segunda-feira, 31 de outubro de 2016

VOCÊ PRECISA CONHECER A VERDADE TODA E NÃO PARTE

Jesus respondeu: "Eu lhes asseguro que, se vocês tiverem fé e não duvidarem, poderão fazer não somente o que foi feito à figueira, mas também dizer a este monte: ‘Levante-se e atire-se no mar’, e assim será feito. E tudo o que pedirem em oração, se crerem, vocês receberão". Mateus capítulo 21, versículos 21 e 22
Esses são dois dos versículos mais queridos da Bíblia, pois nos enchem de esperança. Eles ensinam que, com base na fé, podemos mover o poder do Espírito Santo a nosso favor - eu mesmo já vi muitas coisas extraordinárias acontecerem com base no exercício da fé pessoal. 

Agora, se formos sinceros, também acontece o inverso: pedidos feitos com fé ainda assim não são atendidos por Deus. Como explicar esse aparente contradição?

Algumas pessoas tentam simplificar a discussão dizendo que os pedidos sem resposta não foram embasados na fé necessária, o que, em muitos casos, não é verdade. Há outra coisa aí acontecendo aí. 

A confusão, acredito eu, nasce do fato que a Bíblia não é um "livro texto" de teologia e normalmente a tratamos como se fosse. Vou tentar me explicar melhor.

Quando você vai estudar determinado assunto na escola - por exemplo, química -, usa um livro-texto que apresenta toda a teoria de forma ordenada, passo a passo. Cada capítulo do livro discute um tema específico - por exemplo, como o átomo se organiza (prótons, nêutrons e elétrons) e causa as reações químicas - e nesse capítulo estará tudo que você precisa saber sobre esse tema específico. 

Assim, ao acabar de estudar um capítulo do seu livro-texto, você pode ter certeza que recebeu todo o conhecimento necessário relacionado com aquele tema específico - por exemplo, no capítulo sobre a organização do átomo, você terá tudo que precisa saber sobre esse tema para poder estudar química.

Mas a Bíblia não é um livro-texto. Não está organizada com base em capítulos que trazem todo o conhecimento relacionado com determinado tema.

Portanto, se você estudar um livro da Bíblia (p. ex. Mateus), não pode ter certeza que ali está todo o ensinamento bíblico sobre determinado tema (p. ex. a resposta a orações). Ocorre que, além do ensinamento em Mateus, há também algo importante sobre resposta a orações em outro livro da Bíblia, no caso Tiago (capítulo 4, versículo 3), onde está dito:
Quando pedem, não recebem, pois pedem por motivos errados, para gastar em seus prazeres.
O texto de Tiago ensina que se você pedir algo a Deus que seja errado, que contrarie os mandamentos dados por Ele, não vai ser atendido(a). E isso faz todo sentido.

Não basta apenas pedir com fé, conforme dito em Mateus - a fé é necessária, mas não é suficiente. Também é preciso saber pedir a coisa certa. E os dois requisitos se complementam - ainda há outros versículos na Bíblia contendo ensinamentos sobre esse tema, mas vou ficar apenas nesses dois.

Somente quando você tiver estudado tudo que todos os livros da Bíblia falam a respeito de um determinado tema é que poderá ter certeza de dispor do ensinamento bíblico completo. Não há dúvida que isso dificulta as coisas e você até pode não gostar do que estou dizendo, mas essa é a realidade.

E é por isso que existe um ramo do estudo bíblico chamado "teologia sistemática" que procura remediar essa dificuldade. Num livro-texto de teologia sistemática, o(a) autor(a) lida com cada tema importante da fé cristã - "salvação", "resposta a orações", "Trindade", etc - e apresenta, de forma articulada, todos os ensinamentos bíblicos sobre esse determinado tema. Aí sim, é possível ter um panorama completo do tema de interesse.

Pouca gente estuda livros de teologia sistemática - a maior parte das pessoas nunca nem viu um livro desses. E aí, na prática, as pessoas se limitam a estudar "pedaços" da verdade bíblica, a partir dos versículos que conhecem, acabando por cometer erros teológicos que nem percebem estar fazendo.

Outro problema relacionado com a característica bíblica de não apresentar os ensinamentos de forma sistematizada é o abuso do texto bíblico. Há quem propositadamente "pince" versículos e construa doutrina em cima daquele "pedaço" da verdade, sem se preocupar com o restante do ensinamento bíblico. E infelizmente acabam sendo gerados verdadeiros absurdos.

Um exemplo é o texto de 1 Tessalonicenses capítulo 5, versículo 22, que recomenda para os(as) cristãos(ãs) "afastarem-se de toda forma de mal". Mas esse versículo não explica o que é "o mal" do qual é preciso fugir. Será Satanás? Ou hábitos e pensamentos errados? Ou tudo isso junto?

Para entender o ensinamento completo, é preciso recorrer a inúmeras outras passagens da Bíblia. Mas infelizmente muitos(as) líderes não fazem isso e simplesmente usam esse versículo e interpretam o conceito de "mal" como querem. E aí nascem doutrinas dizendo que cristãos(ãs) não podem ver esse ou aquele programa de televisão, não devem colocar enfeites de Natal, não podem dançar ou ir a determinadas festas e assim por diante, pois tudo isso é parte do "mal", quando não há respaldo bíblico para essas afirmações.

Concluindo, sempre tenha em mente, ao ler a Bíblia, que os versículos que você estiver lendo provavelmente reflete apenas um "pedaço" da verdade bíblica sobre aquele tema. Pode haver mais, bem mais, em outras partes da Bíblia. E somente o ensinamento completo vai dar a você a direção certa.

Com carinho

quinta-feira, 27 de outubro de 2016

A VIDA NA PALESTINA NA ÉPOCA DE JESUS

As pessoas na época de Jesus e dos apóstolos viviam de forma muito diferente de nós. Moradias, comida, roupas, relações familiares, etc, nada disso era similar ao que temos hoje. As coisas mudaram muito.

Os(as) historiadores(as) conseguiram compor um quadro bastante preciso de como era a vida no tempo de Jesus, na Palestina, com base nos relatos do Novo Testamento, nos estudos de documentos históricos e nas descobertas arqueológicas. E isso é de grande utilidade para quem estuda a Bíblia.

Faço a seguir um breve relato de como essa vida era no dia-a-dia. O quadro que emerge não é nada bonito: as pessoas eram muito pobres e tinham vida muito difícil, para os padrões atuais.

As pessoas viviam muito pouco - a expectativa de vida era de apenas quarenta anos -, não tinham qualquer conforto, passavam dificuldades de toda sorte. Mal tinham o suficiente para matar a fome. Na realidade, as pessoas pobres hoje em dia tem padrão de vida melhor do que as pessoas de uma forma geral no tempo de Jesus. Vejamos alguns detalhes:

Forma de moradia
As pessoas viviam em casas feitas de tijolos, fabricados com barro e palha, secos ao sol. Esse material era muito parecido com o que os israelitas faziam para os egípcios durante seu período de escravidão, cerca de 1.500 anos antes de Jesus.

O piso dessas casas era normalmente de terra batida - apenas em residências mais ricas, o piso era de pedras. 

Os telhados eram planos e feitos de vigas de madeira entrelaçadas com ramos de árvores, com os espaços vedados por argila seca. Naturalmente, quando chovia, a água amolecia e removia parte dessa argila e apareciam goteiras... 

