pokemon Go. Para quem não sabe, trata-se de jogo de "realidade aumentada", para ser usado em smartphones, onde a pessoa precisa capturar "bichinhos" virtuais, os pokemons, escondidos no mundo real.

A tecnologia utilizada nesse jogo permite misturar coisas reais - o ambiente onde a pessoa está com base em dados de GPS - e coisas virtuais, que somente podem ser vistas através da interface do jogo.

Virou comum ver pessoas andando pelas ruas, olhando para seus celulares, totalmente distraídas da realidade à sua volta, pois estão caçando pokemons. Atravessam ruas sem olhar, arriscando suas vidas, invadem museus e cemitérios, perturbando a paz das outras pessoas, caem em buracos e se machucam. Comportamento que poderia ser motivo de riso, se não fossem os inconvenientes que causa. 

Parece ser, com base no depoimento de quem já jogou o Pokemon Go, que a experiência vivida é emocionante e é fácil a pessoa ficar viciada, se esquecer da própria vida e ficar jogando Pokemon por horas e horas.

Outro dia perguntaram minha opinião sobre essa febre. Eu confesso que não vejo nada de errado com o jogo em si, mas sou totalmente contra esses excessos, pois não fazem nada bem.

Essa febre mais uma vez me permite constatar a necessidade que as pessoas têm de encontrar algo que traga um pouco de fantasia e sonho para suas vidas. Elas se sentem massacradas pela rotina que enfrentam e pelas frustrações dos seus sonhos e querem encontrar algo que alivie esses sintomas.

E a realidade aumentada permite misturar fantasia com a realidade, fazendo que os dois mundos convivam - está perto o momento quando as pessoas terão possibilidade de "conviver" com seus personagens favoritos e viverem seu "conto de fadas" particular.

A ânsia pela fantasia e pelo sonho, para anestesiar o desconforto da vida, não é fenômeno exclusivo do mundo moderno. Por exemplo, dois mil anos atrás, os imperadores romanos gastavam fortunas para promover jogos com gladiadores, dando divertimento excitante ao povo. "Pão e circo" era o lema que seguiam - "pão" indicava a necessidade de garantir alimento, enquanto "circo" era a promoção de divertimento popular (a palavra fazia referencia ao local onde as lutas de gladiadores ocorriam, o Circus Maximus, em Roma).

Futebol, novelas na televisão, filmes milionários, Carnaval e, mais recentemente, os jogos eletrônicos, tudo isso segue a mesma lógica. E ale´m de darem algum alívio e alegria para as pessoas, geram fama para artistas e jogadores e bilhões para quem sabe explorar essa tendência.

Repito, não sou contra esse tipo de diversão - aprecio futebol ou bons filmes. Mas sou francamente contra os excessos - a adoração a artistas e jogadores de futebol, a incapacidade de viver sem ver o último capítulo da novela ou mesmo o jogo do time de futebol preferido. Conheço o caso de um homem que só foi ao batizado do próprio filho porque a cerimônia foi marcada num dia em que seu time do coração não jogava. 

Quando Jesus disse que o principal mandamento era amar a Deus sobre todas as coisas, estava dizendo que precisamos colocá-lo antes de tudo. Em outras palavras, não devemos dar espaço em nossas vidas para aquilo que possa nos "anestesiar" e/ou viciar. Não porque o filme, o jogo ou qualquer outra coisa desse tipo seja errada em si, mas pelo fato delas se tornarem o "deus" da nossas vidas.

Ora, todas essas coisas passam - os jogadores atuais irão se aposentar e outros vão surgir, os(as) artistas vão envelhecer e serão substituídos(as) por outros(as) mais jovens, os jogos eletrônicos atuais acabarão trocados por outros, melhores, de geração mais nova, e assim por diante. Os "deuses" de hoje vão cair e serão trocados por novos "deuses"...

Nada que possa envelhecer, ficar obsoleto ou ser substituído por algo melhor, pode ter essa importância nas nossas vidas. Pode dar sentido ao nosso viver.

O Deus que adoramos é de outra natureza: está além do tempo, não muda, enfim, Ele é fonte de estabilidade real para a vida de qualquer pessoa. É por isso que nada pode tomar o lugar d´Ele em nossas vidas. E permitir que isso ocorra é pecado.

Agora, há outro problema com essa tendência dos seres humanos de encontrar outros "deuses" para preencher suas carências. E ele tem a ver com a forma como fomos criados.

O Deus nos concebeu para estar em contato constante com Ele. Para experimentarmos um relacionamento íntimo com nosso Criador. É como se tivéssemos dentro de nós um "vazio" que somente pode ser preenchido com Ele. E é por isso que a vida sem Deus carece de sentido, de significado, não satisfaz, não importa aquilo que tenhamos de bens materiais.

Chamamos de "espírito" a parte do nosso ser que foi concebida para ser o "órgão" que faz a ligação com Deus. É através desse "órgão" que o Espírito Santo fala às nossas consciências, apontando o que está certo ou errado. E através do espírito que cada um(a) de nós consegue louvar a Deus e se sentir próximo(a) d´Ele e perceber seu amor maravilhoso, especialmente nos momentos de dificuldade.

Nada contra Pokemon Go ou outra coisa desse tipo. Mas sou contra a febre que toma conta das pessoas ao usar esse tipo de jogo. Assim como sou contra qualquer outra coisa que venha a nos separar de um relacionamento saudável com Deus. Simples assim.

Com carinho

sábado, 20 de agosto de 2016

A CORRIDA DA FÉ

Portanto nós também, pois que estamos rodeados de uma tão grande nuvem de testemunhas, deixemos todo o embaraço, e o pecado que tão de perto nos rodeia, e corramos com paciência a carreira que nos está proposta, Olhando para Jesus, autor e consumador da fé, o qual, pelo gozo que lhe estava proposto, suportou a cruz, desprezando a afronta, e assentou-se à destra do trono de Deus. Considerai, pois, aquele que suportou tais contradições dos pecadores contra si mesmo, para que não enfraqueçais, desfalecendo em vossos ânimos. Hebreus capítulo 12, versículos 1 a 3
A carta aos Hebreus tem autor desconhecido - é o único livro do Novo Testamento nessa condição. Há quem o atribua a Paulo, mas a maioria dos estudiosos entende ser o estilo do texto muito diferente daquele que o apóstolo usou em suas outras cartas, como Romanos ou Gálatas.

