quinta-feira, 31 de março de 2016

LIDANDO COM FALSAS PROFECIAS

Profecia é coisa muito importante - trata-se de uma mensagem enviada por Deus para alguém, através de um(a) mensageiro(a), o(a) profeta. A mensagem pode envolver advertências, previsões sobre o futuro, conselhos, etc.

Infelizmente, o conceito de profecia tem sido muito abusado hoje em dia, especialmente no que se refere a predições de eventos futuros e/ou informações sobre os planos de Deus. Estou cansado de ver pessoas nas igrejas evangélicas afirmando com toda segurança: "Deus me disse isso ou aquilo..." E muitas vezes as mesmas pessoas falam verdadeiros absurdos em nome de Deus, sem se preocupar muito com as consequências do que fizeram.

Certa vez, numa reunião de oração, a esposa de um pastor disse-me que tinha recebido uma mensagem de Deus dirigida para mim: eu deveria deixar de viajar de avião sob pena de sofrer um acidente sério. Ora, naquela época eu viajava a trabalho todas as semanas - cheguei a fazer cerca de 100 viagens num único ano. Parar de viajar de avião, mesmo que por período limitado, teria enorme impacto na minha vida - provavelmente eu precisaria procurar outro emprego. Fiquei num dilema nada agradável e tudo por conta de uma profecia errada. 

A grande maioria das profecias apresentadas hoje em dia não são mensagens de Deus e sim pensamentos das próprias pessoas que elas erradamente atribuem a Ele por confusão espiritual ou interesses os mais diversos. E como sei disso? São duas as razões. 

Primeiro, porque a quantidade de profecias dadas hoje em dia é muito grande, enquanto na Bíblia esse tipo de coisa era relativamente rara, somente acontecia em situações especiais. Hoje há profecia para tudo, virou coisa banal.

Depois, porque a maior parte das "profecias" que envolvem predições sobre o futuro não é confirmada pelos fatos. E profecias reais, aquelas vindas de Deus, são sempre confirmadas. Simples assim.

Ora, falsas profecias abusam do nome de Deus, uma clara violação dos mandamentos d´Ele (veja mais). Em outras palavras, emitir uma falsa profecia é pecado sério. 

Outro problema com as falsas profecias é que podem gerar consequências muito ruins sobre a vida das pessoas: confusão espiritual, decisões erradas, decepção com Deus e assim por diante. 

Agora, o que fazer se você vier a receber uma profecia? O mais importante é pedir confirmação a Deus.  E há vários exemplos na Bíblia de pessoas que fizeram isso, como Gideão (Juízes capítulo 6, versículos 36 a 40). E Deus sempre honrou tais pedidos - afinal, não seria razoável que Ele exigisse obediência a uma mensagem de origem duvidosa. Simples assim.

Pedir confirmação não é desobedecer a Deus e sim tomar as coisas espirituais com seriedade. E até que tal confirmação venha, não assuma que a profecia é verdadeira.

Na situação em que vivi, disse a Deus que somente iria aceitar a mensagem recebida como profecia verdadeira quando recebesse confirmação vinda de pessoa diferente. Até lá, iria continuar a viajar de avião normalmente - confesso que quando entrei num avião na primeira vez depois de receber a tal mensagem, meu coração apertou, mas fui em frente. A confirmação nunca veio e continuei a viajar normalmente, sem medo, e nada aconteceu - a profecia era falsa.

Há outro problema que ainda agrava mais a epidemia de falsas profecias que experimentamos: as pessoas não cobram dos(as) falsos(as) profetas as besteiras que dizem. 

Muitos anos atrás, ouvi de certo pastor, falando de púlpito, uma das grandes Escolas de Samba do Rio de Janeiro não conseguiria desfilar naquele ano, pois Deus estava agindo para acabar com elas. A platéia aplaudiu emocionada, deu glórias a Deus, etc. E nada disso aconteceu - o tal pastor continuou a pregar como se nada tivesse acontecido e ninguém cobrou nada dele. 

Eu não confrontei a senhora que me passou a falsa profecia - naquela época eu não achava isso necessário. Levei em conta que ela tinha tido boa intenção. Mas deveria ter feito isso, não para obter algum tipo de reparação e sim para que ela tivesse aprendido uma lição espiritual importante.

Usar indevidamente o nome de Deus, interferindo na vida de outras pessoas, é erro sério. E quando esse problema acontece, o fato deve ser apontado com clareza. Doa a quem doer.

Com carinho 

terça-feira, 29 de março de 2016

AS CORAJOSAS FILHAS DE LÓ


Subiu Ló de Zoar e habitou no monte, ele e suas duas filhas ... habitou numa caverna, e com ele as duas filhas. Então, a primogênita disse à mais moça: Nosso pai está velho, e não há homem na terra que venha unir-se conosco, segundo o costume de toda terra. Vem, façamo-lo beber vinho, deitemo-nos com ele e conservemos a descendência de nosso pai... E assim as duas filhas de Ló conceberam do próprio pai. A primogênita deu à luz um filho e lhe chamou Moabe: é o pai dos moabitas, até o dia de hoje. A mais nova também deu à luz um filho e lhe chamou Ben-Ami: é o pai dos filhos de Amom, até o dia de hoje. Gênesis capítulo 19, versículos 30 a 37
Ló era sobrinho de Abraão e habitava na região à sudeste do Mar Morto, na cidade de Sodoma. Deus resolveu destruir Sodoma e Gomorra por causa da sua corrupção moral mas resolveu poupar Ló e sua família, porque ele se mantivera íntegro, além de ser parente de Abraão. 

Dois anjos foram então enviados a Sodoma com essa missão destruidora e advertiram Ló, sua esposa e duas filhas solteiras - as casadas moravam com seus maridos - para que deixassem imediatamente a cidade e não olhassem para trás. Durante a fuga, a mulher de Ló contrariou essa orientação e foi transformada em estátua de sal. Ló e suas duas filhas acabaram se refugiando numa caverna, onde viveram como reclusos durante o resto da vida dele - é possível dizer que ele não suportou o fardo emocional do que acontecera e decidiu se “enterrar” em vida. 

