sábado, 30 de abril de 2016

É PECADO TER DÚVIDAS?


Quem tem dúvidas em questões relacionadas com sua fé cristã está em pecado? Já ouvi muita gente dentro das igrejas dizer que sim, que o(a) cristão(ã) nunca pode fraquejar na sua fé. Não deve ter dúvidas. A fé cristã precisa ser firme como uma rocha.

Penso que isso não é verdade: a fé saudável normalmente produz dúvidasO pastor Tim Keller, um dos grandes defensores da fé cristã hoje em dia, concorda plenamente com essa tese. Veja o que ele escreveu no livro “The Reason for God” (ainda não traduzido para o português):  
A fé sem ter algumas dúvidas é como o corpo humano sem ter anticorpos… A fé de uma pessoa pode entrar em colapso da noite para o dia se ela deixar, ao longo dos anos, de ouvir pacientemente suas próprias dúvidas, que somente devem ser descartadas depois de longa reflexão...
O conhecido teólogo cristão Samuel Rothenberg resumiu essa ideia numa frase bem curta que diz tudo: um cristão sincero é composto de muitas perguntas.

Eu penso que o ato de ter dúvidas é parte obrigatória do processo de crescimento na fé cristã. Quem cresce na fé, acaba por se fazer perguntas para as quais não consegue encontrar respostas imediatas.

É claro que o(a) cristão(ã) não pode ficar marcando passo, sempre com as mesmas dúvidas. Ficar no mesmo lugar é indicação que o crescimento espiritual parou, que a pessoa estagnou na sua fé. É preciso superar as dúvidas existentes. 

E saber que novas dúvidas vão surgir, em lugar daquelas já superadas, pois se trata de um processo que nunca acaba. Há sempre mais a saber e coisas a esclarecer.

Agora, muitas vezes fica difícil para o(a) cristão(ã) demonstrar suas dúvidas abertamente porque muitas igrejas não dão chance para isso. Quem deixa perceber ter algum tipo de dúvida passa a ser olhado(a) pela comunidade da fé com desconfiança e muitas vezes é até obrigado(a) a passar por “reeducação” espiritual. Conheço vários casos desse tipo. 

Quem vive em igrejas que somente admitem fiéis com fé inabalável, "firmes como uma rocha", acabam dando espaço para a hipocrisia e adoecimento espiritual. Igrejas desse tipo são muito perigosas e devem ser evitadas, pois fazem mal espiritualmente.

A Bíblia conta que diversos "gigantes da fé" também tiveram seus momentos de dúvidas. E acho que três exemplos bastam para demonstrar o que acabei de falar. O primeiro deles é o apostolo Tomé, que pediu para colocar as mãos nas chagas de Jesus (já ressuscitado) para conseguir acreditar no milagre da ressurreição (João, capítulo 20, versículos 24 e 25). E Tomé não foi rejeitado por Jesus por isso. Pelo contrário, Jesus deixou que ele inspecionasse seu corpo.

Elias, foi um grande profeta, cuja história está relatada no Velho Testamento. Depois de enfrentar sozinho 400 profetas do Deus pagão Baal e ser ameaçado de morte pela rainha Jezebel, sentiu-se fraco espiritualmente, duvidou e teve que ser socorrido por Deus (1 Reis, capítulo 19, versículos 3 a 8).

João Batista, o homem que veio preparar o caminho para Jesus, teve dúvidas quando estava preso: não sabia se Jesus era mesmo o Messias (Lucas capítulo 7, versículos 18 a 23).

Portanto, não tenha medo de discutir abertamente suas dúvidas. A própria Bíblia nos incentiva a fazer isso (1 Pedro capítulo 3, versículo 15). Encontre alguém para discuti-las com você, mas se precisar de mais ajuda, escreva para cá - se eu souber, terei prazer em dar a resposta. 

Finalmente, nunca se esqueça que não será possível entender tudo o que se refere ao mundo espiritual. Os planos de Deus são simplesmente complexos demais. 

E é preciso aceitar essa realidade e quando você se deparar com uma dúvida que não consiga superar, ande pela fé, como o apóstolo Paulo ensinou (2 Corintios capítulo 5, versículo 7). E a própria experiência espiritual com Deus acabará por comprovar o acerto dessa decisão.

Com carinho

quinta-feira, 28 de abril de 2016

PERDÃO SIM. MAS E DEPOIS?

A Bíblia ensina que o(a) cristão(ã) deve estar disposto(a) a perdoar muitas vezes - Jesus usou a expressão “setenta vezes sete” para exemplificar isso. Mas como a pessoa deve agir numa situação onde a ofensa é repetida, torna-se uma constante? 

Imaginemos, por exemplo, o caso de um alcoólatra que agride a mulher quando bêbado, infelizmente coisa ainda muito comum, como apontam as pesquisas sobre violência. O comportamento comum desse tipo de homem costuma ser embriagar-se, agredir a mulher, enfrentar a ressaca, voltar a ter consciência das coisas, pedir perdão à mulher e prometer nunca mais fazer de novo, manter-se sóbrio por uns poucos dias e recair, recomeçando o ciclo de violência. 

Os especialistas no tratamento de dependência química são unânimes em aconselhar o afastamento da pessoa doente do convívio da família. Simples assim. Mas quando a esposa é cristã, costuma ser aconselhada na sua igreja a ter paciência, a perdoar e retomar a relação. Será que isso está certo? 

Tempos atrás recebi um email de uma amiga minha, hoje pastora metodista, que relatou a seguinte experiência:

Vou compartilhar uma história vivida pela minha professora de antropologia, especialista nesse tema, inclusive sua tese de doutorado é sobre isso. Durante suas pesquisas de campo, ela estagiou em uma delegacia de defesa da mulher e um dos casos mais tristes que presenciou envolvia uma cristã, agredida várias vezes pelo marido e que por iniciativa própria ou aconselhada por terceiros, acabou perdoando-o e retomando a convivência. E ela estava na delegacia denunciando-o porque a violência aumentou drasticamente. Por não concordar com a cor do esmalte que ela estava usando, ele arrancou todas as unhas de suas mãos...