O pé-direito das casas era pouco maior do que dois metros, bem menos do que os padrões atuais, comprovando que as pessoas eram baixas - isso faz sentido, considerando os padrões nutrição deficientes daquela época.

O telhado também servia como local para dormir nos dias mais quentes do ano. Por isso costumava ter um parapeito de madeira para impedir que as pessoas caíssem. Um lance de escadas externo levava do térreo até o telhado.

As casas eram pequenas, abafadas e escuras, porque quase não haviam janelas, por motivo de segurança. A iluminação era ruim, tanto pela falta de luz natural, como também porque a luz artificial, vinda de lâmpadas de óleo, era precária.

As moradias não tinham água corrente e nem esgoto e, portanto, eram sujas para nossos padrões atuais. A água era conseguida em poços comunitários, sendo colhida e transportada em jarros de barro, tarefa muito cansativa.

A moradia de uma família mais simples, como a de Jesus e da maioria dos seus discípulos, costumava ser formada por um único cômodo, sendo uma parte elevada, onde eram colocadas esteiras de dormir, arcas para roupas e utensílios de cozinha. À noite, os animais normalmente ocupavam a parte mais baixa do cômodo, para ficarem protegidos. Quando os animais não estavam ali, as crianças usavam o espaço livre para brincar.

As camas eram feitas de esteiras colocadas diretamente sobre o piso, cobertas por mantas - somente pessoas mais ricas tinham camas. Não haviam mesas e nem cadeiras - a mobília era muito escassa. 

Comida
Os judeus costumavam comer duas refeições por dia: uma por volta do meio dia e outra no começo da noite. Sua dieta consistia de pão (aquele tipo que hoje chamamos de “árabe”), leite e queijo de cabra, vegetais e frutas. Em locais próximo do mar ou lagos, contavam também com peixes. Carne (cabrito ou carneiro), assada ou cozida, e vinho, diluído em água, somente eram consumidos em dias especiais.

As pessoas comiam reclinadas (nas ocasiões mais formais), acocoradas ou sentadas no chão. 

Vestuário
Os homens usavam túnicas, que iam até os joelhos. Um cinto era usado na altura da cintura, onde eram penduradas facas, ferramentas, etc. No inverno, usavam um manto ou capa pesada para se abrigar melhor. As roupas eram normalmente brancas.

As mulheres usavam uma túnica curta, como roupa de baixo, e sobre ela, uma túnica colorida, que ia até os pés. Os adornos eram fitas coloridas e miçangas - as joias eram raras. Mantos eram usados para abrigar melhor no inverno.

Vida em família
Grupos familiares grandes, formados por várias gerações de pessoas, eram comuns. A família era a base da sociedade e as relações de parentesco tinham grande importância.

O nascimento de um bebê do sexo masculino era motivo de grande alegria, mas bebês do sexo feminino eram motivo de desapontamento. No oitavo dia de vida, o garoto era circuncidado e recebia um nome, enquanto a menina podia ficar até um mês sem nome.

As famílias não tinham sobrenome para diferenciá-las. Por causa disso, as pessoas de mesmo nome eram distinguidas mediante o uso do nome do pai e até do avô - por exemplo, há uma passagem na Bíblia que Jesus se refere a Pedro como "Simão Barjonas", que quer dizer "Simão" (seu nome) "filho" (bar) de "Jonas" (nome do seu pai). Também podia ser feita referencia à convicção política da pessoa (p. ex. "Simão, o Zelote"), à sua profissão (p. ex. "José, o carpinteiro") ou ao local de onde a pessoa vinha (p. ex "José de Arimateia" ou "Maria de Magdala ou Madalena").

Casamentos eram ocasiões festivas, que geravam comemorações de mais de um dia. As pessoas vestiam suas melhores roupas, a comida incluía os melhores pratos, havia música e dança. As pessoas se casavam muito cedo, assim que amadureciam sexualmente e podiam gerar filhos(as), já que a vida era curta.

As mortes eram frequentes e os enterros eram caracterizados por atos exteriores de sofrimento, como rasgar as próprias roupas, jejuar e cobrir-se de cinzas. Também eram usadas carpideiras, profissionais contratadas para chorar.

Palavras finais
A dificuldade da vida nos tempos de Jesus deve fazer apreciar ainda mais o que aquelas pessoas conseguiram fazer, contando com tão poucos recursos e tendo que superar tantas dificuldades. Seu exemplo de vida é uma grande lição para nós.

Com carinho

terça-feira, 25 de outubro de 2016

NOÉ

A história de Noé é bastante conhecida: a arca, o dilúvio, etc. O que talvez não seja tão conhecido assim é o fato que essa história é um chamado de Deus para sermos íntegros. Para vivermos uma vida digna aos seus olhos.

Eu falo sobre a história de Noé e os ensinamentos que ela traz para nossas vidas num novo vídeo. Aproveite:


domingo, 23 de outubro de 2016

A CASA VAZIA

E, quando o espírito imundo tem saído do homem, anda por lugares áridos, buscando repouso e não o encontra. Então diz: Voltarei para a minha casa, de onde saí. E, voltando, acha-a desocupada, varrida e adornada. Então vai, e leva consigo outros sete espíritos piores do que ele e, entrando, habitam ali; e são os últimos atos desse homem piores do que os primeiros. Mateus capítulo 12, versículos 43 a 45
A Bíblia ensina que os demônios - espíritos do mal - agem sobre os seres humanos para causar-lhes mal. E essa ação pode ser de três tipos: em ordem crescente do impacto causado, tentação, opressão e possessão. Tentação - a exploração pelos demônios das necessidades e desejos da pessoa para levá-la ao pecado - é uma experiência pela qual todo mundo passa. Até Jesus sofreu tentação (Mateus capítulo 4, versículos 1 a 11), portanto, não é disso que a passagem trata. 

Opressão é a situação onde a pessoa torna-se foco da ação de um demônio, para causar-lhe sentimentos ruins e incontroláveis, como ataques de raiva inexplicáveis, medos sem sentido, ansiedade sem medida, etc. Não foi à opressão que Jesus se referiu porque essa é uma influência externa à pessoa e, na passagem acima, Jesus claramente descreveu uma ação interna - o demônio entrando na "casa", ou seja controlando a alma e a mente da pessoa.

O texto se refere, portanto, ao terceiro tipo de ação demoníaca: a possessão, onde a pessoa chega a perder, por tempo determinado ou até permanentemente, o controle sobre sua mente e corpo. Veja como a Bíblia descreveu a situação de um homem endemoniado, com quem Jesus encontrou:
E, saindo ele do barco, lhe saiu logo ao seu encontro, dos sepulcros, um homem com espírito imundo, o qual tinha a sua morada nos sepulcros e nem ainda com grilhões o podia alguém prender. Porque, tendo sido muitas vezes preso com grilhões e cadeias, esses foram por ele feitas em pedaços, e ninguém o podia amansar. E andava sempre, de dia e de noite, clamando pelos montes, e pelos sepulcros, e ferindo-se com pedras. Marcos capítulo 5, versículos 2 a 5
Jesus explicou que quando alguém é liberto(a) da possessão, sua mente e alma (a "casa") ficam "vazias", isto é limpas da ação maligna mas ainda não preenchida por qualquer outra coisa. E se não houver tal preenchimento e a "casa"continuar vazia, quando o demônio tentar retornar - e não se iluda, ele sempre tenta fazer isso - acabará ocupando de novo o espaço perdido e, ainda pior, trará reforços, na figura de outros demônios ainda mais poderosos, para garantir essa ocupação. E o resultado final será a pessoa mergulhar numa condição ainda pior do que estava no início. 