Ora, naquela época, as filhas solteiras tinham que obedecer os desejos do pai porque as mulheres não tinham voz própria. Mas, ao obedecer, estavam destruindo seu próprio futuro pois, quando o pai morresse estariam velhas para procurar marido e constituir família, condição necessária para ter garantia de sustento e obter aceitação social. 

É chocante perceber que um pai tenha conscientemente condenado suas próprias filhas a destino tão doloroso. Ló pensou apenas em si mesmo e não teve qualquer consideração com suas filhas, que dedicaram sua vida a cuidar dele - tal postura de Ló me faz lembrar o costume antigo na Índia que obrigava as viúvas dos marajás a serem enterradas vivas junto com os cadáveres dos maridos.   

O fato é que as duas filhas de Ló não aceitaram passivamente sua sorte e usaram de criatividade, dentro dos limites da sua situação, para encontrar uma saída. A Bíblia têm vários exemplos desse tipo de atitude corajosa e desesperada - lembro aqui do caso de Tamar, que engravidou do próprio sogro, Judá, quando ficou sem marido.

As filhas embebedaram o pai e mantiveram relações sexuais com ele. Ambas engravidaram e seus filhos deram origem a dois povos - os edomitas e os amonitas - que viveram em constante rivalidade com os descendentes de Abraão (Israel).

Certo ou errado?
Esse caso é um daqueles em que as pessoas ficam em dúvida sobre o que pensar: as filhas de Ló fizeram certo ou errado? Será que elas pecaram? 

As relações sexuais entre parentes próximos, na época de Ló, não tinham a mesma conotação de imoralidade dos dias atuais – basta lembrar que Abraão e Sara eram meio irmãos. Só bem depois do tempo de Ló, na época de Moisés, esse tipo de relacionamento foi proibido por Deus (Levítico capítulo 18, versículo 3).  

Ora, o apóstolo Paulo ensinou (Romanos capítulo 2, versículo 14) que na ausência de lei formal proibindo determinada coisa, a consciência da pessoa deve servir de lei para ela. E as filhas de Ló sabiam que estavam erradas, tanto assim que decidiram embriagar o pai antes de manter relações sexuais com ele. Sabiam que estavam erradas e ainda assim foram em frente, logo não há dúvida que pecaram. 

Agora, é interessante perceber que Deus aceitou bem a atitude das duas mulheres e isso fica bem claro no texto. Primeiro, o texto bíblico não critica diretamente as ações delas e muito menos fala sobre qualquer punição dada a elas por Deus. Tanto foi assim, que ambas foram abençoadas com filhos e tornaram-se matriarcas de povos importantes. 

Depois, as duas mulheres conseguiram voltar, mesmo de forma indireta, à linha da Promessa de Deus, que começou com Abraão e culminou com Jesus. Digo isso porque uma mulher moabita, Rute, e outra amonita, Naamã, acabaram ambas na genealogia de Jesus.

Vemos nessa história mais uma prova de como Deus é misericordioso. Muito mais do que imaginamos! Ele entendeu o desespero das filhas de Ló e o fato delas estarem sem saída - tinham que obedecer o pai e não poderiam constituir famílias próprias. E as aceitou como eram. Entendeu sua situação.

É triste observar que o nome dessas duas mulheres corajosas e sofridas não foi preservado no texto bíblico. Foi-lhes tirado pelo autor do texto, segundo a tradição, Moisés, algo fundamental: sua individualidade. Entraram para a história apenas como as filhas de Ló.

Esse foi um ato de machismo, coisa comum entre os homens, tanto daquela época como de hoje em dia. Machistas não apreciam atos de independência exercidos por mulheres. Simples assim.

As duas filhas de Ló passaram para a história anônimas, mas aqui vai minha pequena homenagem a elas.

Com carinho

domingo, 27 de março de 2016

O DEUS DA RESSURREIÇÃO

Há várias relatos na Bíblia sobre ressurreição. A mais famosa e importante é a ressurreição de Jesus, que comemoramos hoje. Mas também há outros casos, como o de Lázaro (João capítulo 11, versículos 1 a 46) e a do filho da viúva de Naim (Lucas capítulo 7, versículos 11 a 17).

Esses fatos provam que cremos num DEUS DA RESSURREIÇÃO. Onde há morte, Ele age para gerar vida. 

Lázaro estava morto há quatro dias, enterrado numa gruta fechada por grande pedra. Jesus chegou e o chamou de volta à vida. E Lázaro apareceu vivo, ainda enrolado nas faixas que eram usadas naquela época para enterrar pessoas.

Seguir o Deus da Ressurreição significa ter certeza que a história humana vai muito além da aparência e onde parece haver morte, a vida pode voltar a florescer. E é exatamente isso que Ele tem feito muitas e muitas vezes.

Nelson Mandela, o grande líder da África do Sul, ficou preso durante décadas, por ser contra o regime de discriminação racial que havia em seu país. Sofreu muito mas não perdeu a fé (ele era metodista), mesmo quando parecia não haver esperança. 

Certo dia, o regime ditatorial que governava aquele país percebeu que não mais tinha como controlar a população negra e querendo evitar um banho de sangue, buscou Mandela para fazer um acordo. Prometeram a Mandela que ele iria ser libertado e poderia até se tornar Presidente do pais, com a condição que abrisse mão da vingança, da retribuição de todo mal que os brancos tinham causado aos negros. 

Mandela sabia que o regime em vigor estava fraco e podia ter se negado a fazer o acordo e simplesmente aguardado que o governo caísse de “podre”, como aconteceu em outros países da África. E depois cobrar a vingança com “juros e correção monetária”. Mas como cristão, Mandela sabia que esse caminho não iria construir uma sociedade estável, somente perpetuar a vingança e a violência. 

