quarta-feira, 29 de abril de 2020

O ESTRANHO CASO DE ANANIAS E SAFIRA

O caso de Ananias e Safira é uma daquelas situações relatadas na Bíblia que são difíceis de entender e até mesmo aceitar (dentro dos padrões atuais de julgamento). 

A história desse casal é simples e está relatada em Atos dos Apóstolos capítulo 5, versículos 1 a 11: Eles venderam uma propriedade que tinham e doaram boa parte do valor recebido para o caixa comum que os membros da primeira igreja cristã mantinham - esse dinheiro ficava sob a guarda dos apóstolos. O restante do valor obtido na venda o casal guardou, para ter alguma segurança. 

O problema apareceu quando os dois afirmaram para os apóstolos que tinham entregue para eles todo o produto da venda da sua propriedade. Ananias e Safira quiseram o melhor dos dois mundos: posar de bons cristãos e ter a segurança de um dinheiro guardado.

O casal mentiu para seus líderes espirituais e foi hipócrita, achando que podia enganar o Espírito Santo. E foram castigados com a morte. Será que essa dureza com Ananias e Safira foi justificada?

Acredito que sim, mas para que você possa entender todo o alcance daquela situação espiritual, preciso primeiro falar da vida na primeira comunidade cristã, fundada pelos apóstolos, em Jerusalém.

Os membros daquela comunidade decidiram ter todos os bens em comum, para que cada pessoa recebesse aquilo que precisava para viver com dignidade (Atos capítulo 2, versículos 44 a 47; capítulo 4, versículos 32 a 37). Essa medida foi tomada porque boa parte daquelas pessoas tinha vindo de outras regiões do império romano e teria dificuldade para se manter em Jerusalém, local onde não tinham raízes. Além disso, os primeiros cristãos enfrentaram discriminação social por causa da sua fé, o que tornou vários deles incapazes de prover o próprio sustento.

A prática de ter tudo em comum somente funcionou naquela comunidade e ela não pode ser tomada como mandamento de Deus - foi uma escolha livre de daquelas pessoa. E tanto foi assim, que a Bíblia, em outra passagem (Atos capítulo 11, versículos 27 a 30), fala de uma doação feita pela igreja cristã em Antioquia em favor dos irmãos mais pobres de Jerusalém. Nesse outro momento não houve compartilhamento de bens e sim uma oferta de ajuda financeira, como é comum acontecer hoje em dia. 

A ideia de ter bens em comum somente teve sentido na primeira comunidade cristã, em Jerusalém, grupo com forte sentido de coesão e comunhão, com uma liderança (os apóstolos) especialmente preparada por Jesus (veja Atos capítulo 5, versículos 3 e 4 para maiores detalhes). 

Se Ananias e Safira tivessem sido sinceros e assumido, perante os apóstolos, terem guardado parte do dinheiro, nada lhes teria acontecido. Certamente teriam sido olhados com desagrado e desconfiança por membros da igreja de Jerusalém, mas não teria passado disso.

Mas o casal pensou que podia enganar o Espírito Santo e isso foi um pecado muito sério. Afinal, tudo que aconteceu naquela primeira comunidade foi fundamental para o desenvolvimento do cristianismo. E Deus não poderia permitir que a mentira e a hipocrisia prosperasse naquele meio. Por isso a punição foi tão severa.

Ensinamentos para os dias de hoje
Quais ensinamentos podemos tirar para os dias de hoje? Há muitos, mas vou me concentrar em três deles.

Primeiro, é preciso dar com alegria. Se você tiver alguma dúvida no seu coração quando for fazer uma oferta para a obra de Deus, é preferível não dar nada. Só dê com o coração leve, com alegria de ter o privilégio de estar contribuindo para o Reino de Deus.

Segundo, nunca assuma compromissos com Deus que não tenha intenção de cumprir. Infelizmente, vejo isso acontecendo com frequência nas igrejas - por exemplo, as pessoas se inscrevem como voluntárias para cumprir determinadas tarefas (ou seja dizem que vão dar do seu tempo para a obra de Deus) e depois nada fazem. E, ainda pior, não demonstram qualquer preocupação ao agir assim.

Finalmente, com Deus não se brinca. Ananias e Safira acharam que poderiam enganar o Espírito Santo, demonstrando falta de temor e respeito por Deus. E isso não pode acontecer. Nunca.

Com carinho

segunda-feira, 27 de abril de 2020

SERVIR E SER SERVIDO

Todo cristão passa por momentos na vida em que é servido, ou seja, precisa de ajuda e encontra irmãos na fé que se dispõem a sair do seu conforto e empregar tempo e recursos para ajudá-lo. Mas, todo cristão também passa por momentos em que aparece a oportunidade de servir o próximo, ao cruzar com alguém no seu caminho que precisa de apoio, carinho e ajuda.

E é sobre isso que a apóstolo Paulo nos fala em sua carta aos Filipenses: a vida cristã tanto envolve a possibilidade de servir o próximo, como também de ser servido por ele. O próprio Paulo relata que passou pelas duas experiências. E, assim como Paulo, eu também já passei pelas duas possibilidades. Sei bem como é isso.

Todo mundo gosta de ser servido, de receber ajuda nos momentos de necessidade. Portanto, esse é o lado fácil da equação. Não precisa haver grande incentivo para que aprendamos a fazer essa parte.

Mas, servir os outros, dando do próprio tempo e recursos, sem esperar retorno, é coisa bem mais difícil. Esse é um exercício que precisamos aprender a fazer. É algo que é preciso exercitar.

É sobre isto que eu falo no meu mais novo vídeo - veja aqui.

Veja outros vídeos recentes meus aqui e aqui.

sábado, 25 de abril de 2020

COMO LIDAR COM A CRISE

Estamos em crise mundial por causa do coronavírus. Veja o vídeo em que a Alicia comenta essa situação.

quinta-feira, 23 de abril de 2020

POR QUE MATARAM JESUS?


Você sabe porque mataram Jesus? Isto é, porque os poderosos daquela época resolveram matar de forma tão horrível alguém que nunca fez mal aos outros? Para explicar isso, vamos começar lendo um texto do Evangelho de Marcos: 
Chegando a Jerusalém, Jesus entrou no templo e ali começou a expulsar os que estavam comprando e vendendo. Derrubou as mesas dos cambistas e as cadeiras dos que vendiam pombas e não permitia que ninguém carregasse mercadorias pelo templo. E os ensinava, dizendo: "Não está escrito: ‘A minha casa será chamada casa de oração para todos os povos’? Mas vocês fizeram dela um covil de ladrões". Os chefes dos sacerdotes e os mestres da lei ouviram essas palavras e começaram a procurar uma forma de matá-lo, pois o temiam, visto que toda a multidão estava maravilhada com o seu ensino. Marcos capítulo 11, versículos 15 a 18
Encontrar a razão pela qual mataram Jesus é muito importante porque nos permite entender melhor o que aconteceu durante a Semana Santa, ou seja, o período de tempo que vai do Domingo de Ramos, quando Jesus entrou triunfalmente em Jerusalém, até sua crucificação, na Sexta-Feira Santa. Um período de tempo que mudou a história da humanidade para sempre.

A resposta que buscamos está na elite religiosa judaica no tempo de Jesus, que foi o principal agente da sua morte. Esse grupo de pessoas era formado pelo sumo-sacerdote e outros sacerdotes importantes, bem como pelos intérpretes da Lei Mosaica que os assessoravam. Eles tiravam seu grande poder do controle que tinham sobre o Templo de Jerusalém, centro da religião judaica.

Todas as grandes comemorações religiosas - por exemplo, do Dia do Perdão, ou Yom Kippur - tinham como centro o Templo de Jerusalém. Além disso, eram exclusivamente ali que os sacrifícios de animais previstos na Lei Mosaica podiam ser realizados. Portanto, quem controlava o Templo, também controlava a religião judaica. Simples assim. 

E o controle do Templo também proporcionava lucros enormes. Primeiro, porque todo judeu tinha que pagar uma taxa para o Templo. E os líderes religiosos estabeleceram que essa taxa precisava ser paga numa moeda pouco usada - a didracma de Tiro. Como as pessoas comuns não tinham acesso a tal moeda, elas iam até Jerusalém levando a quantia devida na moeda corrente onde viviam e faziam ali o câmbio para a moeda aceita pelos sacerdotes. Por isso existiam mesas de cambistas no pátio do Templo.

E quem dominava essas mesas de câmbio? Tenho certeza que você adivinhou a resposta certa: a liderança religiosa. E os sacerdotes auferiam enorme lucro com isso.

Além disso, somente podiam ser usados nos sacrifícios feitos no Templo animais considerados apropriados (sem defeitos, sem manchas, etc). E eram os sacerdotes que estabeleciam quais animais eram ou não adequados.