O texto deve ter sido escrito por volta do ano 65 da nossa era, já que Timóteo ainda estava vivo - é citado no início da carta.

Hebreus é um texto dirigido ao povo judeu e busca mostrar que Jesus é o Messias, o filho de Deus. A razão para ter sido escrito é simples: naquele momento da história havia grande discussão no meio dos judeus sobre quem Jesus de fato era - não devemos nunca esquecer que o cristianismo começou como um grupo dentro do judaísmo.

É interessante observar que o argumento teológico do autor de Hebreus, na passagem que citei acima, faz uso de uma analogia tirada dos esportes - fala em correr a carreira da fé. E isso não é de se estranhar: os esportes já eram muito populares naquela época, sendo que as Olimpíadas já ocorriam na Grécia há séculos. E a vitória numa prova olímpica era considerada grande honra.

O trecho citado acima fala da "corrida" da fé, ou seja da trajetória que cada cristão(ã) deve seguir ao longo da sua vida espiritual. E começa falando que temos uma nuvem de testemunhas para nossos atos.

E temos mesmo e de dois tipos. O primeiro grupo de testemunhas é a sociedade onde vivemos. As pessoas tendem a acompanhar de perto como os(as) cristãos(ãs) se comportam e são rápidas em apontar desvios de conduta e criticar. Sem dúvida, há um rigor de julgamento maior com os(as) cristãos(ãs).

Em outras palavras, a sociedade julga a doutrina cristã pela maneira como os(as) cristãos(ãs) se comportam. E não deveria ser assim, afinal a doutrina cristã não perde validade se aqueles(as) que dizem segui-la não obedecem de fato aquilo que Jesus ensinou. Mas essa é a realidade dos fatos e isso coloca sobre os ombros de cada cristão(ã) um certa dose de responsabilidade.

Um bom exemplo do que acabei de falar é Gandhi, o líder do movimento de independência da Índia e um dos heróis do mundo no século passado, homem com história de vida admirável. Ele seguia o hinduísmo, mas quando jovem foi exposto às ideias cristãs.

Certa vez, já famoso, ele declarou: "eu quero Jesus, mas não quero o cristianismo". Estava se referindo ao fato que os europeus, que se diziam cristãos, cometiam barbaridades com as populações dos países que dominavam, como era o caso da Índia. 

O outro grupo de testemunhas dos nossos atos é formado pelos "heróis da fé" (Hebreus capítulo 11), homens e mulheres que fizeram a obra de Deus e deixaram uma marca na história, como Moisés, Abraão ou Ester.

Essas pessoas são testemunhas nossas no sentido que suas ações servem de fonte de comparação para nós, permitindo apontar as coisas boas e ruins que fazemos hoje em dia.

Depois, o texto de Hebreus fala sobre a necessidade de deixar de lado o embaraço para seguir na "corrida" - outras traduções falam em "desembaraçando-nos de todo peso". Do que o autor está falando?

Está se referindo às coisas que atrapalham nossa vida espiritual, mesmo não sendo pecados. Elas nos impedem de viver uma fé plena, de estabelecer uma relação íntima com Deus. 

Por exemplo, digamos que eu goste muito de futebol, o que nada tem de errado em si. Mas se esse gosto atrapalhar meu compromisso com a obra de Deus, aí ele se tornou um peso, um embaraço. O mesmo pode ser dito de outras coisas importantes como família, trabalho, lazer, etc. Todas elas são importantes e em princípio boas, mas se passarem da medida certa, podem atrasar o desenvolvimento do relacionamento com Deus.

Outra coisa que pode atrapalhar a "corrida" da fé é o pecado. E é mais fácil de entender a razão do que no caso anterior: o pecado nos afasta de Deus. Rompe o relacionamento que com Ele. E não podemos "correr" bem sem respirar o "oxigênio" que vem da relação com o Espírito Santo. Simples assim.

Assim, precisamos nos santificar, lutando diariamente para deixar de lado as tentações e os pecados de qualquer natureza. É somente assim que conseguimos avançar na nossa fé.

O último ponto a comentar é sobre o alvo da corrida: aquilo que nos dá razão para correr. Um atleta se esforça numa Olimpíada para vencer sua prova e ganhar a medalha de ouro. Além do sentimento de missão cumprida, a vitória olímpica atrai fama e naturalmente vantagens financeiras, através de patrocínios.

O alvo do atleta olímpico é, portanto, a medalha. De certa forma, é para essa medalha que ele "olha" mentalmente quando está treinando, cansado, sentindo dor. É no alvo a sua frente que o atleta encontra motivação para seguir.

No caso da corrida da fé, o alvo é Jesus: receber a salvação que somente pode vir d´Ele. É esse o alvo que precisamos ter em mente, especialmente quando estivermos espiritualmente cansados(as), doloridos(as) ou desanimados(as). E pensar naquilo que Jesus nos prometeu que nos vai dar forças para prosseguir, sem esmorecer jamais.

Com carinho

quinta-feira, 18 de agosto de 2016

VOCÊ QUER O DOM DE PROFETIZAR?

Certa vez estava dirigindo um estudo bíblico e o tema tinha a ver com os dons do Espírito Santo. Muitas pessoas se manifestaram dizendo não saber quais eram seus dons espirituais. Aí perguntei a cada uma quais dons gostariam de receber de Deus, já que a Bíblia nos incentiva a buscar os "melhores dons" (1 Coríntios capítulo 12, versículo 31).

A maior parte das pessoas contou que queria receber o dom da profecia. Surpreendido com essas respostas, fui pesquisar e me dei conta que essa é uma realidade constante no meio evangélico: as pessoas têm os(as) profetas em muito alta conta. E dentre os inúmeros dons que o Espírito Santo pode distribuir para cada um(a) de nós, somente "louvor", "poder de pregação" e "cura" têm prestígio entre os evangélicos equivalente ao "profetizar".

Ora, isso indica claramente que as pessoas não sabem bem o que é o dom da profecia. Talvez se encantem com a possibilidade de poder revelar o que o futuro irá trazer - sem dúvida, capacidade que anda junto com o dom da profecia. Mas elas se esquecem (ou não se deram conta ainda) das dificuldades relacionadas com o ministério da profecia.