Ele se tornou Presidente e usou seu prestígio para reconciliar os dois lados da nação. Instituiu um Tribunal da Verdade, onde os torturadores precisavam ir e confessar seus crimes, expondo à luz do dia o mal que tinham feito. Mas não sofriam punição física - nenhum dos perseguidores foi para a cadeia ou sofreu violência - somente moral. E cenas de perdão quase impensáveis aconteceram naquele tribunal. Coisas que a gente só acredita porque há registros confiáveis do que aconteceu ali. 

A África do Sul, naquele Tribunal, caminhou para a reconciliação, para cicatrizar suas feridas. Tudo isso porque um cristão decidiu apostar que o amor e o perdão, mortos até então na África do Sul, iriam ressurgir, com a ajuda de Deus. Mandela simplesmente teve fé no Deus da Ressurreição.

Comemoramos hoje a ressurreição de Jesus. O dia em que os discípulos testemunharam que seu corpo não mais estava no túmulo e as promessas da Bíblia sobre o Messias tinham sido cumpridas n´Ele. 

Por isso o dia de hoje fala de ressurreição e não só a de Jesus, mas também todas as outras trazidas por Deus, como aquela liderada por Mandela. E também pode significar o início de uma ressurreição na sua vida.  

Será que há algo em você que morreu? Será que o amor ou a esperança ou mesmo a fé desapareceram, sepultados que foram debaixo da pedra gigantesca dos seus problemas ou das circunstâncias ruins às quais sua vida está presa? Será que você sente "enterrado" numa gruta escura, sem qualquer perspectiva de voltar a uma vida normal? 

Há um ditado popular que ensina uma grande verdade: “onde você colocou um ponto final, Deus vem e muda esse ponto final para uma vírgula...” E essa é uma ótima notícia para você. 

Deixe-se surpreender pelo Deus da Ressurreição. Abra seu coração e deixe Jesus entrar e agir. Basta ter fé e buscá-lo. Uma Feliz Páscoa para você

Com carinho

sexta-feira, 25 de março de 2016

A CRUCIFICAÇÃO DO BRASIL

Comemoramos hoje a crucificação de Jesus, parte de um drama em dois atos - o segundo ato foi a ressurreição, comemorada no domingo de Páscoa. Para mim, esses foram os acontecimentos mais importantes da história da humanidade. Afinal, é por causa do que aconteceu naqueles poucos dias que temos possibilidade de nos reconciliar com Deus, recebendo perdão pelos nossos pecados, lavados que foram pelo sangue de Jesus derramado na cruz. 

Hoje é dia para refletir. Não só sobre a nossa trajetória nesse mundo – nossos erros e acertos -, como também sobre o tamanho do amor de Deus por nós, que vai ao ponto de sacrificar seu próprio Filho para nos abrir as portas para a salvação. 

Hoje relembramos a cruz com o corpo massacrado de Jesus. Lembramos da sua agonia e morte. Do sofrimento da sua mãe, Maria, aos pés da cruz, vendo seu filho, carne da sua carne, martirizado por crimes que não tinha cometido. 

Mas sabemos que depois da noite vem a manhã. No domingo cedo, o túmulo de Jesus estava vazio. Jesus tinha ressuscitado – a morte não teve poder sobre Ele. A partir daí um novo tempo nasceu – a era da Graça de Deus. Portanto, a tristeza deve durar pouco. No domingo, será o momento de celebrar.

Queria agora fazer nova reflexão sobre a situação atual do nosso país, devastado por crises gêmeas – política e econômica – que estão correndo o tecido social do Brasil. O desemprego e a inflação estão altos, a esperança parece ter sumido dos corações e não há consenso sobre a forma de sairmos dessa terrível enrascada. 

Ainda ontem, foi divulgado o fato estarrecedor que importante empreiteira tinha até uma diretoria dedicada a pagar propina – era uma operação gigantesca, envolvendo somas enormes de dinheiro e com sofisticação impressionante. Uma planilha encontrada pela polícia lista quase trezentos nomes de políticos(as) que podem ter recebido dinheiro sujo. Um show de horrores.

Estamos, de certa forma, vivendo nossa “sexta feira da crucificação”. O Brasil está sendo crucificado. Mas há uma diferença: o crucificado (o povo) tem sim parte da responsabilidade pois está pelo fato de não ter levado a política a sério e votado em qualquer candidato(a). Por não ter cobrado dos(as) eleitos(as) comportamento correto. Por ter aceitado passivamente tezes como “rouba mas faz” ou “roubo sim, mas todo mundo faz o mesmo”, que buscam justificar o injustificável.

Nosso povo merece sorte melhor. Merece sair dessa cruz. Merece ter o dia da ressurreição e acordar para um futuro melhor. Vamos pedir a Deus que na sua infinita misericórdia tenha piedade e mude nossa sorte. E sare a nossa terra.

Com carinho

sábado, 19 de março de 2016

O "RONCO DAS RUAS" E A CONVERSÃO DO BRASIL


As manifestações populares de março de 2016 comprovaram uma coisa: o povo brasileiro finalmente despertou duma enorme letargia que durou alguns anos.

A operação Lava Jato já tem vários anos de vida e quase todos os dias vem deixando a nu esquemas de corrupção, comportamentos mentirosos de autoridades e empresários, enfim práticas escusas de todo tipo. Um verdadeiro show de horrores.

Infelizmente, as pessoas protestavam apenas nas redes sociais e nas conversas particulares. Viviam como anestesiadas, parecendo sem ter capacidade de reagir. E isso encorajou os corruptos a tomarem medidas ainda mais audaciosas.