Como as pessoas não queriam correr o risco de ir até o Templo - muitas vezes vindas de locais distantes -, levando um animal que poderia ser rejeitado, consideravam mais prático levar o dinheiro necessário e comprar em Jerusalém os animais certificados com o "selo de aprovação" dos sacerdotes. E quem vendia esses animais "certificados"? Você acertou de novo: os líderes religiosos, que enriqueciam com isso.

O Templo de Jerusalém, portanto, era a fonte de poder político e de lucro da elite religiosa judaica, que não se constrangia em explorar seu povo para enriquecer. 

Feita essa explicação, podemos voltar aos fatos da Semana Santa. No Domingo de Ramos, Jesus entrou em Jerusalém, saudado pelo povo judeu (Marcos capítulo 11, versículos 1 a 11). Ele comprovou ali ser muito popular e, portanto, o que Ele dizia e fazia atraia a atenção de todos. 

No dia seguinte ao Domingo de Ramos, Jesus foi até o Templo e viu no pátio inúmeros cambistas de moedas e vendedores de animais fazendo seu comércio vergonhoso - a expressão que Ele usou para falar sobre aquela situação foi que o Templo tinha se tornado um "covil de salteadores".

E Jesus fez um gesto de enorme importância simbólica: expulsou aqueles comerciantes e purificou o Templo. Essa ação foi apenas simbólica pois o pátio era enorme e milhares de pessoas transitavam por ali todos os dias - seria fisicamente impossível Jesus ter expulsado todos os comerciantes presentes.

Esse protesto teve grande peso porque colocou o dedo na "ferida": apontou para um pecado enorme da liderança religiosa, que já era conhecido por todo o povo judeu. Jesus teve coragem e falou abertamente em público aquilo que quase todos criticavam nos bastidores.

Seu ato, de certa forma, significou uma declaração de guerra à liderança religiosa judaica. E isso fica bem claro no final do texto que citei acima, onde está dito que, a partir desse evento, a liderança religiosa decidiu matar Jesus.

Foi por causa do que Jesus fez naquele dia, no pátio do Templo, que uma sentença de morte foi estabelecida sobre Ele. Essa foi a razão pela qual mataram Jesus. E essa sentença cumprida quatro dias depois. Afinal, os principais sacerdotes contavam com o poder e o relacionamento político (com o governador romano, Pôncio Pilates) necessários para conseguir que Jesus fosse pendurado numa cruz.

É razoável concluir também que Jesus sabia disso. Não havia como Ele deixar de ter consciência das consequências dos seus atos. E isso também fica claro na Bíblia: em várias passagens Jesus indicou ter certeza que sua morte estava próxima. Por exemplo, quando foi ungido por uma mulher, na cidade de Betânia, na casa de Simão, o leproso, Jesus afirmou que ela tinha feito aquilo para antecipar sua morte (Marcos capítulo 14, versículo 8).

Essa foi a razão porque mataram Jesus, um homem que não tinha pecados e amou a todos a quem encontrou pelo caminho. Bastou um bando de pessoas poderosas, querendo proteger sua fonte de poder e lucros, para a morte de Jesus ser decretada e executada. 

Com carinho

terça-feira, 21 de abril de 2020

A ALIANÇA DE DEUS CONOSCO


Uma aliança é um pacto feito por duas partes para atingir determinado objetivo comum que, em princípio, vai beneficiar a ambas. As partes entram em aliança porque percebem haver vantagens para os dois lados.
Para que esse compromisso se sustente, normalmente é preciso que as partes cumpram certas condições pré-estabelecidas. Os contratos são escritos justamente para estabelecer as condições para o acordo estabelecido.
Exemplos de alianças são os pactos de defesa mútua entre países, como o Tratado do Atlântico Norte (OTAN), visando defender a Europa da Rússia. Ou acordos comerciais entre empresas, para dividir recursos logísticos, para apoio mútuo nos esforços de marketing, etc.

Agora, o tipo de aliança mais comum que existe é o casamento. As partes (os noivos) entram em acordo mútuo com o objetivo de constituir uma nova família. E o acordo feito pode definir até como os bens serão tratados depois da união (por exemplo, em comunhão ou em separação).
A condição para a manutenção do casamento é a honestidade de propósitos das partes, caracterizada pela fidelidade sexual, pela garantia de cuidados mútuos, pela moradia debaixo de um único teto, etc. O símbolo dessa aliança é o anel que cada parte passa a usar na mão esquerda, não por acaso chamado de "aliança".
A aliança com Deus
A Bíblia fala de várias alianças feitas por Deus com os seres humanos. Nelas, Deus é quem dá tudo, pois não há nada que Ele precise receber das pessoas com quem entra em aliança. Mas, Deus pode estabelecer condições que as pessoas precisem cumprir para se manter na aliança com Ele.
Um bom exemplo é a aliança de Deus com Abraão (Gênesis capítulo 15, versículos 12 a 21). Nela, Abraão representou não somente a si mesmo, mas também seus descendentes (o povo de Israel).
 
O objetivo de Deus com essa aliança foi preparar um povo que servisse de exemplo para toda a humanidade, mergulhada na idolatria e tomada por comportamento corrompido. E era no meio desse povo que viria a nascer o Messias (Jesus).

As vantagens para Abraão foram inúmeras. Garantiu uma descendência (até então ele não tinha herdeiros oficiais) e recebeu a posse da Terra Prometida (a Palestina), sem contar outras bençãos de natureza material e espiritual.

A condição básica para Abraão e seus descendentes manterem essa aliança era a fidelidade a Deus. Embora, em diversos momentos da sua história, o povo de Israel tenha se desviado, essa aliança nunca foi rompida por Deus, embora algumas vantagens relacionadas com ela, como a posse da Terra Prometida, por exemplo, tenham sido perdidas.

O sinal dessa aliança era a circuncisão, obrigatória para todo bebê do sexo masculino, com oito dias de vida.
Aliança de Deus conosco
Há outra aliança com Deus que está em vigor hoje em dia. Ela abrange mais do que um povo, pois inclui todas as pessoas que escolherem entrar nela. E é conhecida como "Aliança da Graça".
Esse pacto tornou-se necessário porque todos os seres humanos pecam, como consequência direta do livre arbítrio (o direito que cada ser humano tem de fazer suas próprias escolhas). E ao pecar, os seres humanos são passíveis de punição por parte de Deus, que não tolera o pecado.

Portanto, todos nós deveríamos ser punidos e estaríamos perdidos, se Deus não tivesse estabelecido conosco a "Aliança da Graça", que funciona assim: Jesus se sacrificou por nós na cruz e levou sobre si os nossos pecados. Assim, quem aceitar que é pecador e receber Jesus como seu Salvador, terá seus pecados perdoados e conseguira re-estabelecer sua relação com Deus, recebendo dele a vida eterna. 
Esse processo tem a ver com a graça de Deus porque não fizemos nada para merecer aquilo que recebemos dele. 
Agora, o que talvez você não saiba é que a "Aliança da Graça" foi concebida antes da criação do mundo. Veja o que a Bíblia diz:
Sabendo que não foi com coisas corruptíveis, como prata ou ouro, que fostes resgatados da vossa vã maneira de viver... Mas com o precioso sangue de Cristo, como de um cordeiro imaculado e incontaminado. O qual, na verdade, em outro tempo foi conhecido, ainda antes da fundação do mundo, mas manifestado nestes últimos tempos por amor de vós. 1 Pedro capítulo 1, versículos 18 a 20
Em outras palavras, antes mesmo do mundo ser criado, o Filho (Jesus), já era conhecido como "cordeiro" sem mácula. E essa é uma constatação maravilhosa.

O Filho aceitou esse sacrifício voluntariamente, fazendo a vontade do Pai (Filipenses capítulo 2, versículos 8). Já o Espírito Santo também fez a vontade do Pai e do Filho, dando poder ao Filho, quando esse viveu entre nós (Lucas capítulo 4, versículos 1, 14 e 18) e, mais adiante, entrando na vida dos seres humanos para convertê-los ao bom caminho .
Essa nova aliança é melhor que aquela que Deus tinha feito com Abraão, porque abrange todo mundo, enquanto a outra somente cobria os descendentes de Abraão. Outra vantagem é que ela oferece a graça de Deus, enquanto a aliança com Abraão tinha como base a fidelidade do povo de Israel. A própria Bíblia reconhece que a "Aliança da Graça" é superior - veja o que disse o profeta Jeremias, homem que estava debaixo da aliança feita com Abraão:
Eis que dias vêm, diz o Senhor, em que farei uma aliança nova com a casa de Israel e com a casa de Judá. Não conforme a aliança que fiz com seus pais... Mas esta é a aliança que farei... : Porei a minha lei no seu interior e a escreverei no seu coração. eu serei o seu Deus e eles serão o meu povo... Jeremias capítulo 31, versículos 31 a 34
E foi o próprio Jesus quem explicou a abrangência desse novo pacto, firmado com seu sacrifício na cruz:
E, quando comiam, Jesus tomou o pão e abençoando-o, o partiu, o deu aos discípulos e disse: "Tomai, comei, isto é o meu corpo". tomando o cálice, dando graças, deu-o dizendo: "Bebei dele todos. Porque isto é o meu sangue, o sangue da nova aliança, que é derramado por muitos, para remissão dos pecados. Mateus capítulo 26, versículos 26 a 28
Amém

domingo, 19 de abril de 2020

SE ...