O que pode preencher o vazio da "casa"? Só uma coisa: o Espírito Santo, o Deus que habita em nós, segundo a Bíblia. Somente Ele pode ocupar a mente e a alma da pessoa e assim evitar o retorno do espírito maligno.

O preenchimento com o Espírito Santo ocorre, depois da libertação da ação do demônio, quando a pessoa se converte, aceitando verdadeiramente Jesus como seu Salvador, e é discipulada na fé cristã, passando a viver vida reta aos olhos de Deus. Isso significa abandonar velhos hábitos pecaminosos, que levaram essa pessoa à situação em que estava antes de ser libertada.

Esse alerta de Jesus, no texto que abre este post, portanto, se refere a duas coisas. A primeira é a intervenção espiritual sem os necessidades cuidados.

Se você acompanha programas evangélicos na televisão, verá com frequência a transmissão de cultos onde há libertações, onde pastores(as) expulsam demônios que tomavam conta da vida das pessoas. E os(as) presentes aplaudem entusiasmados(as).

Agora, o que nunca é mostrado é o atendimento espiritual posterior às pessoas libertas, depois que a "a casa" é limpa. O atendimento que ocorre longe das câmeras da televisão. Será que isso está ocorrendo? Temo que, em muitos casos, não. Caso contrário os programas religiosos se preocupariam em mostrar essa segunda fase do atendimento, até para deixar claro sua importância.

Infelizmente, muitos(as) pastores(as) gostam dos atos de libertação, por conta da fama e atenção que eles geram. Mas não se preocupam igualmente com o que deve se seguir, o discipulado, quando as "casas" que ficaram "vazias" são "preenchidas" permanentemente pelo Espírito Santo.

Essa segunda fase é trabalhosa, só traz resultados lentamente e não chama a atenção. Mas sem ela, conforme Jesus alertou, as pessoas libertas podem retornar a uma condição pior do que a inicial.

O segundo alerta de Jesus é para o perigo da inconstância, ou seja começar o discipulado e parar pelo meio do caminho. Ou seja, não preencher a "casa" vazia permanentemente. Isso pode acontecer por falta de comprometimento da pessoa que está sendo tratada, que muitas vezes não consegue superar seus velhos hábitos e acaba por retornar a eles. E quando isso acontece, conforme Jesus alertou, as consequências são muito sérias.

Concluindo, a ação espiritual sobre a vida de outra pessoas é coisa muito séria e não pode ser iniciada de forma impensada e leviana. É preciso sempre tomar cuidado de proporcionar a continuação dessa ação, através do discipulado na fé cristã. Além disso, é preciso haver perseverança e compromisso de quem está sendo tratado. E caso essas duas coisas não aconteçam, o resultado final dessa intervenção espiritual será muito ruim.

Com carinho

sexta-feira, 21 de outubro de 2016

A PAZ A QUALQUER PREÇO?

O mundo tem acompanhado com atenção a negociação do acordo de paz na Colômbia, entre o governo e o grupo guerrilheiro FARC, visando por fim à guerra que já dura muitas décadas e tem causado sofrimento em muita gente. O Presidente da Colômbia tem se empenhado em implantar esse acordo e acabou de ganhar o prêmio Nobel da Paz por causa dos seus esforços.

Ocorre que o acordo inicialmente assinado foi submetido a um plebiscito e acabou rejeitado pela população colombiana por margem estreita de votos. E a razão da rejeição foram as concessões feitas pelo governo aos guerrilheiros que muita gente achou excessivas.

Caiu-se num impasse: todo mundo quer a paz mas não há acordo quanto ao custo a ser pago por essa paz. A verdade é que toda vez que se negocia um acordo de paz, torna-se necessário fazer concessões - se não fosse assim, não haveria necessidade de negociações e um acordo.

A grande questão, portanto, é qual o preço que cada lado concorda em pagar para fazer a paz. Quanto mais fraco ou mais cansado da guerra um determinado lado estiver, maior o preço que aceitará pagar. 

E aí reside a discordância na população da Colômbia: muita gente acha que o preço para a paz previsto no acordo é muito alto, pois, de certa forma, premiaria guerrilheiros, que cometeram atos de violência verdadeiramente bárbaros.

Essa discussão toda me fez refletir sobre outro tipo de acordo de paz: aquele que cada uma de nós precisa estabelecer com Deus. Digo isso porque o pecado - todos(as) pecamos - nos afasta e, de certa forma, nos coloca em "guerra" com Ele. E precisamos fazer a paz.

Essa paz é feita quando nos arrependemos sinceramente dos nosso erros, pedimos perdão e confiamos na Graça de Deus - manifesta no sangue de Jesus derramado por nós na cruz -, para nos garantir a aceitação de Deus. E aí a paz é restabelecida - a relação com Deus se normaliza.

Agora, muita gente, ao tentar estabelecer essa paz, age como o grupo guerrilheiro FARC: faz, até sem perceber, uma série de exigências a Deus. Coloca condições ("se eu fizer isso, espero que Deus faça aquilo"), impõe limitações nas mudanças de vida que irá fazer (por exemplo, "não vou abrir mão do meu lazer no domingo para ir à igreja") e assim por diante. Essas pessoas cobram um preço de Deus para fazer a paz com Ele.

E é interessante como há toda uma linha de pensamento que defende essa postura. Por exemplo, o livro "A Cabana", que tem feito muito sucesso no meio cristão, vai nessa direção. Nele, o autor atribui a Deus a declaração que irá atrás de nós, não importa a circunstância e o que tivermos feito.

A ideia aqui é que Deus quer tanto se relacionar conosco, valoriza tanto esse contato, que vai atrás das pessoas, estejam elas onde estiverem, não importam o que pensem ou tenham feito.

Ora, não é isso que a Bíblia ensina. Na parábola do filho pródigo (veja mais), o pai (Deus) espera que o filho perdido se arrependa, depois de se convencer que a vida que tinha escolhido para si mesmo somente ia lhe causar problemas, e decida voltar para casa. Quando o filho dá esse passo, o pai abre as portas e o aceita de volta, sem impor condições.

Repare, o pai (Deus) não foi atrás do filho perdido. Não fez paz a qualquer preço. Foi preciso primeiro que o filho reconhecesse seu erro e decidisse mudar. O filho precisou fazer a paz unilateralmente, sem impor condições com o pai, para depois ser aceito.

Quando decidimos fazer paz com Deus, sem impor condições ou limites, aí sim Ele age de forma misericordiosa e nos aceita de de volta plenamente. Mas rendição do(a) pecador(a) precisa vir antes. Simples assim.

Você quer ter paz com Deus? Renda-se completamente a Ele. Acene com a bandeira branca (veja um vídeo falando mais sobre isso). Você vai se surpreender com os resultados. 