O quadro parece finalmente ter mudado e o “ronco das ruas” começou a ser ouvido. E isso é bom e ruim. Bom, porque os protestos populares são fundamentais para recolocar o país no caminho certo – foi assim, por exemplo, nos idos de 1984, quando o Brasil ainda vivia uma ditadura e nasceu o Movimento Diretas Já.

Também é ruim porque está nítido que as pessoas somente sabem o que não querem – fora fulano, fora beltrano –, mas não sabem o que querem. Assim, convivem debaixo do mesmo guarda-chuva dos protestos gente de todos os tipos, desde aqueles que pedem o absurdo da volta dos militares até aqueles que defendem o parlamentarismo. Uma verdadeira salada.

Ainda não há consenso sobre aquilo que as pessoas querem e muito menos o que deve ser feito para sairmos do buraco onde nos metemos. E sem medidas objetivas, a crise não será superada.

E há muito perigo se nada mudar - com o tempo as pessoas vão perder a esperança e as manifestações pacíficas poderão se tornar violentas. O flerte com soluções não democráticas poderá aumentar. O risco ficará maior para todos. É isso que a história ensina.

Não tenho qualquer pretensão de propor aqui soluções políticas e/ou econômicas para nosso país. Eu não tenho competência para isso e esse não é o espaço para falar disso – falo aqui sempre de Jesus e da diferença que Ele pode fazer na vida das pessoas.

Mas a análise que acabei de fazer é importante porque ela vai permitir construir uma correlação entre duas situações que me parecem bem similares: a crise atual e o processo de conversão das pessoas a Jesus. Há um paralelo perfeito entre o que o Brasil está vivendo e o que as pessoas costumam viver antes de se converterem.

A experiência mostra que as pessoas muitas vezes só realmente se aproximam de Deus no meio do sofrimento pessoal. São muito poucas as pessoas que se convertem quando tudo está bem com elas, por serem convencidas das verdades que testemunharam sobre Jesus. Muito poucas mesmo.

A maioria das pessoas se converte e muda suas vidas ao passar por momentos de sofrimento. Ao ficarem buscando por um alívio para sua angustia, respostas que expliquem as perdas que sofreram e por uma fonte de esperanças que lhes garanta haver saídas para sua crise existencial.

E ao se sentirem assim, acabam descobrindo Jesus, por exemplo ao bater na porta de uma igreja e/ou ler um texto inspirado na Internet. Passam a encontrar n´Ele as respostas que buscavam - chegam a Jesus através da dor que sentiam. Aí são consoladas, adquirem nova esperança e mudam a história das suas vidas. Já perdi a conta do número de vezes em que vi isso acontecer. 

O sofrimento serve como um catalisador para as mudanças - sem ele, as pessoas teriam continuado a viver sem mudar. Não estou afirmando aqui que Deus manda sofrimento para forçar as pessoas a mudar. Não penso ser assim que as coisas acontecem. Na verdade, Deus aproveita o sofrimento das pessoas, causado, tanto pelas más escolhas que fizeram, como pelas circunstâncias das suas vidas, para se aproximar delas. 

O paralelo com a situação atual do Brasil. A crise política se somou à crise econômica, uma reforçando a outra. E os mais pobres, que têm menos proteção, estão pagando a maior parte da conta trazida pela recessão profunda. Como sempre.

Por outro lado, essa mesma crise profunda está gerando as condições para uma grande depuração no meio político e empresarial, fato inédito. Empresários poderosos estão na cadeia. Negociatas escusas e acordos políticos espúrios vem sendo expostos à luz do dia e desbaratados.

Talvez não seja possível ver agora, mas acredito que o país vai sair disso melhor do que entrou. Vivíamos uma grande fantasia, alimentada pelo crédito fácil e o consumo irresponsável. E o falso clima de prosperidade anestesiou o povo e deu condições para o submundo da política e dos negócios prosperar. Isso acabou agora.

Acredito que, ao final desse processo de depuração, as pessoas entenderão melhor que sem uma vida ética não há como prosperar. Acredito que haverá uma conversão no sentido de uma mudança para hábitos mais saudáveis. Elas já não votarão com tanta facilidade em políticos corruptos, do tipo “rouba mais faz”. Muito menos aceitarão argumentos do tipo “roubei, mas todos roubam igual...”

O sofrimento pelo qual o país passa hoje é a condição para momentos melhores mais adiante. Para uma conversão em prol de hábitos melhores. Do entendimento de que devem haver consequências para quem pratica o mal - quem prejudica o povo em prol dos seus interesses pessoais deve ser severamente punido.

Há sinais concretos dessas novas ideias ganhando força. Isso pode ser visto no fim da impunidade de ricos e poderosos – hoje já há gente muito importante na cadeia. A “conversão” do Brasil está vindo pela dor. Simples assim.

A nós, cristãos(ãs), cabe fazer duas coisas. Primeiro, dar o bom exemplo. Sempre. Depois, nos cabe orar por aqueles(as) que têm poder para endireitar as coisas, nas suas respectivas esferas de atuação – Executivo, Legislativo, Judiciário e iniciativa privada. Pedir para que Deus ilumine essas pessoas e lhes dê sabedoria.

Queira Deus que essa nova era para o nosso país, mais justa e saudável, chegue logo. E que os anjos digam amém.

Com carinho

terça-feira, 15 de março de 2016

DEUS, POR FAVOR SARA A NOSSA TERRA


E se o meu povo, que se chama pelo meu nome, se humilhar, e orar, e buscar a minha face e se converter dos seus maus caminhos, então eu ouvirei dos céus, e perdoarei os seus pecados, e sararei a sua terra.  2 Crônicas capítulo 7, versículo 14
O Brasil viveu ontem as maiores manifestações populares da sua história - superaram em muito o que aconteceu no “Movimento pelas Diretas Já”, ocorrido em 1984. Foi emocionante ver milhões de pessoas na rua, passando uma mensagem política de forma ordeira, sem qualquer violência. Defendendo causas que visam dar um futuro melhor para a população brasileira, pois estão cansadas de tanta roubalheira, hipocrisia e tantos outros pecados cometidos pela classe política, empresários de alto escalão e dirigentes de empresas públicas. Isso em meio à mais terrível crise econômica da história brasileira recente – o desemprego crescendo a olhos vistos e a crise econômica batendo à porta de muita gente.