Acho que quem aconselhou aquela pobre mulher a perdoar o marido, permanecendo à sua mercê, deveria se envergonhar - certamente quem fez isso continuou com todas as suas unhas no devido lugar...


Depois do perdão
Perdoar não é escolha e sim mandamento. Mas isso não significa que a pessoa que sofre a ofensa ou violência deve ser ingênua e ficar desprotegida. 

O problema é que muitos líderes cristãos ensinam ser perdoar igual a esquecer e isso não é verdade. E nem é bíblico. 

Se a mulher agredida for convencida a esquecer o que passou nas mãos do seu agressor, o mais natural seria mesmo ela voltar à situação anterior, expondo-se de novo ao mesmo risco. E isso não faz sentido. É até absurdo.

Perdoar não é esquecer, pelo menos não no sentido de apagar da memória as más experiências vividas, até porque isso seria impossível. Perdoar é desistir de uma posição de “cobrança” e do desejo natural de obter reparação ou mesmo de retribuir o mal recebido. Mas isso não significa que a pessoa prejudicada deva apagar os fatos ruins da sua memória. Pelo contrário, ela precisa aprender com suas experiências, tornar-se mais sábia e até prudente. 

E isso significa, dentre outras coisas, não mais se colocar em risco, como antes. Não mais dar espaço para que o(a) ofensor(a) possa causar o mesmo mal de novo.

Tal ensinamento fica muito claro no caso de José do Egito, um dos maiores exemplos de perdão na Bíblia - para quem não se lembra, ele foi vendido como escravo pelos próprios irmãos enciumados porque o pai dava mais atenção a ele. 

A grandeza de José ao perdoar os irmãos chega a ser difícil de entender. Mas o perdão em si não significou que José retomou a convivência com os irmãos como se nada tivesse acontecido. Ele somente fez isso quando percebeu que os irmãos haviam realmente mudado e não mais representavam ameaça para sua integridade física.

Voltando ao exemplo da mulher agredida pelo marido alcoólatra, ela deve sim perdoá-lo e até ajudá-lo a procurar tratamento clínico, ajudando-o sinceramente de todas as formas a seu alcance. Mas ela deve fazer isso somente depois de separá-lo do convívio da família, para proteger a si mesma e aos familiares. E pode ser até que nunca mais seja possível que o marido venha voltar a conviver com a família normalmente. 

Outra questão importante é a retomada dos sentimentos anteriores. Será que o perdão deveria incluir um esforço, por exemplo, da mulher agredida para voltar a ter os mesmos sentimentos anteriores (amor e afeto) pelo marido, caso ele se regenere de fato? 

É claro que isso pode acontecer, afinal o Espírito Santo pode fazer qualquer coisa. Mas tal restauração de sentimentos não deve ser confundida com o perdão em si. Ela é outra coisa. E não há mandamento nesse sentido.

O mandamento sobre o perdão não exige das pessoas ofendidas esquecer o que sofreram, colocar-se novamente na mesma situação de risco, a reconciliação completa ou mesmo a retomada dos sentimentos anteriores. A Bíblia não não fazer nada disso. 

O perdão não pode se tornar numa armadilha, num mecanismo para provocar a vitimização contínua de quem quer que seja. A Bíblia não ensina e nem pede isso a ninguém.

Com carinho

terça-feira, 26 de abril de 2016

PECADO TEM TAMANHO?

Um dos ensinamentos mais conhecido no meio evangélico é que não existe tamanho para pecados, ou seja não há "pecadilhos" e "pecadões". E mais, qualquer pecado tem potencial para gerar condenação por parte de Deus. 

Por outro lado, a doutrina da igreja católica defende a gradação dos pecados, classificados como mortais (os que trazem condenação) e veniais (demais erros). E decorre desse entendimento a gradação das punições estabelecidas pelos padres, para purificar os(as) fiéis dos pecados cometidos, quando tais erros são admitidos em confissão.

Quem tem razão? Será que há mesmo gradação dos pecados? Existem pecadilhos e pecadões? À primeira vista parece que sim, afinal há até um pecado sem perdão, a ofensa contra o Espírito Santo. Além disso, o próprio Jesus parece ter graduado pecados na condenação que fez à população de duas cidades (Corazim e Betsaida), conforme Mateus capítulo 11, versículos 21 e 22: 

"Ai de ti, Corazim! Ai de ti Betsaida! Porque se em Tiro e em Sidom se tivessem operado os milagres que em vós se fizeram, há muito que elas teriam se arrependido com pano de saco e cinza. E contudo vos digo: No dia do juízo haverá menos rigor para Tiro e Sidom, do que para vós outros."   
Se olharmos mais de perto essas evidências bíblicas, veremos que não é bem esse o ensinamento transmitido. O pecado contra o Espírito Santo - a rejeição total da sua ação na vida da pessoa - torna o perdão de Deus impossível, pois impede que essa mesma pessoa venha a aceitar Jesus como Salvador. Ou seja, não é que a natureza desse pecado específico seja pior e sim que ela impede o acesso da pessoa à Graça de Deus.

Já na declaração de Jesus sobre a população das cidades de Corazim e Betsaida, é preciso lembrar foi ali onde Jesus morou durante boa parte do seu ministério. Portanto, os(as) moradores(as) daquelas duas cidades tiveram acesso privilegiado a Ele. Receberam muito mais. Assim, sua eventual rejeição de Jesus tornou-se mais séria pois a quem mais se dá, mais se cobra. É disso que Jesus falou e não do fato dos(as) moradores(as) daquelas cidades terem cometidos pecados maiores.

O apóstolo Pedro, na sua segunda carta, capítulo 2, versículo 21, repete, com outras palavras, o mesmo ensinamento de Jesus:

"Pois, melhor lhes fora nunca tivessem conhecido o caminho da justiça, do que, após conhecê-lo, volverem para trás, apartando-se do santo mandamento que lhes fora dado." 
As pessoas que têm acesso ao Evangelho de Jesus e rejeitam tal ensinamento, acabam em estado espiritual ainda pior que antes, pois deixam de ter a desculpa da ignorância para justificar seus erros. 