Com carinho

quarta-feira, 19 de outubro de 2016

PARÁBOLA DO RICO E DO LÁZARO

Ora, havia um homem rico que se vestia de púrpura e de linho finíssimo e vivia todos os dias regalada e esplendidamente. Havia também um certo mendigo, chamado Lázaro, que jazia cheio de chagas à porta daquele; E desejava alimentar-se com as migalhas que caíam da mesa do rico; e os próprios cães vinham lamber-lhe as chagas. E aconteceu que o mendigo morreu, e foi levado pelos anjos para o seio de Abraão; e morreu também o rico, e foi sepultado. E no inferno, ergueu os olhos, estando em tormentos, e viu ao longe Abraão, e Lázaro no seu seio. E, clamando, disse: Pai Abraão, tem misericórdia de mim, e manda a Lázaro, que molhe na água a ponta do seu dedo e me refresque a língua, porque estou atormentado nesta chama. Disse, porém, Abraão: Filho, lembra-te de que recebeste os teus bens em tua vida, e Lázaro somente males; e agora este é consolado e tu atormentado. E, além disso, está posto um grande abismo entre nós e vós, de sorte que os que quisessem passar daqui para vós não poderiam, nem tampouco os de lá passar para cá. E disse ele: Rogo-te, pois, ó pai, que o mandes à casa de meu pai, Pois tenho cinco irmãos; para que lhes dê testemunho, a fim de que não venham também para este lugar de tormento. Disse-lhe Abraão: Têm Moisés e os profetas; ouçam-nos... Lucas capítulo 16, versículos 19 a 31
O tema dessa parábola é a escolha que Deus faz sobre quem vai para o céu ou para o inferno e as consequências disso.

Para falar desse tema, Jesus usou uma parábola baseada numa tradição judaica - a estória do pobre escriba e do rico coletor de impostos Bar Majan. Ele usou esse material conhecido pelos(as) ouvintes mas fez algumas adaptações - por exemplo, no lugar do escriba, colocou um mendigo.

Naturalmente, seus ouvintes reconheceram de imediato a estória que estava sendo contada, mesmo com as adaptações que Jesus fez. Assim, Ele não precisou dar todos os detalhes da estória - por exemplo, não descreveu os pecados do rico - para poder passar sua mensagem. 

É interessante perceber que Lázaro, o mendigo, é a única personagem de todas as parábolas de Jesus que recebeu um nome. E isso não aconteceu por acaso. Deve ter tido uma razão forte.

Acredito que tudo tenha a ver com o significado do nome Lázaro ("Deus ajuda"). O surpreendente é ver esse nome aplicado a uma pessoa que na vida terrena só teve sofrimentos.

Sem dúvida, os(as) ouvintes perceberam um outro paralelo no relato de Jesus: refiro-me ao caso de José, que depois de vendido pelos irmãos como escravo, enfrentou enormes dificuldades na sua vida no Egito. E a cada nova dificuldade que lhe era acrescentada, o relato bíblico (Gênesis capítulo 39, versículos 2, 21 e 23) faz questão de dizer que "Deus estava com José". Ora, como Deus estar com alguém que só vê sua situação piorar? 

No caso de José, a resposta a essa pergunta era imediata: Deus mudou a sorte de José e ele se tornou a segunda pessoa mais importante do Egito, logo abaixo do faraó. Ou seja, Deus realmente estava com José...

Mas é no caso do mendigo? Será que Deus o ajudou? Não morreu o mendigo na miséria? Jesus surpreende os(as) ouvintes mostrando que essa ajuda não veio na vida terrena e sim depois da morte de Lázaro. Tanto assim que ele acabou no melhor lugar possível para um judeu - o "seio de Abraão".

Esse era o lugar para onde iam as pessoas mais exaltadas pelos judeus, aquelas de maior fé em Deus e comportamento irrepreensível. Logo, Jesus falou que o mendigo teve sua vida transformada - passou de pobre e doente, desprezado por todos, a pessoa exaltada, digna de reconhecimento. E aí está a ajuda de Deus.

A parte mais interessante da parábola, entretanto, é o diálogo de Abraão com o rico. Nessa conversa ficou claro que o julgamento de quem vai para o céu (ou para o inferno) é definitivo. Irrevogável. 

Existe hoje uma vertente teológica que tenta fazer as pessoas acreditarem no conceito que, ao final, todos(as) serão salvos(as) por causa da bondade e da misericórdia de Deus. Mas essa parábola demonstra que não é bem assim: Deus decide quem vai ser salvo (ou não) e essa decisão é definitiva.

Este relato também deixa claro que o conceito de "purgatório" - local onde as pessoas ficariam provisoriamente até que seja tomada a decisão sobre sua salvação -, defendido pela Igreja Católica, não tem suporte bíblico. Ele não cabe na parábola contada por Jesus.

Outra coisa que essa parábola deixou claro é não haver permissão de Deus para espíritos de pessoas que morreram voltarem para falar com quem está vivo. E isso contraria totalmente a doutrina espírita, que defende a comunicação com os mortos.

Concluindo, essa parábola é muito rica de ensinamentos. Esclarece diversas dúvidas que as pessoas têm a respeito da misericórdia de Deus, da diferença entre a vida terrena e a vida após a morte, sobre o julgamento de Deus e assim por diante.

Com carinho

segunda-feira, 17 de outubro de 2016

O SALMO DO ARREPENDIMENTO

O Salmo 32 é conhecido como "o salmo do arrependimento". Nele, Davi reflete sobre o pecado humano e a necessidade da pessoa se arrepender para conseguir reconciliar-se com Deus.

Davi fez essa reflexão tendo como pano de fundo seus próprios pecados - o adultério com Bate-Seba e a ordem para matar o marido dela -, só reconhecidos por ele tempos depois, depois da intervenção do profeta Natã (2 Samuel capítulo 12, versículos 1 a 15). 

Aproveite o vídeo:

sábado, 15 de outubro de 2016

A HISTÓRIA DA DINASTIA DO REI HERODES CONFIRMA A BÍBLIA

O rei Herodes foi aquele que mandou massacrar os recém-nascidos judeus, na cidade de Belém, para conseguir matar Jesus (Mateus capítulo 2, versículos 16 a 18). Por causa disso, ele passou para a história como homem perverso.

O que você talvez não saiba foi que esse rei, apelidado o Grande, iniciou uma dinastia que governou a Palestina por muitos anos. E três dos membros dessa dinastia são citados na Bíblia e como todos são chamados de Herodes (sobrenome da família) tem gente que confunde essas pessoas, achando que são uma só.

É interessante saber mais sobre essas figuras históricas pois nos dá condições de entender melhor os relatos da Bíblia e também permite mais uma vez confirmar que a Palavra de Deus fala sempre a verdade. 

Foi Herodes o Grande que reconstruiu o Templo de Jerusalém, que se tornou uma das maravilhas arquitetônicas da sua época. Construiu também a cidade de Cesareia Marítima, a fortaleza de Massada e diversas outras obras grandiosas. E daí veio o seu apelido, o Grande.

Ele governou a Palestina, como "Rei dos Judeus", desde o ano 40 Antes de Cristo, quando foi nomeado para esse cargo pelo Senado de Roma. Reinou como rei vassalo dos romanos até sua morte, no ano 4 Depois de Cristo. E procurou sempre agradar seus patrões, mantendo a ordem nos territórios a seu cargo e recolhendo do seu povo os impostos que os romanos exigiam.

Herodes o Grande não teve muito impacto na história de Jesus, pois morreu quando nosso Salvador tinha apenas dois ou três anos. Mas conseguiu atrapalhar a vida de Maria e José, que se viram forçados a fugir com a criança para o Egito, para escapar do decreto real, de onde só voltaram depois que Herodes morreu (Mateus capítulo 2, versículos 19 a 22).

Quando Herodes o Grande morreu, a Palestina foi dividida entre três filhos dele. Herodes Arquelau, o mais velho, recebeu a Judeia (incluindo a cidade de Jerusalém) e a Samaria, tendo reinado sobre esses territórios por 10 anos.