Como chegamos nessa situação? O que fizemos de errado? Essas perguntas são importantes porque se não fizermos essa reflexão e chegarmos às conclusões certas, certamente iremos repetir no futuro os mesmos erros do passado.

Há muitas explicações para nossos problemas, como a falta de educação da população, a desigualdade social, a fragilidade do nosso sistema político e assim por diante. Certamente essas causas explicam muito do que está acontecendo, mas penso que não explicam tudo. Há algo muito mais importante que está por trás disso tudo.

O problema está no fato que a sociedade brasileira é tolerante com o pecado. As pessoas não levam as coisas a sério como deveriam e vivem com base em valores que podem ser distorcidos – por exemplo, nas escolas, os(as) alunos(as) que estudam são ridicularizados pelos(as) demais.

É essa “flexibilidade” moral que gerou a “cultura do jeitinho”: é aceitável fazer quase tudo, inclusive violar as leis, para resolver um problema que incomoda ou conseguir uma vantagem desejada. Está presente também na famosa “lei de Gerson”: “gosto de levar vantagem em tudo...”

De forma geral, as pessoas acreditam que um pouco de pecado não faz mal. Assim, se tornam tolerantes com mentira, hipocrisia, corrupção, nepotismo, etc. Por exemplo, lembro de um caso acontecido muitos anos atrás: um brasileiro morava nos Estados Unidos e foi convidado para uma festa, sendo que o convite chegou pelo correio (como é comum por lá). Ele não quis ou não pode ir à festa e quando o dono da festa lhe perguntou a razão, o brasileiro mentiu, dando a desculpa que o convite não tinha sido entregue a tempo pelo correio. O dono da festa, furioso, foi até o Correio e ameaçou processar a organização. E o Correio, por sua vez, veio em cima do mentiroso, pois tinha provas de que entregara o convite a tempo. E o brasileiro, muito envergonhado, teve que admitir sua mentira.

A cultura norte-americana, por exemplo, valoriza muito o falar a verdade e por causa disso as pessoas acreditam umas nas outras. É claro que muitos americanos(as) mentem, mas quando a mentira aparece, o(a) mentirosos(as) fica desmoralizado(a) – muitos políticos brasileiros já teriam perdido seus mandatos se morassem naquele país.

Aceitamos bem um pouco de mentira, um pouco de corrupção (por exemplo, dar dinheiro ao guarda para se livrar uma multa) ou um pouco de nepotismo (arrumar um emprego para um parente que não merece). Pecado é aceitável, se for “pequeno” e, principalmente, beneficiar a pessoa.

Ora, a corrupção que está sendo descoberta agora pela Operação Lava Jato não nasceu ontem e muito menos inventada pelo atual governo. É claro que a corrupção atingiu nos últimos anos uma dimensão insuportável, mesmo de uma sociedade leniente como a nossa. E aí apareceu a reação.

As coisas começaram a mudar porque um pequeno grupo de procuradores e um juiz de primeira instância da Justiça Federal do Paraná concluíram que as coisas não podiam continuar assim. Cumpriram com seu dever e não se intimidaram com cara feia - só isso. E o Brasil está sendo mudado para sempre - umas poucas pessoas estão fazendo a diferença.

O que elas vêm fazendo é algo muito importante: estão colocando a nu os pecados cometidos por um monte de gente que se dizia respeitável, mas são criminosos. Estão obrigando essas pessoas a reconhecer o mal que fizeram. E esse é um primeiro passo muito importante.

Mas é preciso mais do que isso, como o versículo bíblico que abre este texto demonstra. É preciso que a sociedade brasileira reconheça sua parcela de responsabilidade nesse estado de coisas – pela sua omissão de seus atos – e peça perdão a Deus. E depois mude seus caminhos, deixando de tolerar o pecado. Sem isso, não há como pedir ajuda a Deus para mudar nossa sorte, “sarar” nossa terra. Simples assim.

Os(as) brasileiros(as) precisam aprender a viver de fato o cristianismo - não basta se dizer cristãos(ãs) enquanto se vive na prática como se Deus não existisse. O Brasil precisa de um “choque” de ética, de novos princípios de comportamento e de vida que privilegiem a verdade, a justiça, o mérito, etc.

E a nós, evangélicos(as), cabe liderar pelo exemplo. Servir de luz para clarear os caminhos das pessoas. Funcionar como sal para mudar o “sabor” das coisas. Foi isso que Jesus nos pediu para fazer. É essa a nossa responsabilidade.

Com carinho

sexta-feira, 11 de março de 2016

CONVERSANDO SOBRE PERDÃO

A revista Veja (28/07/2010) publicou grande e importante reportagem sobre o tema "perdão". O texto tentou definir o ato de perdoar dentro de uma visão secular: um processo composto de duas partes, sendo a primeira delas o arrependimento sincero de quem causou mal e a segunda a disposição, por parte de quem foi ofendido, de superar seus ressentimentos naturais. 

Essa visão torna o perdão um processo muito difícil. por conta de dois problemas. O primeiro é o fato da iniciativa ficar com quem originou o problema (a pessoa que ofendeu ou causou mal). O processo começa nela. 

O segundo problema nasce da dificuldade de conseguir avaliar se o arrependimento de quem cometeu a ofensa é verdadeiro. Como não é simples ter essa certeza, o perdão pode ficar "preso" dentro da pessoa ofendida.

O que a doutrina cristã tem a dizer a esse respeito? Será que perdoar pode ser um processo tão difícil assim?