E se ... ? Essa é uma pergunta que as pessoas se fazem com muita frequência, especialmente quando surgem problemas nas suas vidas. Elas ficam  perguntando para si mesmas sobre a possibilidade do resultado das suas vidas ter sido outro, e melhor do que o realmente obtido, caso tivessem feito escolhas diferentes. Será que um outro caminho teria sido melhor? 

Mas, esse exercício é meio inútil, pois as pessoas nada podem fazer quanto ao passado. não podem mais mudar o que aconteceu. O que podem fazer sim é quanto ao seu presente e seu futuro. E é a isso que devem dedicar seu tempo: analisar o que pode ser feito para mudar as coisas no presente e no futuro. Esse sim é um exercício que vale à pena.

Jesus viveu um momento de e se ... Refiro-me ao episódio da ressurreição de Lázaro. Quando Jesus chegou na residência daquela família, Lázaro já estava morto e as duas irmãs dele, Marta e Maria, em sucessão, afirmaram ao Mestre que Lázaro não teria morrido se Jesus estivesse estado ali. Elas olharam para trás, enquanto Jesus estava olhando para a frente, para aquilo que Ele iria fazer.

É sobre isso que eu falo no meu mais novo vídeo - veja aqui.

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sexta-feira, 17 de abril de 2020

A CARÊNCIA PÓS PÁSCOA

Hoje vamos falar de carência. Jesus foi crucificado na sexta-feira e ressuscitou domingo de madrugada. E aí foi visto pela primeira vez, por Maria Madalena (João 20:11-18). Jesus, já ressurrecto, ficou disponível para seus discípulos por cerca de 40 dias: Ele aparecia e desaparecia em diferentes momentos. E aí cabe uma pergunta importante: Por que isso foi necessário? A resposta é simples: Jesus precisava atender a carência dos seus discípulos. Ele precisava ajudar seus seguidores a superar a carência pós Páscoa.
Os discípulos estavam carentes pois viviam uma experiência traumática e inesperada, que começou quando Jesus foi preso. Diferente de tudo que já tinham experimentado nas suas vidas. A crucificação de Jesus gerou enormes necessidades psicológicas naqueles homens e mulheres. E essa carência precisava ser tratada por Jesus, antes que aquelas pessoas se tornassem líderes da igreja cristã que estava nascendo.
É fácil perceber que a carência experimentada pelos discípulos naquela oportunidade foi muito parecida com aquela que experimentamos hoje em dia, especialmente nesse tempo da crise gerada coronavírus. E as respostas que valem hoje são as mesmas que valeram naquela época, pois a essência do ser humano continua sendo a mesma.
Jesus precisou atender pacientemente diversos tipos de carência dos seus discípulos. Por causa de espaço limitado, vamos falar apenas de 4 deles:
Desorientação 
Mesmo sabendo por Maria Madalena e outras mulheres que Jesus tinha ressuscitado, os discípulos ainda assim continuaram desorientados, perdidos. Por causa disso estavam trancados numa casa em Jerusalém, sem saber como seguir adiante. E aí Jesus atuou (João 20:19-22):
Chegada, pois, a tarde daquele dia, o primeiro da semana, e cerradas as portas onde os discípulos, com medo dos judeus, se tinham ajuntado, chegou Jesus, e pôs-se no meio, e disse-lhes: Paz seja convosco. dizendo isto, mostrou-lhes as suas mãos e o lado. De sorte que os discípulos se alegraram, vendo o Senhor. FALOU-lhes, pois, Jesus outra vez: Paz seja convosco; assim como o Pai me enviou, também eu vos envio a vós. havendo dito isto, assoprou sobre eles e disse-lhes: Recebei o Espírito Santo.
Jesus chegou repentinamente, identificou-se, mostrando aos discípulos as marcas da cruz, e falou com eles. E a primeira coisa que fez foi dar-lhes um caminho, uma direção na vida: enviou-os a pregar o Evangelho. Jesus preencheu de imediato a carência de direção daquelas pessoas e as colocou no caminho certo. Aquelas vidas, que pareciam perdidas e sem propósito, tornaram-se extremamente produtivas e importantes - acabaram por mudar a história do mundo.
E o mesmo pode acontecer com você, que talvez esteja também dentro de casa, em quarentena, sem saber o que vai ser da sua vida.  Sentindo-se  talvez sem propósito e inútil. Jesus pode dar propósito para sua vida, bastando que você ouça o que Ele tem a dizer e, depois, entregue seus caminhos para Ele, deixando o Espírito Santo agir na sua vida.
Dúvida e medo
O texto acima conta também que os discípulos estavam apavorados e não era para menos. Afinal, o que acontecera com Jesus poderia acontecer com eles, se fossem descobertos pelos principais líderes religiosos judeus. A ansiedade e o medo dominavam a vida daquelas pessoas. E isso ficou claro num diálogo que Jesus teve com Tomé, oito dias depois (João 20:24-25): 
Ora, Tomé, um dos doze, chamado Dídimo, não estava com eles quando veio Jesus. Disseram-lhe, pois, os outros discípulos: Vimos o Senhor. Mas ele disse-lhes: Se eu não vir o sinal dos cravos em suas mãos, e não puser o meu dedo no lugar dos cravos, e a minha mão no seu lado, de maneira nenhuma o crerei. oito dias depois estavam outra vez os seus discípulos dentro, e com eles Tomé.
Chegou Jesus, estando as portas fechadas, e apresentou-se no meio, e disse: Paz seja convosco. Depois disse a Tomé: Põe aqui o teu dedo, e vê as minhas mãos; chega a tua mão, e põe-na no meu lado; não sejas incrédulo, mas crente. Tomé respondeu: Senhor meu, e Deus meu! Disse-lhe Jesus: Porque me viste, Tomé, creste; bem-aventurados os que não viram e creram.
Tomé não estava quando Jesus apareceu pela primeira vez, portanto, não tinha ainda tirado suas dúvidas pessoalmente. E foi preciso que Jesus se mostrasse de novo e convidasse Tomé a conferir as marcas da cruz para que aquele homem incrédulo resolvesse suas dúvidas de vez.
Dúvidas geram insegurança e medo. Você pode ter dúvidas em relação à sua saúde e à saúde dos seus entes queridos. Ou dúvidas em relação ao seu sustento. E mesmo duvidar sobre como será sua vida depois dessa crise. Ora, essas dúvidas são naturais. Mas, como combatê-las e impedi-las de paralisar você? 

