terça-feira, 27 de setembro de 2016

O QUE A BÍBLIA NÃO FALA SOBRE JESUS

Fala-se muito sobre Jesus - Ele já foi objeto de inúmeros filmes, livros, documentários, etc. Infelizmente, muito do que se fala sobre a vida d´Ele não tem qualquer base histórica, pois os fatos descritos não estão documentados nas fontes históricas disponíveis. 

As fontes históricas sobre a vida de Jesus são essencialmente os quatro Evangelhos (Mateus, Marcos, Lucas e João). Existem algumas informações esparsas contidas em outros livros da Bíblia (por exemplo, Atos dos Apóstolos), bem como vindas de fontes extra-bíblicas (como o historiador Flavius Josephus), mas os dados fornecidos não agregam nada de novo ao que os Evangelhos já contam.

Portanto, se queremos saber alguma coisa sobre a vida de Jesus precisamos recorrer aos quatro Evangelhos. Ali estão todas as informações que temos. Simples assim.

Para ajudar você a separar o "joio do trigo", isto é diferenciar aquilo que tem fundamento histórico do que não tem, vou listar algumas informações largamente aceitas, mas que infelizmente não tem suporte bíblico e, portanto, histórico. 

A idade de Jesus quando morreu

A tradição conta que Jesus tinha trinta e três anos ao morrer. Essa idade é fruto do cálculo que Ele teria nascido no ano 1 e morrido no ano 33 da nossa era. Mas a Bíblia não fala isso.

E não fala porque nela não há referencia a anos absolutos. Todas as contagens de tempo nela contidas são relativas, quando muito tomadas em relação a outros eventos bíblicos, para os quais também não há referencia absoluta. 

Por exemplo, a Bíblia conta que Moisés tinha 40 anos quando fugiu do Egito e foi ser pastor de ovelhas em Midiã (Êxodo capítulo 2, versículo 12). Mas não diz em que ano isso aconteceu e não há como determinar com precisão esse dado. A Bíblia fala que Salomão começou a construir o Templo de Jerusalém no quarto ano do seu reinado (1 Reis capítulo 6, versículo 1), mas o texto não diz em que ano esse reinado começou.

Esse tipo de contagem de tempo, sem referencias absolutas, torna difícil estabelecer o ano exato em que alguns eventos ocorreram, como os anos do nascimento e da morte de Jesus. E aí a tradição inadvertidamente gerou um erro: os tais 33 anos de vida de Jesus.

Hoje se estima que Jesus nasceu entre os anos 5 e 7 Antes da Nossa Era e morreu no ano 30 ou no ano 33 da Nossa Era. Não é possível ter certeza além disso. Portanto, Jesus viveu entre 35 e 40 anos, bem mais do que a tradição aponta.

Há aqui uma curiosidade que vale a pena apontar. O chamado "ano 1", que divide as duas eras (Antes de Cristo ou Antes da Nossa Era e Depois de Cristo ou Nossa Era), foi estabelecido por um monge chamado Dionísio. Ele estudou os dados históricos disponíveis e calculou um determinado ano como o do nascimento de Jesus e estabeleceu o "ano 1", registro que acabou adotado por todo o mundo.

Mas Dionísio errou: hoje se sabe que o "ano 1" ocorreu de fato entre 5 e 7 anos antes do que Dionísio calculou. E hoje precisamos conviver com o absurdo que é afirmar ter Jesus nascido entre os anos 5 e 7 Antes de Cristo. Dá vontade até de rir... 

O dia em que Jesus nasceu 

Não sabemos o dia exato em que Jesus nasceu. Pelas descrições da Bíblia, provavelmente isso aconteceu no mês de março, mas não há como ter certeza.

A Igreja Cristã sempre soube disso, mas entendeu que precisaria ter um dia para comemorar essa data tão importante. Até aí nada demais - por exemplo, é comum que os pais de uma criança adotada, quando não sabem o dia exato do nascimento desse(a) filho(a), arbitrem uma data para poder comemorar.

O erro da Igreja Cristã foi, durante certo tempo, ter insistido que Jesus tinha mesmo nascido na virada do dia 24 para o dia 25 de dezembro. Na verdade, essa era a data em que se comemorava o solstício de inverno e nesse dia ocorriam grandes festas pagãs. E a Igreja Cristã quis transformar esse dia numa data comemorativa do seu calendário religioso, daí ter colocado exatamente aí o dia do nascimento de Jesus. 

A infância e a adolescência de Jesus 

O relato bíblico sobre o início da vida de Jesus termina quando Ele tinha cerca de dois anos e seus pais voltaram do exílio no Egito, porque o rei Herodes tinha morrido e o menino não mais corria risco de vida (Mateus capítulo 2, versículos 14 e 15). E foram morar em Nazaré, na Galileia.

Depois, só há um relato curto, já da pré-adolescência de Jesus, com cerca de doze anos, quando os pais o levaram até Jerusalém e Ele se perdeu na volta para casa, tendo sido encontrado conversando com os doutores da Lei (Lucas capítulo 2, versículos 41 a 52). Mais nada.

A continuação do relato dos Evangelhos se dá quando Ele começou seu ministério, entre 32 e 35 anos. É claro que podemos imaginar como Ele viveu todos essas anos, em Nazaré, já que sabemos alguma coisa sobre sua família, inclusive a profissão do seu pai (carpinteiro), e o conhecimento histórico daquela época permite construir um quadro aproximado da sua realidade.

Mas evidentemente não sabemos qualquer particularidade da vida d´Ele ao longo desse período - se ficou doente, se viajou ou ficou apenas em Nazaré, com quem estudou, etc.

Todos os relatos que falam que Jesus viveu entre os essênios (seita judaica), morou na Índia ou qualquer outra coisa sobre esses "anos silenciosos", não têm qualquer base histórica. São especulação pura e simples. 

O que aconteceu com o pai de Jesus

Sabemos que Maria acompanhou Jesus até o final da vida d´Ele - a Bíblia relata o momento em que ela estava aos pés da cruz (João capítulo 19, versículos 25 a 27).

Mas nada sabemos sobre o que aconteceu com José, pai adotivo de Jesus, depois do relato da viagem a Jerusalém ao qual já me referi.

Os estudiosos normalmente interpretam o silêncio sobre José nos relatos dos Evangelhos, como significando que ele morreu enquanto Jesus era relativamente jovem. E entendem também que, como filho mais velho, coube a Jesus, por ocasião da morte do pai, assumir a responsabilidade do sustento da família.

Tudo isso faz sentido e se encaixa com o relato dos Evangelhos, mas não podemos ter certeza absoluta. Pode ter acontecido alguma outra coisa que desconhecemos.

Esses são apenas alguns exemplos de coisas que as pessoas normalmente afirmam mas que não tem suporte histórico. Claro que haveria mais coisas a contar, mas não tenho espaço para discutir cada uma delas. Mas acredito que já deu para você formar um bom quadro dessa questão.