Não é a natureza do pecado em si que determina a seriedade maior ou menor do que foi feito aos olhos de Deus, mas o grau de esclarecimento da pessoa. Tiago, o irmão de Jesus, na sua carta (capítulo 4, versículo 17), afirmou:

"Portanto, aquele que sabe que deve fazer o bem e não o faz, nisso está pecando."
É o conhecimento de estar errando que torna o pecado mais sério aos olhos de Deus - a pessoa sabe com clareza o que está fazendo e escolheu deliberadamente pecar. 

Agora, não é possível deixar de reconhecer que as consequências de cada pecado são diferentes, algumas são maiores e outras menores. Roubar um pão normalmente gera consequências menos importantes do que matar uma pessoa a sangue frio - é possível devolver o pão roubado e pagar o prejuízo causado, mas não é possível reviver a pessoa morta.

Acredito que o erro de pensar existirem pecados maiores e menores decorre exatamente da percepção de que as consequências do que foi feito varia muito. E as pessoas acabam confundindo a gravidade das consequências por elas percebidas com a importância do pecado em si - pecados cujas consequências parecem maiores são tidos como mais sérios aos olhos de Deus. 

Acontece que a lógica humana não é a lógica de Deus. Portanto, não é assim que Ele avalia as coisas que fazemos. Até porque pecados cujas consequências imediatas e mais evidentes parecem ser pequenas podem trazer efeitos negativos de longo prazo bem maiores e isso as pessoas não conseguem perceber logo. 

Por exemplo, uma lei iníqua pode parecer beneficiar as pessoas a curto prazo, mas ter consequências terríveis a longo prazo. Nessa linha, que o governo resolva multiplicar por três as pensões dos(as) aposentados(as) e a longo prazo o INSS quebre, por não ter dinheiro para pagar os novos compromissos. No começo, muita gente ficaria feliz, mas as consequências posteriores seriam catastróficas.

O mesmo se dá com as consequências do pecado. Elas podem parecer bem pequenas de início, mas crescer muito a longo prazo. As pessoas não conseguem perceber isso, mas Deus não se deixa enganar. 

Todo pecado é sério para Deus pois entra em choque com sua Santidade e afasta o ser humano d´Ele. Esse é o ensinamento da Bíblia. Nem mais e nem menos.

Com carinho

domingo, 24 de abril de 2016

LEMBRANDO DOS ESQUECIDOS

A vida é cheia de exemplos de pessoas que parecem viver apenas nos bastidores - cumprem seu papel de forma competente, mas são outros(as) que brilham.

O filme “Os dois filhos de Francisco” conta a vida de dois famosos cantores sertanejos brasileiros sob o ponto do pai deles, Francisco. Foi ele quem deu aos filhos condições para vencerem na vida artística - é comovente a cena do filme que mostra como ele ficou fazendo inúmeras ligações de um orelhão para votar na música dos filhos e fazê-la subir nas paradas de sucesso. O filme vale a pena.

A fama veio para os filhos e não para o pai - são eles que estão na mídia e ganharam muito dinheiro. Pelo que sei, o pai ficou plenamente satisfeito em ter servido de "escada" para os filhos subirem na vida. 

O problema é que o papel desempenhando por essas pessoas dedicadas e humildes nem sempre acaba sendo reconhecido, muitas vezes nem pelas pessoas que se beneficiaram dos seus esforços. Infelizmente, assim é a vida.

O exemplo do pai adotivo de Jesus
Há vários exemplos na Bíblia de pessoas que atuaram mais nos bastidores e não são muito lembradas hoje em dia: Miriam (irmã de Moisés), Tamar (a prostituta à beira da estrada), Tiago (o irmão de Jesus) e Barnabé (o file companheiro de Paulo).

E há ainda um exemplo de grande importância e significado: José, o pai adotivo de Jesus. Infelizmente, José é pouco lembrado - há muito poucas pregações sobre ele, a não ser no Natal, fora daí quase nada.

E não é assim apenas nos tempos atuais: os primeiros sermões sobre José aparecem nos registros históricos da igreja cristã cerca de 800 anos após a ressurreição de Jesus. A própria Igreja Católica somente veio a dar para José um papel de maior destaque no final do século XIX, quando José foi proclamado "patrono" da Igreja.

A Bíblia também fala pouco sobre José – não sabemos quando nasceu e muito menos quando morreu. Sabemos apenas que foi obediente a Deus, excelente cidadão e homem muito corajoso. E essa coragem ficou patente quando ele aceitou receber Maria, mesmo grávida, como sua esposa e adotou (perfilhou) o filho dela, Jesus, pagando alto preço por isso - certamente foi olhado com reservas pela sua família, vizinhos e amigos (a sociedade da sua época era extremamente moralista).

Se José não tivesse tido essa coragem, Jesus teria sido frontalmente rejeitado pela sociedade judaica, por ser bastardo, e nunca poderia ter exercido seu ministério. Simples assim. Não há como negar, portanto, que José viabilizou o ministério de Jesus. 

Se José foi tão importante assim na história do cristianismo, por que é tão pouco valorizado? O teólogo católico Leonardo Boff deu  a seguinte resposta para essa questão:
[José] é um representante da “gente boa”, da “gente humilde”, sepultados em seu dia-a-dia cinzento, ganhando a vida com muito trabalho e levando honradamente suas famílias pelos caminhos da honestidade. Orientam-se mais pelo sentimento profundo de Deus que por doutrinas teológicas... Foi neste ambiente que Jesus cresceu. Sua relação com José a quem chamava de pai, deve ter sido tão íntima que serviu de base para Jesus sentir Deus como “Paizinho querido”(Abba) e nos transmitir essa experiência libertadora.

Quando relembro minha experiência na igreja cristã, percebo ter conhecido muitos exemplos como o de José - pessoas que muito fizeram e nunca foram devidamente reconhecidas pelos seus esforços. 