Da mesma forma como os discípulos fizeram: entrando em contacto direto com aquele que traz todas as certezas, Jesus. Como fazer isso? Através da oração, do louvor e do estudo da Bíblia. Essas disciplinas podem fazer toda a diferença na sua vida. Portanto, dedique seu tempo às coisas de Deus. Mesmo em meio à dúvida, ansiedade e medo, lembre-se que a solução está nele e não em outro lugar qualquer.
Culpa
Pedro tinha uma carência adicional, específica dele: sentia-se culpado porque negara Jesus três vezes. A culpa corroía seu coração e o apóstolo se sentia perdido. E aí Jesus resolveu esse carência (João 21:15-17):
depois de terem jantado, disse Jesus a Simão Pedro: Simão, filho de Jonas, amas-me mais do que estes? ele respondeu: Sim, Senhor, tu sabes que te amo. Disse-lhe: Apascenta os meus cordeiros. Tornou a dizer-lhe segunda vez: Simão, filho de Jonas, amas-me? Respondeu-lhe: Sim, Senhor, tu sabes que te amo. FALOU-lhe: Apascenta as minhas ovelhas. Pela terceira vez lhe falou: Simão, filho de Jonas, amas-me? Simão entristeceu-se por lhe ter dito terceira vez: Amas-me? E FALOU-lhe: Senhor, tu sabes tudo; sabes que eu te amo. Jesus disse-lhe: Apascenta as minhas ovelhas.
Jesus perguntou a Pedro por três vezes se ele o amava. E o apóstolo respondeu que sim, embora, na última vez, tenha ficado aflito, achando que Jesus não estava entendendo sua resposta ou mesmo acreditando nela. Ele não tinha entendido ainda que aqueles três passos precisavam ser cumpridos, pois havia negado a Jesus também por três vezes.
Ao dar uma missão especial para Pedro, pedindo-lhe que cuidasse das suas ovelhas, Jesus demonstrou que o apóstolo estava perdoado e, mais ainda, passava a ter lugar importante na obra de Deus.
Pode ser que, assim como aconteceu com Pedro, a culpa esteja corroendo seu coração. Sua carência  pode estar relacionada com sentir-se perdoado. Se esse é o caso, lembre-se que não há nada que Jesus não possa perdoar. O pecado de Pedro tinha sido muito grave, mas ainda assim foi prontamente esquecido. E o mesmo pode acontecer com você: basta reconhecer seu erro, arrepender-se dele e pedir perdão. Você será perdoado e sentirá aliviado. E glórias a Deus por isso.
Cegueira espiritual
Uma das aparições de Jesus mais surpreendente foi aquela que Ele fez para dois homens no caminho para Emaús, vilarejo situado a cerca de 12 km de Jerusalém. O relato está em Lucas 24:13-24:
eis que no mesmo dia iam dois deles para uma aldeia, que distava de Jerusalém sessenta estádios, cujo nome era Emaús. iam falando entre si de tudo aquilo que havia sucedido. aconteceu que, indo eles falando entre si, e fazendo perguntas um ao outro, o mesmo Jesus se aproximou, e caminhava com eles. Mas os olhos deles estavam como que fechados, para que o não conhecessem. Jesus lhes disse: Que palavras são essas que, caminhando, trocais entre vós, e por que estais tristes?
respondendo um, cujo nome era Cléopas, disse-lhe: És tu só peregrino em Jerusalém e não sabes as coisas que nela têm sucedido nestes dias?… As que dizem respeito a Jesus Nazareno, que foi homem profeta, poderoso em obras e palavras diante de Deus e de todo o povo; como os principais dos sacerdotes e os nossos príncipes o entregaram à condenação de morte,  crucificaram-no. nós esperávamos que fosse ele o que remisse Israel; mas agora, sobre tudo isso, é já hoje o terceiro dia desde que essas coisas aconteceram.
É verdade que também algumas mulheres dentre nós nos maravilharam, as quais de madrugada foram ao sepulcro; não achando o seu corpo, voltaram, dizendo que também tinham visto uma visão de anjos, que dizem que ele vive. alguns dos que estavam conosco foram ao sepulcro, e acharam ser assim como as mulheres haviam dito; porém, a ele não o viram.
Aqueles homens estavam tão preocupados em falar, em desabafar, em mostrar seu desapontamento, que não perceberam a presença de Jesus ao seu lado. Eles estavam tão imersos nas sua própria carência que não deram espaço para Jesus se manifestar. A solução da sua carência estava ao alcance das suas mãos e eles não conseguiram ver. 
E o mesmo pode estar acontecendo com você. Talvez você esteja tão preocupado em desabafar, em se queixar, que esteja cego para ver o que o Espírito Santo já está fazendo na sua vida. E pode ser que a ajuda esteja bem ao seu lado, na figura de um pastor/pastora, ou irmão/irmã na fé.
Não perca a chance de ser ajudado pelo Espírito Santo. Você pode sim desabafar e falar das suas dificuldades - não há nada de errado nisso. Mas esse desabafo não pode ocupar toda a sua mente, impedindo que você veja e se aproprie da ajuda que Jesus mandou e pode estar bem ao seu lado.
Palavras finais
Todos temos carências, principalmente em momentos de crise, como aqueles que vivemos hoje. Pode ser que você esteja carente de direção na sua vida. Ou estar cheio de dúvidas e isso tenha gerado ansiedade e medo. Talvez se sinta culpado de coisas que fez. Ou mesmo está tão preocupado em desabafar, em colocar suas angústias para hora fora, que não consiga ver a presença do Espírito Santo na sua vida. 
Não importa sua carência, Jesus tem a resposta para ela. Ele é paciente (ficou na terra cerca de 40 dias tratando dos discípulos), atento às suas necessidades e poderoso para preenchê-las. Basta que você se abra e deixe o Espírito Santo entrar e encher sua vida. Amém. 
PS Veja mais sobre este tema aqui.

quarta-feira, 15 de abril de 2020

É PRECISO ACERTAR NA FORMA E NO CONTEÚDO


Forma e conteúdo são duas partes igualmente importantes de qualquer ação humana. É fundamental acertar nas duas partes, para ter resultados bons. Vejamos um exemplo bíblico:
Persegui os seguidores deste Caminho [os cristãos] até a morte, prendendo tanto homens como mulheres e lançando-os na prisão, como o podem testemunhar o sumo sacerdote e todo o Conselho, de quem cheguei a obter cartas para seus irmãos em Damasco. E fui até lá, a fim de trazer essas pessoas a Jerusalém como prisioneiras, para serem punidas. Por volta do meio-dia, aproximava-me de Damasco, quando de repente uma forte luz vinda do céu brilhou ao meu redor. Caí por terra e ouvi uma voz que me dizia: "Saulo, Saulo! Por que você me persegue?" Atos dos Apóstolos capítulo 22, versículos 4 a 8
Esse texto fala da conversão do apóstolo Paulo, na estrada de Jerusalém para Damasco. A ideia de Paulo era liderar a perseguição aos cristãos na em Damasco. E essa missão tinha sido sancionada pelos líderes religiosos judeus, daí as cartas de autorização que Paulo levava consigo. A ação de Paulo respeitava a forma correta, pois estava devidamente autorizada por quem de direito. 

Mas é claro que o conteúdo dessa ação - perseguir os cristãos - estava totalmente errado, conforme Jesus lhe disse, ao aparecer para Paulo. Forma certa e conteúdo errado leva a uma ação muito errada, como ia acontecer com Paulo em Damasco.

Agora, imagine que o mesmo Paulo estivesse indo para Damasco para perseguir um criminoso terrível, mas tivesse resolvido fazer isso sem consultar ninguém, portanto, sem ter recebido a autorização legal necessária. Isso seria semelhante à situação em que um policial conduz uma busca na casa de um bandido, sem o necessário mandato judicial. 

Esse segundo caso seria o oposto do primeiro: Paulo estaria fazendo a coisa certa (combater um bandido), mas recorrendo à forma errada (agir sem a autorização adequada). E isso também teria sido errado. 

Nossas ações, para gerarem resultados positivos, precisam respeitar duas condições: a forma certa e o conteúdo correto. Encontramos a toda hora situações na vida prática em que uma ou outra dessas condições não é atendida. E os resultados são sempre ruins. 

O problema com a forma errada
Um exemplo muito adequado é o de uma operação policial que fracassa porque os agentes da lei fazem as coisas sem respeitar as regras legais. Por exemplo, interceptam ligações telefônicas sem autorização de quebra de sigilo. Ai todas as provas que decorrem dessas escutas acabam contaminadas e não podem ser usadas num julgamento. A ação com conteúdo certo (uma operação para combater a corrupção) fracassa porque foi usada a forma errada (uma escuta telefônica ilegal). 

Usar a forma correta é importante não somente no meio jurídico, mas em todos os demais campos da vida humana, inclusive a religião. 

Assim, não foi por acaso que, no livro do Êxodo, Deus definiu inúmeros detalhes de como o culto religioso dos judeus deveria ocorrer, abordando coisas como a arquitetura do Templo de Jerusalém, as festas religiosas que precisariam ser respeitadas, qual o papel dos sacerdotes nelas e assim por diante. 

A forma é importante e é por isso os cultos seguem uma liturgia, isto é, há uma definição de como as coisas devem ser feitas durante esses atos.

O problema com o conteúdo errado
Agora, a forma não é tudo, como o caso de Paulo citado acima demonstra claramente. Ele tinha as cartas de autorização necessárias e ainda assim estava errado, pois perseguir os cristãos era uma coisa errada. 

Fazer a coisa errada, mesmo respeitando a forma certa, também é caminho para o desastre. E há outro exemplo desse mesmo tipo de situação na Bíblia:

Eu odeio e desprezo suas festas religiosas. Não suporto suas assembleias solenes. Mesmo que vocês me tragam holocaustos e ofertas de cereal, isso não me agradará. Mesmo que me tragam as melhores ofertas de comunhão, não darei a menor atenção a elas. Afastem de mim o som das suas canções e a música das suas liras. Amós capítulo 5, versículos 21 a 23

Deus advertiu o povo, através do profeta Amós, que as cerimônias religiosas, embora feitas da forma litúrgica correta, ainda assim eram insuportáveis para Ele. O problema estava no seu conteúdo: não havia sinceridade no coração das pessoas. Não tinham sinceridade de propósito. 

A forma correta escondendo um conteúdo errado, infelizmente, é um problema muito comum nas igrejas cristãs. Por exemplo, quando Martinho Lutero pediu ao Papa que reformasse a Igreja Católica, ele estava lutando com um problema exatamente desse tipo: a Igreja Católica conduzia cerimônias belíssimas, em templos ricamente decorados, apoiadas por música inspirada. A forma era perfeita. 

Mas o conteúdo estava errado: a doutrina ensinada era absurda - por exemplo, defender que a salvação podia ser comprada (as tais indulgências).

Problema semelhante acontece hoje em dia em várias igrejas evangélicas, quando os cultos ensinam que Deus prometeu prosperidade, especialmente para as pessoas que contribuírem generosamente. Esse ensinamento é muito errado, porque Deus não se deixa comprar por contribuições financeiras.