O que é perdoar
Jesus nos mandou perdoar (Mateus capítulo 18, versículos 21 a 35) e Ele não pode ter nos pedido para fazer algo quase impossível. Não mesmo.

Ocorre que na visão bíblica o perdão é um processo diferente, que depende apenas da pessoa ofendida e/ou prejudicada. E basta lembrar o que Jesus fez para comprovar essa afirmação: quando estava morrendo na cruz, Ele pediu a Deus que perdoasse seus algozes (Lucas capítulo 23, versículo 34). 


Ora, nenhum dos soldados que torturaram Jesus mostraram qualquer arrependimento, tanto assim que zombaram d´Ele, deram-lhe vinagre no lugar de água para beber, etc. E ainda assim, Jesus pediu ao Pai para perdoá-los. 


E se Jesus pediu a Deus que fizesse isso é porque já tinha perdoado aquelas pessoas. Em outras palavras, Jesus perdoou mesmo sem haver arrependimento dos seus ofensores.


Para a Bíblia, o perdão ocorre quando a pessoa sabe que foi prejudicada e/ou ofendida, de forma injusta, e mesmo assim deixa de lado a “vantagem” moral que tinha e abre mão de receber a justa retribuição à qual teria direito. 

Trata-se de jogar o “lixo” do ressentimento fora, em lugar de ficar guardando-o no coração, evitando assim que contamine tudo (mente, relacionamentos, etc). 


É uma escolha unilateral de quem foi ofendido(a) ou prejudicado(a). Não depende do que pensa ou faz o(a) ofensor(a). E, sendo assim, desaparecem os problemas relacionados com a definição secular de perdão. Não importa se o(a) ofensor(a) se arrependeu de fato, o perdão vai existir, o "lixo" vai ser jogado fora. 


Evidentemente, se houver arrependimento sincero, tudo será melhor, mas o perdão não pode ficar "preso" a essa variável. Simples assim. 



Por que perdoar?
Há várias razões para perdoar. Primeiro, por que a retribuição do mal feito cabe a Deus e só a Ele (Deuteronômio capítulo 32 versículo 35).

Depois, porque todos pecam e são dependentes da Misericórdia e da Graça para serem perdoados e aceitos por Deus. E a medida de misericórdia que será usada com cada pessoa será a mesma que ela usar com quem a tiver ofendido – é isso que está dito na conhecida oração do "Pai Nosso" (Mateus capítulo 6, versículos 9 a 15): “Pai ... perdoa nossas dívidas assim como nós perdoamos aos nossos devedores”. Quem quiser perdão, terá que aprender a perdoar. 

A última razão para perdoar é que somente assim é possível acabar com o ciclo de ódio e ressentimento - por isso a palavra usada para transmitir o conceito de perdão no Novo Testamento significa também “liberação” ou “libertação”. 


O que o perdão não é
As pessoas dizem duas coisas erradas sobre o perdão. A primeira é que perdoar significa esquecer. Grande erro. 

Perdoar não é esquecer no sentido pleno do termo. Quem perdoa, deixa de lado a vontade de ter retribuição e/ou compensação pelo mal que sofreu, mas é claro que essa experiência ruim sempre fará parte da sua bagagem emocional. Em outras palavras, a pessoa prejudicada sempre levará em conta o que sofreu antes, na hora de reagir. 


Assim, por exemplo, uma mulher antes agredida pelo marido pode até perdoá-lo mas poderá ficar sempre insegura na sua presença e não querer ficar sozinha com ele. E isso é natural e não quer dizer ter faltado o perdão.


Seria até uma falta de sensibilidade, por parte de Jesus, cobrar das pessoas esquecer suas experiências de vida, isto é esquecer aquilo que não pode ser esquecido. 


Agora, perdão também não é reconciliação (retomar o relacionamento nas bases anteriores à ofensa). Perdão é mandamento mas reconciliação não - essa última depende de muitas outras coisas. Por exemplo, um marido que agrediu a esposa diversas vezes pode ser perdoado mas provavelmente será impossível para essa mulher retomar o relacionamento nas bases originais - simplesmente não haverá confiança suficiente para fazer isso. 


Enfrentando as “razões” para não perdoar
O senso comum coloca na nossa frente várias “razões” para não perdoar, em contraste ao ensinamento de Jesus. Vejamos duas das mais comuns e as respostas que o cristianismo dá para elas:
  • Não há justiça no perdão. Na verdade, quem perdoa desiste de ser o juiz e deixa o julgamento para Deus - Ele fará justiça e dará a justa retribuição para quem fez o mal. Não haverá impunidade pois Deus é o mais justo de todos os juízes e também é Todo-Poderoso.
  • Há o risco da repetição da ofensa. Perdoar não é a pessoa ofendida ficar indefesa diante de quem lhe causou mal e muito menos ser omissa. Mesmo tendo perdoado, essa pessoa pode e deve tomar medidas para se proteger.

Quantas vezes é preciso perdoar?
O perdão deve tornar-se um hábito. Veja o que Jesus respondeu a Pedro (Mateus capítulo 18, versículos 21 e 22): “Pedro lhe perguntou:…até quantas vezes devo perdoar meu irmão?… Respondeu-lhe Jesus:…até setenta vezes sete.” 

Perdoar é jogar o “lixo” fora e não é possível ou saudável fazer isso só uma vez. É preciso continuar fazendo isso pois o "lixo" é gerado todos os dias.

O primeiro passo é o mais importante
O caminho para perdoar não é aprender a cultivar o sentimento “certo”. Até porque perdão não é um sentimento e sim uma DECISÃO. É algo comandado pela razão e não pelo coração. 

Se a pessoa quiser esperar até conseguir ter o sentimento “certo” no coração, talvez nunca venha a perdoar. O primeiro passo do processo de perdão, portanto, é simples: querer perdoar. É aceitar o mandamento dado por Jesus e entender que se trata de importante requisito para a própria saúde mental e espiritual. 