Foi deposto pelos romanos no ano 6 Depois de Cristo e acabou seus dias no exílio. A partir daí e durante um certo período, os romanos decidiram governar a Judeia e a Samaria diretamente e foi por isso que a sentença de morte de Jesus foi passada não por um rei vassalo e sim por um governador romano (Pôncio Pilatos).

Interessa também para o leitor da Bíblia o outro filho de Herodes o Grande, Antipas, que herdou do pai a Galileia (onde Jesus foi criado) e a Peréia (região na margem esquerda do rio Jordão), onde João Batista desenvolveu seu ministério.

Antipas foi quem mandou matar João Batista (Mateus capítulo 14, versículos 1 a 12) e interrogou Jesus, a pedido de Pilatos (Lucas capítulo 23, versículos 6 a 12), que usou a desculpa de estar Jesus debaixo da jurisdição de Herodes Antipas por ser morador da Galileia.

Herodes Antipas foi exilado no ano 39 Depois de Cristo, poucos anos depois da morte de Jesus. Foi sucedido por Agripa, filho de Aristóbulo e neto de Herodes o Grande. Como era muito amigo dos romanos (tinha sido criado em Roma), Agripa foi conseguindo aos poucos se apossar de vários territórios, como a Judeia (incluindo Jerusalém), praticamente restabelecendo o reino original do seu avô.

Agripa morreu no ano 44 Depois de Cristo. Sua morte impressionante é relatada na Bíblia, em Atos dos Apóstolos capítulo 12, versículos 19 a 23:

E, quando Herodes o procurou e o não achou, feita inquirição aos guardas, mandou-os justiçar. E, partindo da Judeia para Cesareia, ficou ali. E ele estava irritado com os de Tiro e de Sidom; mas estes, vindo de comum acordo ter com ele, e obtendo a amizade de Blasto, que era o camarista do rei, pediam paz; porquanto o seu país se abastecia do país do rei. E num dia designado, vestindo Herodes as vestes reais, estava assentado no tribunal e lhes fez uma prática. E o povo exclamava: Voz de Deus, e não de homem. E no mesmo instante feriu-o o anjo do Senhor, porque não deu glória a Deus e, comido de bichos, expirou.
Muitos historiadores falam que a Bíblia não é verdadeira por conter relatos como esse, que parecem ser meio forçados. Acontece que a morte de Herodes Agripa também é contada pelo historiador judeu Flavius Josephus. Veja o que ele disse:
Então, quando Agripa tinha reinado durante três anos sobre toda a Judéia, veio à cidade de Cesaréia... e ali ele apresentou espetáculos em honra a César [o Imperador Romano]... Uma grande multidão de pessoas importantes tinha-se reunido... No segundo dia dos espetáculos, ele vestiu um traje feito totalmente de prata... e veio para o teatro de manhã cedo. A prata de seu traje sendo iluminada pelo reflexo dos raios do sol sobre ela, brilhou de uma maneira surpreendente e ficou tão resplendente que espalhou horror entre aqueles que olhavam firmemente para ele. E no momento seus bajuladores gritaram... que ele era um deus... Quanto a isto o rei não os repreendeu, nem rejeitou sua ímpia bajulação... Uma dor severa também apareceu no seu abdome e começou de maneira muito violenta... ele foi carregado para dentro do palácio e o rumor espalhou-se por toda parte, que ele certamente morreria dentro de pouco tempo... E quando ele tinha se esgotado muito pela dor no seu abdome, durante cinco dias, ele partiu desta vida. Antiguidades, XIX, 7.2
Vemos aí mais uma vez a Bíblia ser confirmada historicamente.

Com carinho

quinta-feira, 13 de outubro de 2016

BRIGAS DENTRO DAS IGREJAS

Brigas dentro das comunidades cristãs são comuns. Mais do que deveriam, já que normalmente estão envolvidas pessoas ditas cristãs. Mas infelizmente sempre foi assim na história da Igreja Cristã.

Algumas dessas brigas ficaram famosas, como a do monge Martinho Lutero com o Papa, que levou à Reforma Protestante, rachando a Igreja Católica. E muitas outras se seguiram, gerando inúmeras divisões no meio do cristianismo - a cada briga mais séria, uma nova denominação cristã acaba por se formar.

Aqui no Brasil não tem sido diferente. Praticamente todas as denominações cristãs mais conhecidas, como a Metodista, a Presbiteriana, a Batista e a Assembléia de Deus, dividiram-se várias vezes nos últimos cem anos. A Igreja Universal nasceu como uma dissidência da Igreja de Nova Vida. A Igreja da Graça é uma dissidência da Universal. E assim sucessivamente.

Cada divisão deixa um rastro de pessoas feridas. Coisas muito ruins. Mas parece não ser possível evitar que essas coisas aconteçam.

Algumas pessoas pensam que o erro está em não usar o exemplo da igreja cristã apostólica, aquela que nasceu logo após a ressurreição de Jesus e foi dirigida pelos apóstolos. E numa primeira análise, essa impressão parece ser correta - afinal, naquela comunidade de fé as pessoas tinham até os bens em comum (Atos dos Apóstolos capítulo 4, versículos 32 a 35). 

Mas se estudarmos com mais cuidado o que a Bíblia relata veremos que não foi bem assim: a igreja apostólica teve problemas. Por exemplo, a rivalidade entre os apóstolos começou ainda quando Jesus era vivo. Veja o que a mãe de João e Tiago pediu a Ele (Mateus capítulo 20, versículos 20 a 22):
Então se aproximou dele a mãe dos filhos de Zebedeu, com seus filhos, adorando-o, e fazendo-lhe um pedido. E ele diz-lhe: Que queres? Ela respondeu: Dize que estes meus dois filhos se assentem, um à tua direita e outro à tua esquerda, no teu reino. Jesus, porém, respondendo, disse: Não sabeis o que pedis...
A mãe dos dois apóstolos pediu a Jesus que desse os lugares de honra no Reino de Deus para seus filhos - deve ter achado que eles mereciam mais do que os outros. E Jesus respondeu que ela não sabia o que estava pedindo...

Mas a rivalidade não desapareceu, tanto assim que há uma outra passagem falando sobre o mesmo tema. E a questão aflorou numa hora super imprópria - na mesma noite em que Jesus foi preso. Veja o que está dito em Lucas capítulo 22, versículos 24 a 26:
E houve também entre eles contenda, sobre qual deles parecia ser o maior. E ele lhes disse: Os reis dos gentios dominam sobre eles, e os que têm autoridade sobre eles são chamados benfeitores. Mas não sereis vós assim; antes o maior entre vós seja como o menor; e quem governa como quem serve.
Jesus precisou intervir para colocar ordem na "casa", ensinando que o maior seria aquele(a) que se fizesse o(a) menor, isto é que servisse as demais pessoas.

Depois que Jesus subiu aos céus, quando a igreja apostólica de fato se constituiu, outras questões apareceram.

Os judeus estavam acostumados a se manter separados dos demais povos, tanto por evitar o casamento com pessoas estrangeiras, como por manter costumes (a circuncisão ou a proibição de comer certos alimentos) que reforçavam esse estado de coisas.

Mas o cristianismo rompeu as barreiras do judaísmo. Primeiro, converteram-se os judeus que moravam na Palestina, todos seguidores das práticas da lei judaica. Depois, vieram judeus moradores de outros territórios, pessoas muito influenciadas pela cultura grega - muitas nem seguiam mais essas leis. E mais adiante ainda, começaram a se converter os gentios, os não judeus, que encontrarem nos ensinamentos de Jesus a resposta para seus problemas existenciais.