Palavras finais
Uma ação somente gerar bons resultados se tiver forma e conteúdo corretos, isto é, quando for feita a coisa correta e da forma certa. 

Por exemplo, se for você for conversar com alguém, para convencer essa pessoa a mudar sua vida, que não vai por bom caminho, é preciso ensinar a coisa correta (falar dos mandamentos de Deus e da sua graça, que permite o perdão dos pecados), mas também é preciso usar a forma certa (tom de voz e palavras educadas).

Forma e conteúdo andam juntos e são ambos necessários para conseguir bons resultados. Nunca se esqueça disso.

Veja mais sobre este tema aqui.

Com carinho

segunda-feira, 13 de abril de 2020

AS ESCOLHAS ESTRANHAS DE DEUS


Deus realmente faz escolhas que nos parecem, à primeira vista, estranhas. E há muitos exemplos disso na Bíblia.

Às vezes as escolhas de Deus nos parecem lógicas. Por exemplo, o povo de Israel sofria um cativeiro cruel no Egito há mais de 400 anos, quando Deus mandou um libertador, Moisés. E a escolha de Moisés, parece fazer todo sentido, pois ele tinha sido criado como príncipe no Egito e, portanto, era muito mais preparado do que todos os demais israelitas, que sempre tinham vivido como escravos. 

Mas essa não parece ser a regra. Frequentemente Deus faz escolhas que parecem muito estranhas aos nossos olhos. Por exemplo, João Batista foi o profeta escolhido para antecipar o ministério de Jesus. E ele era uma figura muito esquisita: morava no deserto, alimentava-se de gafanhotos e mel e vestia-se de pele de camelo. Imagine encontrar um pessoa como João Batista, cheirando mal (certamente ele passava longo tempo sem tomar banho), com barba e cabelo desgrenhados e olhar fixo. Confesso que eu ficaria muito mal impressionado com esse profeta e acredito que você também. 

O que dizer, então, dos apóstolos chamados por Jesus. Um deles, Mateus (Levi), era coletor de impostos. Naquela época, os judeus tinham horror dos coletores de impostos por uma razão muito simples: eles eram corruptos e exploravam impiedosamente o povo.

Isso porque os dominadores romanos escolhiam os coletores de impostos com base nas ofertas que recebiam das pessoas interessadas nessa função. Quem oferecia arrecadar mais do povo, levava o cargo. Simples assim. Ora, um judeu somente iria se interessar por essa função se pudesse obter grande lucro, mesmo depois de dar a parte dos romanos. E para conseguir obter esse resultado, os coletores de impostos cobravam quantias escorchantes das pessoas.

E a história relata que os coletores de impostos enriqueciam, como foi o caso de Zaqueu, a quem Jesus visitou e converteu (Lucas capítulo 19, versículos 1 a 10). Enriqueciam com base no sofrimento alheio, exatamente como fazem os políticos corruptos dos nossos dias.

Aí vem Jesus e escolhe um coletor de impostos para ser apóstolo. Confesso, que se eu visse um pastor escolher um político corrupto para assessorar seu ministério, passaria a olhar o próprio pastor com desconfiança. E certamente muitos dos contemporâneos de Jesus também pensaram assim.

Jesus escolheu ainda quatro pescadores (Pedro, André, João e Tiago) para serem apóstolos. Ora, os pescadores eram homens rudes e até agressivos - o apelido que João e Tiago tiveram ("filhos do trovão"), segundo Marcos capítulo 3, versículos 16 e 17) certamente não se deveu ao fato de serem gentis e suaves. Pescadores eram também pouco estudados. Portanto, no seu conjunto não pareciam ser as pessoas ideais para discutir questões teológicas e converter pessoas, como passaram a fazer, ao acompanhar Jesus. E Jesus ainda assim escolheu esses quatro homens e dois deles (Pedro e João) vieram a ser figuras fundamentais no início da vida da Igreja cristã. 

E o que dizer de Judas Iscariotes, homem corrupto e traidor? E de Simão, o Zelote, que pertencia a uma seita de judeus que pregava a resistência violenta ao domínio romano? 

Certamente, se eu estivesse lá teria achado as escolhas de Jesus bem estranhas. Chegaria a pensar que Jesus corria o risco de prejudicar seu próprio ministério ao se associar com gente desse tipo (basta lembrar do ditado "dize-me com quem andas e vos direis quem és").

É surpreendente que o cristianismo tenha se desenvolvido da forma como fez - menos de trezentos anos depois da morte de Jesus, tornou-se a religião oficial do Império Romano -, tendo como matriz gente desse tipo. 

Penso que há dois ensinamentos muito importantes nessa discussão. Primeiro, somos nós quem escolhemos errado. As escolhas de Deus parecem estranhas para nós simplesmente porque usamos critérios diferentes do que Ele e não sabemos escolher muito bem. Olhamos para o exterior e deixamos nos levar pelas aparências. Já Deus olha para o interior da pessoa e vê o que de fato existe ali. 

O segundo ensinamento é que ninguém deve se considerar incapaz ou indigno de fazer a obra de Deus. Quando Ele chama alguém para fazer sua obra, capacita essa pessoa, dando-lhe condições para cumprir sua missão com sucesso. Não importa a origem dessa pessoa e o que ela já fez na vida. O que importa é a escolha de Deus.

Portanto, só cabe a quem é chamado por Deus dizer simplesmente: "eis me aqui, envia-me a mim".  

Com carinho

sábado, 11 de abril de 2020

A FACE DO PAI

As crianças costumam fica procurando a face do seu pai e/ou da sua mãe para ver se está tudo bem. Para saber se estão em segurança. A face do pai ou da mãe é uma referência que as crianças usam muito no seu dia-a-dia.

As crianças também usam essa mesma referência para outra coisa muito importante: ver se têm aprovação para aquilo que estão fazendo. Lembro bem quando meu pai foi ver um jogo de futebol onde eu joguei. Eu fiquei muito alegre e orgulhoso com a presença dele ali, ainda mais porque consegui marcar um gol - até hoje me lembro da figura dele me olhando durante aquele jogo. A aprovação do meu pai, naquele dia, ficou marcada na minha vida.

A Bíblia ensina que devemos procurar a face do nosso Pai celestial. E esse é um ensinamento que podemos encontrar em diversos locais, como no Salmo 80. Devemos buscar Deus para obter segurança quanto à nossa situação, para obter aprovação para nossas atitudes e também para construir uma relação íntima com Ele. E isso é muito importante para nossa vida espiritual.

É sobre isso que falo no meu mais novo vídeo - veja aqui.

Veja outros vídeos recentes meus aqui e aqui.

quinta-feira, 9 de abril de 2020

O EVANGELHO DE MARCOS É DIFERENTE?


O Evangelho de Marcos é diferente dos demais? Marcos foi o primeiro Evangelho a ser escrito, conforme admitem praticamente todos os estudiosos da Bíblia. E provavelmente foi usado como referência por Mateus e Lucas, ao escreverem seus respectivos Evangelhos. Logo, esse texto é de grande importância para o cristianismo.
A tradição aponta João Marcos como o autor desse Evangelho, daí o nome que o texto tem. João Marcos foi, inicialmente, companheiro de viagem de Paulo, mas não teve comportamento muito responsável durante a primeira viagem missionária do apóstolo.
Por causa disso, Paulo não quis levá-lo na sua segunda viagem e essa decisão acabou gerando uma briga entre Paulo e Barnabé, que era tio de João Marcos. Paulo e Barnabé se separaram e o apóstolo seguiu viagem somente na companhia de Silas (Atos 15:36-40). Agora, como Deus sempre dá uma outra chance para as pessoas, Marcos acabou se tornando companheiro importante de Pedro (1 Pedro 5:13), indo com ele para Roma, onde escreveu seu Evangelho.

Sendo assim, é normalmente reconhecido pelos estudiosos que o Evangelho de Marcos contém o ponto de vista de Pedro sobre os fatos ocorridos com Jesus, já que esse apóstolo foi a principal fonte de informação usada por João Marcos. Acredita-se que João Marcos também colheu informações por conta própria, pois morou em Jerusalém e provavelmente conheceu Jesus (Atos 12:12).

A característica mais marcante do Evangelho de Marcos é ritmo de relato rápido - o foco está sempre sobre os fatos ocorridos com Jesus e suas ações (curas, libertação de demônios, etc). Não há muita preocupação nesse texto em registrar as pregações de Jesus, com exceção do que está relatado nos capítulos 4 e 13.