Com carinho

sexta-feira, 23 de setembro de 2016

A PARÁBOLA DO TESOURO ENTERRADO

O Reino dos céus é como um tesouro escondido num campo. Certo homem, tendo-o encontrado, escondeu-o de novo e, então, cheio de alegria, foi, vendeu tudo o que tinha e comprou aquele campo. Mateus capítulo 13, versículo 44
Antes de falar sobre a parábola em si, aí vai um pouco de contexto para facilitar o entendimento.

Na época em que Jesus viveu, as pessoas não tinham muitos meios para garantir a segurança do seu patrimônio. Em particular, não havia cofres ou bancos onde as pessoas pudessem guardar suas economias com segurança. Assim, era prática comum esconder dinheiro e jóias preciosas em lugares de difícil acesso (por exemplo, grutas) ou em buracos escavados na terra.

E muitas vezes esses tesouros acabavam esquecidos, talvez porque seus donos morreram e não deixaram instruções para seus herdeiros de como recuperá-los. Por causa disso, eram conhecidos vários casos de tesouros encontrados por acaso nos locais os mais inesperados.

Agora, segundo a lei da época, o tesouro encontrando num terreno pertencia ao dono da propriedade e não a quem o tivesse encontrado.

Foi uma situação desse tipo que inspirou Jesus a compor essa parábola. Certo homem encontrou um tesouro num campo que não era dele. Escondeu de volta o seu achado, juntou tudo que tinha e comprou o campo onde o tesouro estava escondido. Tomou posse da terra e finalmente ficou com o tesouro para si.

Jesus comparou essa estória com o Reino de Deus. E passou ensinamentos muito importantes. O primeiro deles é que devemos comprometer tudo que temos e somos para nos apossar do Reino de Deus.

Será que isso quer dizer, que precisamos vender tudo que temos e colocar o resultado na obra de Deus? Embora isso seja muito meritório, não é isso que Jesus ensinou com essa parábola. Ele não estava cobrando isso de mim ou de você.

Jesus estava falando de prioridades na vida e não de bens materiais. Ensinou que não devemos deixar nada nos distrair da prioridade que é o Reino de Deus. Simples assim.

Jesus encontrou muitas pessoas que foram chamadas a se apossar do Reino e não quiseram fazer isso, porque outros interesses a impediram de fazer isso. Teve gente que não atendeu o chamado porque tinha outros compromissos (por exemplo, Lucas capítulo 9, versículos 59 a 62). Outros deram prioridade a seus bens - por exemplo, veja o vídeo aqui no site, parte da série "Minuto com Deus", que trata da história de Jesus conversando com o moço rico. Houve gente que não o seguiu porque simplesmente não acreditou n´Ele.

E decisão pelo Reino deve ser feita com alegria, exatamente como fez o homem que comprou o campo onde o tesouro estava enterrado. Não devemos colocar o Reino de Deus antes de tudo e ficar lamentando o que foi deixado para trás como, por exemplo, alguns hábitos.

Outro ensinamento importante é que devemos fazer as coisas de Deus sem procurar chamar atenção para nós mesmos - foi isso que o homem da parábola fez, ao comprar quietamente o campo onde o tesouro estava enterrado. Se ele tivesse chamado atenção para si mesmo, não teria conseguido comprar aquela terra. Não mesmo.

Penso nisso quando vejo alguns líderes religiosos cristãos patrocinando cultos-espetáculo, chamando atenção para si mesmos e seus ministérios. Tornam-se verdadeiras estrelas. E não foi isso que Jesus ensinou. Não mesmo.

O último ensinamento importante tem a ver com a confiança do homem que encontrou o tesouro para fazer o necessário. Foi preciso coragem para vender tudo que tinha e comprar aquele campo - muita coisa poderia ter acontecido como, por exemplo, alguém se apossar do tesouro antes dele. 

Mas ele não duvidou um minuto. Fez o que era necessário e colheu os frutos - ficou com o campo e o tesouro. 

Concluindo, o Reino de Deus deve ser nossa prioridade absoluta. E deve ser perseguido com alegria, confiança e de forma discreta. É isso aí.

Com carinho

quarta-feira, 21 de setembro de 2016

ESTEJA PREPARADO

Mas Deus lhe disse: Louco! esta noite te pedirão a tua alma; e o que tens preparado, para quem será? Lucas capítulo 12, versículo 20
O Brasil todo se emocionou com a morte do ator Domingos Montagner, ocorrida poucos dias atrás, por causa de uma terrível acidente. É sempre chocante ver uma vida se perder de forma tão inesperada e no auge da sua carreira artística. Espero que a família dele possa encontrar consolo em Deus...

Uma das coisas que mais me emocionou foi ler que o ator tinha comprado uma casa para sua família apenas duas semanas antes de morrer. Provavelmente nunca habitou a casa em que tinha sonhado em viver com sua família. 


Tudo isso me lembra uma verdade que incomoda muito: vivemos - todos nós - como se a vida não fosse acabar nunca. Como se as coisas fossem permanentes. Mas infelizmente não são.

Jesus falou sobre isso através de parábola contando a estória de um agricultor muito rico, que resolveu ampliar seus celeiros para poder acomodar uma produção de grãos crescente. E imaginou poder depois poder aproveitar o que tinha acumulado na vida. E aí sua vida acabou.

Um autor de quem gosto muito ensinou que pensar na morte é como olhar diretamente para o sol: só conseguimos fazer isso por pouco tempo. E em certo sentido, isso é bom, pois essa percepção de permanência, de imortalidade enfim, estimula as pessoas a planejarem, a investirem hoje para recolherem os frutos no futuro e assim por diante. E esse é um dos motores do progresso da humanidade. 

Agora, isso não quer significa que possamos viver sem levar em conta que a vida não dura para sempre. Sem nos darmos conta que basta um instante para tudo mudar.

Quem não entende isso é arrogante ou insensato - na frase que abre este post, Jesus chamou o lavrador rico de "louco", expressão que tem esse mesmo sentido.

Jesus nos advertiu muito sobre a necessidade de estarmos preparados. E contou inúmeras parábolas falando sobre isso, como a do ladrão que chega inesperadamente ou a dos convidados que chegaram atrasados para uma festa e não puderam entrar.

Mas devemos estar preparados para quê? Acredito que Jesus durante seu ministério tratou sobre duas coisas. A primeira foi alertar as pessoas sobre os altos e baixos da vida. Afinal, ninguém vive somente momentos bons. Parece ruim dizer isso, mas essa é a mais pura realidade. E precisamos estar preparados para ela.

A segunda coisa é estarmos preparados para prestar contas para Deus daquilo que fizemos com nossas vidas. Cedo ou tarde vamos estar diante de deus para falar sobre o que fizemos e também sobre o que deixamos de fazer. Isso porque pecamos não somente pelo que fazemos de errado mas também pelo bem que deixamos de fazer (pecado por omissão).

Concluindo, que eventos tristes, como a morte desse artista querido, guardam grande ensinamento: a vida não é permanente. Não importa quem sejamos, todos passaremos por momentos bons e ruins nessa vida e em dado momento, iremos cruzar uma ponte que vai nos levar para outra realidade. 

É preciso, pois, estar preparado. Sempre.