Digo isso porque a vida dos profetas, conforme a Bíblia conta, quase sempre foi muito difícil. Vejamos alguns exemplos: Isaías morreu serrado ao meio por ordem de um rei que ficou encolerizado com a mensagem que recebeu desse profeta; Elias foi perseguido incessantemente pela rainha Jezebel e o rei Acabe, por denunciar a idolatria do casal; Jeremias foi deixado no fundo de um poço para morrer, só escapando pela intervenção divina; e João Batista teve a cabeça cortada por Herodes, porque o criticou por se casar com a esposa do irmão. As dificuldades na vida de Paulo, então, foram muito grandes: fome, frio, naufrágios, prisão e torturas (2 Coríntios capítulo 11, versículos 13 a 19).

É muito fácil entender a razão para tantos problemas na vida dos(as) profetas: afinal, a missão deles(as) é transmitir para as pessoas mensagens vindas de Deus. E frequentemente tais mensagens não são nada boas, por exemplo, quando Deus está desagradado com o comportamento dessas pessoas.

E quando a mensagem desagradável é dirigida para pessoas poderosas, as chances do(a) profeta se dar mal tornam-se muito grandes. Frequentemente eles(as) acabam como "saco de pancadas" do(a) poderoso(a) irritado(a).

Profecias podem até incluir revelações sobre a vida futura de determinadas pessoas, quando isso for importante para a mensagem que Deus está transmitindo, mas isso não é obrigatório. 

Por exemplo, quando o profeta Natã disse para Davi que ele tinha pecado, ao adulterar com Bate-Seba, o sentido da fala do profeta foi dar um enorme "puxão de orelhas" no rei e mostrar para ele que Deus estava bravo com o que acontecido (2 Samuel capítulo 12, versículos 1 a 14). Davi, apesar do seu pecado, tinha temor a Deus e não se voltou contra Natã, mas poderia facilmente ter feito isso. E foi exatamente essa experiência negativa pela qual passaram profetas como Isaías ou João Batista, que "ousaram" criticar seus respectivos reis.

Profecia é um dom de enorme importância no mundo espiritual, não há qualquer dúvida quanto a isso. O papel dos(as) profetas na história do povo de Deus é enorme, pois cabe a eles(as) a enorme honra de falar em nome de Deus e transmitir a vontade do nosso Criador.

Mas isso não garante que profetizar seja um ministério fácil e charmoso. Muito ao contrário. Costuma ser tarefa difícil e espinhosa, que somente pode ser desenvolvida com grande custo pessoal daqueles(as) chamados(as) por Deus para profetizar.

Com carinho

domingo, 14 de agosto de 2016

O MACHISMO NÃO ASSUMIDO É O PIOR...

A mídia noticiou fartamente a declaração do atual Ministro da Saúde na qual ele afirmou que o SUS atende mais mulheres do que homens porque eles trabalham mais e assim têm menos tempo para procurar postos de saúde.

Ora, tal afirmação não tem apoio nas estatísticas e acabou criticada por muita gente, inclusive a filha do próprio ministro, Deputada Estadual no RS. Há outras explicações muito melhores para o fato das mulheres procurarem mais os postos de saúde, como gravidez e maior preocupação (em relação aos homens) de cuidar da própria saúde.

O que leva um ministro, que prece ser homem esclarecido, a fazer tal tipo de declaração? A resposta é simples: machismo. E se trata de coisa tão arraigada e sutil que a pessoa nem se dá conta e assim não consegue censurar os próprios atos, acabando surpreendida com a repercussão negativa do que fez, como aconteceu com o nosso ministro.

O combate ao machismo é sempre difícil. E não só porque as pessoas - especialmente os homens - nem se dão conta do problema, tão arraigado ele é. Há outras razões.

Uma delas é o poder que os homens gozam numa sociedade machista - é vantajoso ser homem numa sociedade assim. Eles gozam de maiores e melhores oportunidades profissionais, recebem salários maiores, são servidos pelas mulheres nas suas próprias famílias, sua liberdade sexual é muito maior e assim por diante. 

Como ninguém gosta de abrir mão de vantagens e privilégios, os homens resistem às iniciativas que procuram tornar os direitos e privilégios iguais e combatem as discrepâncias. E as desculpas para essa resistência são as mais esfarrapadas: as mulheres apelam mais para o coração do que para a razão, são fisicamente mais fracas, etc. 

Outra razão para que homens permaneçam numa posição machista é a rejeição ao feminismo. Décadas atrás, um grupo de mulheres se mobilizou par fazer frente a esse problema. A situação era tão desigual e a luta foi tão difícil, que as feministas acabaram por assumir posições excessivamente radicais, como a recomendação das esposas de recusarem sexo aos seus maridos, como arma de luta. 

Esse radicalismo fez com que o movimento feminista acabasse mal visto por boa parte dos homens e até muitas mulheres, inclusive no nosso país, atrapalhando a conquista de certos avanços sociais na direção da maior igualdade entre homens e mulheres.

Mesmo assim, não há como negar que tem sido feitos avanços, mesmo em nosso país, como as Delegacias especializadas em crimes contra as mulheres, a Lei Maria da Penha (que coíbe agressões físicas), a licença maternidade, o direito a pagamento igual aos homens, quando o trabalho realizado for o mesmo, etc.

Mas ainda há muito por fazer, como a declaração do nosso ministro tornou bem patente. E como comprova também a divisão de tarefas nos lares brasileiros, onde as mulheres ainda assumem a maior parte das tarefas domésticas. E principalmente pela sempre presente violência doméstica que vitima diariamente incontáveis mulheres. É preciso avançar muito ainda.

O cristianismo diz em relação a tudo isso? Em termos doutrinários, não há dúvida que o cristianismo defende a igualdade dos seres humanos, independentemente do seu sexo. Veja o que o apóstolo Paulo, tantas vezes criticado por machista (coisa que não era), disse:
Porque todos sois filhos de Deus pela fé em Cristo Jesus. Porque todos quantos fostes batizados em Cristo já vos revestistes de Cristo. Nisto não há judeu nem grego; não há servo nem livre; não há homem nem mulher; porque todos vós sois um em Cristo Jesus. Gálatas capítulo 3, versículos 26 a 28
O significado dessa declaração é claro: não há diferenças, aos olhos de Deus, de quem aceita Jesus. Não importa de que país venha a pessoa, a cor da sua pele, sua condição social e muito menos seu sexo. Todos(as) somos iguais aos olhos de Deus. Simples assim.