Para se ter uma ideia de como Marcos avança rápido no seu relato, no centésimo versículo desse Evangelho Jesus já está desenvolvendo seu ministério. Em comparação, o centésimo versículo de Lucas ainda está falando do nascimento de Jesus - os pastores tendo a visão dos anjos.
Os públicos de Jesus segundo Marcos
O texto de Marcos costuma ressaltar três tipos de público para as pregações de Jesus: 1) os escribas e fariseus; 2) a multidão; e 3) os discípulos. 
Os escribas e fariseus, quando em grupo, invariavelmente respondiam negativamente à pregação de Jesus. Criticavam-no abertamente, questionavam "quem ele pensa que é", achavam que Jesus estava blasfemando e assim por diante. Veja um exemplo:
Outra vez entrou na sinagoga, e estava ali um homem que tinha uma das mãos mirrada. E estavam observando-o se curaria no sábado, para o acusarem...olhando para eles em redor com indignação, condoendo-se da dureza do seu coração, disse ao homem: Estende a tua mão. E ele a estendeu e foi-lhe restituída a sua mão, sã como a outra. tendo saído os fariseus, tomaram logo conselho com os herodianos contra ele, procurando ver como o matariam. Marcos capítulo 3, versículos 1 a 6
A multidão ficava sempre maravilhada pelos ensinamentos de Jesus. As pessoas comentavam entre si: "nunca vimos uma coisa assim..." Veja um exemplo:
Chegando o sábado, começou a ensinar na sinagoga; e muitos, ouvindo-o, se admiravam, dizendo: De onde lhe vêm estas coisas? que sabedoria é esta que lhe foi dada? e como se fazem tais maravilhas por suas mãos? Marcos capítulo 6, versículo 2
É interessante observar que essa admiração da multidão não gerou ação concreta - as pessoas ouviam e continuavam sua vida sem nada mudar. 
Normalmente, se pensa que os discípulos seguiram Jesus para aprender e, ao final do seu treinamento, saírem pelo mundo pregando a mensagem da salvação e da vinda do Reino de Deus. Mas não é isso que o relato de Marcos indica: Jesus teve muito trabalho para colocá-los no caminho certo. Na verdade, na maioria das vezes os discípulos não conseguiram entender o que Jesus disse. Interpretavam quase tudo que Ele falava de forma errada. Faziam perguntas estúpidas e totalmente fora do contexto. Veja um exemplo:
Eles se esqueceram de levar pão e, no barco, não tinham consigo senão um pão. Ordenou-lhes [Jesus], dizendo: "Olhai, guardai-vos do fermento dos fariseus e do fermento de Herodes". E discutiam entre si, dizendo: "É porque não temos pão". Jesus, conhecendo isto, disse-lhes: "Para que dizeis que não tendes pão?" "Não considerastes, nem compreendestes ainda?"... "Tendo olhos, não vedes e tendo ouvidos, não ouvis?" Marcos capítulo 8, versículos 14 a 18
Toda vez que um desses grupos aparece no texto de Marcos, o leitor já sabe mais ou menos o que vai acontecer. Se forem escribas e fariseus, a reação será negativa, se for uma multidão, as pessoas irão se maravilhar e se forem os discípulos, haverá uma reação meio sem noção.  
Esses três públicos representam três formas erradas de reagir à pregação de Jesus. Há quem responda negativamente ao que Ele ensinou - questiona tudo e até acha que Jesus estava errado. Essas pessoas são como os escribas e fariseus. 
Há também quem ouça a mensagem de Jesus e se entusiasme, como fazia a multidão. Mas não faça nada a partir daí - os ensinamentos de Jesus ficam na memória, mas não criam raízes no comportamento, não geram mudança de vida.

E, finalmente, assim como os discípulos, há quem não entenda o que Jesus ensinou. Talvez porque seus preconceitos e forma estreita de pensar tornem difícil entender uma mensagem de amor e perdão.
Concluindo, o Evangelho de Marcos é um texto curto - são apenas dezesseis capítulos - e fácil de ler. Vale a pena investir seu tempo em conhecê-lo. Você vai aprender muito. 

Com carinho

terça-feira, 7 de abril de 2020

DOIS ERROS NÃO FAZEM UM ACERTO


A matemática ensina que aplicar dois sinais negativos a um termo de uma equação equivale a um sinal positivo. Os dois sinais negativos se anulam mutuamente e acabam produzindo um valor positivo. E muita gente tenta usar esse conceito na vida: Essas pessoas pensam que dois erros cometidos em sucessão, quando o segundo erro busca corrigir o primeiro, podem gerar um acerto. Mas não podem.
Na verdade, dois erros costumam gerar um problema maior do que o erro inicial, pois o segundo erro pode potencializar as consequências negativas do primeiro. E há exemplos fortes desse tipo de situação em todos os campos da vida.
Há muitos relatos aqui no site de pessoas que se casaram, sem querer fazer isso, apenas para corrigir uma gravidez indesejada. O primeiro erro foi a gravidez indesejada e segundo, cometido para corrigir o primeiro, foi um casamento feito em bases frágeis. E o casal acaba descobrindo, com o passar do tempo, que entrou numa relação profundamente infeliz e acaba pagando um preço muito alto para manter essa relação viva.
Melhor teria sido que os jovens pais tivessem assumido a criança e encontrado uma forma de colaborar para seu sustento e educação. É claro que quando os pais têm certeza e maturidade suficientes para assumir o casamento, essa é a solução ideal. Mas, quando essas condições não existem, o casamento apressado vira um problema ainda maior, que somente vai piorar as coisas.
Outro exemplo bem comum: a pessoa mente para esconder alguma verdade incômoda. Por exemplo, o homem está traindo sua esposa e mente para justificar seu atraso para chegar em casa, alegando que estava trabalhando. Aí, num segundo momento, para consolidar a primeira mentira, esse homem comete o segundo erro: pede a um colega de trabalho que confirme a mentira dele para a esposa. E coloca o colega de trabalho numa situação difícil. Esse segundo erro traz o problema para dentro do seu ambiente profissional, colocando em risco o próprio emprego - eu já vi gente ser demitida por causa disso.   

A política brasileira também gera muitos exemplos desse tipo de situação. O governo federal periodicamente passa pela necessidade de enfrentar o deficit crescente das contas públicas, problema gerado porque ele gasta mal e além do que deveria. Aí, ao invés de fazer um corte ordenado dos gastos e procurar melhorar a gestão do orçamento, tradicionalmente o governo federal tenta tapar o buraco fiscal (o primeiro erro), fazendo um erro novo: cria novos impostos para tentar conseguir arrecadar mais. 

Ora, novos impostos tiram dinheiro da mão das pessoas e das empresas e o joga no colo do governo, que não sabe gastá-lo bem. E como o aumento da arrecadação equilibra a situação por um tempo, o governo acaba sem incentivo para melhorar. Pior ainda, o aumento da carga de impostos reduz a atividade econômica do país e o governo acaba arrecadando menos em impostos, o que contribui para o aumento do rombo. Por causa disso, nos últimos 25 anos, a carga de impostos no Brasil cresceu 50% e o governo continua com um deficit terrível e os serviços públicos seguem cada vez pior.  
A Bíblia também traz inúmeros exemplos de como dois erros não fazem um acerto. Um desses casos aconteceu com o rei Davi. Ele adulterou e engravidou Bate-Seba, esposa do seu capitão da guarda, Urias. Esse foi o primeiro erro. Davi tentou esconder o mal-feito, procurando fazer com que Urias pensasse ser o pai da criança. Mas como isso não se mostrou viável, Davi mandou matar Urias e casou-se com a viúva. Esse foi o segundo erro.
Davi pensou que o segundo erro iria evitar um terrível escândalo, causado pelo primeiro erro (o adultério). E os resultados foram desastrosos: o escândalo estourou da mesma forma e Davi foi severamente punido por Deus. Teria sido muito melhor que Davi tivesse se arrependido e assumido o primeiro erro, enfrentando suas consequências e não teria a morte de um inocente nas suas costas. 

Esse tipo de situação costuma ser comum nas igrejas. Por exemplo, há pastores/as que não têm suficiente conhecimento teológico e preparo para enfrentar os desafios do mundo atual, especialmente para discutir as dúvidas trazidas pelos jovens. E ficam inseguros. É claro que os pastores/as deveriam ser suficientemente preparados e a há aí, portanto, um erro.

Como ficam inseguros ao lidar com questionamentos, esses/as pastores/as tentam corrigir a situação cometendo um segundo erro: cortam toda a possibilidade de debate nas suas igrejas e passam a atuar como pequenos/as ditadores/as. Tentam corrigir sua falta de preparo teológico com o controle excessivo, erro ainda pior. E acabam alienando muita gente, especialmente os mais jovens.
A Bíblia ensina que os erros devem ser reconhecidos e a pessoa precisa fazer esforços para superá-los, passando a agir da forma certa. Qualquer outra atitude somente torna as coisas ainda piores. Portanto, a resposta para um erro é seu reconhecimento, o arrependimento e o esforço para mudar de vida. Qualquer coisa que vá além disso, acaba tornando as coisas piores.
Reconhecer o próprio erro, mesmo em situações potencialmente embaraçosas, é um enorme desafio. Frequentemente, a solução mais fácil parece ser cometer um novo erro. Parece ser, por exemplo, mais fácil mentir uma segunda vez para esconder uma mentira anterior. Mas dois erros nunca fazem um acerto.  

Mas não é possível viver uma vida cristã plena sem conseguir superar esse tipo de desafio. 