Com carinho

segunda-feira, 19 de setembro de 2016

COMO UM VASO NAS MÃOS DO OLEIRO

Deus é o oleiro e nós somos como vasos de barro nas suas mãos. 

Ele pega o que está errado nas nossas vidas e modifica, assim como o oleiro retrabalha o vaso de barro que tem nas suas mãos.

Veja um vídeo do Rogers que fala mais sobre isso. 

sábado, 17 de setembro de 2016

A ORAÇÃO ENSINADA POR JESUS


Vocês, orem assim: ‘Pai nosso, que estás nos céus! Santificado seja o teu nome. Venha o teu Reino, seja feita a tua vontade, assim na terra como no céu. Dá-nos hoje o pão nosso de cada dia. Perdoa nossas dívidas, assim como perdoamos nossos devedores. E não nos deixes cair em tentação, mas livra-nos do mal. Porque teu é o Reino, o poder e a glória para sempre. Amém. Mateus capítulo 6, versículos 9 a 13
Jesus foi homem de oração - passava horas a fio falando com Deus. Com seu exemplo, Jesus demonstrou para os discípulos a importância de orar, mas eles tinham muita dificuldade para imitar seu Mestre. Parece ser que, dentre outros problemas, os discípulos não sabiam bem como falar com Deus. Que palavras usar. Aí pediram que Jesus lhes ensinasse como orar e foram atendidos.


O resultado desse ensinamento, transcrito no começo deste post, é a oração que ficou famosa como "Pai Nosso", por causa das palavras usadas no seu início.

Agora, é importante entender que o ensinamento de Jesus não está nas palavras exatas que Ele usou. Jesus não deu para os discípulos uma fórmula pronta que eles deveriam repetir exatamente para obterem a atenção de Deus. As palavras usadas no Pai Nosso não são mágicas.

Sei que é comum nas igrejas cristãs as pessoas repetirem em conjunto o Pai Nosso, mas isso é feito porque se trata de oração conhecida por todo mundo o que facilita seu uso comunitário. Só por isso.

O verdadeiro ensinamento de Jesus está no significado das palavras que usou. Por isso vale a pena estudar o Pai Nosso para aprender de fato como orar e passar a fazer isso com as próprias palavras.

A oração do Pai Nosso está dividida em quatro partes: 1) contacto (chamado); 2) adoração; 3) apresentação dos pedidos; e 4) finalização. Vamos ver o significado de cada uma delas em separado.

Jesus começou estabelecendo contacto com Deus e isso faz sentido: se a pessoa vai conversar com alguém, começa pedindo a atenção do(a) interlocutor(a).

É claro que Deus é diferente de qualquer outro(a) interlocutor(a), afinal está sempre atento a tudo. Logo, é preciso pedir a atenção d´Ele. Por que então Jesus ensinou a fazer isso? Simples, esse passo é para a própria pessoa que vai orar - ao chamar Deus, ela dá início a um processo.

Jesus ensinou a chamar Deus de Pai e isso era coisa impensável naquela época. Os judeus sempre tomavam grande cuidado para não tomar o nome de Deus em vão, evitando violar um dos Dez Mandamentos. Por isso causou espanto quando Jesus se dirigiu a Deus como nosso Pai.

É claro que Jesus é o Filho de Deus e, portanto, faz todo sentido chamá-lo de Pai. Mas como Jesus estava ensinando seus discípulos a orar, estava falando para que eles fizessem o mesmo, o que não tinha precedente na cultura da época. 

Jesus fez isso porque Deus também é Pai de todos(as) aqueles(as) que vierem a aceitar Jesus como Salvador, conforme a Bíblia ensina (Efésios capítulo 1, versículo 5). 

O passo seguinte da oração, segundo Jesus ensinou, é adorar a Deus - reconhecer que se está falando com um Ser muito especial. Não um Pai comum, mas Aquele que "está no céu". 

As palavras que Jesus usou para adorar - "santificado seja seu nome" - eram comuns naqueles dias. Os judeus as repetiam diariamente nas suas orações tradicionais. Hoje, a pessoa pode usar suas próprias palavras de adoração, conforme consiga visualizar Deus.

A terceira parte da oração é aquela que as pessoas mais gostam: os pedidos. Normalmente, as orações hoje em dia são quase só compostas de pedidos - preste atenção e você vai perceber isso com facilidade. E isso está errado.

Não porque seja ruim pedir coisas a Deus e sim porque o diálogo com Ele não pode se limitar a isso. E Jesus tratou indiretamente dessa questão pelos tipos de pedidos que fez.

O primeiro deles foi a vinda do Reino de Deus sobre nós, garantindo que seja feita aqui a vontade d´Ele, assim como já é feita no céu. E isso tem tudo a ver com a pregação do próprio Jesus, pois Ele falou muito sobre a vinda do Reino de Deus e o significado disso para nós, quase sempre usando parábolas que começavam assim: "o Reino de Deus é semelhante a..." 

A chegada do Reino de Deus significa essencialmente que a vontade d´Ele passa a ser feita também aqui na terra. E quando isso acontece, tudo muda: o pecado é evitado, bençãos são derramadas, etc. E isso faz toda a diferença.

Jesus ensinou que a coisa mais importante, o primeiro lugar da lista de prioridades, deve ser a presença do Reino de Deus, porque tudo o mais que a pessoa vier a precisar, ser-lhe-á acrescentado (Mateus capítulo 6, versículos 31 a 34). 

Depois, Jesus ensinou a pedir pelo "pão de cada dia". Isso significa pedir para Deus preencher as necessidades materiais diárias. Nem mais e nem menos. 

E isso tem paralelo com o relato do Êxodo (capítulo 16), quando os israelitas andavam pelo deserto do Sinai, liderados por Moisés, depois de sair da escravidão do Egito. O povo não podia produzir seu próprio alimento, então Deus mandou o maná. Mas as pessoas somente podiam colher a cada dia o necessário para sobreviver por 24 horas (exceto na véspera do sábado, quando podiam colher para dois dias). Se colhiam mais, tentando fazer estoque de segurança, o maná apodrecia. 

O ensinamento que vem daí é a necessidade de aprender a depender de Deus. A viver pela fé. Pedir aquilo que se precisa, à medida que a necessidade se apresenta. 

Sei que isso não é fácil, pois todos(as) gostamos ter garantias - e eu não sou diferente de você nesse aspecto. Essa é uma das coisas mais difíceis de viver no cristianismo.

O pedido seguinte é para Deus perdoar a pessoa na medida em que ela tiver perdoado as outras. Jesus ensinou aqui que a predisposição para o perdão é condição indispensável para ser perdoado(a) por Deus.

Você quer perdão de Deus? Então, aprenda a perdoar seu próximo. E na mesma medida em que conseguir perdoar, também será perdoado(a). Simples assim.

O quarto pedido é para não cair em tentação. Para que a pessoa tenha fé suficiente para evitar as ciladas que Satanás vier a colocar no seu caminho.

Não há como evitar as tentações - até Jesus foi testado por elas -, mas Deus pode dar forças à pessoa para resistir e se manter no caminho certo. Essa é a lógica do quarto pedido. 