E se somos todos(as) iguais, é claro que nossos direitos, inclusive dentro das comunidades cristãs, também devem ser os mesmos. Mas infelizmente não é isso que acontece dentro de muitas denominações cristãs. É como se algumas delas dessem esse direito com uma mão, ao reconhecerem a igualdade de todos perante Deus, e tirassem os mesmo diretos com a outra, quando negam às mulheres, por exemplo, o direito de serem sacerdotes.

Acredito que algumas denominações fazem outra contribuição ainda pior para o machismo: refiro-me à interpretação teológica que dão para o ensinamento de Paulo que o marido deve ser o "cabeça do casal" (Efésios capítulo 5, versículos 21 a 28). Esse mandamento é frequentemente confundido na prática com: "o marido manda e a mulher obedece". 

Alguns ainda tentam aliviar, dizendo que também há mandamento para que os maridos amem suas esposas como a si mesmos, mas a realidade prática permanece mais ou menos essa: a autoridade maior dentro do lar é dos maridos.

Eu não sei se você já teve oportunidade de ler ou ouvir algum estudo ou palestra que apresente interpretações alternativas para esse texto de Paulo. por exemplo, aquele que usa o significado de "cabeça" como o de "início", semelhante ao uso que damos ao falar da "cabeceira" de um rio, referindo-se à sua nascente. E como Jesus foi o início da igreja cristã, portanto essa interpretação merece ser considerada.

Por que nunca é ensinada em escolas bíblicas? Por que nunca é usada em pregações? Acho que você já sabe a resposta...

Defender a liderança inconteste dos homens dentro dos lares, numa sociedade onde as mulheres cada vez mais contribuem para o sustento das suas famílias - em quase 40% dessas famílias, elas são a única ou a maior fonte de renda - parece coisa fora de propósito, somente explicada pelo machismo sutil, não assumido abertamente, ainda presente em nossa sociedade. 

Como cristãos(ãs), precisamos reconhecer a existência do problema e dar nossa contribuição para modificar esse estado de coisas, ensinando principalmente nossas crianças e adolescentes a pensarem e agirem de forma diferente.

Com carinho

sexta-feira, 12 de agosto de 2016

COMO DEUS SABE O QUE VAI ACONTECER?

Acho que você não tem dúvida que Deus sabe tudo o que vai acontecer - essa é uma doutrina cristã aceita por quase todo mundo. E vemos prova disso nos relatos da Bíblia, quando Deus enviou profetas para contar para as pessoas sobre seu futuro.

Agora, como Deus sabe o que vai acontecer? Há dois tipos de resposta possíveis. A resposta mais comum é: Deus sabe tudo o que vai acontecer porque determinou como as coisas vão se passar. Tudo já está estabelecido por Ele mesmo de acordo com um plano super detalhado que fez. 

Eu tenho muita dificuldade com essa resposta. E a razão é simples: se Deus estabeleceu tudo que vai acontecer, Ele também definiu o mal que ocorrerá no futuro - desastres, guerras, injustiça social, epidemias, etc. Deus seria, então, responsável pelo mal que vai ocorrer no mundo. E isso não faz sentido na minha cabeça - não é esse o Deus a quem amo e sirvo.

Há um problema adicional com essa resposta: se Deus estabeleceu tudo que vai ocorrer, também definiu quais pecados você vai cometer. E se isso está previamente definido por Ele, você não pode ser responsabilizado(a) pelo que vier a fazer de errado. Em outras palavras, quando o livre arbítrio é retirado, também vai embora com ele a sua responsabilidade pessoal, já que você deixou de ter direito de escolha.

Portanto, essa resposta, embora simples de entender, não funciona, pois cria mais problemas do que resolve. Precisa haver outra explicação para o fato de Deus conhecer o futuro. E de fato há.

A outra explicação parte do entendimento que Ele conhece cada pessoa completamente, no seu íntimo. Sabe até o que cada um de nós pensa.

Eu conheço razoavelmente como meus dois filhos pensam e se comportam. Conheço seus gostos e preferencias, sua história de vida, sonhos, etc. Daí posso prever com alguma segurança o que cada um pensa e vai fazer em diferentes situações. As escolhas deles são livres, mas consigo prever com alguma frequência o que vão fazer. 

Ora, o conhecimento que tenho dos meus filhos é limitado - há coisas sobre eles escondidas de mim (e até deles mesmos), outras que interpretei errado e assim por diante. Eu também não conheço as pessoas com as quais eles vão interagir, as circunstâncias das suas vidas e outras informações relevantes. 

Como meu conhecimento é limitado e meu raciocínio não é perfeito, às vezes erro nas previsões que faço sobre o comportamento deles. Logo, passo por surpresas, tanto positivas (quando eles reagem melhor do que eu esperava) como negativas (quando reagem pior). 

Agora, Deus tem conhecimento completo de cada pessoa. Conhece seu íntimo e sabe de todas as circunstâncias da sua vida, assim como conhece também de forma perfeita todos os seres humanos com os quais aquela pessoa vai interagir. Além disso, seu raciocínio é perfeito.

Não é de se estranhar, portanto, que Ele consiga prever com absoluta precisão como cada pessoa vai agir. O que vai escolher. Quando vai pecar ou não. Nesse sentido, não há surpresas para Ele no comportamento de cada pessoa. 

Deus tem na sua mente um gigantesco mapa de todas as escolhas futuras das pessoas e das consequências que irão decorrer delas. Por isso Ele conhece o futuro, mesmo quando as pessoas fazem suas próprias escolhas. Trata-se, é claro, de tarefa de complexidade quase infinita, mas coisa simples para um Ser que pode tudo. 

Eu poderia parar minha discussão aqui. Mas também há uma explicação científica, para o fato de Deus saber tudo que vai acontecer, que se soma ao que acabei de falar. E ela começa com o universo onde vivemos.

Nosso universo é caracterizado por três dimensões físicas: altura (espessura), largura e comprimento. Todas as coisas materiais têm essas três dimensões. Em alguns casos, uma ou mais dimensões pode ser muito pequena, mais ainda assim elas existem - por exemplo, uma folha de papel tem espessura muito pequena, quase zero, mas ainda assim tem três dimensões.

