quinta-feira, 29 de outubro de 2015

PROVANDO A EXISTÊNCIA DE UM DEUS CRIADOR

Imagine que você foi convocado para ser jurado num julgamento criminal que irá definir se é possível condenar alguém por um crime. Você sabe que precisará analisar as provas juntadas pela acusação e ver se elas são convincentes - se forem, você votará pela condenação, caso contrário irá absolver o acusado. 

Agora, imagine que esse julgamento objetive definir se há provas suficientes para estabelecer que alguém criou o universo e tudo que nele há. Ou seja, trata-se de dar um veredito para definir se foi Deus mesmo o responsável pela criação do Universo, incluindo a vida.

Os ateus insistem que não há provas disso - basta ler os livros de Richard Dawkins, o mais famoso dentre eles, para ser bombardeado com uma série de declarações estabelecendo que acreditar em Deus é bobagem pura e simples.

Infelizmente muitos cristãos, por falta de conhecimento, acabam aceitando a tese de que não é possível provar a existência de Deus. Na verdade, aceitar essa premissa é fazer o jogo dos ateus, pois não é verdade que a existência de Deus não possa ser provada.

A existência de Deus pode ser sim estabelecida, desde que mantenhamos as expectativas corretas de como isso pode ser feito. É claro que não podemos esperar ter testemunhas oculares da criação do universo ou da vida - não será possível buscar isso. É preciso tomar outro caminho. Mas isso não significa que se trata de tarefa impossível.

Provas diretas ou circunstanciais? 
Vou começar, lembrando que existem dois tipos de provas que podem ser usadas num julgamento criminal: diretas e circunstanciais. O primeiro tipo é composto pelas evidencias que atestam diretamente o que aconteceu. Por exemplo, um testemunho ocular confiável sobre quem cometeu o crime, o DNA do suspeito no corpo da vítima, etc. 

É claro que nem sempre é possível ter esse tipo de prova por isso os promotores recorrem a outro tipo: provas circunstanciais. Trata-se daquela prova através da qual se infere a autoria do crime, por ser a explicação mais viável para a situação. 

Agora, provas circunstanciais só funcionam bem de forma cumulativa - quantas mais delas forem acumuladas, mais forte fica o caso contra o acusado. 

Uma única prova direta - por exemplo, o DNA no corpo da vítima - pode ser suficiente para provar que determinada pessoa é culpada. Mas serão necessárias muitas provas circunstanciais para construir um argumento forte para condenar alguém. 

Por exemplo, vamos imaginar que haja uma testemunha de do crime que consiga apenas dar uma descrição aproximada do assassino - por exemplo, alto, moreno, forte e com cabelo curto. Assim, se um suspeito não bater com tal descrição, já se sabe que essa pessoa é inocente. Mas se o suspeito for parecido com a descrição da testemunha, isso não provará definitivamente sua culpa, mas somará alguns pontos nesse sentido.

Álibi é outra prova circunstancial: se a pessoa tem álibi adequado, fica claro que é inocente. Se não tem um bom álibi, isso não prova que é culpada, mas tal lacuna soma mais pontos na direção da culpabilidade.

Vamos imaginar ainda que o suspeito tem um carro igual ao que foi visto no local do crime.  Trata-se de mais um ponto a favor da culpabilidade. Digamos também que se conhece outro detalhe importante: o criminoso calçava botas de couro verde. E vamos imaginar que uma busca na casa do suspeito encontre botas desse tipo. Essa prova soma mais pontos em direção à culpabilidade. 

Juntando tudo: o suspeito não tem álibi, sua descrição bate com a do assassino, dirige um carro igual ao visto no local e tem botas iguais às percebidas nos pés do assassino. Aí as coisas começam a ficar complicadas para o suspeito. Mais algumas provas circunstanciais desse tipo e os(as) jurados(as) terão condições de condenar o acusado sem medo de cometer uma injustiça.

Provas circunstancias, portanto, funcionam por acumulação - nenhuma prova sozinha consegue provar a culpa do acusado, mas o conjunto delas apontando numa mesma direção pode sim comprovar a autoria do crime e levar à condenação. E esse tipo de abordagem é amplamente usado no julgamento de crimes.

E é assim que a existência de um deus criador pode ser provada. Ninguém estava presente quando o universo foi criado ou quando a vida começou a existir, portanto, não há provas diretas da existência de Deus. Precisamos recorrer a provas circunstanciais.

As provas de que Deus criou o mundo
Será que há provas circunstanciais suficientes para provar que Deus criou o mundo? Sim e as provas são bem convincentes.

Num debate ocorrido na Universidade Purdue, nos Estados Unidos, cerca de dois anos atrás, o filósofo William Craig Lane apresentou 8 diferentes provas circunstanciais fortes de que Deus criou o universo e a vida. Não é pouca coisa.

Não tenho espaço aqui para discutir todas elas, assim vou me restringir a três, para dar uma ideia para você de como esse argumento pode ser construído:
  • O universo teve início (não é eterno) - esse é um fato comprovado pela ciência, com base na descoberta do Big Bang. Ora, o universo não pode ter surgido do nada, pois isso não é possível, nem lógico. Foi preciso haver uma força incomensurável para conseguir fazer isso. Os ateus não tem uma explicação para o surgimento do universo, mas nós temos: essa força é Deus (veja mais).
  • O funcionamento do universo é corretamente descrito através de equações matemáticas - por exemplo, o Boson de Higgs (a partícula de Deus), observado poucos anos atrás (veja mais), foi prevista muito tempo antes por um físico com base em fórmulas matemáticas por ele desenvolvidas. Ora, não seria razoável imaginar que um universo formado por mero acaso - como postulam os ateus - possa ter esse tipo de organização. Foi necessária uma mente muito sofisticada para estruturar tal organização. E que mente pode ter sido essa? Os cristãos têm a resposta: Deus.
  • A existência do código genético como o mapa para a vida - o DNA é formado por enorme quantidade de informações organizadas de maneira impecável. Depois que os cientistas conseguiram decifrar esse código, passaram a poder modificar organismos de todos os tipos. Os ateus creditam a formação do DNA ao simples acaso (com base na teoria da evolução descrita por Darwin). Mas informação nunca é organizada por acaso - é preciso sempre ter uma mente inteligente por trás. E no caso do DNA, foi necessária uma mente extremamente sofisticada. E a explicação cristã para isso é Deus. 
Acho que já deu para você perceber que essas são provas circunstanciais fortes e cumulativamente apontam para Deus. É muito pouco razoável imaginar que o início do universo (via Big Bang), a existência do DNA regendo a vida e a organização "matemática" do universo possam ter ocorrido por simples acaso. A probabilidade disso tudo ter acontecido sem planejamento é simplesmente desprezível.