Acabamos de falar das tentações, ou seja do mal que poderá vir a se realizar, o mal futuro. O quinto pedido - "livra-nos do mal" - fala do pecado, o mal já instalado na vida da pessoa. E pede livramento dele.

O Espírito Santo tem papel fundamental na luta contra o pecado já instalado na pessoa. É necessária mudança, de valores e de hábitos, para conseguir deixar aquilo que não serve para trás e limpar a própria vida. Sem o apoio do Espírito Santo tal tarefa é impossível, pois a pessoa sozinha não terá forças suficientes. Daí fazer sentido pedir a Deus livramento do mal.

Nenhum dos pedidos tem a ver com facilidades, conforto, vida boa, etc, exatamente aquilo que costuma preencher nossas falas com Deus hoje em dia. Repare que nem a saúde foi mencionada. As prioridades que Jesus ensinou foram outras bem diferentes.

Isso não quer dizer que a pessoa não possa pedir aquilo que seu coração deseja. Pode pedir aquilo que desejar e Deus vai atender de acordo com a vontade d´Ele. Mas o ensinamento de Jesus significa apenas que as prioridades de Deus para a vida da pessoa costumam ser bem diferentes da vontade dela própria.

A oração passa então para a parte final, onde Jesus ensinou a reconhecer que o Reino, o poder e a glória são todos de Deus e somente d´Ele. A expressão usada foi tirada de uma oração de Davi (1 Crônicas capítulo 29, versículo 11) e, portanto, já bem conhecida dos judeus daquela época. 

Reconhecer que tudo é de Deus e todas as bençãos vem d´Ele, é passo fundamental para a pessoa manter a humildade e ser sempre grata.

Com carinho

quinta-feira, 15 de setembro de 2016

A PARÁBOLA DAS CRIANÇAS BRINCANDO

A que posso comparar esta geração? São como crianças que ficam sentadas nas praças e gritam umas às outras: "Nós lhes tocamos flauta, mas vocês não dançaram; cantamos um lamento, mas vocês não se entristeceram". Pois veio João, que jejua e não bebe vinho, e dizem: "Ele tem demônio". Veio o Filho do homem comendo e bebendo, e dizem: "Aí está um comilão e beberrão, amigo de publicanos e pecadores. Mas a sabedoria é comprovada pelas obras que a acompanham. Mateus capítulo 11, versículos 16 a 19
Essa parábola é muito interessante, pois nela Jesus usou o tema de um grupo de crianças brincando numa praça para falar da resistência que muitas pessoas demonstram em aceitar o seu Evangelho.

O contexto da parábola é o costume que as crianças tinham de se reunir em praças para brincarem em grupo. Elas simulavam, nas suas brincadeiras, situações da vida real e usavam da fantasia para vivenciar tais situações como se fossem reais - igual ao que acontece nos dias de hoje, quando meninas brincam de dar comida ou vestir bonecas, para vivenciar o papel de mãe que assumirão mais adiante na vida. 

Dentre as situações que as crianças daquela época costumavam simular, Jesus citou duas: casamento e funeral. É claro que elas deviam usar outras situações fantasiosas para brincar, como guerras ou festas religiosas, mas Jesus construiu sua parábola com base nas brincadeiras baseadas em casamentos e funerais (o que é meio estranho, aos olhos atuais). No casamento, costumava haver música de flauta e dança. Nos funerais, costumava haver pranto (choro) e lamentações. 

Jesus comentou que as pessoas da sua época (a "geração atual") comportavam-se como crianças que tinham chamado coleguinhas para brincar com elas - é esse o significado de terem tocado flauta ou fingido cair em choro - mas os(as) tais coleguinhas não se motivaram. Não aceitaram o convite para brincar. E quando esse tipo de situação acontece, as crianças que fizeram o convite se sentem rejeitadas e passam a se comportar mal em relação a quem rejeitou seu convite. 

O argumento de Jesus é que seus contemporâneos(as) se comportavam exatamente assim em relação a quem era enviado por Deus para transmitir mensagens importantes. E foi isso que fizeram, em particular, com João Batista e o próprio Jesus. 

João Batista Como não agiu como as pessoas queriam. Não era politicamente correto, pois afirmou que quem não se arrependesse seria punido por Deus. As pessoas apegaram-se ao fato dele ter uma figura estranha (vestia-se de pele de camelo), só comer gafanhotos e mel e não beber vinho, para acusar João de ser endemoniado, coisa extremamente séria.

Jesus veio depois e agia diferente de João - vestia-se, comia e bebia normalmente -, mas também não poupava palavras sobre a necessidade das pessoas se arrependerem de seus pecados e mudarem suas vidas. Aí então as pessoas passaram a dizer que Ele era comilão e beberrão. E essa era outra acusação séria, pois quem agia assim merecia morte por apedrejamento (Deuteronômio capítulo 21, versículo 18 a 21). 

A essa acusação ainda juntaram a crítica que Jesus andava com publicanos (coletores de impostos) e outros pecadores, coisa que um judeu sério não poderia fazer. Isso porque Jesus falava com todo mundo e ajudava quem lhe procurava, sem discriminar ninguém.

Na verdade, as pessoas não gostavam daquilo que João Batista pregou e também daquilo que Jesus lhes pedia, pois se sentiam incomodadas - não gostavam de ter seus pecados apontados e serem chamadas ao arrependimento. Não queriam reconhecer seus erros.

E esse é um ponto extremamente importante: a conversão ao Evangelho de Jesus começa pela percepção da própria pessoa que é pecadora e precisa da ajuda de Deus. Ela precisa tomar consciência que sem Deus não vai conseguir chegar a lugar nenhum. Enquanto ela continuar se enganando, achando que conseguirá seguir no caminho certo por conta própria, não terá razão para se voltar para Jesus. Simples assim.

A pregação dos enviados de Deus incomodava de coração duro e elas reagiam mal, como fazem as crianças birrentas quando não têm sua vontade satisfeita. 

E vemos o mesmo acontecer hoje em dia. As pessoas arranjam desculpas para si mesmas, alegando que o pastor da igreja não serve porque não prega bem e parece excessivamente rígido. Os cultos parecem ser cansativos. E assim por diante. Na verdade, elas não querem mudar e quando ouvem palavras que vão contra aquilo que se acostumaram a fazer, ficam insatisfeitas e incomodas. Aí encontram defeitos de todo tipo para justificar seu distanciamento e/ou rejeição. 

A frase final da parábola ensina que a sabedoria (a correção) dos ensinamentos dos enviados de Deus (como João Batista e Jesus) pode ser comprovada pelas obras deles mesmos, como ajudar os necessitados, batizar, curar enfermos, etc.

Concluindo, essa parábola fala da resistência à conversão ao Evangelho de Jesus e o comportamento que as pessoas usam para se justificar em não dar esse passo. Muita gente resiste a fazer a coisa certa e se esconde atrás de desculpas bobas, agindo como crianças birrentas. 

