sábado, 23 de fevereiro de 2013

O INTERESSE COLETIVO VERSUS O INTERESSE PESSOAL

O tema de hoje é a disputa entre o interesse individual e o interesse coletivo. No ano de 2013, o Brasil recebeu a visita de uma famosa blogueira cubana - Yoani Sanches. Seu blog se tornou uma referencia na luta contra a ditadura que existe naquele país há quase 60 anos.

Cuba é um experimento social baseado no marxismo. Essa é uma visão de mundo baseada no materialismo, na pretensa igualdade social (embora haja uma elite privilegiada) e no direito do estado de usar a força para impor essa igualdade (sobrepondo-se às liberdades individuais).

Para alguns, Cuba é uma história de sucesso na luta pela melhoria das condições de vida das classes menos favorecidas. O país conseguiu inegáveis avanços em saúde e educação. Entretanto, para outros, a sociedade cubana é um inferno na terra, por conta da também inegável falta de liberdade individual. E, por causa dessa diferença de pontos de vista, a visita da blogueira despertou paixões fortes. 

No fundo dessa discussão, há uma questão fundamental: até que ponto o interesse coletivo deve vir acima do interesse pessoal? Ora, nenhuma sociedade organizada pode existir sem que as pessoas abram mão de parte da sua liberdade individual. Elas permitem que o governo organizado tenha poderes para cobrar impostos, criar leis, fazê-las cumprir, etc.

Nos regimes ditos marxistas (comunistas), o coletivo é sempre muito mais importante do que as pessoas. Governos ditos marxistas têm então condições para impor políticas como a que limita o número de filhos (na China), ou torna obrigatório o trabalho nas fazendas coletivas (em Cuba).

Nas sociedades ditas capitalistas, os direitos individuais são mais importantes do que os da coletividade. Mas essas sociedades acabam se tornando desiguais e muitas pessoas levam vidas sub-humanas. E aí é preciso que o governo intervenha, taxando a riqueza e redistribuindo renda, visando minorar a injustiça social.

Essa controvérsia entre o direito coletivo e o direito individual também se faz presente no mundo cristão. A vertente da teologia da libertação, muito forte na igreja católica 50 anos atrás, defendeu a "opção preferencial pelos pobres". Segundo os defensores dessa linha de pensamento, era essa a mensagem verdadeira do Evangelho. Portanto, era obrigação da verdadeira igreja cristã fazer tudo pelos pobres.
E daí, tornou-se inevitável a aproximação entre a teologia da libertação e o marxismo, pois os dois pareciam defender a mesma causa. E isso gerou todo tipo de consequência estranha, como padres apoiando guerrilhas ou regimes ditatoriais implantados com apoio da igreja católica (como na Nicarágua sandinista).

É claro que Jesus se preocupou preferencialmente com os pobres, mas não limitou sua preocupação a eles. Por exemplo, Ele dedicou muita atenção também às mulheres oprimidas pela sociedade. Lutou também por incluir no reino de Deus aqueles afastados do convívio social por serem considerados pecadores, como os coletores de impostos e as prostitutas. E também não se esqueceu das vítimas da opressão causada pelos dominadores romanos.

A preocupação real de Jesus era com o ser humano fragilizado, seja por que motivo fosse: pobreza, discriminação social, doenças, opressão, etc. Portanto, reduzir a percepção de Jesus a uma preocupação exclusiva com os pobres é uma simplificação que não pode ser aceita. Para Jesus, todas as questões que contribuem para tirar a dignidade do ser humano precisam ser atacadas.

O cristão nunca pode apoiar regimes políticos que, sob o pretexto de diminuir a desigualdade social, atentam contra a dignidade humana. Esse é o caso de Cuba e outros países marxistas.

Pessoas como a Yoani Sanches, mulher corajosa, lutadora incansável pelas liberdades civis no seu país, precisam ser louvadas. E que ela ainda possa ver seu povo gozando da liberdade que tem direito.

Com carinho

quinta-feira, 14 de fevereiro de 2013

O PAPA QUE RENUNCIOU

A notícia da semana, sem dúvida, é a renuncia do Papa Bento 16, que vai deixar o cargo no dia 28 próximo. Ele anunciou que está saindo por que não se sente mais em condições físicas de liderar a igreja Católica devido à idade e aos problemas de saúde que acumula. 

Essa é primeira renuncia de um papa em quase 600 anos, demonstrando como é difícil para os seres humanos se desprenderem das posições de poder que venham a ocupar. O normal tem sido o lento declínio do homem que ocupa a posição de papa, acompanhado por toda a opinião pública, como aconteceu com João Paulo II, quem, nos últimos dois anos de vida, foi uma frágil figura sentada no trono de S. Pedro, sem ter mais qualquer voz ativa nos acontecimentos.

Bento 16 percebeu que precisava sair, para dar espaço para que viesse um sucessor em melhores condições para realizar a tarefa a cargo do papa. Abriu mão de um posição de enormes privilégios e vai passar a viver enclausurado, sem poder se manifestar publicamente, para não atrapalhar o novo papa.

Ter essa capacidade de entender que o próprio momento passou e que vai passar a caber a outro a posição de destaque, não é fácil - é preciso grande humildade, desprendimento e amor à causa que se defende. 

Há na Bíblia um caso semelhante, que foi João Batista. Ele veio ao mundo para preparar o caminho para o ministério de Jesus e, em dado momento, declarou: "É necessário que ele [Jesus] cresça e que eu [João] diminua" (Evangelho de João capítulo 3, versículo 30.

O lado escuro da renúncia
Mas há um outro lado na história dessa renúncia, que me leva a ter ainda mais admiração por Bento 16. As informações que trouxeram um pouco de luz para o que vinha ocorrendo  começaram a ser divulgadas na imprensa, a partir do anuncio da renuncia e foram, de certa forma, validadas pelo pronunciamento do próprio Bento 16 feito ontem.

Um grupo político tomou de assalto a administração da igreja católica e vinha mantendo o papa praticamente isolado dentro dos muros do Vaticano. Bento 16 dava ordens e não era obedecido. E assim foi no caso da punição de abusos sexuais e no escândalo financeiro ocorrido no Banco do Vaticano.

Cansado dessa situação e impotente para introduzir as mudanças necessárias, Bento 16 fez a única coisa que lhe restava: sacrificou-se. O homem que exrecia a função "matou" o papa Bento 16, ao renunciar, e assim expôs ao mundo o que estava acontecendo, na esperança que o novo papa possa fazer aquilo que ele não conseguiu. Um golpe de mestre.

Espero que a igreja católica consiga finalmente encontrar um bom caminho, livre desse tipo de policagem e desvio de conduta, para poder atender melhor a cerca de 1 bilhão de pessoas que olham para o Vaticano em busca de orientação e de uma palavra profética.

Com carinho