E a essas provas se juntam diversas outras, por exemplo a formação da consciência humana (que não pode ter vindo de compostos químicos, como querem os ateus) ou a organização do universo para permitir o desenvolvimento da vida na terra (o chamado princípio antrópico) (veja mais). Assim, é praticamente impossível deixar de reconhecer que há provas suficientes para apontar para um deus criador. 

Com carinho 

terça-feira, 27 de outubro de 2015

A BENÇÃO ESQUECIDA

Por favor, leia este mesmo post no meu novo site http://www.sercristao.org/2015/10/27/a-bencao-esquecida/ . 

Há uma importante promessa feita pelo próprio Jesus que é esquecida por boa parte dos(as) cristãos(ãs) - acredito que muitos(as) nem mesmo sabem que ela existe.

Essa promessa foi feita no contexto de uma troca de mensagens entre Jesus e João Batista - esse último foi um profeta de enorme importância pois veio ao mundo com a missão de preparar o caminho para a chegada do próprio Jesus.

Mas estando preso, aguardando sua execução (foi decapitado), João Batista duvidou que Jesus fosse mesmo o Messias - e é perfeitamente compreensível que tivesse fraquejado naquela situação terrível. João então mandou alguns emissários perguntarem a Jesus se Ele era mesmo o Messias tão esperado. E Jesus respondeu afirmativamente, citando seu ministério de cura e libertação como testemunho da sua missão (Mateus capítulo 11, versículos 2 a 5).

Agora, no final da sua resposta, Jesus disse algo surpreendente (versículo 6): “E bem-aventurado é aquele que não encontra em mim pedra de tropeço” - outras traduções dizem ”abençoado aquele que não é escandalizado por mim.”

Em outras palavras, prometeu uma benção para quem não vir n´Ele uma pedra de tropeço e também não se sentir escandalizado pelo seu Evangelho. E qual foi a benção prometida aqui?

A resposta está no mesmo texto, um pouco à frente (João capítulo 12, versículos 44 a 50). E acredito nenhuma promessa feita por Jesus é mais importante: Ele prometeu servir de advogado de defesa, diante de Deus, para quem cumprir essas condições, por ocasião do julgamento final.

Vou repetir: aquele(a) que não se sentir ofendido(a) pelo Evangelho e nem vier a atrapalhar sua difusão ("servir de pedra de tropeço"), contará com Jesus como seu advogado, o que certamente lhe abrirá as portas para a vida eterna. 

Mas ainda falta esclarecer o que seja "não se escandalizar" com o Evangelho e "não servir de pedra de tropeço" para sua difusão. A primeira condição significa não se deixar envergonhar com a declaração que Jesus é o Salvador da humanidade e muito menos sentir-se incomodado(a) em falar sobre isso. 

Ora, essa condição é equivalente ao mandamento que Jesus deu pedindo que todo(a) cristão(ã) anunciasse o Evangelho (Mateus capítulo 28, versículos 18 a 20). Infelizmente, há cristãos(ãs) que se sentem constrangidos(as) em fazer isso, pois não querem ser vistos(as) como carolas, quadrados(as), chatos(as), intransigentes, etc. 

Bem lá no fundo, essas pessoas se envergonham do Evangelho - essa é a verdade. Calam-se por conveniência. O pior é que normalmente não assumem o que fazem, escondendo-se atrás de desculpas esfarrapadas, como "não ter encontrado o momento adequado para falar" ou “não saber o que dizer”. Para quem age assim, o momento adequado nunca chega e nunca há tempo suficiente para aprender o que se deve dizer.

Há também quem deixe de seguir o caminho certo por achar que o Evangelho exige demais. A pessoa sabe que para seguir Jesus vai ter que mudar de vida - deixar hábitos e práticas de comportamento erradas. Vai ter que aprender a perdoar. Passar a olhar o próximo de forma amorosa. E assim por diante. E isso não é fácil.

Certa vez, conversei com um amigo que se dizia ateu e tentei lhe mostrar a importância do Evangelho. Depois de longa conversa, ele me disse que eu quase o tinha convencido mas que tinha muito tempo para pensar, para decidir mudar de vida. Essa conversa faz mais de 30 anos e o meu amigo ainda não se decidiu.

Recusar-se a mudar a própria vida é mais um exemplo de como a pessoa pode se escandalizar com o Evangelho. E há muitos outras possibilidades que poderia citar, mas acho que já deu para você entender do que Jesus estava falando.

A segunda condição para se apossar da promessa de Jesus é não servir de "pedra de tropeço" - trata-se de não atrapalhar a difusão do Evangelho. E há várias formas de alguém atrapalhar. Uma delas talvez surpreenda você: trata-se de não ter compromisso com a obra, isto é assumir responsabilidades de fazer coisas para ela e não cumprir com o prometido, deixando uma lacuna.  

Outra forma de se tornar "pedra de tropeço" é "adocicar" a mensagem do Evangelho para torná-la mais palatável para as pessoas. A verdade é que essa mensagem incomoda, e muito. O próprio Jesus advertiu seus discípulos para essa questão. 

É por isso que hoje em dia muitos pastores(as) pregam um Evangelho politicamente correto, que é parece mais conveniente - exemplos disso são nunca falar sobre pecado e defender que Jesus é "bonzinho" e por isso não irá mandar ninguém para o inferno (todos serão salvos).