Deus criou o universo onde vivemos e, portanto, também criou as três dimensões físicas que regulam tudo que nele existe. E se as criou, Ele mesmo não pode ser limitado por essas dimensões.

Vou me explicar melhor. Pense num artista que pintou um quadro. Ele criou o tal quadro mas sua vida está fora da obra de arte que fez - afinal, ele não é parte integrante do quadro. Pode até intervir na pintura - fazer uma correção de uma pincelada errada ou criar um novo detalhe - mas nunca será parte do quadro que fez.

Da mesma forma, Deus criou o universo e, portanto, não é parte dessa criação. Está fora dela. Pode até intervir no universo - afinal, Deus atua na história humana - mas Ele não é parte dele. Deus transcende o universo. E é disso que estamos falando quando afirmamos que Deus está em toda parte ou que Ele não é material e sim espiritual.

Até aí, acho que está tudo bem. Mas há mais. O universo tem uma quarta dimensão: o tempo. Por isso, todos os seres vivos sofrem influência da passagem do tempo - basta ver como nosso corpo muda (e para pior) com a idade.

Como o tempo, assim como tudo o mais que existe no universo, também foi criado, Deus mesmo não está debaixo da influência do tempo. Nem poderia, pois o tempo também é obra sua. E é disso que estamos falando ao dizer que Deus é eterno - não tem começo nem fim - e que Deus não muda, permanecendo sempre o mesmo (Malaquias capítulo 3, versículo 6; Hebreus capítulo 13, versículo 8).

A conclusão desse raciocínio é estranha, mas verdadeira: para Deus, não há passado, presente e futuro. Não é muito fácil de entender bem como isso funciona, pois todos(as) vivemos debaixo da influência do tempo. Mas Deus não tem essa limitação, da mesma forma como não tem dimensões físicas.

Se para Deus, passado, presente e futuro são a mesma coisa, não há qualquer barreira para ele conhecer as coisas que ainda vão acontecer. Simples assim. 

Concluindo, não é preciso acreditar na ideia que Deus definiu tudo que está por acontecer, para explicar o fato de Deus conhecer o futuro. Esse conceito pode ser fácil de entender, mas cria enormes complicações morais para as ações Deus - torna-o responsável pelo mal e os pecados. 

Deus sabe tudo por duas razões que se complementam: primeiro, conhece perfeitamente, cada ser humano e, portanto, sabe o que ele(a) vai escolher antes mesmo que a pessoa tome cada decisão da sua vida. E esse conhecimento de Deus não tira a liberdade de escolha de cada pessoa - ela sempre escolhe livremente.

A segunda razão, de cunho mais científico, é que Deus está fora do tempo, que é criação d´Ele mesmo. Para Deus, passado, presente e futuro são uma coisa só. Sem qualquer diferença. Parece estranho, mas é verdade.

Com carinho

quarta-feira, 10 de agosto de 2016

A NATUREZA DO PLANO DE DEUS PARA SUA VIDA

"Deus tem um plano maravilhoso para sua vida que é..." Lembro-me perfeitamente quando ouvi essa frase pela primeira vez dentro de uma igreja. Lembro de quem a falou e das circunstâncias daquele momento da minha vida.

Agora, não me lembro mesmo é do conteúdo do tal "plano"que me foi revelado, porque não se realizou mesmo, aliás como é comum com as profecias que costumam ser passadas nos corredores das igrejas. O que guardei na memória mesmo foi o fato de haver um plano de Deus para minha vida - aquela foi a primeira vez que ouvi tal conceito aplicado à minha vida. 

Plano, propósito, ou vontade de Deus para você, essas são as palavras normalmente usadas para descrever a realidade de haver coisas que Ele gostaria de ver ocorrer na sua vida. É claro que tecnicamente essas palavras não representam conceitos exatamente iguais mas, para simplificar as coisas, vou considerá-las neste texto como tendo significado igual.

Qual é a natureza do plano que Deus tem para você? Será que está incluído nele aquilo que seu coração tanto deseja, como amor, prosperidade, sucesso ou outras coisas assim? Será que Deus levou em conta aquilo que fará você feliz?

Recebo perguntas como essas quase todos os dias. Por exemplo, outro dia um rapaz me perguntou se podia orar para que Deus lhe concedesse o favor de uma moça que ama e até hoje não demonstrou interesse por ele. Ora, ele estava de fato perguntando se podia orar para que sua amada fosse incluída no plano que Deus tem para sua vida. Se isso fazia sentido do ponto de vista da doutrina cristã.

Penso que essas perguntas têm grande importância e pois se forem respondidas de forma errada, como muitas vezes acontece, podem se tornar "pedra de tropeço" na vida espiritual de muita gente. 

Então, qual é mesmo a natureza do plano de Deus para você? Será que ele inclui as coisas que seu coração deseja? Talvez minha resposta cause algum desapontamento, mas penso ser sempre melhor conhecer a realidade dos fatos, em lugar de ficar criando fantasias que não vão mesmo se materializar.

Deus, como Pai amoroso, tem prazer em dar coisas boas para você - Jesus foi claro a esse respeito (Mateus capítulo 7, versículos 9 a 11). Mas isso não quer dizer que essas coisas boas são exatamente aquelas que você deseja. Até porque nem tudo que você deseja é bom para você. 

É exatamente assim que pais responsáveis agem com seus filhos(as): fazem a vontade deles(as) quando isso faz sentido e é saudável. Caso contrário, dizem não. E é bom que seja assim.

O plano de Deus para você não é composto daquilo que necessariamente vai fazer você feliz e sim daquilo que é de fato bom. E esses dois conjuntos de coisas são diferentes - podem até ter pontos em comum, mas divergem em muitos aspectos.

A mesmo que você aprenda a sonhar, como se fossem seus, os sonhos que Deus tem para você. Aí tudo se resolve. E foi justamente isso que os grandes heróis e heroínas da fé aprenderam a fazer - por exemplo, o apóstolo Paulo chegou a dizer que não mais conseguia viver se não pregasse o Evangelho de Jesus (1 Coríntios capítulo 9, versículo 16).