Com carinho

terça-feira, 13 de setembro de 2016

O QUE OS ALUNOS CONTARAM PARA A PROFESSORA

Kyle Schwartz é uma professora do ensino fundamental de uma escola pública, na cidade de Denver, nos Estados Unidos. Ela queria conhecer melhor seus alunos e fez algo bem simples: distribuiu para cada um(a) uma folha de papel que começava com a seguinte frase "eu gostaria que minha professora soubesse..." e pediu que eles(as) completassem com seu próprio pensamento. 

As respostas foram tão surpreendentes que ela acabou por escrever um livro ("I wish my teacher knew"), ainda não traduzido para o português. Algumas repostas revelaram os dramas familiares que as crianças viviam, como por exemplo:
"Eu gostaria que minha professora soubesse que meu pai trabalha em dois empregos e eu quase nunca consigo falar com ele".
"Eu gostaria que minha professora soubesse que minha família mora num abrigo para pessoas sem teto".
"Eu gostaria que minha professora soubesse que eu não tenho lápis em casa".
"Eu gostaria que minha professora soubesse que eu sinto muita saudade do meu pai, porque ele foi deportado para o México quando eu tinha três anos".
"Eu gostaria que minha professora soubesse que eu não tenho amigos com quem brincar".

A principal conclusão do livro é que os(as) professores(as) sabem pouco sobre seus alunos(as) e isso limita muito o quanto podem ajudar essas crianças. E citou o caso de um menino, obcecado com ciência. A professora pensou estar uma coisa boa quando conseguiu para ele uma vaga num seminário de verão, focado em ciência. Mas sua iniciativa esbarrou no fato que o evento iria ocorrer em outra cidade e durar vários dias e os pais do menino não tinham recursos financeiros para bancar isso e nem condições de se ausentar de seus trabalhos. Resultado: um garoto profundamente frustrado. 

Ao ler sobre isso, veio à minha mente o mandamento de Jesus para amarmos o próximo como a nós mesmos. Eu pergunto: como fazer isso, se não conhecemos nosso próximo. Não sabemos quase nada sobre seus problemas e menos ainda sobre seus sonhos. 

Assim, sempre corremos o risco de fazer algo que parece ser bom, mas cujo resultado final seja frustrante, como aconteceu com o garoto que não tinha dinheiro para viajar.

Entramos e saímos dos lugares e temos contato com as pessoas de quem quase nada sabemos. São quase invisíveis para nós.

Se queremos viver o mandamento de Jesus e realmente amar o próximo, precisamos investir tempo em conhecer as pessoas com as quais convivemos. E essa é uma tarefa profundamente desafiadora, pois requer gastar tempo e fazer um esforço permanente.

Mas o exemplo daquela professora mostra que, quando se quer realmente conhecer as pessoas com que se convive, é possível fazer mais. E muitas vezes a resposta está em atos simples, sem muita pretensão.

Com carinho

domingo, 11 de setembro de 2016

JESUS E O MOÇO RICO

Um novo vídeo do Rogers fala sobre o encontro de Jesus com um moço rico, quando discutiram a questão das riquezas e da salvação.

Será que a pessoa rica pode entrar no Reino de Deus?

sexta-feira, 9 de setembro de 2016

FURANDO "BOLHAS SOCIAIS"

O cientista social Dan Kahan, da Universidade norte-americana Yale, em 2013, realizou pesquisa muito interessante sobre a forma como as pessoas tratam dados que confirmam ideias as quais rejeitam. Elas levam em conta esses dados e mudam de opinião? Ou mantem sua predisposição inicial?


Nessa pesquisa, o cientista usou um tema muito polêmico nos Estados Unidos: o direito dos cidadãos de comprarem e portarem armas de fogo. As discussões sobre esse tema naquele país são intermináveis e geram muita emoção. Por causa disso, quase todos os cidadãos norte-americanos têm opinião prévia, contra ou a favor, em relação a esse tema.

O cientista apresentou para 500 pessoas um conjunto de dados científicos, todos fictícios (embora as pessoas não soubessem disso), que davam suporte à ideia que o direito às armas é prejudicial para a sociedade. E para outras 500, outro conjunto de dados, também fictícios, comprovando exatamente o oposto. 

O pesquisador imaginava que as pessoas iriam se deixar convencer pelos dados científicos, mesmo quando contrariassem suas ideias prévias. E mudariam sua convicção. Mas não foi bem isso que aconteceu. 

Mesmo recebendo dados comprovando que estavam erradas naquilo que pensavam, elas encontraram uma forma de re-interpretar os dados recebidos, acabando por reforçar aquilo que já pensavam antes. Não adiantou fornecer dados contrários, o pensamento das pessoas não mudou e até foi reforçado. Prevaleceu quase sempre a predisposição inicial.

Tenho pensado sobre isso ao ouvir os debates sobre o processo de impeachment da Presidente Dilma - se ela cometeu ou não crime de responsabilidade com as tais "pedaladas fiscais". Quanto mais argumentos técnicos são apresentados, tanto de uma parte como de outra, mais as pessoas reafirmam sua opinião inicial. 

Mas não é só no caso da Dilma que essa situação ocorre. Em outros casos polêmicos - por exemplo, a legalização da pena de morte ou do casamento homo-afetivo - quase não adianta argumentar e apresentar dados científicos. As percepções iniciais quase sempre definem a conclusão final das pessoas.

Isso comprova que existem "bolhas" sociais, isto é grupos de pessoas que comungam de determinadas ideias comuns a todas elas e se aferram a suas posições, até porque elas acabam por definir sua identidade. Exemplos de "bolhas sociais" são os partidos políticos, as torcidas organizadas de times de futebol ou as denominações evangélicas. 

Tentar apresentar ideias contrárias às que prevalecem dentro de uma "bolha" é sempre difícil. Os participantes resistem às tentativas de "furá-las". Por exemplo, tente dizer para membros da torcida organizada do Flamengo que o Fluminense é melhor. Ou um para um partidário do PT, que o PSDB tem razão em determinado assunto. Ou ainda para um ativista de esquerda, ser o aborto pecado. 

Essa situação tornou-se ainda mais aguda com o aparecimento das redes sociais, como o Facebook. Tornou-se ainda mais fácil formar "bolhas". Basta aceitar algumas pessoas, com as quais se tenha afinidade, na categoria de "amigas", e rejeitar outras.

Ora, cada vez mais é nas redes sociais que as pessoas buscam se informar. E elas só recebem informações vindas de dentro da "bolha" onde habitam. Assim, se sou cristão, meus "amigos" no Facebook serão esmagadoramente cristãos e serei sempre exposto a versículos de encorajamento, a pregações inspiradas, a louvores bonitos, etc. Meus "amigos" do Facebook dificilmente vão postar algo mostrando, por exemplo, abusos de líderes cristãos.

Agora, se outra pessoa acha que o cristianismo não é tão bom assim, terá muito mais chance de ser "amiga" no Facebook de quem concorde com essas ideias e vai receber muitos posts contrários ao cristianismo, o que irá reforçar aquilo que ela já pensava.

Da mesma forma, se alguém é de esquerda tenderá a ter muito mais "amigos" com essa inclinação política e vai receber continuamente informações reforçando essas ideias. E assim por diante.