Ora, quem faz isso está tropeçando - modificando o Evangelho -, erro muito sério. E fazendo as outras pessoas tropeçarem junto por deixarem de ensinar o que precisa ser dito. 

Com carinho

domingo, 25 de outubro de 2015

A PAZ DE JESUS

[Disse Jesus:] Deixo-vos a paz; a minha paz vos dou. Não vo-la dou como o mundo a dá. Não permitais que vosso coração se preocupe, nem vos deixeis amedrontar. João capítulo 14 versículo 27

No texto acima Jesus usou a palavra hebraica "shalom" que foi traduzida como "paz", mas essa palavra significa muito mais do que isso. Significa também harmonia, completude, bem estar e segurança. Refere-se a um processo, um movimento em direção a algo bom que faz o ser humano sentir-se bem, completo. 

Esse conceito amplo de "shalom" também é usado para caracterizar os resultados esperados da missão do Messias (Jesus) aqui na terra. Dai lhe ser atribuído o título de "Príncipe da Paz" (Isaías capítulo 9, versículo 6 e Miqueias capítulo 5, versículos 4 e 5).

Assim, a declaração que Jesus fez no texto citado acima tem grande importância. Sem dúvida essa mensagem foi bem entendida com clareza pelos discípulos, que conheciam bem a importância da palavra "shalom". 

Jesus falou muitas coisas importantes nessas poucas palavras. Começo notando que Ele falou da "sua paz", ou seja colocou-se claramente na posição de Deus, pois somente Ele pode trazer "shalom" completa. Somente Deus tem poder para isso.

Depois, Jesus explicou que a paz d´Ele é diferente da paz humana. A paz que vem dos seres humanos é apenas a ausência de guerra - uma trégua entre um conflito e outro. 

Na verdade, a mundo nunca teve paz completa, pois mesmo quando não há guerras maiores, aquelas entre grandes potências, sempre há conflitos regionais onde essas mesmas potências se enfrentam em busca de conquistas estratégicas - é isso que temos hoje no Afeganistão, Iraque, Síria, Palestina e outros mais.

Não podemos esquecer também as guerras econômicas, onde os países mais fortes subjugam os mais fracos através de controles financeiros, batalhas comerciais, etc. Somos também envolvidos em guerras políticos - o Brasil vive um momento onde os ânimos estão muito exaltados, com divisões profundas entre aqueles(as) que defendem ou são contra o atual governo. E assim por diante.

Em resumo, o mundo nunca tem paz de fato, apenas momentos maiores ou menores de trégua, de ausência de hostilidade aberta. Mas a paz de Deus, conforme Jesus disse,  é diferente: faz-se presente até mesmo em meio aos conflitos. 

Isso porque a paz de Deus está dentro das pessoas. Reside no seu interior. Tem a ver com suas crenças e valores pessoais e isso não é afetado pelas circunstâncias que vivem. Por exemplo, se elas têm fé (confiança) em Deus, acreditam que Ele cuida e vela por suas vidas, não vão se amedrontar nos momentos difíceis. Não vão desanimar nos momentos de dificuldade.

A paz de Deus não é dada da mesma forma como o mundo gera sua paz. A sociedade chega à paz conseguindo reunir as circunstâncias adequadas - por exemplo, a harmonização dos interesses básicos das potências. 

Trata-se de uma construção externa, de conseguir lidar adequadamente com as circunstâncias. Já a paz de Deus vem através da transformação interior das pessoas. Através da mudança da sua forma de ser e se comportar. Portanto, não depende das circunstâncias. A paz de Deus se faz presente apesar das circunstâncias. Foi isso que Jesus quis ensinar na declaração citada acima.

E Ele falou isso num momento em que preparava seus discípulos para o que haveria de vir - sua crucificação e um período de grande instabilidade política. Jesus estava lhes pedindo para não ficarem amedrontados com seu sofrimento e morte. Para não se deixar impressionar. Para aceitar sua paz e se sentir tranquilos, seguros e motivados para seguir em frente.

Acho que você não tem dúvida que precisa dessa paz na sua vida, assim como eu. Somente ela pode nos fazer viver de forma plena. E aí cabe uma pergunta: como alcançar essa paz?

O texto de João deu a resposta no versículo 26, imediatamente anterior àquele onde Jesus falou sobre a paz: Ele disse que isso é papel do Espírito Santo. Quando Ele se faz presente, a pessoa consegue mudar sua forma de ser, a ponto de conquistar e manter dentro de si a paz que só Jesus pode dar.

Com carinho

segunda-feira, 19 de outubro de 2015

QUANDO A PROGRAMAÇÃO DE TELEVISÃO TEM MÁ QUALIDADE...

Recentemente ocorreu um fato interessante com a TV Globo, a mais poderosa rede de televisão em nosso país. Uma novela das nove - Babilônia - foi rejeitada pelo público porque seu enredo era absolutamente imoral. 

Ora, programas de má qualidade são comuns no meio televisivo. São comuns programas que de alguma forma ensinam as pessoas o que há de pior - uso de drogas, promiscuidade, traições de todo tipo, desonestidade, etc. E normalmente os personagens que deveriam apresentar algum princípio moral, como as pessoas religiosas, são retratadas como hipócritas ou como chatas e intolerantes. 

Tudo isso é bastante comum. Agora, o que aconteceu com a TV Globo não foi. As pessoas rejeitaram a novela Babilônia e reagiram mudando de canal, indo atrás de outro programa. A alternativa encontrada foi a novela Dez Mandamentos da Rede Record, baseada numa história bíblica. 

Essa outra novela, mesmo tendo qualidade artística inferior, acabou por ganhar enorme audiência. E a Globo teve que mudar o enredo da novela Babilônia, para torná-la mais ao gosto do seu público, e como não teve sucesso, encurtou a duração da novela, tendo enorme prejuízo.