O plano de Deus para você tem necessariamente a ver com sua relação com Ele e sua participação na implantação do Reino aqui na terra. E a razão para isso é simples: estar junto a Deus, vivendo de fato uma relação sólida com Ele, e contribuir para que sua Obra seja feita aqui na terra, essas são as coisas mais significativas que podem acontecer na vida de qualquer pessoa. É isso que realmente importa e não as coisas materiais que passam - como Jesus disse, aquelas coisas que "são comidas pela traça e a ferrugem..."

Normalmente as pessoas sonham coisas bem diferentes daquelas que Deus gostaria que estivessem presentes nas suas vidas. E como se imaginam filhas de Deus, e Ele é um Pai amoroso, acreditam que vão receber d'Ele, mais cedo ou mais tarde, aquilo que desejam. E ficam buscando na Bíblia versículos que confirmem essa crença. 

A maior prova é a interpretação que normalmente é dada para conhecido versículo 28 de Romanos capítulo 8: "sabemos que todas as coisas contribuem juntamente para o bem daqueles que amam a Deus..." As pessoas costumam entender essa declaração como uma promessa de que tudo vai acontecer nas suas vidas de forma a colaborar com o plano traçado por Deus para elas e, naturalmente, em tal plano está incluído tudo aquilo que as fará feliz, que desejam ardentemente. 

Ora, esse mesmo versículo tem uma segunda parte que diz: "...daqueles que são chamados segundo o seu propósito." Ou seja, tudo vai colaborar para o bem aquelas pessoas que são chamadas e participam dos propósitos de Deus aqui na terra. Daquelas que aprenderam a sonhar os sonhos de Deus. Esse versículo é dirigido apenas para essas pessoas. 

E os sonhos de Deus para você, conforme já disse, é composto de coisas espirituais e não materiais, pois são as primeiras que importam de fato. E tanto é assim que as pessoas mais agraciadas por Deus, no relato do Novo Testamento, como o apóstolo Paulo, invariavelmente tiveram vida material difícil.

Ainda resta tratar de uma questão: é possível a você resistir ao plano de Deus? Caso não queira aquilo que Ele separou para sua vida, você pode recusar? Claro que sim, pois você tem livre arbítrio, ou seja o direito à escolha livre. Se não, haveria um destino para cada pessoa já traçado por Deus e essa não é a doutrina cristã.

Agora, deixar de fazer aquilo que Deus entende ser o melhor para sua vida, tem custo. Não sai de graça. Se Deus sabe aquilo que é o melhor, e você segue outro caminho, significa que você terá escolhido fazer aquilo que não é o melhor. Logo, há um prejuízo embutido nessa escolha.

A Bíblia está cheia de exemplos de histórias de pessoas que escolheram sonhar os sonhos de Deus e outras tantas que escolheram sonhar os próprios sonhos. Invariavelmente, quem tentou seguir pela estrada da vida sozinho(a), acabou colhendo resultados que não queria. Portanto, aprenda a sonhar os sonhos que Deus tem separado para você. Essa é a melhor solução. 

Com carinho

segunda-feira, 8 de agosto de 2016

DEIXANDO-SE ENGANAR

Às vezes há uma tempestade claramente se formando diante dos olhos da pessoa, mas ela se recusa a ver o que está acontecendo na sua vida. Simplesmente não quer acreditar que vai acontecer algo de ruim.

E quando o mal se materializa, a pessoa se defende afirmando que não teve culpa, pois foi enganada. Na verdade, ela não percebe ter ajudado, até inconscientemente, a criar as condições para que aquela coisa ruim acontecesse na sua vida. 

Por descuido, ou teimosia, ou orgulho (recusando-se a ouvir conselhos), enfim por algum motivo, a própria pessoa contribuiu para o mal que lhe sobreveio. Usando a linguagem bíblica, ela "plantou vento" sem perceber e se surpreendeu ao "colher tempestade".

Minha avó materna tinha uma empregada, moça correta e trabalhadora, que sempre escolhia os piores namorados e acabava sempre se tornando vítima deles. Era tiro e queda: aparecia com um novo namorado e afirmava que daquela vez seria diferente, e sempre acabava vítima de novo.

Os sinais ruins estavam lá, em cada relacionamento que construía, mas aquela moça sempre se recusava a percebê-los e assim repetia sua tragédia. 

É isso que me vem à mente quando analiso o caso mias recente de escândalo no meio evangélico: conhecida cantora acusou seu segundo marido de praticar pedofilia com o filho pequeno dela, fruto de casamento anterior. Ora, ouvindo os depoimentos de diversas pessoas próximas dela e lendo entrevistas anteriores do casal, os sinais de que havia algo errado estavam bem claros e a cantora não quis ver. E hoje tenta se justificar, dizendo ter sido enganada, quando na verdade deixou-se enganar - mesmo sem querer contribuiu para o mal que a acometeu. 

Não falo isso com alegria, pois sei que essa mãe está sofrendo. É importante deixar claro que isso não diminui em nada o ato terrível do marido dessa moça, ao vitimar uma criança inocente O erro da mãe - recusar-se a ver a verdade na frente dela - em nada desculpa o erro do marido. São coisas separadas.

E a maior prova que o erro da mãe existiu foi que no início do seu segundo casamento, ela declarou alto e bom som que seu novo marido era o homem que Deus tinha separado para ela. E como Deus não erra, está claro que quem errou foi a cantora.

Na ânsia de legitimar essa segunda relação, atribuiu a Deus uma escolha que certamente não tinha sido abençoada por Ele, um erro espiritual muito importante. A cantora quis acreditar que seu segundo marido era o companheiro tão esperado e fechou os olhos para os sinais de que havia algo errado. Hoje quer acreditar - em novo auto-engano - que foi só uma vítima, o que evidentemente não é verdade.


Há um caso muito interessante na Bíblia que trata dessa questão. Aconteceu com Isaque, filho de Abraão. Ele e Rebeca, sua mulher, tinham dois filhos: Esaú, o mais velho e o preferido do pai, e Jacó, o protegido da mãe. A rivalidade entre os rapazes sempre foi intensa, fato estimulado pela preferencia escandalosa dos pais por um ou outro dos filhos.

Quando Isaque estava no fim da sua vida, cabia a ele passar para um dos filhos a unção relacionada com a Promessa feita por Deus a Abraão, tornando-o o líder da família. A Bíblia conta que Jacó, ajudado pela mãe, disfarçou-se para ficar semelhante ao irmão, enganou o pai, que enxergava muito mal, e roubou a benção destinada a Esaú.