Com carinho 

domingo, 5 de abril de 2020

A PERDA DA ESPERANÇA: O SENTIMENTO DE DESESPERO

Recentemente li o relato sobre os últimos dias de vida de uma mulher idosa. No Dia de Ação de Graças, ela, em meio a seu desespero, disse para Deus que não tinha nada para agradecer. Era viúva, estava doente há vários anos, sua filha morrera relativamente jovem e os netos não lhe davam importância. As memórias de tempos melhores eram, para ela, como fantasmas, assombrando sua existência. Seu desespero era palpável, pois não tinha mais qualquer esperança.
Desespero: um sentimento passivo
Ciúme e desespero têm algo em comum: ambos partem da preocupação com a perda. Mas, o ciúme é ativo, já que a pessoa se vale desse sentimento para lutar contra a possibilidade de perda. Já o desespero é passivo: a pessoa aceita uma realidade que lhe parece terrível e deixa de lutar, depois de ver sua esperança destruída.
O desespero não costuma chegar na vida de uma pessoa de forma inesperada e direta. Os sentimentos da pessoa costumam passar por estágios, à medida em que ela, gradativamente, vai se dando conta da seriedade da sua situação. O processo começa com o desapontamento, passa pela tristeza, chega à depressão e acaba no desespero.

O desapontamento é um sentimento leve de frustração ou perda de alguma coisa – por exemplo, eu tenho o desapontamento de não ter desenvolvido meus dons musicais. Desapontamento é bastante comum e pode ser facilmente superado.

Já a tristeza costuma ter raízes mais profundas. Ela nasce num sentimento de vazio pela constatação que o mundo não é benigno e não vai atender todos os desejos da pessoa. A tristeza costuma estar ligada a alguma causa específica, como uma derrota séria, a perda de um ente querido ou o fim de um relacionamento amoroso sério. É costume que a tristeza faça a pessoa chorar. Mas, passado o luto, a tristeza acaba sendo controlada.
A depressão é muito mais séria e incapacitante. Trata-se de um estado mental que acaba se tornando permanente, se não for tratado. Ela costuma se manifestar através de sintomas como insônia, incapacidade de se concentrar e perda da energia vital. A depressão precisa ser tratada com ação em vários campos, inclusive através de remédios.
O fundo do poço, nessa progressão, é o desespero: a ausência total de esperança, acompanhada por sentimento esmagador de impotência e inutilidade da própria vida. O desespero leva à resignação com a própria sorte e frequentemente ao suicídio. Estão presentes no desespero todas as raízes da destruição: sentimento de abandono e perda, morte do desejo e desaparecimento da esperança. É um estágio muito sério que precisa de tratamento extremamente especializado em todos os campos da natureza humana. Não é fácil conseguir recuperar uma pessoa nesse estágio.
O desespero entre os crentes
Muita gente acha que o desespero não cabe na vida de um cristão verdadeiro. Para esse grupo de pessoas, se alguém está desesperado é porque não tem fé e/ou está em pecado grave. Mas, esse é um grande erro e tal tipo de diagnóstico só torna as coisas piores.
O desespero pode sim aparecer na vida de qualquer cristão. Li recentemente o depoimento de um norte-americano, homem profundamente evangélico e de grande fé. O desespero bateu à sua porta quando ele recebeu um telefonema da polícia, dizendo que sua filha querida tinha sido presa por roubo de uma loja. Ele correu para a delegacia, imaginando que tudo não passava de um engano terrível. Até que percebeu que a realidade era aquela mesma.

Quando a menina foi liberada pela polícia, pai e filha enfrentaram uma realidade devastadora: a adolescente seria processada criminalmente como adulta. O pai entrou em depressão e, à medida em que a situação legal da menina foi se agravando, o desespero chegou. Ele se deu conta que sua filha poderia acabar numa unidade prisional. Pela sua cabeça começaram a passar constantemente as coisas boas que a família tinha vivido junta, a presença da filha na igreja que frequentavam e todos os sonhos que ele e sua mulher tinham para a garota. O pai se sentiu vazio, perdido, experimentando um terrível sentimento de perda e sem esperanças.

Uma coisa boa que esse homem fez foi falar do seu sentimento. Afinal, não há porque o cristão se sentir diminuído ou tentar esconder seu sentimento por vergonha. Reconhecer a própria condição ajuda e, tanto é assim, que os Salmos estão recheados de relatos do desespero humano. E Deus nunca critica essas manifestações.
Alguns dos salmos mostram o sentimento de desespero sendo “domado” - os salmistas acabam se voltando para Deus e recuperam sua esperança e alegria de viver. Mas, nem sempre esse é o caso. Por exemplo, veja o Salmo 88, cujo autor é Hemã:
SENHOR Deus da minha salvação, diante de ti tenho clamado de dia e de noite. Chegue a minha oração perante a tua face, inclina os teus ouvidos ao meu clamor; Porque a minha alma está cheia de angústia, e a minha vida se aproxima da sepultura. Estou contado com aqueles que descem ao abismo; estou como homem sem forças, Livre entre os mortos, como os feridos de morte que jazem na sepultura, dos quais te não lembras mais, e estão cortados da tua mão. Puseste-me no abismo mais profundo, em trevas e nas profundezas. Sobre mim pesa o teu furor; tu me afligiste com todas as tuas ondas. Alongaste de mim os meus conhecidos, puseste-me em extrema abominação para com eles. Estou fechado, e não posso sair. A minha vista desmaia por causa da aflição. Senhor, tenho clamado a ti todo o dia, tenho estendido para ti as minhas mãos. Mostrarás, tu, maravilhas aos mortos, ou os mortos se levantarão e te louvarão? Será anunciada a tua benignidade na sepultura, ou a tua fidelidade na perdição? Saber-se-ão as tuas maravilhas nas trevas, e a tua justiça na terra do esquecimento? Eu, porém, Senhor, tenho clamado a ti, e de madrugada te esperará a minha oração. Senhor, porque rejeitas a minha alma? Por que escondes de mim a tua face? Estou aflito, e prestes tenho estado a morrer desde a minha mocidade; enquanto sofro os teus terrores, estou perturbado. A tua ardente indignação sobre mim vai passando; os teus terrores me têm retalhado. Eles me rodeiam todo o dia como água; eles juntos me sitiam. Desviaste para longe de mim amigos e companheiros, e os meus companheiros sãos as trevas.
Esse é considerado o salmo mais desesperado da Bíblia - a agonia do escritor pode ser percebida em todo o texto. O único fio de esperança que ainda permanece é o fato do autor se importar de levar seu lamento até Deus. As frases finais da poesia mostram que Hemã está perto da destruição emocional.
Quando o desespero chega…
É a esperança que nos faz tocar a vida, mesmo em meio a grandes dificuldades – eu tenho experiência pessoal disso. A esperança atesta que um dia a dor vai passar, as dificuldades serão resolvidas e será possível voltar a sentir prazer na vida. A esperança é a antecipação que os desejos do presente serão satisfeitos no futuro. Mas, quando a esperança é estilhaçada o sofrimento torna-se enorme. E é isso que o livro de Provérbios atesta: A esperança adiada desfalece o coração, mas o desejo atendido é árvore de vida. Provérbios 13:12
Mas, quando há um ciclo de frustrações, gerado por decepções contínuas e muitas vezes crescentes, onde seguidamente a esperança renasce e é de novo estilhaçada, a esperança pode morrer definitivamente. A pessoa passa a pensar que é melhor não esperar mais nada para não voltar a se decepcionar. Aí chega o desespero.
A perda costuma levar à solidão – é como a pessoa escapasse em direção ao isolamento. E ela pode se isolar até daqueles que mais têm significado na sua vida. E sem relacionamentos humanos o mundo parece perigoso, frio e sem qualquer sentido. O desespero se agrava.
Sem esperança e isolada de tudo e todos, a pessoa passa a se comportar como uma morta-viva. Funciona como se fosse um robô, quando funciona.
O que fazer?
Vivemos num mundo onde o pecado se faz presente, onde muitas das expectativas das pessoas nunca serão preenchidas, onde as perdas e frustrações são reais. E é sobre isso que a Bíblia fala nos três primeiros capítulos do Gênesis. Deus criou um mundo bom e projetou as relações humanas para serem criativas e realizadoras, mas o pecado apareceu e gerou uma série de problemas, principalmente a alienação das relações humanas e da relação com Deus.
Mas, há motivo para ter esperança, afinal, a Bíblia não termina no capítulo 3 de Gênesis. O restante do texto bíblico fala justamente do envolvimento de Deus na história visando resgatar o ser humano e endireitar as coisas. É por isso que o desespero não é a resposta final para a condição humana. Nesse sentido, o ensinamento da Bíblia contraria radicalmente o existencialismo, filosofia muito famosa nos anos 60, que defende ser o suicídio a única resposta lógica para o desespero provocado por um mundo sem sentido. Para o cristão, o mundo tem sentido sim e esse sentido é dado por Deus.