Acabaram se formando dois grupos dentro do cristianismo: os judeus nascidos e criados na Palestina (chamados cristãos judaizantes), seguidores da lei dada por Moisés, e os demais que viviam de acordo com a cultura grega (chamados cristãos gregos). E isso gerou tensões que explodiram em crises. Vejamos dois exemplos:

O primeiro ocorreu ainda na fase da vida da igreja apostólica, em Jerusalém, quando todas as pessoas tinham os bens em comum. Cabia aos apóstolos cuidar do caixa comum e distribuir para as pessoas aquilo que elas precisavam.

Em dado momento, os cristãos gregos se sentiram prejudicados nessa distribuição - pensavam que os apóstolos, por serem todos judeus palestinos, estavam privilegiando quem era como eles (Atos dos Apóstolos capítulo 6, versículos 1 a 5):
Ora, naqueles dias, crescendo o número dos discípulos, houve uma murmuração dos gregos contra os judeus, porque as suas viúvas eram desprezadas no ministério cotidiano. E os doze, convocando a multidão dos discípulos, disseram: Não é razoável que nós deixemos a palavra de Deus e sirvamos às mesas. Escolhei, pois, irmãos, dentre vós, sete homens de boa reputação, cheios do Espírito Santo e de sabedoria, aos quais constituamos sobre este importante negócio... E este parecer contentou a toda a multidão, e elegeram Estêvão, homem cheio de fé e do Espírito Santo, e Filipe, e Prócoro, e Nicanor, e Timão, e Parmenas e Nicolau, prosélito de Antioquia;
Os apóstolos resolveram o problema de forma sábia. Reconheceram que havia uma dificuldade a ser superada - isto é, não fingiram que estava tudo bem - e disseram para a congregação que não mais cuidariam da distribuição de recursos entre as pessoas. E incentivaram a congregação a escolher sete homens para fazer isso - foi aí que nasceu o papel de diácono.

Foram escolhidas pessoas de origem grega. Ou seja, para demonstrar sua isenção, os apóstolos incentivaram a escolha de pessoas pertencentes ao grupo que estava reclamando. 

Outro exemplo desse mesmo tipo de tensão aconteceu na cidade de Antioquia, onde estavam Pedro e Paulo. E chegou um grupo de cristãos vindos de Jerusalém, cuja comunidade cristã era chefiada por Tiago, irmão de Jesus, a maior autoridade entre os cristãos judaizantes.

Até então, Pedro tinha convivido normalmente com os cristãos gregos, aceitando os hábitos de vida deles. Quando os judaizantes chegaram a Antioquia, Pedro estranhamente mudou de comportamento e passou a criticar os hábitos dos cristãos gregos. Paulo ficou bravo e criticou Pedro na frente de todos (Gálatas capítulo 2, versículos 11 a 14):

E, chegando Pedro à Antioquia, lhe resisti na cara, porque era repreensível. Porque, antes que alguns tivessem chegado da parte de Tiago, comia com os gentios; mas, depois que chegaram, se foi retirando, e se apartou deles, temendo os que eram da circuncisão. E os outros judeus também dissimulavam com ele, de maneira que até Barnabé se deixou levar pela sua dissimulação. Mas, quando vi que não andavam bem e direitamente conforme a verdade do evangelho, disse a Pedro na presença de todos: Se tu, sendo judeu, vives como os gentios, e não como judeu, por que obrigas os gentios a viverem como judeus?

Concluindo, brigas nas comunidades de fé são esperadas. Afinal, estão envolvidos seres humanos imperfeitos, passíveis de raiva, inveja, ciúmes, orgulho, etc. 

Mas o exemplo da Bíblia, embora não seja, como muitas pessoas parecem pensar, o de comunidades sem problemas, demonstra que sim é possível superar as dificuldades sem levar a rupturas.

O exemplo da Bíblia é justamente o de como resolver de forma as tensões que sempre acabam surgindo dentro das comunidades de fé, por essa ou aquela razão. 

Jesus ensinou que a grandeza dentro das comunidades de fé está relacionada com a humildade e a capacidade de servir. Os(as) maiores são aqueles(as) que mais servem e se dedicam à obra de Deus e não quem ocupa cargos importantes.

Sei que não é essa a realidade que vemos hoje dentro das denominações, mas foi isso que Jesus ensinou e penso que aí está a chave para resolver muitos problemas. O ponto de partida.

Depois, é preciso que os(as) líderes tenham sensibilidade para entender as demandas dos membros das comunidades de fé. Por exemplo, é claro que os apóstolos não estavam prejudicando os cristãos gregos na distribuição de alimentos e roupas, mas mesmo assim foram sensíveis às reclamações e indicaram diáconos, reduzindo a tensão.

Muitos(as) líderes, quando percebem que os membros da comunidade cometem injustiças contra seu ministério, retaliam: isolam ou até expulsam essas pessoas. Não foi esse o exemplo que os apóstolos deram. 

Finalmente, não importa a posição e os prestígio da pessoa dentro da comunidade de fé. Se sua atitude estiver errada, ela precisa ser advertida e chamada a mudar de comportamento.

Repare que Paulo, quando estava em Antioquia, enfrentou ninguém menos do que Pedro, considerado por quase todos os cristãos como o líder dos apóstolos. E Paulo não hesitou em criticar Pedro na frente de todos - mais adiante, foi possível Pedro e Paulo chegarem a um acordo, juntamente com Tiago, no chamado Primeiro Concílio da Igreja Cristã, ocorrido em Jerusalém (Atos dos Apóstolos capítulo 15).

Sobretudo, o exemplo que temos da Bíblia, é que as dificuldades devem ser resolvidas sem gerar divisões ou feridas espirituais sérias nas pessoas. Sempre com espírito de humildade e amor ao próximo. E esse é o exemplo que precisamos aprender a imitar.

Com carinho

terça-feira, 11 de outubro de 2016

O QUE TORNA JESUS DIFERENTE DE TODOS

Jesus Cristo, o Salvador da humanidade, é o centro da fé cristã. É n´Ele que cremos e sobre Jesus repousam todas as nossas esperanças. Simples assim.

Mas o que torna Jesus tão especial? Aquilo que Ele ensinou? Seu exemplo de vida? Os milagres que realizou? Onde está a diferença em relação a todos os demais seres humanos?

É claro que Jesus nos deixou ensinamentos maravilhosos e até quem não é cristão reconhece isso. Mandamentos dados por Ele - por exemplo, para amar o próximo, perdoar quem nos ofendeu ou não usar de violência -, se fossem de fato seguidos por todo mundo, tornariam nosso mundo num verdadeiro paraíso. 

Mas por mais elevados que esses ensinamentos, não são eles que Jesus uma figura única. Isso porque outros homens - como Confúcio ou Buda - foram capazes de produzir ensinamentos de sabedoria do mesmo quilate. Que poderiam fazer toda a diferença na vida das pessoas, se fossem seguidos. Portanto, a reposta não está aí.

É também certo que Jesus foi exemplo de vida. A forma como viveu - sua humildade, simplicidade, dignidade, amor pelo próximo e muito mais - constitui um modelo de comportamento que todos(as) devemos procurar imitar. E é isso que Deus espera de cada um(a) de nós.

Mas também é fato terem existido outros seres humanos que, mesmo sem alcançar o mesmo nível de perfeição de Jesus, também deram exemplos de vida admiráveis. Gente como São Francisco de Assis e o próprio apóstolo Paulo. Assim, deve haver alguma outra coisa que tornou Jesus único.