Vou terminar com uma reflexão do teólogo Gregory Jones, ex-reitor do Seminário da Duke University, que penso resumir bem tudo que acabei de dizer: 
"Perdão não é uma palavra falada, um ato executado, um sentimento que se tem, mas sim uma forma de vida que envolve uma amizade cada vez mais profunda com Deus e com o próximo... De fato, por causa da presença constante do pecado e do mal, o perdão cristão deve ser... um comprometimento com essa forma de vida,… através da qual procura-se “desaprender” a pecar e aprender os caminhos de Deus...” 
Com carinho

segunda-feira, 7 de março de 2016

A DESTRUIÇÃO DO PADRÃO FAMILIAR TRADICIONAL

Os anúncios de televisão costumam mostrar famílias que seguem determinado padrão familiar tradicional - pai, mãe e filhos(as). Algumas vezes também são incluídos avôs e/ou avós. Parece-me que esse é o modelo familiar que Deus concebeu e deseja para os seres humanos. E deve a manutenção desse modelo deve ser perseguido até o limite do possível, pois é o melhor.

Agora, "limite do possível" significa aquela situação onde manter a família como está causaria mais mal do que bem: por exemplo, maridos que agridem continuamente as mulheres (inclusive na frente dos filhos) ou são sempre infiéis; ou filhos(a) que se tornam dependentes de drogas e exploram os pais para manter seu vício. Insistir na preservação dos laços familiares tradicionais nesses casos é contraproducente e pode gerar problemas sérios (veja mais).

Também não se pode negar que a maioria das rupturas familiares tem outras causas e muitas delas poderiam ser superadas através de um esforço sério, como terapia, exercício da tolerância, perdão e assim por diante. Mas esse processo é longo e doloroso e as pessoas não costumam ter paciência e comprometimento para passar por ele - é mais fácil romper os laços familiares, fugir dos problemas.

Por causa disso, infelizmente, a realidade que está diante de nós é a do enfraquecimento dos laços familiares tradicionais, mesmo entre os(as) cristãos(ãs) - as últimas estatísticas do IBGE indicam que cerca de metade das famílias brasileiras não mais está dentro do padrão familiar tradicional.

Assim, existem hoje todos os tipos imagináveis de arranjos familiares como, adultos(as) vivendo o segundo ou terceiro casamento, filhos(as) dos diferentes casamentos dos seus pais vivendo em conjunto - ou seja, crianças e adolescentes que vivem como irmãos(ãs) sem o ser. São comuns também núcleos familiares onde pais ou mães vivem sozinhos com um ou mais filhos(as). E também situações em que filhos(as) que passam parte do tempo vivendo num núcleo familiar (do pai) e o resto do tempo em outro (da mãe), às vezes até em cidades diferentes. Conforme já disse, essa é uma realidade da qual não há mais como fugir.

A forma como muitas igrejas abordam esse problema é, a meu ver, errada. Ficam insistindo no retorno a qualquer custo ao padrão familiar tradicional pois, segundo elas, é o único que a Bíblia aprova. Aí, mulheres são forçadas a perdoar maridos que nunca mudam de fato e continuam a agredi-las ou a trai-las, filhos(as) viciados seguem explorando os pais. Ou seja, as mazelas familiares são perpetuadas em nome do cristianismo.

O que cabe então aos cristãos fazer diante desse quadro de dissolução da família? Acho que três coisas. Em primeiro lugar, nunca rejeitar famílias que mais não seguem o padrão tradicional ideal - infelizmente ocorre, por exemplo, com a Igreja Católica que ainda nega a comunhão aos divorciados.

Jesus nunca fez isso. Ao contrário, ensinou que os "doentes" (pecadores) é que precisam do "médico" (igreja). Portanto, é preciso aceitar as famílias como são e aprender a trabalhar a partir dessa.

Isso não significa aprovar ou compactuar com os erros e os abusos que levam à dissolução dos laços familiares, muitas vezes por motivos até bobos. Mas apenas conviver de forma amorosa com quem vive problemas e dificuldades para trilhar um caminho bom.

Discriminar as famílias que vivem realidade diferente da tradicional só afastas as pessoas das igrejas e de Deus e aí fica muito mais difícil conseguir ajudá-las, inclusive para que corrijam seus erros.

Segundo, além de não discriminar essas famílias alternativas, é preciso tornar o ambiente das igrejas amigáveis para todos os tipos de família. Vou me explicar melhor. Suponhamos que determinada igreja promova um Encontro Anual de Famílias. Será que quando essa atividade é planejada, usa-se como referencia apenas o modelo de família tradicional ou as atividades vão levar em conta todas as outras situações familiares? Se todas as atividades tiverem como pressuposto apenas a família padrão, as pessoas que vivem outras realidades vão se sentir deslocadas. E o pior é que nem irão reclamar pois frequentemente pensam que, como estão erradas, não merecem mesmo tratamento melhor. Eu já  senti esse tipo de problema na própria pele.

Finalmente, reconhecer que pessoas que vivem outras realidades familiares também são usadas por Deus e suas experiências de vida têm muito a ensinar. É claro que testemunhos de casais reconciliados e/ou filhos(as) que retornaram para casa depois muito esforço e oração, são importantes, pois servem para incentivar as pessoas a lutar e vencer seus problemas. E lhes dá esperanças. 

Mas, nada ensina mais e melhor do que ouvir as pessoas que não obtiveram sucesso na manutenção da estrutura familiar tradicional. Afinal, é assim que a Bíblia faz. Você acha que a família de Abraão, era exemplar? Vejamos o que aconteceu com dela: Abraão vendeu Sara para o Faraó; Jacó mentiu e roubou a benção de seu irmão, Esaú; os irmãos venderam José como escravo, por ciúmes, e assim por diante. O mesmo pode ser dito sobre a família de Davi, onde aconteceram coisas terríveis, como o estrupo de uma moça pelo seu meio-irmão.