Ora, Isaque sabia da rivalidade entre os filhos e certamente tinha noção que Jacó iria tentar algum ato desesperado para ficar com a unção, já que era notória a preferencia do pai por Esaú, candidato natural do pai. O relato do momento quando Isaque foi enganado, deixa claro que o estratagema usado foi pobre e o pai desconfiou do disfarce de Jacó (Gênesis capítulo 27). 

Mas ainda assim Isaque deu a Jacó a benção reservada ao irmão. Não há dúvida que Isaque foi enganado porque quis: bem no seu íntimo queria mesmo ser iludido. Talvez quisesse dar a benção para Jacó e lhe faltasse coragem para desapontar Esaú e a trama toda lhe deu a desculpa de que precisava para ficar em paz com sua consciência.


É preciso que as pessoas aprendam a perceber quando contribuem, até sem querer, para o mal que as acomete. E se não fizerem isso, vão acabar repetindo situações ruins, como acontecia com a empregada da minha avó e seus sucessivos namorados.

Concluindo, sua vida tem sido uma repetição de situações ruins, parecidas umas com as outras? Você sempre se pega dizendo que foi enganado(a), que acredita demais nas outras pessoas? Procure avaliar se você mesmo(a) não vem contribuindo para o mal que acomete sua vida. 

Com carinho

sábado, 6 de agosto de 2016

UM GRANDE PROFETA EM CRISE

Elias foi um dos profetas mais importantes na história do povo de Deus. Foi tão importante que, como prêmio, Deus lhe deu a graça de não passar pela morte - foi transladado ao céu ainda em vida (2 Reis capítulo 2, versículos 9 a 14).

Como não morreu, Elias tornou-se o centro de uma profecia, registrada no livro de Malaquias (capítulo 4, versículos 5 e 6), que previu sua volta, o que foi cumprido com a chegada de João Batista (Mateus capítulo 17, versículos 10 a 13). 

Ele realizou muitos milagres ao longo do seu ministério, tantos que sua época pode ser comparada ao período do êxodo de Israel do Egito, liderado por Moisés. Somente nesses dois períodos e durante o ministério de Jesus e dos apóstolos (o começo da Igreja cristã) houve milagres tão importantes, quando Deus interveio na história de forma tão poderosa. 

E isso foi necessário porque Elias enfrentou um enorme desafio: na sua época a fé verdadeira esteve muito ameaçada pelo culto a Baal. E o profeta precisou enfrentar uma luta espiritual terrível e para triunfar, teve que contar com enorme poder vindo do alto.

O que aconteceu com Elias

Baal era o deus da chuva e fertilidade. Sedento de sangue, requeria sacrifícios constantes. Seu culto foi grandemente incentivado por Jezebel, esposa do rei Acabe e cresceu tanto que acabou ameaçando a fé no verdadeiro Deus de Israel. 

Elias liderou a resistência e realizou diversos atos proféticos para desafiar Baal e provar quem era o Deus verdadeiro. Um deles foi clamar por uma seca, que durou vários anos (1 Reis capítulo 17, versículos 1 a 7 e capítulo 18, versículos 1 a 19 e 41 a 46). Isso atacou Baal no seu cerne, pois ela era o deus da chuva - se não havia chuva, para que servia? 

A mesma estratégia usada por Moisés, quando lutou com o faraó do Egito para conseguir a libertação do povo de Israel: cada uma das pragas que lançou atacou diretamente um dos deuses egípcios.

Elias conhecia bem o inimigo contra o qual lutava e feriu-o onde era vulnerável. E aí está um ensinamento de grande importância: ao enfrentarmos batalhas espirituais, precisamos conhecer bem contra quem estamos lutando.

Elias agiu demonstrar temos e enfrentou o rei e sua esposa, mesmo correndo risco de vida (1 Reis capítulo 18, versículos 31 a 40 e capítulo 21, versículos 7 a 24). Com essa atitude, o profeta ensinou que palavras e obras precisam sempre andar juntas. 

Sobretudo, Elias ensinou que devemos depender completamente de Deus. Não devemos tomar atalhos, que parecem tornar a vida mais fácil e segura, mas podem nos afastar de Deus. O profeta poderia ter feito um acordo com o rei (que tentou isso por diversas vezes) e teria sido deixado em paz. Mas não podia comprar sua paz às custas de fazer a vontade de Deus

A crise espiritual

Elias proporciona um excelente exemplo das crises espirituais às quais todos(as), mesmo os(as) cristãos(ãs) mais sinceros(as), estão sujeitos(as). Trata-se daqueles momentos da vida em que instala-se uma escuridão incrível nas nossas almas, quando somos apanhados na nossa própria fraqueza.

Elias alcançou uma enorme vitória contra o culto a Baal, quando enfrentou e venceu quatrocentos profetas desse deus. Aí pensou que finalmente teria sossego, mas foi surpreendido pela notícia que a rainha Jezebel tinha jurado matá-lo. E Elias se sentiu esgotado - caiu em depressão espiritual profunda, a ponto de não querer comer (1 Reis capítulo 19, versículos 1 a 18). 

Nesse momento da sua vida Elias cometeu um erro crucial: julgou-se imprescindível para a obra de Deus. Achou que sem ele, Baal iria triunfar em Israel. E isso lhe foi pesado demais.

Ora, quem defende sua obra é o próprio Deus e ninguém, mesmo os(as) mais importantes líderes da história da igreja cristã, pode ser considerado imprescindível, poder afirmar quem sem ele(a), o reino de Deus não teria sido implantado. 

Profundamente deprimido, Elias foi caminhando sem destino, perdido em meio a seu sofrimento espiritual, até que acabou no monte Sinai (Horebe), o mesmo lugar onde Deus tinha dado os Dez Mandamentos para Moisés. 

Ali, Elias pediu para ver Deus e foi atendido. É interessante perceber que apareceram, em sucessão, um grande vento, um terremoto e um fogo intenso. Mas Deus não estava em nenhuma dessas manifestações grandiosas. Ele estava mesmo num murmúrio suave, que falou diretamente ao coração de Elias e o fez se levantar e encontrar forças para continuar lutando.