Vou citar aqui apenas três dentre eles: Isabel Pinho, que todos os domingos levantava-se bem cedo para comprar flores e ornamentar a Igreja Metodista do Catete, igreja que nossa família frequentava. Foram os arranjos de flores mais bonitos que já vi e nem por isso seu trabalho foi reconhecido como merecia. Raul Rezende, que dedicou sua vida ao orfanato metodista Ana Gonzaga e recebeu como "recompensa" um voto de desconfiança do Conselho dessa Entidade, sem dúvida uma injustiça. E minha tia Elzira, que por anos a fio mandou dezenas de exemplares da revista Cenáculo para pessoas de todo o Brasil, personalizando cada um deles com uma mensagem pessoal. Muitas pessoas tiveram suas vidas transformadas pelas mensagens que receberam mas quase ninguém lembra disso.

O mundo pode não notar. A igreja cristã, como organização humana que é, pode até esquecer. Mas tenho certeza que Deus nota e sempre se lembra. Ele guarda com enorme carinho tudo o que cada uma dessas pessoas fez pela sua obra. E elas terão sua recompensa na vida eterna. Amém.

Com carinho

sexta-feira, 22 de abril de 2016

QUANDO A CÂMARA DOS DEPUTADOS FALOU

Domingo passado o Brasil parou para acompanhar a votação para autorização do início do processo de impeachment da atual Presidente pela Câmara dos Deputados.

Foram quase cinco horas de votação nominal de cada um(a) dos(as) 513 deputados(as) federais - aproximavam-se do microfone e diante das câmaras de televisão diziam "sim" ou "não".

Há um lado meu que fica feliz em ver a democracia funcionando, pois por ter vivido a ditadura sei muito bem como era diferente 50 anos atrás - os generais davam as ordens e o país obedecia.

Por outro lado, as manifestações dos(as) parlamentares diante do microfone foram um verdadeiro show de horrores. Teve gente que falou em nome de Deus, lembrou da própria família (um deputado até quis que o filho votasse) ou defendeu causas totalmente estranhas ao escopo da votação (como a segurança de Jerusalém). Poucos falaram do que estava sendo votado.

O clima foi o de Carnaval e não aquele adequado a uma situação grave - o possível afastamento de uma Presidente. É claro que se deve dar o desconto para o fato do povo brasileiro ser muito informal, mas mesmo assim foi exagerado, além da conta

No dia seguinte ao da votação, muitas pessoas que conheço demonstraram decepção com o baixo nível daquilo que presenciaram. Eu confesso que não me surpreendi.

Penso que a Câmara de Deputados reflete exatamente a realidade do nosso povo. Não estou dizendo que nosso povo tem baixo nível e sim que não foi educado como deveria e por isso tem dificuldade de escolher as melhores pessoas para representá-lo - deixa-se enganar por técnicas de marketing baratas, deixa-se impressionar por candidatos(as) que tenham fama e acredita em promessas populistas.

O nosso povo escolhe mal e a Câmara de Deputados que vimos em ação no domingo é o resultado e a prova viva disso. Mas isso não significa que a Câmara seja ilegítima.

Agora, se olharmos as coisas pelo ponto de vista dos(as) deputados(as) fica mais fácil entender algumas manifestações feitas na frente do microfone, como àquelas de amor à própria cidade e à família ou de apoio a causas que parecem estranhas.

São muitos(as) deputados(as) e a maioria deles(as) luta para se tornar conhecido(a). Estão sempre em busca de algum espaço na mídia e o momento da votação era uma oportunidade única, que não podia ser desperdiçada. Afinal, milhões de pessoas estavam assistindo. Dai´muitos(as) deles(as) fazerem enorme esforço para aparacer.

Além disso, os segundos na frente daquele microfone foram gravados e serão usados na propaganda eleitoral gratuita da campanha de 2018. E esse material vale ouro, o que explica o circo armado.

Isso não quer dizer que aprovo o tal circo, mas apenas explicando que nosso sistema político leva a isso. Ou seja, não aprovo, mas compreendo porque o circo existe.

Não posso deixar de reconhecer também que houve manifestações indesculpáveis - como a homenagem feita a um famoso torturador da época da ditadura ou a troca de cusparadas entre deputados. São agressões morais injustificáveis.

Como também não aceito aqueles(as) que falaram em nome de Deus ou disseram que estavam fazendo aquilo por causa d´Ele.

Ninguém pode usar o nome de Deus dessa forma. Aliás, isso é proibido pelo mandamento que nos impede de tomar o nome de Deus em vão. Ele nada tinha com o que estava acontecendo ali e se as pessoas quisessem mesmo fazer a vontade d´Ele, não haveria corrupção, traições, acordos escusos, etc.

Eu aceito melhor as referencias à família. Esse é um valor ainda muito forte para o povo brasileiro, daí ser importante passar a imagem de homem(mulher) de família - os(as) eleitores(as) valorizam isso.

Mas sei também que a maioria daquelas pessoas não valoriza a família tanto assim e muito menos vive de acordo com a vontade de Deus. Portanto, boa parte das suas manifestações foi pura hipocrisia, o que é lamentável. 

Resumindo, pecados importantes, como tomar o nome de Deus em vão, hipocrisia, mentira, agressão moral, etc, foram cometidos diante do povo brasileiro. Isso sim é um show de horrores e não a aparente indisciplina, informalidade ou falta de cultura demonstrada pelos(as) deputados(as). Mas desses pecados não ouvi ninguém falar.

Achei que era importante fazer esse registro.

Com carinho

quarta-feira, 20 de abril de 2016

CONVERSANDO COM FRANQUEZA SOBRE O TEMA "ORAÇÃO"

Certo dia Jesus estava orando em determinado lugar. Tendo terminado, um dos seus discípulos lhe disse: “Senhor, ensina-nos a orar, como João ensinou aos discípulos dele”. Ele lhes disse: Quando vocês orarem, digam...                                                  Lucas capítulo 11, versículos 1 e 2

Confesso ter "inveja santa" daquelas pessoas que conseguem ficar longo tempo em oração. Seu modelo de comportamento é o próprio Jesus, capaz de fazer isso com muita facilidade e frequência.