Esse problema ainda fica agravado pelo fato de não haver qualquer controle no conteúdo veiculado nas redes sociais - e essa não deixa de ser uma das grandes qualidades delas. É fácil para as pessoas postarem nelas informações absurdas e até inverídicas. 

Um estudo recente do professor Pablo Ortellado, da USP, demonstrou a verdade do que acabei de falar. Usando o caso do impeachment da Dilma como exemplo, ele encontrou muita gente contra ela que acredita em declarações do tipo "o PCC é o braço armado do PT". Em contrapartida, várias pessoas a favor dela acreditam piamente em declarações como "os protestos contra a corrupção no Brasil são uma armadilha montada pelos Estados Unidos para se apropriar do petróleo brasileiro". Em resumo, a racionalidade do debate desapareceu completamente. E a mesma coisa acontece em relação a outros temas polêmicos. 

Mas o que tudo isso tem a ver com você? O que importa para sua vida? Penso que há duas coisas importantes que podemos tirar dessa discussão.

A primeira é entender o fenômeno das "bolhas sociais". Todo mundo pertence a uma ou mais delas e acaba sendo influenciado pelo que ouvi e vive dentro delas. E isso certamente vai nos tornar mais tolerantes com quem pensa e age diferente de nós. E esse foi o ensinamento que Jesus nos deixou.

A segunda lição tem a ver com o mandamento de Jesus para pregarmos o Evangelho para todo mundo. Isso significa falar sobre ideias cristãs para pessoas que não as conhecem e das quais podem até nem gostar. Em outras palavras, para evangelizar é preciso "furar bolhas sociais" usando as ideias do cristianismo como "agulha". E se você quer falar sobre o Evangelho de Jesus, precisa aprender a fazer isso. 

E há duas formas. A primeira é começar a conversa sobre Jesus dentro da "bolha" onde a pessoa se abriga e trabalhar a partir daí. "Furar a bolha" de dentro, garantindo resistência menor. 

E isso deve ser feito demonstrando compreensão com o pensamento que a pessoa já têm, o que não significa concordar com as ideias dela e sim não demonizá-las. Vou explicar isso melhor com um exemplo.

Imagine que você está tentando converter uma pessoa espírita. Alguns evangélicos, quando encontram gente assim, vão logo dizendo que a pessoa está sujeita a demônios e vai para o inferno. Procuram exorcizá-la. Tentam "furar a bolha" de fora.

A forma melhor é pedir que essa pessoa explique sua crença e tentar entender como ela absorveu aquelas ideias - talvez essa tenha sido sua formação ou não tenha sido exposta ao cristianismo na hora e na forma certas.

Depois, reconheça a parte boa da crença da pessoa - sempre há algum ponto positivo em qualquer crença. Por exemplo, no caso do espiritismo, o ponto elogiável é a dedicação em praticar a caridade, coisa que costumam fazer melhor do que os(as) próprios(as) cristãos(ãs).

A partir desse ponto de concordância, vá mostrando as contradições no pensamento da pessoa, incentivando-a a pensar por si mesma. Chegar às suas conclusões. Voltando ao exemplo que venho discutindo, uma das contradições do espiritismo é que o sofrimento atual das pessoas é fruto de pecados cometidos nas suas vidas anteriores - a tal lei do "karma".

Sendo assim, o sofrimento existente no mundo é, de certa forma, inevitável, pois é através dele que as pessoas são corrigidas e evoluem. Logo, não há incentivo, dentro da doutrina espírita, para combater os males da sociedade, nos caberia apenas atenuá-los.

Ao perceber as contradições naquilo que pensam, a pessoa pode evoluir e decidir sair da "bolha" onde está. E não há dúvida que irá acabar por entrar em outra "bolha", pois essa é a ordem natural das coisas.

Outra forma de furar a "bolha" por dentro é usar o depoimento de quem já fez a mesma transição, de quem já furou a mesma "bolha" no passado. No exemplo, seria usar o depoimento de quem já se converteu do espiritismo para o cristianismo. 

Quem já fez o mesmo trajeto pode testemunhar de forma construtiva o que o(a) levou a sair da sua "bolha" e a mudar sua vida. Por isso, testemunhos de conversão são tão importantes, fundamentais mesmo. E precisam ser incentivados.

Com carinho

quarta-feira, 7 de setembro de 2016

APELO A CESAR

Se, de fato, sou culpado de ter feito algo que mereça pena de morte, não me recuso a morrer. Mas, se as acusações feitas contra mim por estes judeus não são verdadeiras, ninguém tem o direito de me entregar a eles. Apelo para César!" Atos dos Apóstolos capítulo 25, versículo 11

O apóstolo Paulo foi preso quando visitou Jerusalém, ao ser acusado de crimes religiosos pelos líderes religiosos judeus. Acabou nas mãos das autoridades romanas, tendo sido lançado numa prisão. 

Depois de esperar longo tempo por um julgamento final pelas autoridades romanas, Paulo recorreu a um recurso extremo: apelou para o julgamento de Cesar (título dado ao Imperador de Roma). Ele tinha esse direito como cidadão romano.

Paulo acabou sendo mandado para Roma, de navio, e passou por inúmeras dificuldades, como um naufrágio perto da ilha de Malta. Viveu em Roma vários anos, sempre pregando o Evangelho de Jesus, sendo depois martirizado, quando entrou para a galeria dos mártires cristãos.

Há vários ensinamentos a tirar desse evento. O primeiro deles é o seguinte: quando Deus chama alguém para realizar sua obra, capacita e dá a essa pessoa condições para realizar plenamente sua missão. 

Ora, num mundo dominado pelo Império Romano, ser cidadão - direito que Paulo tinha por herança do pai (Atos dos Apóstolos capítulo 22, versículos 26 a 28) - era muito importante, já que isso garantia à pessoa livre trânsito, proteção das leis e contra o autoritarismo dos governantes locais (daí o direito de ser julgado pelo próprio Imperador, em Roma).

Paulo foi chamado por Deus para ser o apóstolo para os gentios (os não judeus). Assim, coube a ele pregar o Evangelho de Jesus fora da Terra Santa (Palestina), o que fez com grande dedicação, realizando várias viagens missionárias. Nesse cenário, os direitos de cidadão romano ajudaram muito.

Repare bem: Deus preparou tudo de antemão. Anos antes de Paulo ser chamado, seu pai conseguiu, provavelmente pagando boa soma de dinheiro, o direito de cidadania romana. Quando fez isso, estava pensando no seu interesse pessoal seu e no bem estar da sua família. Mas sua ação acabou tendo um enorme impacto na missão do filho, conforme comentei.

O pai de Paulo certamente morreu sem ter qualquer ideia do alcance dos seus atos - ele colaborou com a obra de Deus e nunca se deu conta disso. E o mesmo pode acontecer comigo ou com você - coisas que fazemos hoje, por esse ou aquele motivo, podem concorrer para o bem do Reino de Deus e nunca saberemos disso. Afinal, só Deus sabe o que planejou. 