Esse fato comprovou uma coisa muito importante: quem tem poder de fato é o público. É ele quem manda de fato na programação das redes de televisão - afinal, sem audiência, não há anunciantes, e sem anunciantes, falta dinheiro para financiar a programação. Simples assim.

Essa experiência mostra que o público pode e deve demonstrar sua insatisfação com a má qualidade da programação de forma simples e efetiva, mudando de canal. E isso é muito mais efetivo do que a outra alternativa que costuma ser aventada para melhorar a qualidade das programações da televisão, isto é o controle através da censura. Muitas pessoas pensam que programas ruins deveriam ser simplesmente proibidos de aparecer ou serem relegados para horários muito tardios (de madrugada).

O problema com estabelecer censura é que é preciso dar poderes ao governo ou a outra organização qualquer para escolher o que pode ou não ser veiculado. E isso gera mais problemas do que aqueles que evita: incentiva a burocracia governamental, dá poder excessivo aos(às) censores(as), cria um mercado ilegal para os programas proibidos, etc. 

Censura não é a solução. Mudar de canal é a resposta para quem luta por programações de melhor qualidade, que não sejam fontes de informação e incentivo à prática de um monte de coisas imorais que contrariam a vontade de Deus. 

Retirar a audiência dos programas ruins acaba por matá-los, cortando o oxigênio que os alimenta e os mantem vivos. E as igrejas cristãs podem ter um papel importante nesse processo, inclusive liderando boicotes contra programas especialmente ruins, como aconteceu com a novela Babilônia. 

As igrejas podem e devem dar alertas contra programas ruins, esclarecendo as pessoas quanto aos erros morais neles difundidos. Podem também indicar programas alternativos que sejam agradáveis e tenham melhor qualidade. 

Agora, essas ações não devem nunca envolver proibições ou ameaças contras as pessoas - por exemplo, dizer que quem vier a assistir tal ou qual programa vai desagradar a Deus e/ou acabar indo para o inferno, como já vi algumas igrejas fazerem. Isso seria corrigir um erro fazendo outro maior ainda. 

Eu defendo aqui um processo de esclarecimento das pessoas para que aprendam a fazer as escolhas certas, sem deixar de exercer seu direito à escolha. É isso que a Bíblia nos orienta a fazer.

Com carinho 

terça-feira, 13 de outubro de 2015

PERDÃO NÃO É RECONCILIAÇÃO

Perdão é um tema que sempre gera dúvidas e ansiedades. Por um lado, trata-se de ordenança - é coisa tão séria que o perdão de Deus vem na mesma medida em que a pessoa conseguir perdoar seu próximo, como está na oração do Pai Nosso: "...e perdoa-nos as nossas dívidas assim como temos perdoado aos nossos devedores..." (Mateus capítulo 6, versículo 12).

Mas não vou discutir aqui sobre a necessidade de  perdoar - já fiz isso em outro post que você pode consultar (aqui). A discussão hoje é sobre reconciliação, como consequência do perdão. 

E começo definindo reconciliação: é a recomposição do relacionamento, trazendo-o de volta às bases anteriores, isto é voltar ao que era antes apesar do acontecido.  Agora, será que também há mandamento para haver reconciliação com quem ofendeu e/ou fez mal, como o que existe mandando perdoar

Por exemplo, uma mulher que foi agredida pelo marido é obrigada a voltar a viver com ele como se nada tivesse acontecido? Ou ainda, um pai que foi roubado pelo filho dependente de drogas deve continuar a mantê-lo dentro da sua casa? Em outras palavras, o cristão(ã) é obrigado(a) a retomar o relacionamento nas mesmas bases anteriores, mesmo correndo o risco de passar pelos mesmos problemas? 

Perdão é diferente de reconciliação
Essa questão gera muita insegurança e pode ter certeza que a confusão entre perdão e reconciliação é uma das principais razões para a dificuldade das pessoas em perdoar. Muitas acham que, se perdoarem, serão também obrigadas a se reconciliar e não desejam isso de forma nenhuma.

Repito o que disse antes: perdão e reconciliação são coisas diferentes e o primeiro não implica obrigatoriamente no segundo. Deve haver perdão - há um mandamento para isso - mas a reconciliação não é uma obrigação. Simples assim. 

E a Bíblia está cheia de situações em que houve perdão mas não reconciliação. Por exemplo, quando estava morrendo, Jesus pediu a Deus que perdoasse seus algozes porque não sabiam o que faziam (Lucas capítulo 23, versículo 34). Ele perdoou mas não fez qualquer tentativa de se reconciliar com os soldados romanos que o martirizavam.

A grande diferença que existe entre perdão e reconciliação é que o primeiro deve ser unilateral. Isto é, a pessoa deve perdoar sem levar em conta o que pensa seu(ua) ofensor(a). Pode até ser que quem ofendeu não tenha se arrependido do que fez, mas ainda assim o perdão precisa acontecer. Até porque o perdão beneficia quem perdoa pois dos ombros dessa pessoa uma carga de rancor e amargura que pode acabar por corroê-la por dentro.

Mas a reconciliação depende em muito do que faz e pensa aquela pessoa que ofendeu ou causou mal. Trata-se de um processo bilateral

As condições para reconciliação
Para que haja reconciliação, é preciso que quem ofendeu se arrependa sinceramente, reconheça o mal que causou e peça perdão. Sem isso, não há qualquer chance de recuperar o estrago feito.

Mas mesmo isso não pode não ser suficiente. A viabilidade da reconciliação depende também da natureza do estrago gerado pois, em muitas casos, deixa de ser possível voltar à situação anterior. 

Imagine uma mulher que, num ataque de ciúmes, mata um filho do primeiro casamento do homem que ama. O pai enlutado pode até perdoar, mas não será possível recompor sua relação com a assassina. A reconciliação nesse caso é impossível.

Uma mulher que tenha sido agredida pelo marido a ponto de guardar marcas físicas e emocionais permanentes, não vai ter como se reconciliar com seu agressor. Simplesmente não conseguirá mais confiar nele e viver de forma despreocupada em sua companhia. Um homem que passou pela traição da mulher que ama talvez não consiga mais retomar seu casamento. E assim por diante.