Eu, infelizmente, confesso ter dificuldade em agir assim: minha mente voa, minha atenção se dispersa e fica difícil manter-me no espírito correto após algum tempo. 

Sou mais parecido com os discípulos que tiveram dificuldade em ficar acordados na noite em que Jesus orava no Jardim do Getsêmani. 

Oro sempre, todos os dias, mas é como uma luta permanente dentro de mim, assim como acredito era para Pedro e os demais discípulos. Por isso, eu me identifico muito com a passagem acima, onde os discípulos pediram a Jesus para ensiná-los a orar. 

A mais importante questão que aparece ao estudar essa passagem é entender a razão para o pedido dos discípulos. Por que eles pediram aquilo a Jesus? 

Para discutir essa questão, é preciso antes entender bem o significado desse pedido. Ora, os judeus eram ensinados a orar desde muito cedo. O judaísmo é uma religião que tem diversas orações prontas que as pessoas são ensinadas a repetir continuamente.

Portanto, o pedido não foi feito porque os discípulos, todos judeus, não sabiam o que dizer para Deus numa oração. Isso não teria qualquer sentido.

Outra possibilidade é que os discípulos pensassem que a ocasião específica que estavam vivendo naquele momento exigisse uma oração especial que eles não tivessem sido ensinados. Essa é uma possibilidade real, tanto assim que, ao longo dos tempos, os rabinos judeus criaram centenas de orações adequadas às mais diferentes circunstâncias, mas a maioria delas foi desenvolvida séculos depois de Jesus. Em outras palavras, nos tempos de Jesus havia muitas lacunas (circunstâncias) não cobertas pelas orações então conhecidas pelos judeus.

Agora, não havia nada de especial nas circunstâncias em que o pedido dos discípulos se deu. Os fatos que antecederam o pedido foram absolutamente comuns.

Assim, a única outra alternativa que resta é que os discípulos perceberam que Jesus orava de forma diferente dos demais judeus, mesmo os mais religiosos dentre eles. Ele orava sem repetir fórmulas prontas, sem recitar palavras que acabavam não tendo muito significado. Ele orava do coração. Demonstrava intimidade com Deus.

E os discípulos queriam a mesma coisa. Sabiam que só teriam a ganhar com essa nova forma de orar. E por causa disso fizeram o pedido.

Jesus respondeu ensinando-lhes a oração que hoje é conhecida como "Pai Nosso", que os(as) cristãos(ãs) repetem há quase dois mil anos. Nela incluiu todos os princípios que devem ser seguidos para uma boa oração: louvar a Deus, reconhecer as próprias fraquezas, fazer os pedidos necessários, etc.

Infelizmente, os(as) cristãos(ãs) acabaram transformando esse ensinamento numa outra forma pronta de oração. E repetem sempre as palavras de Jesus muitas vezes sem entender bem o que estão fazendo. Exatamente aquilo que os discípulos queriam evitar quando pediram a Jesus para os ensinar a orar.

Concluindo, todos nós, cristãos(ãs), temos a aprender em termos de oração. Alguns, como eu mesmo, precisam fazer grande progresso. Outros(as) já estão mais perto do ideal mas ainda assim ainda podem melhorar.

O fundamental é termos sempre disposição para aprender, para melhorar, como os discípulos fizeram

Com carinho

segunda-feira, 18 de abril de 2016

A DIFERENÇA QUE DEUS FAZ

Pois eu tenho a certeza de que nada pode nos separar do amor de Deus: nem a morte, nem a vida; nem os anjos, nem outras autoridades ou poderes celestiais; nem o presente, nem o futuro; nem o mundo lá de cima, nem o mundo lá de baixo. Em todo o universo não há nada que possa nos separar do amor de Deus, que é nosso por meio de Cristo Jesus, o nosso Senhor.                                   Romanos capítulo 8, versículos 38 e 39

Temos acompanhado de perto o caso de uma menina de apenas seis anos, linda e cheia de vida, que está sofrendo doença terrível: câncer no cérebro. O caso em si já é daqueles que mobiliza muito, mas há algo de muito especial nessa história: o testemunho da mãe, cristã sincera e verdadeira (assim como o restante da família), que temos acompanhado através do Facebook. 

A fé em Deus e a entrega dessa mulher são admiráveis - sinceramente eu não sei se conseguiria agir da mesma forma se enfrentasse situação semelhante. O testemunho que ela vem dando tem inspirado muitas e muitas pessoas. Tem ensinado quem vai passando por dificuldades na sua vida como enfrentá-las com mais coragem e sem perder sua fé em Deus.

Essa mãe tem dito, com outras palavras, exatamente aquilo que o apóstolo Paulo falou no texto que abre este post: nada pode nos separar do amor de Deus.

Não importa as dificuldades e tribulações da vida, o Espírito Santo está presente junto a quem sofre, consolando, dando forças, demonstrando que a pessoa não está sozinha.

A Bíblia diz que Jesus foi "homem de dores" - teve vida difícil aqui na terra e acabou por sofrer morte horrível numa cruz. É por ter sofrido na própria carne que Ele entende e se solidariza com o sofrimento humano. 

O texto de Paulo também aponta que o(a) cristão(ã) não deve esperar viver sem dificuldades. Não há promessa de Deus neste sentido. E qualquer pastor(a) que prometa vida livre de problemas, para que as pessoas venham se converter a Jesus, está simplesmente fazendo "propaganda enganosa". 

O que Paulo prometeu foi que nada iria separar aquele(a) que acredita em Jesus do amor de Deus. Nada mesmo. E é isso que a mãe da menininha doente vem testemunhando, dia após dia. 