Há nessa passagem outro grande ensinamento: Deus sempre surpreende. Ele age de maneira bem diferente daquela que imaginamos. Seus milagres mais impressionantes nunca são feitos em meio a espetáculos grandiosos. Sempre faz as coisas da forma a mais simples e podemos notar isso com clareza nos próprios milagres que Jesus realizou.

Concluindo, Elias é um dos melhores exemplos de um grande homem de Deus relatados na Bíblia: cheio de unção e poder, realizou obras impressionantes. Mas também enfrentou momentos terríveis, quando a escuridão tomou conta da sua alma. E ainda assim teve forças para reagir e encontrar seu caminho de volta para Deus. 

Com carinho

quinta-feira, 4 de agosto de 2016

A SEPARAÇÃO ENTRE JOIO E TRIGO

Propôs-lhes outra parábola, dizendo: O reino dos céus é semelhante ao homem que semeia a boa semente no seu campo; mas, ... veio o seu inimigo, e semeou joio no meio do trigo... e quando... apareceu também o joio... os servos... disseram-lhe: ... queres pois que vamos arrancá-lo? Ele, porém, lhes disse: não; para que, ao colher o joio, não arranqueis também o trigo com ele. Deixai crescer ambos... e, por ocasião da ceifa, ... colhei primeiro o joio e atai-o em molhos para o queimar; mas, o trigo, ajuntai-o no meu celeiro. Mateus capítulo 13, versículos 24 a 30
Essa parábola de Jesus fala sobre uma plantação de trigo contaminada com sementes de joio venenoso, tipo de praga muito semelhante ao trigo que cresce muito mais rapidamente do que ele. Quando uma plantação de trigo é contaminada com joio, a produtividade do trigo cai muito e o agricultor acaba tendo prejuízo.

Na época de Jesus, quando a tecnologia agrícola era ainda bem precária, a contaminação acidental de plantações de trigo com joio venenoso acontecia com certa frequência. Mas na estória contada na parábola, a coisa foi muito pior, pois a contaminação ocorreu de forma proposital e a quantidade de joio "contrabandeada" para o meio do trigo foi muito grande.

O procedimento normal para descontaminar uma plantação de trigo era arrancar o joio manualmente, planta a planta. Mas no caso em questão, isso seria impossível, pois havia muito joio. 

O dono da plantação, agricultor experiente, mesmo assim deu uma solução para o problema: como o joio cresce mais depressa, a solução foi deixá-lo a praga crescer e cortar as plantas indesejadas já maiores, sem prejudicar o trigo. Foi preciso paciência para aguardar o tempo certo, mas o problema acabou resolvido.

É claro que a solução adotada teve custo para o agricultor: o trigo foi preservado, mas sua produtividade caiu, pois precisou conviver com o joio por algum tempo. 

A interpretação dessa parábola é relativamente simples. As sementes são as palavras pregadas para as pessoas. As plantas são o resultado desse processo: a boa semente (a Palavra de Deus autêntica) gera planta boa (cristão sincero), enquanto a semente má (a mensagem distorcida) gera planta ruim (cristão hipócrita, inseguro, etc).

O dono da plantação representa Deus e os seus empregados são aqueles(as) que lideram sua obra, como pastores(as). O inimigo, que semeou a semente má é Satanás, cujo único objetivo é estabelecer confusão no meio do povo de Deus.

Há duas situações que costumam ser associadas a essa parábola. A primeira delas é a constatação que numa mesma comunidade de fé, cristãos(ãs) sinceros(as) precisam conviver com crentes hipócritas, inseguros(as), não comprometidos(as).

E como não é possível distinguir somente olhando o exterior quem é quem - afinal, as aparências enganam - é preciso deixar que os dois tipos de crentes convivam e somente o dia-a-dia vai mostrar as diferenças entre essas pessoas. A necessidade de aguardar que a convivência diária demonstre quem é quem de verdade, é representada na parábola pela atitude do dono da plantação de aguardar o joio crescer, deixar-se notar com clareza, antes de ser cortado.

Não há dúvida que a convivência com cristãos(ãs) hipócritas, não comprometidos, etc, acaba acaba gerando problemas para quem vive sua fé verdadeiramente, mas não há como separar as pessoas de outra forma. Da mesma maneira, conforme ensina a parábola, o trigo sofre certo prejuízo pelo fato do joio ser mantido no seu meio por algum tempo, mas isso é inevitável. 

A outra situação que costuma ser associada à parábola do joio e do trigo aponta para o risco de que verdades bíblicas (semente boa) sejam ensinadas juntamente com conceitos errados (semente ruim). E isso infelizmente acontece com frequência.

Um bom exemplo é o uso dado ao versículo que nos manda evitar a aparência do mal (1 Tessalonicenses capítulo 5, versículo 22). Sem dúvida, esse é um ensinamento correto e que precisa ser obedecido, semente boa, portanto.

O problema está na definição do que é o mal. Frequentemente, pastores(as) apontam como sendo mal coisas que não podem ser consideradas assim à luz da Bíblia. E fazem isso porque, na opinião deles(as), tais coisas precisam ser evitadas.

Na verdade, esses(as) líderes estão simplesmente impondo suas opiniões às pessoas, coisa que não têm direito de fazer. Estão plantando semente ruim. Exemplos desse erro tipo de situação aparecem quando pastores(as) consideram pecado ouvir outra música que não seja gospel, dançar, frequentar festas juninas, usar maquiagem, colocar enfeites de Natal nas casas e outras coisas assim.

A semente boa (coisas que a Bíblia ensina) é misturada com a semente má (coisas que não são bíblicas), formando uma única "plantação" na mente das pessoas, o que nunca é bom.

Agora, muitas vezes é melhor esperar que a fé das pessoas esteja consolidada ("a planta cresça") para poder separar os ensinamentos bíblicos daquelas que não o são. Tentar fazer isso quando a fé da pessoa está apenas dando os primeiros passos, pode gerar confusão na cabeça da pessoa a levá-la a se afastar de Jesus. É preciso ter paciência e aguardar o momento certo.

Concluindo, esse é o principal ensinamento que Jesus nos legou ao contar a parábola do joio e do trigo. É preciso ter paciência e aguardar o momento certo para agir, mesmo para fazer aquilo que é o certo. Agir cedo demais pode prejudicar tanto quanto nada fazer.

Com carinho