Lembro que não há na Bíblia qualquer mandamento em relação à reconciliação e nem poderia haver, considerando que isso pode não ser viável, conforme os exemplos que acabei de dar demonstram. É claro que quando possível, é preciso tentar promover a reconciliação, pois preservar relacionamentos é importante. Mas há fatores que podem impedir que a reconciliação ocorra. 

Concluindo, não hesite em perdoar - trata-se de mandamento de Deus. E essa é uma atitude boa para sua saúde espiritual e emocional. Agora, não deixe de perdoar por receio de ter obrigação de se reconciliar - uma coisa não obriga a outra. Você não é obrigado a retomar um relacionamento de amor ou de amizade que seja falido, doente e prejudicial para sua vida. Deus não pede isso de você.

Com carinho

domingo, 11 de outubro de 2015

UM DESAFIO PARA OS CRISTÃOS

Os mandamentos de Deus podem vir sob duas formas: negativos, isto é dizem o que não pode ser feito ("não matarás", "não dirás falso testemunho", etc) e os positivos, isto é dizem o que precisa ser feito ("honrarás pai e mãe", "amarás teu Deus sobre todas as coisas", etc).

Há um consenso geral que é muito mais fácil cumprir os mandamentos negativos pois o próprio texto já especifica o que não pode ser feito. Assim, se você nunca matou uma pessoa pode ficar tranquilo(a) de ter cumprido o mandamento "não matarás". 

Já o mandamento positivo é bem mais complexo pois sempre há dúvidas quanto ao que precisa ser feito e/ou se já foi feito o bastante. Por exemplo, como você cumpre na prática o mandamento para "amar Deus acima de todas as coisas"? Ser´q eu Deus deve vir à frente até mesmo da sua família? E caso a resposta seja positiva, será suficiente colocar Deus à frente da sua família, para cumprir o mandamento, ou há algo mais?

E essas dúvidas, na prática, não acabam nunca. É como nos esportes: quando um recorde é quebrado, todos(as) passam a correr atrás de um recorde mais difícil e desafiador. Em outras palavras, mesmo que você passe a dar mais prioridade a Deus, o simples ato de se dedicar mais a Ele vai abrir novas possibilidades de colaboração na sua obra, novos chamados, novos ministérios.

Agora, acho que é fácil mostrar que Deus prefere os mandamentos positivos. E é até possível notar uma evolução dos mandamentos na Bíblia de negativos para positivos. Por exemplo, oito dentre os conhecidos "Dez Mandamentos" são do tipo negativo (as exceções são "guardar o sábado" e "honrar pai e mãe"). Enquanto isso, Jesus praticamente só estabeleceu mandamentos positivos, como "amar a Deus", "amar ao próximo a como ti mesmo" e "perdoar para ser perdoado".

E deve haver uma razão forte para Deus preferir os mandamentos positivos e acho ser possível compreender suas razões. Mas antes, passe a olhar para os mandamentos negativos como o estabelecimento de "mínimos" - se você não fizer determinadas coisas proibidas, os mandamentos foram cumpridos. Já os mandamentos positivos são como "máximos" que nunca podem ser alcançados - sempre haverá mais a fazer. Sempre será possível fazer melhor.

Ora, quando a vida humana é pautada por "mínimos", ela não tem desafios e não floresce. Pense como seria sua vida, se você se limitasse a amar o mínimo possível sua própria família? Ou somente procurasse ganhar o mínimo de dinheiro que fosse necessário para sobreviver? Qual seria o desafio? Qual a motivação para crescer? 

A perseguição do "mínimo" torna a vida sem cor, não requer criatividade e não gera crescimento pessoal. O que desafia as pessoas é correr atrás de "máximos" - maior crescimento profissional possível, amar mais e melhor e assim por diante.

Por isso Deus espera que as pessoas venham a abraçar mandamentos positivos: geram maior crescimento pessoal e espiritual.

E a recompensa atrelada aos mandamentos positivos também aumenta na mesma proporção. Afinal, quanto mais você der de si mesmo, mais vai receber das outras pessoas e de Deus. Não estou me referindo a uma troca. Prefiro a figura de uma dança: quando passo a dançar com maior liberdade e criatividade, minha parceira de dança também pode se soltar e mostrar melhor suas habilidades.

Caso você se aproxime mais das pessoas, construirá melhores relacionamentos - mais íntimos, ricos e gratificante. Em consequência, você passará a ser mais importante para as pessoas e elas para você. 

Caso você se aproxime mais de Deus, estará mais perto da "luz" que d´Ele emana e seu caminho na vida ficará mais claro - você passará a ver coisas que antes não percebia. E saberá melhor como usar o poder do Espírito Santo. Será como disse o apóstolo Paulo: "agora não sou mais eu que vivo, mas Ele que vive em mim".

Com carinho

segunda-feira, 5 de outubro de 2015

JESUS E O JUDAISMO

Jesus foi um homem judeu que viveu dentro da cultura e das circunstâncias (políticas, sociais e econômicas) relacionadas com seu povo e sua época. Mas ao longo da história dos estudos bíblicos, esse fato foi frequentemente esquecido, talvez porque muitas pessoas se sentiam desconfortáveis com essa realidade. Na verdade, somente nos últimos 40 anos esse panorama mudou e o judaísmo de Jesus passou a ser um fator importante nos estudos bíblicos.

Ora, não há dúvida que nenhum(a) homem(mulher) pode ser entendido(a) verdadeiramente sem levar em conta as circunstâncias em que viveu. O conhecido filósofo Ortega Gasset estava pensando exatamente nisso quando cunhou a célebre frase: "eu sou eu, e a minhas circunstâncias". 

As atitudes que uma determinada pessoa toma ao longo da sua vida, as escolhas que fez, as prioridades que elegeu e os resultados que obteve, tudo isso dependeu, em boa parte, de circunstâncias fora do seu controle. E não foi diferente com Jesus.