Tal fato me faz lembrar de outra passagem da Bíblia, onde Jesus e seus discípulos encontraram um homem cego de nascença, que acabou milagrosamente curado. Os discípulos queriam saber de Jesus a razão pela qual aquele homem tinha tal limitação na sua vida e Jesus disse que era para a Glória de Deus (João capítulo 9, versículos 1 a 3). Os discípulos, como a maioria das pessoas, queriam saber o "por quê" e Jesus respondeu com o "para quê". 

E essa é uma lição que todo(a) cristão(ã) precisa aprender na sua vida. 

Com carinho

sábado, 16 de abril de 2016

QUEM CONFIA MAIS NOS HOMENS DO QUE EM DEUS...

Apenas 8% de todo o dinheiro do mundo existe fisicamente na forma de moedas ou notas que possam ser manuseadas. A maior parte existe apenas em registros eletrônicos existentes nas instituições financeiras de todo o mundo. Em outras palavras, 92% do dinheiro do mundo é virtual! 

E se os programas de computador que fazem esses registros eletrônicos forem sabotados por "hackers", o que aconteceria? O caos, pura e simplesmente.

Você não deve ter entrado em pânico ao ler o que acabei de escrever, como eu também não me desesperei ao tomar conhecimento dessa mesma informação pela mídia. E a razão para isso é simples: tano você, como eu, confiamos no sistema financeiro mundial. Acreditamos que as coisas estão sob controle e o tal caos não vai acontecer nunca.

A confiança em Deus
Ora, por que as pessoas são capazes de ter tanta confiança numa obra humana (o sistema financeiro mundial) mas têm tanta dificuldade de confiar na mesma medida em Deus? Afinal, Ele é perfeito, pode tudo e sabe tudo. Não há risco de Deus falhar.

A experiência mostra que há duas razões principais para a falta de confiança em Deus - claro que há outros motivos mas vou me concentrar nos que parecem mais importantes. 

A primeira razão tem a ver com o fato que as pessoas pensam não ter tanta importância assim para Deus. Elas imaginam que Ele teria coisas muito mais importantes para fazer (como sustentar o universo) do que cuidar delas. E a "prova" seria o estado do mundo, cheio de injustiça, violência e outros. Se Deus se importasse de fato, pensam elas, Ele já teria acabado dado um "jeito" no mundo pois tem poder para isso.

Tal pensamento não leva em conta uma coisa importante: o livre arbítrio do ser humano. Deus, num ato de amor, deu às pessoas o direito de escolher seus próprios caminhos. E na maioria dos casos, elas não fazem bom uso desse direito pois decidem fazer coisas erradas. E são essas escolhas ruins que geram o mal existente no mundo. 

A única forma de impedir que as pessoas escolhessem errado seria Deus tirar delas o livre arbítrio, transformando-as em semi-robôs. Mas aí o mundo perderia coisas ainda mais importantes: o amor sincero, a criatividade artística, a capacidade de inventar coisas novas e assim por diante.

A existência do mal no mundo não prova o desinteresse de Deus pelas pessoas. Ela é fruto da existência do livre arbítrio que foi dado a elas. Portanto, esse não é motivo para deixar de confiar em Deus.

A segunda razão pela qual muitas pessoas não confiam em Deus tem a ver com o fato que elas não entendem a lógica seguida por Ele nas suas ações. Para elas, parece ser que Deus faz as coisas de forma errada e até injusta. Poderia dar diversos exemplos desse tipo de pensamento mas vou me limitar a dois deles.

Digamos que existam duas situações iguais - dois jovens sofrendo da mesma doença - e Deus intervem favoravelmente apenas numa delas e o jovem é curado. O outro jovem acaba morrendo. Parece muito injusto. 

Na verdade, as pessoas veem igualdade onde ela de fato não existe. Para elas, a situação dos jovens é a mesma, mas para Deus, que sabe e vê tudo, não é assim. As circunstâncias que levaram os dois adolescentes a adoecerem foram diferentes. A vida espiritual dos dois jovens não era igual. Como também não o era a fé de quem intercedeu por eles em oração. 

Deus percebe todas essas diferenças e as pessoas não. Isso porque Deus vê o interior das coisas e as pessoas se deixam levar pelas aparências. São olhares totalmente distintos. 

Outro exemplo de um comportamento de Deus que as pessoas têm dificuldade de entender é a salvação com base na fé e não no que a pessoa faz (suas obras). Pareceria mais justo que essa decisão fosse tomada exclusivamente com base nos atos cometidos, como ocorre nos tribunais humanos.

Quem faz essa crítica se esquece que os padrões de julgamento de Deus são muito elevados - se Ele fosse julgar cada pessoa exclusivamente com base naquilo que ela fez, ninguém seria salvo. E a Bíblia é clara quanto a isso. Por isso a única alternativa viável para a salvação é a Graça de Deus, que se faz presente através da fé em Jesus.

E não se deve esquecer que se a salvação fosse por obras, ninguém nunca poderia ter certeza da sua própria salvação. A pessoa sempre teria dúvida de já ter feito o suficiente para ser aceito por Deus.

Sem dúvida, há uma distância entre o raciocínio humano e o de Deus. Afinal, o ser humano é muito diferente de um Ser infinito, onipotente e onisciente. Não seria mesmo razoável esperar que os dois pensassem da mesma forma. O problema está no fato de muitas pessoas pensarem que Deus é quem está errado por pensar de forma diferente delas. 

No livro "A Reforma da Natureza", o conhecido autor Monteiro Lobato - aquele que escreveu "O Sítio do Pica-pau Amarelo" - tocou exatamente nessa tema. A boneca Emília resolveu melhorar o "projeto" da natureza e saiu por aí fazendo mudanças - em dado momento, chegou a trocar as tetas das vacas por torneiras. E é claro que acabou dando a maior confusão, pois a complexidade da obra de Deus vai além da compreensão humana.

Resumindo o que acabei de dizer, as pessoas costumam não ter confiança em Deus por diversas razões, dentre as quais por pensar que Ele não se importa de fato com elas ou por não concordar como Deus age (seus critérios, suas escolhas, etc). Agora, é um enorme paradoxo que essas mesmas pessoas confiem cegamente em obras humanas, como o sistema financeiro.