O Salmo 88 precisa ser olhado não como um desabafo sem esperança e sim como um exemplo forte de como podemos ter uma conversa franca e difícil com Deus. Essa conversa vai ficar turbulenta, em certos momentos, pois isso é da natureza do processo, mas é ela que vai gerar respostas em meio ao sofrimento. O salmista, mesmo em meio a seu grande desespero, ensinou que precisamos nos abrir com Deus. Essa é a boa nova dos Salmos!
O que fazer, então, quando o desespero chega? Há muito que pode ser feito. Primeiro, reconhecer a crise à sua frente e entender que você não é pior do que ninguém por estar passando por esse tipo de dificuldade - muitos cristãos já se sentiram assim.
Segundo, buscar ajuda tanto de irmãos na fé, como de profissionais de saúde, pois o isolamento não é uma resposta adequada. E o desespero não é uma condição da qual alguém consegue sair sozinho. Portanto, tentar ficar “quieto no seu canto” é quase uma sentença de morte.

Terceiro, falar com Deus abertamente e abrir seu coração para Ele, como o salmista fez. E lembre-se que brigar com Deus e abandoná-lo não resolve nada. A vida sem Deus não tem qualquer sentido ou garantia, e essa é uma verdade da qual não se pode escapar.

Finalmente, com ajuda externa – irmãos na fé e profissionais de saúde -, trabalhar para reconstruir a própria esperança e ir saindo aos poucos do desespero avassalador. E, nesse processo, leve em conta que só Deus pode ancorar uma esperança real e duradoura, que transcenda às circunstâncias da vida.

E é por ter entendido isso que o profeta conseguiu dizer:
Porque ainda que a figueira não floresça, nem haja fruto na vide; ainda que decepcione o produto da oliveira, e os campos não produzam mantimento; ainda que as ovelhas da malhada sejam arrebatadas, e nos currais não haja gado; Todavia eu me alegrarei no Senhor; exultarei no Deus da minha salvação. O Senhor Deus é a minha força, e fará os meus pés como os das cervas, e me fará andar sobre as minhas alturas. Habacuque 3:17-19
PS Veja mais sobre esse tema aqui.

Com carinho

sexta-feira, 3 de abril de 2020

PROMESSA DE PAZ

Promessa de paz e de uma vida melhor são feitas a toda hora por políticos e organizações as mais diversas. E obter paz e condições melhores de vida são cada vez mais importantes num mundo cheio de problemas. Basta lembrar que hoje existem 65 milhões de refugiados lutando para sobreviver, quase sempre em condições muito difíceis.

O problema é que essas promessas e declarações são quase sempre hipócritas ou simplesmente um monte de palavras vazias. Não geram qualquer resultado prático ou quando muito obtém respostas meramente paliativas. Na maior parte, são só tentativas de pessoas importantes de ficar bem perante a opinião pública ou de acalmar as próprias consciências. Nada mais do que isso.

As únicas promessas nas quais realmente podemos confiar são aquelas feitas e garantidas por Deus. Afinal, Ele não falha, é onipotente e fiel em tudo aquilo que faz e promete. E Deus nos promete paz e a Bíblia explica quando e como isso se dará. Portanto, aí deve estar a nossa esperança real. É nessa promessa de paz que devemos acreditar. Nessa dá para confiar.

É sobre isso que eu falo no meu mais novo vídeo - veja aqui.

Veja outros vídeos recentes meus aqui e aqui.

quarta-feira, 1 de abril de 2020

QUEM FOI A PRIMEIRA PESSOA A RECONHECER O MESSIAS?


A tradição indica que o apóstolo Pedro teria sido a primeira pessoa a reconhecer Jesus como o Messias (Cristo) e falar disso publicamente. Veja o relato desse evento na Bíblia:  
Chegando Jesus à região de Cesareia de Filipe, perguntou aos seus discípulos: "Quem os homens dizem que o Filho do homem é?" Eles responderam: "Alguns dizem que é João Batista, outros, Elias, e ainda outros, Jeremias ou um dos profetas". "E Quem vocês dizem que eu sou?" Simão Pedro respondeu: "Tu és o Cristo, o Filho do Deus vivo". Respondeu Jesus: "Feliz é você, Simão, filho de Jonas! Porque isto não lhe foi revelado por carne ou sangue, mas por meu Pai que está nos céus." Mateus 16, versículos 13 a 17
Essa é uma das razões pelas quais Pedro é tido por muitos cristãos (como os católicos) como o mais importante dos seguidores de Jesus. Mas terá sido Pedro a primeira pessoa a ter essa revelação e anunciá-la? Acredito que não. É o que vou tentar mostrar a seguir.
É evidente que a primeira pessoa a saber que Jesus seria muito especial foi Maria, sua mãe: 
Mas o anjo lhe disse: "Não tenha medo, Maria. Você foi agraciada por Deus! Você ficará grávida e dará à luz um filho e lhe porá o nome de Jesus. Ele será grande e será chamado Filho do Altíssimo. O Senhor Deus lhe dará o trono de seu pai Davi e ele reinará para sempre sobre o povo de Jacó. Seu Reino jamais terá fim". Lucas capítulo 1, versículos 30 a 33
Maria guardou essas informações para si mesma (Lucas capítulo 2, versículo 19), ou seja, ela sabia mas não anunciou, como Pedro fez, até porque, se tivesse feito isso, precisaria confessar que Jesus não era filho de José.

Outros candidatos fortes a terem sido os primeiros a reconhecer Jesus como o Messias são os três reis magos, que o visitaram logo após seu nascimento para presenteá-lo com ouro incenso e mirra. Veja o que a Bíblia fala a respeito:
Depois que Jesus nasceu em Belém da Judeia, nos dias do rei Herodes, magos vindos do Oriente chegaram a Jerusalém e perguntaram: "Onde está o recém-nascido rei dos judeus? Vimos a sua estrela no Oriente e viemos adorá-lo". Mateus capítulo 2, versículos 1 e 2
Na verdade, os reis magos sabiam que Jesus era rei e divino, daí o terem adorado. Mas nada indica que sabiam sobre o papel de Jesus como Messias. Afinal, eles não eram judeus e provavelmente não conheciam as profecias e ensinamentos a respeito do Messias existentes na Bíblia Hebraica (o Velho Testamento). 
Existe uma outra possibilidade para a identidade dessa pessoa: 
Havia em Jerusalém um homem chamado Simeão, justo e piedoso, e que esperava a consolação de Israel. E o Espírito Santo estava sobre ele. Fora-lhe revelado que ele não morreria antes de ver o Cristo do Senhor. Movido pelo Espírito, ele foi ao Templo [de Jerusalém]. Quando os pais trouxeram o menino Jesus para lhe fazer conforme requeria o costume da lei, Simeão o tomou nos braços e louvou a Deus, dizendo: "Ó Soberano, como prometeste, agora podes despedir em paz o teu servo. Pois os meus olhos já viram a tua salvação, que preparaste à vista de todos os povos: luz para revelação aos gentios e para a glória de Israel, teu povo". O pai e a mãe do menino estavam admirados com o que fora dito a respeito dele. Lucas capítulo 2, versículos 25 a 33
Com efeito, Simeão foi o primeiro a anunciar ao mundo, quem seria o Cristo e fez isso quando Jesus era ainda bebê. Logo depois, uma mulher fez o mesmo:
Estava ali a profetisa Ana, filha de Fanuel, da tribo de Aser. Era muito idosa: havia vivido com seu marido sete anos depois de se casar e então permanecera viúva até a idade de oitenta e quatro anos. Nunca deixava o templo: adorava a Deus, jejuando e orando dia e noite. Tendo chegado ali naquele exato momento, deu graças a Deus e falava a respeito do menino a todos os que esperavam a redenção de Jerusalém. Lucas capítulo 2, versículos 36 a 38
A profetisa Ana, portanto, foi a segunda pessoa a ter a honra de anunciar Jesus como o Messias, pouco tempo depois de Simeão fazer isso.
Teria sido Pedro, então, a primeira pessoa a reconhecer e anunciar Jesus já adulto como o Messias? Também não. Outra pessoa, João Batista, teve esse privilégio: 
Então Jesus veio da Galileia ao Jordão para ser batizado por João. Ele, porém, tentou impedi-lo, dizendo: "Eu preciso ser batizado por ti, e tu vens a mim?" Respondeu Jesus: "Deixe assim por enquanto; convém que assim façamos, para cumprir toda a justiça". E João concordou. Mateus capítulo 3, versículos 13 a 15
Concluindo, Maria foi a primeira pessoa a saber quem Jesus viria a ser. Mas ela nada disse, até porque estava impedida de fazer isso. A primeira pessoa a reconhecer Jesus publicamente como o Messias foi Simeão, seguida de perto pela profetisa Ana.

O primeiro a reconhecer Jesus, já adulto, como o Messias, foi João Batista. Pedro foi o primeiro a fazer isso entre os discípulos e apóstolos, o que não deixa também de ter mérito.

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Com carinho