Será o fato d´Ele ter feito milagres fantásticos? Como transformar água em vinho, andar sobre as águas, ressuscitar mortos, curar toda a espécie de doenças ou multiplicar pães e peixes? 

Não há dúvida que os milagres de Jesus foram incríveis, mas ainda assim outras pessoas realizaram milagres tão grandes quanto Ele. Por exemplo, Elias e Paulo ressuscitaram pessoas. Moisés abriu o Mar Vermelho. Elias multiplicou alimentos e fez cair fogo do céu. Pedro tinha tanto poder que até sua sombra curava (Atos dos Apóstolos capítulo 5, versículo 15). 

Ora, se não foi nada disso que tornou Jesus uma pessoa única, o que foi então? A resposta é simples: sua morte na cruz por nós e sua ressurreição dentre os mortos.

Repare que somente a morte na cruz em si não seria suficiente para garantir isso, pois homens como Pedro tiveram morte semelhante. A diferença começa realmente no fato que Jesus deu sua vida por nós, como sacrifício para redenção dos nossos pecados. 

E ninguém mais ressuscitou dentre os mortos, como Jesus. Esse fato deu credibilidade a tudo que tinha dito e prometido. Em outras palavras, a ressurreição autenticou a missão de Jesus como Salvador da humanidade. Portanto, é aí que está a grande diferença.

Nenhum homem se sacrificou por conta dos pecados da humanidade, tendo prometido antes que faria isso, e muito menos ressuscitou dentre os mortos para comprovar que tinha dito a verdade. Só Jesus. 

E não sou só eu quem diz que na morte e ressurreição de Jesus está de fato toda a diferença. O apóstolo Paulo afirmou a mesma coisa (1 Coríntios capítulo 15, versículos 13 a 15):

E, se não há ressurreição de mortos, também Cristo não ressuscitou. E, se Cristo não ressuscitou, logo é vã a nossa pregação e também é vã a vossa fé. E assim somos também considerados como falsas testemunhas de Deus, pois testificamos de Deus, que ressuscitou a Cristo, ao qual, porém, não ressuscitou, se, na verdade, os mortos não ressuscitam.

Repare no que Paulo disse: se Jesus não ressuscitou dentre os mortos, nossa fé é vã, isto é não tem qualquer valor. Mas o contrário também vale: se isso é verdade, nossa fé tem base sólida. E é nisso que acreditamos.

Portanto, aí está a diferença. E essa é a razão da nossa esperança e a base da nossa fé.

Com carinho

domingo, 9 de outubro de 2016

RENDA-SE A DEUS

A Bíblia nos ensina a amar a Deus sobre todas as coisas. Isso significa não somente ter uma fé completa n'Ele, como também aceitar sua soberania e obedecer seus mandamentos. Enfim, render-se a Ele.

Num novo vídeo, eu, Rogers, falo sobre esse tema com base no texto de Deuteronômio capítulo 6, versículos 1 a 9. 

Dê uma olhada:

sexta-feira, 7 de outubro de 2016

O MUNDO MUDA. E AS IGREJAS?

A foto que ilustra este post é muito interessante: mostra a candidata favorita à Presidência dos Estados Unidos, Hillary Clinton, num encontro público com apoiadores. Analisando com cuidado a foto, é possível perceber uma coisa surpreendente: praticamente todas as pessoas estão de costas para Hillary. Protesto? Desrespeito? Nada disso.

A explicação é simples: cada pessoa queria tirar uma foto sua com a Hillary. E a melhor forma de fazer isso seria ficar de costas e tirar uma foto de si mesma (selfie) com a candidata, sorridente, ao fundo. Daí decorreu a situação aparentemente bizarra: todo mundo ficou de costas para Hillary.

Essa foto surpreendente me fez refletir sobre como os costumes mudam. Ficar de costas para um político importante seria impensável tempos atrás - uma demonstração de desrespeito. Hoje o significado é diferente.

Eu nasci e cresci num mundo que tem pouca coisa em comum com a realidade que vivo hoje. Muita coisa mudou: as vestimentas usadas, o que se come, a forma de se comunicar com outras pessoas, a música e até a maneira adequada de se comportar num culto (antes seria impensável levantar as mãos, bater palmas e outras coisas assim).

Lá atrás as tatuagens eram reservadas a pessoas de vida pouco recomendável - uma pessoa considerada "de família" jamais faria uma coisa dessas e se fizesse, seria considerado um escândalo. Hoje os jovens amam as tatuagens e elas se tornaram comuns - tem até concurso na televisão sobre isso. 

Sessenta anos atrás, a música religiosa era tocada em órgãos e nenhum outro tipo de instrumento, exceto violino e harpa, eram considerados apropriados para ser usados nas igrejas. Hoje, a música "gospel" é tocada com guitarras, baterias, teclados eletrônicos e instrumentos de sopro. E a música religiosa baseada em órgãos é considerada chata pela esmagadora maioria das pessoas.

Antes, o telefone era fixo e havia um número por residência (quando havia). Hoje, cada pessoa (até as crianças) tem seu número pessoal e muitas casas já nem têm mais telefone fixo. E o celular deixou de ser apenas um instrumento para telefonar. É muito mais: virou um computador pessoal, dando acesso às redes sociais, tirando fotos, controlando a agenda e até fazendo pagamentos. 

As mudanças são enormes e parecem ir se acelerando. Não sou saudosista, daqueles(as) que ficam dizendo "bom era no meu tempo". Nada disso. Só estou fazendo uma reflexão sobre uma realidade que vem mudando rapidamente. Coisas antes inaceitáveis, tornaram-se comuns. Já hábitos e comportamentos antes amplamente aceitos, caíram em desuso.

Agora, o que isso tudo tem a ver com a fé cristã? Muito. Poderia falar muitas coisas, mas vou me concentrar num tópico: a necessidade de aceitar as mudanças, naquilo que é de cunho cultural, e a capacidade de manter intacto o núcleo da fé cristã. Eu Vou explicar melhor o que quero dizer com dois exemplos.

Quando eu estava entrando na adolescência, o mundo passou por uma revolução na música popular, gerada pelos Beatles e outros conjuntos famosos - aqui no Brasil foi a turma da "Jovem Guarda", liderada pelo Roberto Carlos.

E os jovens cristãos naturalmente quiseram levar para dentro das suas igrejas a música de que gostavam, baseada em guitarras e bateria. Mas esbarraram na resistência dos mais velhos, que somente aceitavam a música de órgão - na igreja que eu frequentava essa discordância quase causou um racha. Os que eram contra a música jovem alegavam que ela era um desrespeito, um sacrilégio. 

Ora, instrumentos ou o ritmo da música usada em louvores são manifestações culturais - nada têm a ver com o núcleo da fé cristã. Coisas desse tipo mudam mesmo e continuarão a mudar ao longo do tempo. E essas mudanças precisam ser aceitas, sob pena das igrejas ficarem fossilizadas e se tornarem lugares evitados pelos jovens.

O mesmo posso dizer sobre as palavras que são usadas nos cânticos, que mudam ao longo do tempo porque a linguagem é viva, evoluiu - por exemplo, quando eu era pequeno, a palavra "chato" era um palavrão...

O mesmo posso dizer quanto às roupas que as pessoas usam para ir às igrejas, a maneira de dar aula na Escola Dominical, a decoração dos templos, o uso de redes sociais para práticas de oração e estudo bíblico e assim por diante. Essas mudanças são inevitáveis.