O segundo ensinamento é o fato de Paulo não ter hesitado em usar os recursos colocados à sua disposição, mesmo aquele que não era, digamos assim, simpático para os judeus.

Ora, os judeus viam tudo que se referia aos romanos com muita desconfiança e o fato de Paulo ser cidadão do Império certamente não pegava bem. Mas o apóstolo não hesitou em apelar para esse recurso quando necessário, não se preocupou de passar uma imagem boa para quem estava em torno. Fez o que foi necessário. Simples assim.

Lembro de um fato ocorrido tempos atrás: houve um missionário sustentado por contribuições de um empresário que, digamos assim, não gozava de bom nome no meio cristão. Esse missionário tinha vergonha desse fato - embora aceitasse o dinheiro que lhe era dado, escondia o mais que podia esse fato. Tinha vergonha de usar os recursos colocados à sua disposição por Deus. Agiu diferente de Paulo.

Se Deus cria condições para que sua obra seja realizada e se acreditamos de fato nisso, temos que usar de cabeça erguida o que nos foi colocado à disposição para o bem da obra d´Ele. E sermos gratos pelo que Ele fez.

O terceiro ensinamento que essa história de Paulo traz para nossas vidas é que o chamado de Deus para realizar sua obra não garante uma vida sem dificuldades. Conforme já disse, Deus capacita e apoia quem chama, mas não isenta de problemas que muitas vezes são pesados.

Numa passagem na segunda carta que escreveu aos Coríntios (capítulo 11, versículos 16 a 27), Paulo descreveu todos os problemas pelos quais passou ao longo do seu ministério: perseguição, prisões, tortura, fome, assaltos, naufrágio, etc. Uma relação terrível.

E muitos outros heróis da fé cristã, como os demais apóstolos (quase todos perseguidos e martirizados) e gente como Francisco de Assis, Martinho Lutero ou Nelson Mandela, todos tiveram dificuldades. Esse é o depoimento da história.

Resumindo, o que foi dito até aqui, há pelo menos três ensinamentos a tirar. Primeiro, Deus capacita e apoia quem chama para realizar sua obra. Disso não há dúvida e a história de Paulo comprova bem isso.

Segundo, não devemos hesitar em usar os recursos que forem colocados à nossa disposição para realizar a obra de Deus, confiando que Ele fez o melhor.

Finalmente, o chamado para realizar a obra de Deus não garante uma vida fácil e sem problemas. A história demonstra exatamente o contrário: quem aceitou esse tipo de chamado precisou lutar muito.

Com carinho 


segunda-feira, 5 de setembro de 2016

VOCÊ TEME A DEUS?

Se você teme a Deus está no bom caminho. Se não teme, precisa repensar sua fé. Afinal, a Bíblia diz repetidas vezes que precisamos temer a Deus como, por exemplo, em Provérbios capítulo 1, versículo 7: “O princípio da sabedoria é o temor a Deus...” 

Mas antes de qualquer coisa, precisamos deixar bem claro do que estamos falando aqui - precisamos definir o significado da palavra "temer" conforme ela é entendida na Bíblia. 

O dicionário Aurélio, provavelmente o mais usado no Brasil, diz que "temer" tanto pode ser "ter medo ou recear" como "tributar grande respeito ou reverência", significados bem diferentes.

A grande maioria das pessoas pensa que temor a Deus tem a ver com ter medo d´Ele. Mas é fácil mostrar que isso está errado. Muito errado.

Medo é uma emoção muito forte, cujo gatilho é nosso instinto de sobrevivência. Aparece quando nos sentimos incapazes de proteger a nós mesmos, a quem amamos ou aos nossos bens. Quando nos percebemos impotentes diante do perigo.

Ora, esse tipo de sentimento não faz qualquer sentido se for tomado em relação a Deus, pois Ele não é uma ameaça para nossa sobrevivência, para nossos queridos ou para nossos bens. Não há porque nos sentirmos desamparados ou em perigo diante de Deus. Afinal, Jesus nos ensinou a vê-lo como um Pai maravilhoso.

A resposta certa, então, deve estar no segundo significado do verbo: "tributar grande respeito ou reverência". E é exatamente isso que acontece.

É por causa desse respeito e reverência que procuramos seguir os mandamentos de Deus e lutamos para não desapontá-lo com o pecado. É ainda por causa do mesmo temor que nos comportamos de forma reverente durante cultos e orações.

Faz sentido, portanto, o provérbio que citei no começo deste post, aquele que ser o temor a Deus a base de toda sabedoria humana. Afinal, é esse sentimento que nos coloca no caminho certo e que nos dá forças para evitar as armadilhas e tentações da vida.

Gostaria aqui de fazer uma pausa na linha de raciocínio para perguntar se há na Bíblia relato de pessoas que temeram a Deus no sentido de ter medo (terror) d´Ele. Sim, há várias. E uma delas foi Isaque, filho de Abraão.

Num dado momento, Jacó, filho de Isaque, estava conversando com seu sogro, Labão e se referiu assim ao próprio pai (Gênesis capítulo 31, versículo 42): "Se o Deus de meu pai, o Deus de Abraão e o temor de Isaque não fora comigo..." 

Repare, Jacó chamou Deus de o "terror de Isaque". Mas porque fez isso? Parece estranho, pois nunca podemos esquecer que Isaque foi um dos patriarcas de Israel, o herdeiro direto da promessa de Deus a Abraão.

A resposta é simples: esse medo de Isaque nasceu no episódio em que Deus pediu a Abraão para sacrificar o próprio filho, num teste de fé (Gênesis capítulo 22). Isso acabou não sendo necessário, mas o episódio traumatizou Isaque, na época apenas um pré-adolescente. Faz sentido, portanto, que, a partir daquele momento, Deus tenha se tornado uma fonte de medo para Isaque.

Mas esse é um caso excepcional e foge completamente aos padrões daquilo que Deus espera do relacionamento conosco. Ele quer nosso amor, respeito e reverência. Nunca o nosso medo.

Antes de terminar, gostaria ainda de comentar duas coisas sobre a questão do temor a Deus. A primeira delas aponta que esse sentimento é a forma de se aproximar com Deus, de criar uma relação de intimidade com Ele - vejamos o que diz o Salmo 25, no versículo 14: “A intimidade do Senhor é para os que o temem”.

A segunda coisa é que o temor a Deus concorre para eliminar todo medo do ser humano. Isto porque quem se torna íntimo d´Ele não precisa recear mais nada. E isso está bem claro na Bíblia - a expressão "não temais..." é falada por Jesus, anjos, profetas ou apóstolos mais de 350 vezes nos relatos da Bíblia, sempre visando acalmar as pessoas que tinham medo por algum motivo.

Quem teme a Deus, confia n´Ele (Eclesiastes capítulo 2, versículo 8), logo não deve ter medo de mais nada.

Com carinho

quinta-feira, 1 de setembro de 2016

VOCÊ JÁ OUVIU FALAR DA LEI ORAL?