Começo lembrando que Jesus veio ao mundo como homem e aí já está sua primeira circunstância. E sendo homem, havia coisas que Ele podia ou devia fazer, na sociedade em que viveu, e outras que não podia ou devia fazer. Por exemplo, só os homens trabalhavam fora e por isso eles eram os responsáveis pelo sustento das suas famílias. E o filho mais velho devia assumir essa responsabilidade em lugar do seu pai, quando esse último morria. E foi exatamente isso que aconteceu com Jesus, quando José morreu.

Jesus cresceu num ambiente semi-rural, filho de um artesão/operário da construção civil. Assim, todas as suas experiências de vida se desenvolveram nesse ambiente. E foi ali que fez amigos e discípulos. Não é por acaso, portanto, que quase todas as suas parábolas têm como cenário a vida rural (p. ex. o semeador ou o dono da vinha) ou a vida simples dos vilarejos da Galileia (p. ex. a pesca no mar da Galileia ou a dona de casa cuidando das suas tarefas). 

Sua vida, assim como a de todo judeu, foi pautada pelas festas religiosas - Páscoa, Yom Kippur, Tendas, etc - que muitas vezes o levaram em peregrinação até Jerusalém. E essa cidade era o centro da vida religiosa de todos, por causa do Templo. Não foi por acaso que Jesus foi crucificado em Jerusalém. E ali teve os debates teológicos mais acalorados, justamente com a elite religiosa da época.

Jesus precisou submeter-se à dominação romana, assim como todos os demais judeus. E não por acaso, esse tema foi uma constante nos debates que manteve, como quando foi perguntado se o judeu devia pagar impostos ao Império romano.

Os exemplos são intermináveis, mas acho que já ficou claro que Jesus somente pode ser entendido de fato em relação à sua realidade judaica. Sendo assim, é preciso dedicar tempo para conhecer o meio ambiente onde Ele viveu e operou. 

Não estou dizendo que alguém irá perder sua salvação se não dominar esses conceitos - afinal, para se converter, isso  não é necessário. Estou afirmando que esse conhecimento é necessário para crescer no entendimento dos seus ensinamentos e para poder aplicá-los corretamente no dia-a-dia. 

Vou dar abaixo dois exemplos mais detalhados de situações onde as circunstâncias da vida na sociedade judaica dão um significado aos fatos totalmente diferente do que uma leitura superficial do texto bíblico daria a entender. 

A unção de Jesus
O primeiro exemplo se refere à ocasião em que Jesus, já no final da sua vida, teve seu corpo ungido por uma mulher chamada Maria (provavelmente a irmã de Lázaro e Marta). Veja os relatos da Bíblia:
"Então Maria, tomando uma libra de bálsamo de nardo puro, mui precioso, ungiu [a cabeça e] os pés de Jesus."                                                              João capítulo 12, versículos 1 a 8
 "...derramando este perfume sobre o meu corpo, ela o fez para meu sepultamento."                          Mateus capítulo 26 versículos 6 a 13 
Maria gastou uma parte importante do seu dote - um vidro de perfume absurdamente caro - para demonstrar seu amor por Jesus e, de forma profética, preparou seu corpo para os eventos que estavam por vir (sua morte).

O que passa despercebido numa leitura superficial do texto é que a palavra "Messias" em hebraico quer dizer "Ungido", portanto, um ato como aquele significou que Maria estava publicamente apontando Jesus como o Enviado de Deus.

O conceito de "unção" era muito importante em Israel: por exemplo, os reis não eram coroados mas ungidos. Nesse ato era derramado sobre o homem escolhido certa quantidade de óleo consagrado (azeite de oliva misturado com ervas aromáticas extremamente caras). Tal óleo deixava a pessoa com um perfume maravilhoso, o cheiro de um rei. E naquela época, os reis se diferenciavam das pessoas comuns tanto pelas suas roupas como pelo seu cheiro (p. ex. Salmo 45, versículos 7 e 8; Cantares capítulo 3, versículos 6 e 7). 

Quando Jesus foi ungido por Maria, passou a levar consigo o cheiro que o identificava como Messias e Rei. E essa "marca" esteve presente até seu sacrifício final. 

A conversa com a mulher samaritana
Certo dia, quando de viagem da Galileia (norte) para a Judeia (sul), Jesus passou pela Samaria. Aproximando-se de um poço, pediu água para uma mulher que ali estava. Conversou com ela e a converteu. E ela saiu dali anunciando o Evangelho para todos na sua cidade e converteu a alguns (João capítulo 4, versículos 39 a 42).

Foi uma ação simples - conversa com uma mulher -, sem maior significado aparente. Mas quando os acontecimentos são vistos pela "lente" dos costumes judaicos, os fatos se tornam surpreendentes.

Começo por lembrar que homens judeus, especialmente sozinhos, nunca se dirigiam diretamente a mulheres desacompanhadas. Só por esse aspecto, a atitude de Jesus já seria motivo de espanto.

Mais ainda, como aquela mulher era considerada pecadora, pois tinha histórico de manter relacionamentos considerados ilícitos, mais inapropriado ainda seria dirigir-se a ela.  E não é possível argumentar que Jesus desconhecia a história daquela mulher, pois Ele fez referencia  seu passado durante o diálogo (João capítulo 4, versículos 17 e 18).

Finalmente, a mulher era samaritana. Ora, os judeus consideravam os samaritanos hereges e impuros (por terem sangue israelita misturado com gentios). Por conta disso, esses dois grupos nem se falavam (João capítulo 4, versículo 9). 

Assim, é absolutamente surpreendente que Jesus tenha falado com aquela mulher. Agora, é claro que Ele fez isso de forma deliberada: através da sua atitude, passou para nós a mensagem fundamental que a preocupação deve ser sempre com a salvação da pessoa e não com seu gênero, sua situação social, seu comportamento moral, etc. Não devem ser impostas barreiras para quem alguém entrar no Reino de Deus.