Mas as ideias básicas do cristianismo - o que chamei de núcleo da fé cristã- essas precisam ser mantidas. Podem até ser apresentadas sob novas roupagens, mas seu conteúdo precisa permanecer. 

E quando os líderes religiosos tentam mudar esse núcleo, para tornar as ideias mais palatáveis para o gosto moderno, a mensagem do cristianismo se perde. 

Há vários(as) líderes religiosos(as) que não mais falam em pecado, porque as pessoas não gostam. Outros(as) não pregam mais sobre o arrependimento ou o perdão porque contraria a modernidade. Falar em fidelidade nas relações amorosas, então, nem pensar.

E aí o cristianismo deixa de ser cristianismo, vira outra coisa. Vira uma dessas doutrinas de auto-ajuda que vende livros. Açucarada, mas inefetiva.

Tentar impedir as mudanças culturais dentro das igrejas - como muitas pessoas tentam fazer - é ruim, pois gera o risco de torná-las locais antiquados, ruins de frequentar. É preciso ter mente aberta para aceitar mudanças naturais. Por isso há espaço para recorrer às redes sociais para colocar as pessoas em contato, usar novos ritmos e instrumentos nos louvores, aceitar comportamentos diferentes e assim por diante. 

Mas nada disso pode ser feito às custas da essência do cristianismo. Dos seus ensinamentos básicos. Isso precisa permanecer hoje como era ontem e como continuará a ser no futuro.

Com carinho

quarta-feira, 5 de outubro de 2016

O PAI E SEUS DOIS FILHOS

Uma das estórias mais conhecidas da Bíblia é a parábola do filho pródigo (Lucas capítulo 15, versículos 11 a 32). Nela Jesus conta a estória de um pai que tinha dois filhos. O mais novo pediu para receber sua herança, de forma antecipada, e foi embora da casa paterna. Mudou para outro lugar e viveu vários anos ali, gastando irresponsavelmente, com festas e mulheres, a herança recebida.

Acabou ficando sem nada e tendo que trabalhar em atividades humilhantes, como guardar porcos, para ter o que comer. Certo dia, deu-se conta da forma que vivia e lembrou que até os empregados da casa do seu pai viviam melhor do que ele. E resolveu voltar para casa.

Quando ia chegando, o pai o viu e veio correndo ao seu encontro. O rapaz, arrependido, pediu perdão e disse para o pai que não merecia mais ser tratado como filho. E pediu para ficar ali, trabalhando como um simples empregado.

O pai perdoou e aceitou o filho de volta. Sem restrições. E deu uma grande festa para comemorar a volta do rapaz. Quando a noite já ia avançada, o filho mais velho, que de nada sabia, chegou da sua jornada no campo e estranhou o movimento. Procurou informar-se do que estava acontecendo e ao saber do motivo da comemoração, irritou-se e não quis participar da festa.

Ficou do lado de fora, amuado. Até que o pai veio falar com ele. E o filho mais velho desabafou, dizendo que tinha ficado ali, trabalhando duramente, e nunca tinha sido festejado pelo pai. E não lhe parecia justo que o filho mais novo fosse o centro de uma festa, depois de tudo o que tinha feito.

O pai respondeu que reconhecia o comportamento do filho mais velho, tanto assim que tudo que tinha era também dele. Mas argumentou que seu caçula estava perdido e tinha sido encontrado. E esse fato tinha alegrado seu coração de pai.

É interessante perceber que o relato de Jesus não revela se o filho mais velho aceitou essa justificativa e concordou em participar da festa, também perdoando o irmão mais novo. Isso ficou em aberto, ficando a critério da imaginação de cada leitor(a).

A interpretação tradicional dessa parábola atribui a Deus o papel do pai. O filho pródigo, aquele que volta para casa arrependido, é a pessoa que se afasta de Deus e, por conta dos problemas que passa a viver, acaba se arrependendo e se convertendo. O filho mais velho representa as pessoas que vivem na igreja e se incomodam quando um(a) pecador(a) é aceito por Deus.

Essa interpretação fala de arrependimento, de pedido de perdão, da misericórdia e da graça de Deus, como também do coração endurecido daqueles(as) que vivem nas comunidades de fé (igrejas cristãs) e têm dificuldade para aceitar a entrada nelas dos(as) pecadores(as).

Eu concordo com essa interpretação. Ela faz sentido e está de acordo com os demais ensinamentos de Jesus. Mas penso que essa parábola vai além disso. Muito além. O ensinamento de Jesus é ainda mais profundo.

Numa visão mais ampla, é preciso entender que cada um(a) de nós, ao longo da sua vida espiritual, assume sucessivamente os três diferentes papéis descritos nessa parábola. Em diferentes momentos da vida somos filho(a) pródigo(as), filho(a) primogênito(a) e pai(mãe).

Há momentos em que pecamos e nos afastamos de Deus e precisamos nos arrepender, pedir perdão e voltar para Ele. E esperamos ser perdoados e aceitos de volta por Ele. Acredito que todo mundo já passou por isso.

Até os apóstolos, que são exemplos de fé a serem seguidos, passaram por sua fase de “filhos pródigos”. Por exemplo, Pedro negou Jesus por três vezes e precisou ser perdoado (João capítulo 21, versículos 15 a 17). Paulo começou seu ministério perseguindo os cristãos, inclusive contribuindo para o martírio de alguns deles, como Estevão. Precisou ser perdoado e discipulado por Jesus (Atos dos Apóstolos capítulo 19, versículos 1 a 19).

Cada um(a) de nós já foi (ou virá a ser) um(a) filho (a) pródigo(a). E precisamos olhar para aquele personagem para entender as consequências dos nossos atos: enquanto teimarmos em seguir no caminho errado, vamos continuar a pagar o preço, levando uma vida ruim. Ao voltarmos para Deus, seremos perdoados e recebidos com alegria e festa. E nossa vida vai mudar.

Agora, cada um(a) de nós já passou (ou irá passar) também pelo papel de filho mais velho. Isso porque temos dificuldade de entender a misericórdia e a graça de Deus. Temos dificuldade de aceitar o fato d´Ele perdoar tanto.

No mundo humano - já vi isso acontecer muito dentro das igrejas - as pessoas que erram quase nunca são tão aceitas como antes. Acabam “marcadas” para sempre.

Os relatos bíblicos testificam sobre essa questão. Por exemplo, quando Paulo se converteu, os cristãos não o aceitaram imediatamente – tiveram grande desconfiança dele (Atos dos Apóstolos capítulo 19, versículos 20 a 30). E ele passou boa parte do seu ministério se defendendo, precisando reafirmar sua autoridade apostólica (2 Coríntios capítulo 10, versículos 1 a 12).

Finalmente, cada um(a) de nós passou (ou vai passar) pela figura do(a) pai(mãe). Vamos ver à nossa frente alguém arrependido(a), nos pedindo perdão. E precisamos aprender a perdoar. A usar de misericórdia. Afinal, esse foi um dos ensinamentos que Jesus nos deixou.

E nunca podemos esquecer que seremos perdoados por Deus na mesma medida que viermos a perdoar o nosso próximo (Mateus capítulo 6, versículos 14 e 15).

Concluindo, cada um(a) de nós já assumiu (ou virá a assumir) os três papeis da parábola: pai, filho que se arrepende e filho que se escandaliza com o perdão. Penso que essa é a lição maior da parábola do filho pródigo.

Com carinho