Agora, muitas dessas pessoas que não confiam em Deus, voltam-se em desespero para Ele quando aparecem problemas sérios nas suas vidas, para os quais não encontram solução. Aí deixam a desconfiança de lado e oram incessantemente, vão à igreja e fazem promessas. Já vi isso acontecer muitas vezes. 

E Deus é tão bom, tão bom, que aceita essas pessoas sem qualquer restrição e cuida delas com todo atenção - esse fato sempre me impressiona.

Com carinho 

terça-feira, 12 de abril de 2016

O LOUVOR EM MOMENTO DE AGONIA

Confiam no SENHOR os que o temem: Ele é seu amparo e o seu escudo. De nós se tem lembrado o SENHOR, Ele nos abençoará... Nós, porém, bendiremos o SENHOR, desde agora e para sempre. Aleluia!                                                                   Salmo 115 versículos 12 a 18
Jesus comeu a última ceia com seus discípulos na noite em que foi traído por Judas - foi nessa mesma ceia que Ele estabeleceu o sacramento da comunhão (pão representando seu corpo e vinho seu sangue).

Agora, há um detalhe nos acontecimentos daquela noite que muitas vezes fica esquecido: Jesus e seus discípulos, depois de comerem a ceia, e quando iam a caminho do Jardim do Getsêmani (no Monte das Oliveiras), cantaram um hino de louvor a Deus (Mateus capítulo 14, versículo 26)Esse é hino é o Salmo 115, parcialmente transcrito acima. Como sei disso? Simples, o Salmo 115 era o cântico que os judeus entoavam na época da Páscoa, festa judaica que estava sendo comemorada naqueles dias

O Salmo 115 reafirma a confiança na proteção de Deus e alerta que nada e nem ninguém pode trazer segurança, exceto Ele mesmo (versículos 1 a 8).

É surpreendente constatar que Jesus louvou dessa forma exatamente na véspera do dia em que seria torturado e crucificado - quando iria se sentir o mais desamparado dos homens. Acontece que Jesus mesmo em meio à agonia acreditou e viveu plenamente uma grande verdade: "tudo contribui para o bem daqueles que amam a Deus, daqueles que são chamados segundo seu propósito(Romanos capítulo 8, versículo 28)

Jesus louvou mesmo não querendo louvar. Seu lado humano sentiu o peso do que estava para acontecer, tanto assim que, pouco depois da ceia, suou sangue, quando orava no Jardim do Getsêmani. Sabia que seria traído e negado pelos discípulos, escarnecido pelos soldados romanos e humilhado pelos judeus. E também passaria por morte horrível numa cruz.

Sabia disso e ainda assim louvou porque sabia que tudo aquilo tinha um significado e iria trazer um enorme benefício - a salvação de milhões de pessoas.

Somente pela fé uma pessoa consegue perceber um benefício mesmo em meio ao sofrimento. Na história do cristianismo, outras pessoas repetiram o exemplo de Jesus, como o diácono Estevão, que louvou a Deus enquanto era apedrejado (Atos dos Apóstolos capítulo 7, versículos 54 a 60). Muitos(as) mártires da fé cristã entraram na arena do Coliseu, em Roma, cantando hinos, pouco antes de serem devorados por animais ferozes ou queimados vivos.

Viver é correr riscos. Sempre estamos expostos a passar por aquilo que não desejamos: crises financeiras, doenças, calúnias, traições, abandono, etc. E infelizmente, muitas vezes não há como evitar que coisas ruins aconteçam. Mas quem tem fé, passa por esses desafios de forma diferente: não se deixa abater, mantém a esperança e consegue se manter em contato com Deus.

Jesus louvou a Deus pois tinha certeza da vitória final. Os mártires da fé foram capazes de cantar por causa da mesma certeza. E você? E eu? Seremos capazes de repetir o que eles fizeram? 

Seremos capazes de enfrentar o futuro confiando que seja o que vier a acontecer, isso irá contribuir para o nosso bem? 

Esse, sem dúvida, é um dos maiores desafios de quem quer ser cristão(ã) de fato. 

Com carinho

domingo, 10 de abril de 2016

O QUE VOCÊ PRECISA SABER SOBRE O DÍZIMO

Trazei os dízimos à casa do tesouro, para que haja mantimento na minha casa, e provai-me nisto, diz o Senhor dos Exércitos, se eu não vos abrir as janelas do céu, e não derramar sobre vós bençãos sem medida.                                                                          Malaquias capítulo 3,versículo 10
A questão do dízimo é uma das mais controvertidas na vida cristã. Muitas pessoas acham que a exigência de dar o dízimo é absurda pois permite o enriquecimento de pastores(as) e líderes religiosos sem escrúpulos.

Não há dúvida que tais desvios de conduta existem sim mas isso não elimina a existência do mandamento nem a necessidade de obedecê-lo. É uma situação similar à questão dos impostos: sem dúvida existe corrupção endêmica nas várias instâncias governamentais brasileiras mas nem por isso podemos parar de pagar impostos. E se todo mundo parasse de pagar, escolas, hospitais públicos e outros serviços públicos absolutamente essenciais seriam interrompidos. Haveria caos social. 

Assim, não é porque algumas pessoas fazem mal uso do dinheiro arrecadado que ficamos liberados da nossa obrigação de fazer essa contribuição. Agora, nossa obrigação não se limita a pagar o dízimo: precisamos também tomar conta para que o dinheiro arrecadado seja usado da forma correta - se sua igreja não é transparente no uso do dinheiro arrecadado, ao invés de deixar de ar o dízimo, mude de igreja. Simples assim.

O dízimo é um mandamento dado por razão óbvia: é necessário ter recursos para sustentar pastores(as), missionários(as) e outras pessoas dedicadas tempo integral ao ministério, bem como para fazer frente a todas as demais despesas relacionadas com a realização da obra de Deus (aluguéis, materiais, alimentos, etc).