Concluindo, o judaísmo de Jesus é inseparável de sua mensagem - está presente em tudo que Ele fez e disse. Se você quer entendê-lo de fato, precisa levar isso sempre em conta. Simples assim.

Com carinho   

sábado, 3 de outubro de 2015

"NÓS", EM LUGAR DO "EU"

Vivemos numa sociedade caracterizada pela competição e pelo individualismo. Somos ensinados desde pequenos(as) a sermos competitivos, por exemplo, nos jogos esportivos, onde o bom é ganhar. Depois, a competição continua a ser incentivada: nos concursos (passam aqueles com melhores notas), na vida profissional (os melhores ganham mais) e no mundo empresarial (as melhores empresas sobrevivem enquanto as demais morrem).

Ora, competição e individualismo andam de braços dados. E o individualismo excessivo - a predominância sempre das necessidades e desejos pessoais ("o que eu quero", "o que eu mereço", etc) - só gera coisas ruins, como egoísmo e insensibilidade às necessidades das outras pessoas. Não é por acaso, portanto, que vivemos num mundo injusto e cruel, especialmente com as pessoas mais fracas.

Li nesses dias um artigo no jornal "New York Times" que discutiu os novos princípios de administração implantados, principalmente nos Estados Unidos, em empresas de informática de ponta. A tese ali é privilegiar ao máximo a eficiência e a competição - somente as melhores pessoas, ou seja aquelas que contribuem mais para o lucro, sobrevivem no emprego. As demais são demitidas sem dó nem piedade. As ferramentas usadas para conseguir fazer isso incluem monitoramento constante das pessoas, incentivo para que elas denunciem o que estiver errado (inclusive os(as) colegas de trabalho) e assim por diante - eu não desejaria trabalhar num lugar assim.

A ideia de uma sociedade individualista e competitiva é mais comum justamente nos países que dominam o cenário econômico e político mundial, como os da Europa Ocidental e América do Norte. Assim, acaba havendo incentivo para que todos sigam a mesma receita, especialmente aqueles que anseiam por melhorar seu padrão de vida.

Mas isso não é verdade: há outras formas de organizar a sociedade e desenvolver-se, como os exemplos de alguns poucos países, como os nórdicos, tem comprovado. É possível sim desenvolver-se e prosperar incentivando valores mais saudáveis, como a solidariedade, e promovendo a justiça social.

Recentemente, ouvi um relato que reflete exatamente sobre essas alternativas mais saudáveis: colocaram um grupo de crianças de uma tribo africana numa linha de largada e, distante delas, embaixo de uma árvore, um cesto com alguns poucos doces. E foi dito às crianças que ao sinal dado, elas deveriam correr até a árvore e as que chegassem primeiro poderiam pegar os doces. 

O resultado desse experimento foi surpreendente: ao ser dado o sinal, as crianças espontaneamente deram-se as mãos e caminharam juntas. Chegaram no cesto e dividiram os doces entre todas elas. 

Essas tribos africanas vivem pelo conceito chamado "umbuntu", no qual o coletivo tem sempre preferencia sobre o individual. A competição e o individualismo não são incentivados. 

Agora, talvez você ainda não saiba mas a ideia que o grupo deve prevalecer sobre o indivíduo também é a base do cristianismo. Por exemplo, quando Jesus mandou que seus seguidores tratassem o próximo como a si mesmos(as), estava ensinando exatamente isso, embora com palavras diferentes. 

Esse conceito também fica evidente na oração do "Pai Nosso" (Mateus capítulo 6, versículos 9 a 13), que está toda no plural, ou seja é dirigida para a coletividade e não para o indivíduo :
Pai nosso, que estás nos céus. Santificado seja o teu nome. Venha a nós o teu Reino, seja feita a tua vontade, assim na terra como nos céus. O pão nosso de cada dia dai-nos hoje. E perdoa as nossas dívidas, assim como perdoamos os nossos devedores. E não nos deixeis cair em tentação, mas livrai-nos do mal
Isso quer dizer que as coisas de Deus são preferencialmente dirigidas para a comunidade da fé. É ela que nos ajuda a resistir às tentações e é também nela que o reino de Deus se instala.  

No tempo de Jesus, as pessoas entenderam essa mensagem perfeitamente pois a regra de vida no judaísmo sempre foi a mesma. E esse princípio continua presente até hoje nessa religião: por exemplo, algumas orações judaicas somente podem ser feitas por um grupo de homens (quatro ou mais).

Não é de surpreender, portanto, que os(as) primeiros(as) cristãos tenham aceitado tão bem essa mensagem, tanto assim que acabaram por constituir um grupo onde as pessoas tinham seus bens em comum e cada um(a) contribuía com o que podia e recebia o que precisava (Atos dos Apóstolos capítulo 4, versículos 32 a 35).

É uma pena que essa noção de solidariedade e espírito coletivo tenha se perdido ao longo do tempo, por diversas razões, que não tenho espaço para discutir aqui. E acabamos nesse ambiente individualista e competitivo. 

Mas é possível sim viver na sociedade atual de forma diferente, privilegiando o "nós" no lugar do "eu". Preocupando-se mais com as outras pessoas. Exatamente como Jesus ensinou. Basta querer.

Com carinho  

quinta-feira, 1 de outubro de 2015

OS ENSINAMENTOS DE JESUS DIFÍCEIS DE ACEITAR

Há ensinamentos de Jesus que são difíceis de aceitar. Alguns - como aquele que nos manda amar os nossos inimigos - eu sinceramente preferiria que Ele nem tivesse nos dado. 

Agora, Jesus deve ter tido bons motivos para nos dar cada um desses ensinamentos, pois Ele não fez nada de forma gratuita. Sendo assim, precisamos procurar entender seus, pois fica mais fácil obedecer suas orientações. 

Vou, então, tentar esclarecer a lógica que Jesus seguiu para nos dar cinco ensinamentos difíceis, todos bem conhecidos:

Ame seus inimigos 
(Mateus capítulo 6, versículos 43 a 45)
Eu já disse diversas vezes aqui no blog que vivemos sob a lei do amor - amar a Deus sobre todas as coisas e ao próximo como a nós mesmos (veja mais). Segundo o próprio Jesus, a lei do amor resume tudo o que a Bíblia ensina.