E nunca podemos esquecer que grandes homens e mulheres da fé, pessoas amplamente usadas por Deus, fracassaram em importantes aspectos das suas vidas familiares. Por exemplo, Davi, o "homem segundo o coração de Deus", cometeu adultério e homicídio (2 Samuel capítulo 11). Abraão não conseguiu manter suas duas mulheres - Sara (esposa) e Agar (concubina) - debaixo do mesmo teto e teve que exilar a concubina e seu filho, Ismael (Gênesis capítulo 21).

Com carinho

quinta-feira, 3 de março de 2016

O LIVRO DE JÓ FALA MESMO É DA GRAÇA

Comecei recentemente um estudo bíblico sobre o livro de Jó: trata-se de um dos textos mais interessantes da Bíblia e também um dos menos conhecidos.

Jó é normalmente visto como uma parábola que discute o sofrimento humano e ensina as pessoas a enfrentarem suas dificuldades. Por isso é sempre recomendado dentro das igrejas: "faça como Jó, fique firme e tenha paciência, que a crise passa". 

Mas Jó não é uma parábola sobre o sofrimento humano e sim um ensinamento muito importante sobre a Graça de Deus e a forma como o mundo espiritual funciona. E sendo assim, é um texto crucial para nosso crescimento - se você quiser estudar sobre o sofrimento humano, há outros textos apropriados para isso na Bíblia, como "Lamentações de Jeremias" ou mesmo diversos salmos.

A parábola fala de um homem muito rico e temente a Deus, Jó,  que é assolado por Satanás e perde tudo: família, bens e até a saúde. E a ação de Satanás foi permitida por Deus como um teste para provar a fidelidade de Jó.

Jó tem alguns amigos sinceros que o visitam e procuram consolá-lo, mas agem de forma desastrada, demonstrando que a boa intenção nunca é garantia de bom resultado. Eles têm certeza que Jó pecou e sofre punição justa de Deus. Assim, insistem com Jó para que ele se arrependa e peça perdão. 

Mas Jó estava consciente de que não tinha pecado e se recusou a fazer o que os amigos lhe pediam. E aguentou firme, embora perplexo, pois não entendia as razões para sua tragédia pessoal.

Ao fim do relato, Deus re-estabeleceu a sorte de Jó, dando-lhe de volta tudo que tinha perdido. E os amigos dele foram repreendidos por terem agido mal, quase levando Jó a se perder.

O livro de Jó traz muitos ensinamentos como, por exemplo, que pessoas bem intencionadas podem fazer o trabalho de Satanás mesmo sem perceberem. Mas vou me concentrar na questão da Graça de Deus. 

A lei da causa e efeito
Estamos acostumados a procurar pela causa por trás de cada efeito que observamos no nosso dia-a-dia. Se a calçada está molhada, deve ter chovido. Se uma bola atingiu minha cabeça, imediatamente procuro pela criança que a lançou. Se as coisas vão mal no país, procuramos pelas causas na política do Governo e/ou na ação do mercado financeiro. Se engordo, é porque comi demais e aí eu "fecho a boca". E assim por diante.

Desde cedo, nos acostumamos a viver de acordo com a lei da causa e efeito. Ela faz parte das nossas vidas. E funciona muito bem. Agora, o mesmo não acontece quando tentamos extrapolar essa mesma lei para o mundo espiritual - as coisas simplesmente deixam de funcionar. 

A lei da causa e efeito no mundo espiritual
O uso extremo da lei da causa e efeito no mundo espiritual é a chamada "lei do karma": cada pessoa paga na vida presente pelos pecados que cometeu no passado, inclusive em outras vidas. Diversas religiões, como hinduísmo e espiritismo, são baseadas no karma, que tem muito apelo porque parece explicar bem as causas do sofrimento humano. 

Infelizmente, esse pensamento gera conformismo: o sofrimento humano é inescapável e até necessário, pois é preciso purgar os pecados do passado. Durante séculos, em países com a Índia, os menos favorecidos foram deixados à própria sorte por causa desse tipo de doutrina. 

Mas o fato é que a lei da causa e efeito não funciona no mundo espiritual da mesma forma que no mundo físico. E a Bíblia está cheia de exemplos que comprovam isso. E um deles aconteceu com o próprio Jesus (João capítulo 9, versículos 1 a 3): havia um cego de nascença e os discípulos perguntaram a Jesus quem tinha pecado  - o deficiente físico ou os pais dele - para ter dado causa a tanto sofrimento. Jesus respondeu simplesmente que não havia pecado (causa) algum e tudo acontecera para Glória de Deus.

Continuamos a agir hoje em dia como os discípulos de Jesus fizeram dois mil anos atrás: quando há problemas espirituais, tentamos buscar as causas nos erros do passado. Sem perceber, aplicamos a mesma lógica que leva à lei do karma. Por exemplo, doenças são atribuídas a pecados de natureza sexual, à idolatria e/ou à falta de fé. Uma pessoa perde o emprego e tal problema é imediatamente atribuído ao fato dela não ser dizimista fiel. E assim vamos vivendo. 

Nem sempre há uma causa da responsabilidade da própria pessoa para justificar o problema que está vivendo. Jó é a prova disso: não cometeu qualquer pecado e ainda assim sofreu muito. Agora, a maior e melhor prova de que a lei da causa e efeito não funciona no mundo espiritual é a Graça de Deus. 

Através dela, recebemos algo - perdão dos nossos pecados, reconciliação com Deus e salvação - que não fizemos por merecer (não demos causa). E se Deus nos tratasse de acordo com nossas ações prévias, não teríamos qualquer esperança. Se a lei da causa e efeito funcionasse no mundo espiritual, estaríamos condenados. Simples assim.

Concluindo, a estória de Jó ensina muito sobre a Graça de Deus e sobre como o mundo espiritual de fato funciona. E merece ser estudada com muita atenção.

Com carinho