Moisés recebeu de Deus a Lei, um conjunto de regras definindo como nosso Criador esperava que os seres humanos se comportassem. Moisés organizou esse material e o transmitiu para o povo israelita, conforme podemos ver nos livres de Êxodo, Levítico, Número e Deuteronômio, especialmente no segundo deles. Esse conjunto de regras ficou conhecido como "Lei Escrita".

A parte mais conhecida dessa Lei é constituída pelos Dez Mandamentos, que boa parte das pessoas sabe de cor. Mas vai muito além disso, tratando dos principais aspectos da vida do povo judeu, como relações sociais e vida em família, economia, prestação do culto religioso, etc. 



Ora, esse sistema legal precisava ser aplicado na prática para resolver disputas entre pessoas, punir crimes, estabelecer políticas econômicas, dentre outras coisas relevantes. No início, essa tarefa coube ao próprio Moisés, como líder inconteste do povo e alguém que sabidamente era inspirado por Deus. E todos aceitavam bem suas interpretações da Lei e decisões.



Mas os líderes que sucederam Moisés não tinham o mesmo prestígio dele e começaram a surgir dúvidas no meio do povo sobre como a Lei Escrita deveria ser aplicada na prática. Por exemplo, os Dez Mandamentos estabeleciam ser proibido trabalhar no sábado, dia reservado para descanso e culto a Deus.


Mas o que isso queria dizer na prática? As pessoas poderiam alimentar os animais, cuidar dos doentes, lutar numa guerra ou cozinhar suas refeições nesse dia? A Lei Oral surgiu exatamente para preencher essa necessidade.

A tradição israelita ensinava que o núcleo original da Lei Oral também foi dada por Deus a Moisés e por isso tinha a mesma autoridade que a Lei Escrita (contida na Bíblia). As coisas não ocorreram assim, mas era isso que os judeus acreditavam no tempo de Jesus. 

Na verdade, a Lei Oral foi sendo desenvolvida aos poucos. Toda vez que aparecia a necessidade de lidar com uma questão nova, se não havia uma regra bíblica lidando com aquela questão, uma nova regra era introduzida na Lei Oral. E assim, esse corpo de legislação foi crescendo aos poucos até atingir um tamanho considerável - tornou- se tarefa para quase toda uma vida conhecê-lo todo.

É interessante comentar aqui sobre um paradoxo: sem dúvida a Lei Oral inicialmente foi transmitida informalmente, essencialmente boca a boca, mas com o tempo acabou sendo codificada e escrita, embora continuou a ser conhecida como Lei Oral, para diferenciá-la dos mandamentos contidos na Bíblia, a Lei Escrita.

No tempo de Jesus, portanto, quando os judeus se referiam à "Lei", estavam falando não somente daquilo que estava nos cinco primeiros livros do Velho Testamento, mas também do conjunto de regras que compunham a Lei Oral.

O problema é que a Lei Oral, por ser obra humana, foi pouco a pouco modificando o espírito original da Lei de Deus. E isso acabou gerando muitos problemas: os judeus se tornaram legalistas e faziam coisas pensando estar atendendo à vontade de Deus, quando não estavam. 

Jesus se insurgiu contra esse estado de coisas, tanto assim que os quatro Evangelhos mostram inúmeras discussões dele com fariseus, escribas e doutores da Lei, que pretendiam ser os "guardiões" tanto da Lei Escrita como da Oral. Por causa dessas divergências, Jesus atraiu para si muita animosidade e foi alvo de muitas fofocas.

Um excelente exemplo desse tipo de divergência apareceu na discussão do que poderia ser feito no sábado. O mandamento bíblico diz ser obrigatório separar o sábado para Deus, logo não se podia trabalhar nesse dia. E a Bíblia lista 39 atividades proibidas no sábado, mas os autores da Lei Oral foram criando mais e mais regras derivadas dessa proibição original e o conjunto de regras para o sábado acabou se tornando enorme. 

Isso tornou a vida dos judeus no sábado bastante difícil - podemos ver um eco hoje em dia no comportamento dos judeus ortodoxos, proibidos de fazer coisas simples como entrar num carro ou até mesmo apertar o botão de comando de um elevador.

Aí Jesus veio e explicou que esse enorme conjunto de regras violava o espírito da Lei de Deus e explicou a razão de forma brilhante: o sábado tinha sido estabelecido para o homem e não o contrário (Marcos capítulo 2, versículos 23 a 27). 

Em outras palavras, o sábado foi estabelecido por Deus para que o ser humano não se tornasse um "burro de carga", trabalhando todos os dias da semana. Era preciso haver um momento separado para o lazer, para a vida em família e para o louvor a Deus. A enorme quantidade de regras estabelecidas na Lei Oral acabaram por tornar o sábado uma preocupação e de certa forma escravizaram os judeus. O sábado tinha sido estabelecido por Deus como uma dádiva e acabou se tornado fonte de preocupação. E foi exatamente para esse absurdo que Jesus apontou.

O Novo Testamento relata muitos outros exemplos como esse. Vejamos alguns deles. Começo lembrando que a Bíblia estabelece ser proibido assassinar alguém, mas era na Lei Oral que se definia a questão da intenção para caracterizar se o ato cometido tinha sido ou não justificável. 

Aí Jesus ensinou que antes do fato físico de matar, nasce no coração do assassino a vontade de fazer isso, por raiva, ciúme, ambição ou qualquer outro motivo torpe. O pecado, portanto, nasce antes do ato em si e mesmo que a pessoa acabe por não matar, ainda assim pecou (Mateus capítulo 5, versículos 21 e 22). Esse é o espírito da Lei de Deus.

Outro exemplo é o adultério: antes do ato físico em si, aparece no coração da pessoa a vontade de manter uma relação ilícita. Portanto, somente o desejo de adulterar já constitui pecado (Mateus capítulo 5, versículos 27 a 30). O mesmo vale também para a ofensa ao próximo e muitos outros casos.

A tarefa de combater o legalismo e de defender a aplicação correta do espírito correto da Lei dada por Deus trouxe muitos problemas para Jesus. Mas Ele enfrentou tudo isso porque se tratava de missão muito importante - valia a pena pagar o preço.

Como o legalismo e a interpretação distorcida da Lei de Deus continuam presentes nos dias de hoje, tanto quanto no tempo de Jesus, a missão à qual Jesus deu início continua em aberto. 

É incrível como pastores(as) gostam de criar regras de vida para as pessoas e as impõem de forma até truculenta. Regras sobre o que se pode vestir, que música é lícito ouvir, que lugares podem ser frequentados, que coisas podem ser usadas nas decorações das e assim por diante. É como se esses(as) pastores(as) estivessem revivendo a Lei Oral.

Outro dia uma pessoa escreveu para mim contando que seu pastor exige que os fiéis chamem Jesus pelo seu nome original - Yehoshua ou Yeshua -, ameaçando com a punição divina para quem não fizer isso. Parece até ridículo, mas é a mais pura verdade.

Assim, como Jesus fez, nós também precisamos nos insurgir contra o legalismo e a distorção do espírito da Lei de Deus. Como disse antes, essa missão continua em aberto e cabe a cada cristão(ã) de boa vontade levá-la adiante.

Com carinho