E o mandamento de amar os inimigos se encaixa dentro do amor ao próximo - faz sentido dentro do quadro geral da lei do amor. É evidente que se todos amassem seus inimigos, existiria muito menos violência e o mundo seria muito melhor e mais seguro. Acho que ninguém tem dúvidas quanto a isso.

Mas como fazer para amar um inimigo? Na verdade, o mandamento não se refere à construção de tal tipo de sentimento, pois ninguém pode dar ordens para o próprio coração. A ordenança é para agirmos, mesmo com nossos inimigos, como se tal amor existisse, em outras palavras tratar a todos como gostaríamos de ser tratados. 

Assim, nos cabe orar pelos nossos inimigos, não buscar vingança contra eles(as), ajudá-los(as) se estiver a nosso alcance, e assim por diante. E se fizermos tudo isso, em termos do resultado final, tudo terá se passado como se o amor existisse de fato.

Esse mandamento não significa que devemos nos colocar sem proteção nas mãos dos nossos inimigos, pois eles(as) podem não seguir o mesmo princípio de vida. É claro que precisamos ser prudentes e tomar as medidas de proteção necessárias.

Perdoe para que você seja perdoado(a) 
(Mateus capítulo 6, versículo 12)
A oração do "Pai Nosso" diz em certo trecho: "perdoa-nos as nossas dívidas, assim como nós temos perdoados os nossos devedores".

Repetimos essa oração inúmeras vezes, quase sempre sem prestar atenção no que estamos declarando. E há duas coisas importantes sendo ditas aí: a primeira é a certeza de que Deus perdoa e a segunda, o pedido para sermos perdoados na mesma medida em que viermos a perdoar

Portanto, se você já fez a oração do "Pai Nosso", você pediu a Deus: perdoe-me na medida em que eu vier a perdoar as outras pessoasEm outras palavras, você afirmou: Deus, eu quero seu perdão e, portanto, estou disposto(a) a também perdoar. Simples assim.

Você deve perdoar até 70 x 7 vezes  
(Mateus capítulo 19, versículos 21 e 22)
No item anterior, eu mostrei que o perdão é algo que Deus nos dá e espera que venhamos a distribuir para quem nos ofender/prejudicar. 

Agora, quantas vezes devemos perdoar a mesma pessoa? E é razoável esperar voltar a perdoar quem repete o mesmo erro? Foi isso que os discípulos perguntaram para Jesus, pois lhes parecia - como parece para nós até hoje - que deveria haver um limite para o perdão. E aí Jesus surpreendeu a todos ao afirmar que devemos perdoar 70 x 7, uma metáfora para um número grande, muito maior do que achamos ser razoável.

E a razão para essa orientação é simples: Deus age exatamente assim conosco. Pense naquele pecado que você pratica habitualmente e tem dificuldade de se livrar: você luta diariamente contra ele, mas volta e meia o mesmo erro se faz presente na sua vida. Agora imagine se Deus lhe dissesse: "você só pode cometer esse pecado uma vez, porque vai esgotar sua cota de perdão"Assim como você quer continuar a receber o perdão de Deus, precisa estar disposto(a) a continuar a perdoar.

Mas aqui também se aplica a mesma cautela que recomendei acima: ter disposição para continuar a perdoar não significa ficar à mercê dos desmandos de quem quer que seja.

Por exemplo, uma mulher agredida fisicamente deve sair de casa e usar a lei pra se proteger. Quem foi roubado por um filho, deve tomar suas precauções para não ser mais prejudicado. E assim por diante. O que Jesus disse tem a ver com a disposição de perdoar, não com o fato de ficar passivo, esperando ser atingido de novo.

Com a mesma medida que você julgar, será julgado(a)(Mateus capítulo 7, versículos 1 a 5)
Qual é o critério que Deus vai usar para julgar nossos pecados no Juízo Final? Será o mesmo critério para todos? Ou Ele vai cobrar mais de uma pessoa (por exemplo, quem recebeu mais) do que de outra?

Essa discussão parece ser daquelas que gera um debate interminável, pois há todo tipo de circunstância e atenuante/agravante a ser considerado, na busca pela justiça absoluta.

Mas Deus, na sua incomensurável sabedoria, deu uma solução perfeita para essa questão: eu serei julgado com o mesmo critério que usar para julgar as outras pessoas

Assim, se você é mais compreensivo(a) do que eu, haverá maior compreensão com você do que comigo. Se você for mais misericordioso(a), receberá mais misericórdia. Simples e muito eficaz. Afinal, se foi a própria pessoa quem usou determinado critério para avaliar os(as) outros(as), ela não pode se queixar por ser tratada da mesma forma por Deus.

Você pode pecar em pensamentos                                (Mateus capítulo 5, versículos 27 e 28)                         
Jesus afirmou que podemos pecar até em pensamentos - por exemplo, se eu olhar para uma mulher com olhares cobiçosos e imaginar coisas impróprias a respeito dela, já cometi adultério.

É claro que isso faz sentido, pois os atos são consequência dos pensamentos: não vou matar alguém ou cometer um roubo, sem ter antes pensado nisso. Assim, quando evito pensar no que não devo, deixo de praticar o ato errado. E quando penso, aquele pecado já criou raízes dentro de mim. 

Agora, quem é aquele que pode afirmar que nunca teve um pensamento pecaminoso? Afinal, pensamentos vêm e vão com enorme facilidade e rapidez. Então, como evitar que um pensamento errado apareça na própria mente? 

Na verdade, o que Jesus disse não se refere a um pensamento que passa de forma fugaz pela cabeça da pessoa - é impossível controlar isso. Ele tratou daquele tipo de pensamento que surge e se instala na mente. Em outras palavras, Jesus me alertou para o fato que eu não posso impedir que um passarinho pouse na minha cabeça, mas posso evitar que ele faça ninho ali.

Com carinho