Entretanto, ninguém deve pensar que vai ficar rico por ser fiel no dízimo, conforme pastores(as) inescrupulosos(as) tentam fazer as pessoas crerem. A promessa ligada a esse mandamento, conforme o versículo acima, garante que o dinheiro da pessoa será abençoado e sempre será suficiente para sua necessidades. E isso já é bastante.

Dúvidas sobre o dízimo
Algumas dúvidas sempre surgem quando se discute sobre dízimo. E a mais comum delas é: para quem a pessoa deve dar seu dízimo?

O texto bíblico acima fala que o dízimo deve ser levado à "casa do tesouro". Ora, isso é uma referencia ao Templo de Jerusalém, chamado por Deus no mesmo texto de "minha casa". E o dízimo foi estabelecido por Deus como uma forma de sustento para quem se dedicava ao serviço do Senhor, como sacerdotes e levitas: 
Porque os dízimos dos filhos de Israel, que apresentam ao Senhor em oferta, dei-os por herança aos levitas; porquanto eu lhes disse: no meio dos filhos de Israel nenhuma [outra] herança terão
Números capítulo 18, versículo 24
A dúvida que permanece é se isso se aplica às igrejas locais, pastores(as), missionários(as) e demais pessoas que se dedicam em tempo integral à obra de Deus. Penso que sim - veja o que Paulo disse :
Não sabeis vós que os que serviços sagrados do próprio templo se alimentam? E quem serve o altar, do altar tira seu sustento? Assim, ordenou também o Senhor aos que pregam o Evangelho, que vivam do Evangelho
1 Coríntios capítulo 9, versículos 13 e 14
Isso faz sentido pois se trata da mesma questão: o sustento da Obra de Deus e de quem nela trabalha. A mesma necessidade que havia naquele tempo continua a haver hoje em dia.  

Outra dúvida comum é: o dízimo deve ser dado obrigatoriamente à congregação que a pessoa frequenta? Não necessariamente, pois não é somente o pastor(a) daquela congregação que serve a Deus. Porém, faz sentido que a preferência caia sobre sustentar o lugar onde a pessoa congrega, onde se alimenta espiritualmente.

Há um ponto que costuma ficar esquecido quando se discute sobre o dízimo: a questão do apoio aos necessitados. Veja o que diz o texto abaixo: 
Ao fim de cada três anos, tirarás todos os dízimos do terceiro ano, e os recolherás na tua cidade. Então virá o levita, o estrangeiro, o órfão, e a viúva, que estão dentro da tua cidade, e comerão, e se fartarão, para que o Senhor teu Deus te abençoe em todas as obras que tuas mãos fizerem
Deuteronômio capítulo 14, versículos 28 e 29     
O significado desse texto é que um terço (um a cada três) do dízimo devido deve ser destinado para ajudar pessoas necessitadas. O texto especifica quem deve ser ajudado. Primeiro, o levita. Evidentemente não pode ser uma referencia a quem já recebia sustento por conta do seu trabalho no Templo de Jerusalém, pois esse caso já estava coberto. A única outra possibilidade é que trate-se de alguém que já fez isso mas não possa fazer mais - por exemplo, pastores(as) aposentados(as) ou doentes. 

Essas pessoas podem não ter mais acesso aos dízimos colhidos nas igrejas e assim não terem condição de se sustentar decentemente. Meu avô foi pastor por muitas décadas e ao final da vida não tinha como se manter - precisou contar com os filhos até o fim da vida. Mas existem pastores(as) que não têm a mesma sorte e aí se aplica a destinação de um terço do dízimo.  

O texto fala também de "forasteiros, viúvas e órfãos" que é uma expressão bíblica para pessoas carentes e necessitadas de forma geral. Elas também precisam ser ajudadas com esse terço do dízimo. 

Infelizmente, pastores(as) não costumam concordar com essa interpretação e continuam a defender com unhas e dentes que o dízimo venha todo para as igrejas, argumentando que o texto de Malaquias fala isso. Eles(as) se esquecem que todas as partes da Bíblia têm o mesmo peso e o texto do Deuteronômio, que manda separar um terço do dízimo para os necessitados, também precisa ser obedecido. 

A liderança da sua igreja também poderá alegar que ajuda necessitados(as) e isso até pode ser verdade, mas não conheço nenhuma delas que destine um terço do seu orçamento para essa atividade. 

Repare que o texto de Deuteronômio fala que a própria pessoa deve distribuir esse terço do dízimo. Ela não é obrigada a fazer isso mas precisa ter certeza que essa parte do dízimo tenha o destino estabelecido na Bíblia - o que pode ser feito através de obras sociais mantidas tanto por igrejas como por outras organizações cristãs idôneas. 

Resumindo, há dois mandamentos que se complementam e que, no seu todo, fazem sentido. A parte maior do dízimo - dois terços - deve ir para o sustento direto da obra de Deus, sendo dado a igrejas, de preferencia àquela que a pessoa frequenta. O restante deve ser destinado a ajudar pessoas necessitadas, através de alguma igreja, de uma organização cristã idônea ou mediante ajuda direta. 

Há ainda duas outras questões que também geram dúvida. A primeira é se o dízimo deve ser calculado sobre o valor bruto ou líquido dos rendimentos da pessoa. Ora, não há na Bíblia orientação que permita responder com precisão essa questão - afinal, não havia desconto para o imposto de renda ou INSS naquela época. Assim, penso que isso deve ser deixado à consciência de cada pessoa.

Finalmente, existe a questão se o dízimo pode ser pago apenas em dinheiro. Será que um profissional liberal - dentista, médico, terapeuta, etc - pode fazer sua contribuição em horas de trabalho? Entendo que isso é possível, desde que as horas fossem remuneradas caso não tivessem sido doadas. Afinal, nos tempos bíblicos, o dízimo podia ser dado na forma de produtos agrícolas, animais, etc. 

Acho que esses são os aspectos básicos necessários para orientar você nas suas decisões pessoais quanto ao dízimo.

Com carinho