sábado, 27 de dezembro de 2014

A FATURA DE 50 CENTAVOS

Certa vez recebi uma fatura de cartão de crédito no valor de 50 centavos. O banco mandou pelo correio uma conta cujo valor é menor do que o custo da própria cobrança. Teria sido melhor não me cobrar nada.

O problema deveu-se a um erro no programa de computador que emite esse tipo de cobrança - nela não havia previsão para lidar com cobranças de valor muito baixo. E esse erro não é de se estranhar porque programas de computador são obras humanas e, portanto, imperfeitos. 

E isso se aplica a tudo dentro da sociedade humana - as imperfeições estão sempre presentes por mais que as pessoas se esforcem para evitá-las. Mas por que será que isso acontece? As razões são diversas. 

Começo por lembrar que as pessoas nunca sabem tudo que precisam bem informadas. As informações disponíveis simplesmente nunca são suficientes. Por exemplo, imaginemos que um investidor esteja analisando a possibilidade de comprar determinada ação na Bolsa de Valores. A verdade é que ele nunca vai ter todos os dados sobre aquela empresa de que precisaria para poder tomar uma decisão segura. Vai acabar tendo que agir com base em dicas de terceiros ou mesmo seguir seus instintos. É por isso que investimento na Bolsa é mais arte do que ciência. 

Outro exemplo interessante é o caso da moça que precisa decidir sobre uma proposta de casamento e não conhece o rapaz como gostaria - seu caráter, hábitos, etc. Vai acabar tomando sua decisão com base nas informações de que dispõe, como os modos do rapaz ou as promessas que ele lhe fez. E corre sério risco de cometer um erro de grande impacto na sua vida.

Agora, mesmo que as pessoas contassem com todas as informações necessárias para tomar uma boa decisão, ainda assim não teriam condições de analisá-las adequadamente no tempo de que dispõem. Os prazos humanos se impõem - por exemplo, a data de fazer a subscrição da ação da empresa ou de validade para a proposta de casamento (o rapaz deu uma semana para a moça pensar). E não há como fugir deles. 

Outra razão para a falibilidade humana repousa nas predisposições que distorcem as avaliações que as pessoas fazem. Acabam vendo coisas que não estão lá ou deixam de levar em conta indícios de problemas. Voltando ao exemplo da noiva, se ela estiver se sentindo pressionada pela família a casar, talvez por causa da sua idade, vai avaliar o candidato a noivo de forma mais benevolente e pode até desprezar os sinais negativos, como um machismo preocupante. 

Mas no mundo de Deus não há erros. Nunca. Ele sempre têm todos os dados de que precisa (é onisciente), tem a capacidade necessária para analisá-los em tempo (é onipotente) e seu julgamento é sempre perfeito. 

Sendo assim, não é de estranhar que Deus chegue a conclusões diferentes das pessoas. Que suas soluções para os problemas quase sempre surpreendam. E que as pessoas tenham dificuldade para entender as razões d´Ele - daí o ditado "Deus escreve certo por linhas aparentemente tortas”. 

Como não entendem o que Deus está fazendo, as pessoas frequentemente pensam que Ele não está fazendo o melhor que pode. E algumas pessoas até imaginam que podem ensinar Deus o que fazer - chegam até a preparar um "roteiro" para orientar sua ação (vejo muito isso em orações que escuto por aí).

Concluindo, quando você não entender bem o que Deus está fazendo na sua vida, não se assuste. Confie mais n´Ele. Saiba que as decisões que Ele vier a tomar serão sempre melhores do que as suas próprias. E depois descanse n´Ele. Simples assim.

PS Antes que eu me esqueça de contar, eu paguei a fatura de 50 centavos...

Com carinho

sexta-feira, 19 de dezembro de 2014

O NATAL COMO ENSINAMENTO SOBRE A FÉ

As imagens do nascimento de Jesus, com anjos louvando, os três reis magos depositando seus presentes aos pés do recém nascido e outras coisas assim fazem parte do imaginário do Natal, muito caro a todo mundo.

Mas a principal reflexão que precisa ser feita nessa época do ano é bem outra: não podemos esquecer as enormes dificuldades pelas quais Jesus passou, a começar por seu nascimento numa estrebaria suja e malcheirosa. E esse foi apenas o começo. Jesus e seus seguidores tiveram vida bem fácil. Vamos ver isso com mais detalhe.

A qualidade de vida
A vida na Judeia e Samaria cerca de 2.000 anos atrás era muito difícil se comparada aos padrões de hoje. A maioria das pessoas simplesmente sobrevivia, sem qualquer outra perspectiva. Tinham poucas posses (p. ex. duas ou três mudas de roupa), baixa expectativa de vida (em média 40 anos média), dispunham da comida necessária apenas para não morrer de fome e não contavam com qualquer rede de proteção social, para quando ficassem velhas ou doentes. 

As pessoas também não tinham direitos civis - pagavam impostos escorchantes e podiam ser presas por qualquer motivo por um sistema judicial injusto e corrupto. 

Jesus e seus seguidores viveram um ministério itinerante. E viajavam quase sempre à pé  - no máximo eram usados jumentos para transportar carga. Por exemplo, a duração de uma viagem da Galileia, onde Jesus foi criado, até Jerusalém, onde ficava o Templo, durava uma semana ou pouco mais. Todo esse tempo era gasto caminhando por estradas empoeiradas, sem lugar certo para comer ou dormir. As estradas eram perigosas, expondo os viajantes a ataques de animais ferozes ou salteadores. 

Em resumo, a qualidade de vida era muito baixa, o que tornou a missão de Jesus e seus discípulos um enorme desafio e grande prova de perseverança. 

O risco da missão
O desafio real enfrentado por Jesus e seus seguidores, entretanto, foi muito além do que descrevi acima, pois a missão, em si mesma foi de alto risco. Os ensinamentos de Jesus incomodaram os poderosos da época e isso gerou perseguição contra Ele e seus seguidores.

A consequência desse processo foi terrível. Jesus morreu numa cruz assim como seis dos doze apóstolos originais, dentre eles, Pedro. Quatro outros apóstolos foram martirizados de outras formas e apenas um, João, morreu de forma natural. O apóstolo Paulo também foi martirizado (decapitado), assim como vários dos diáconos, como Estevão. Isso sem esquecer Tiago, irmão de Jesus e primeiro líder da igreja cristã em Jerusalém, que foi apedrejado.

O fato é que seguir Jesus naquela época significava uma sentença de morte quase certa. 

A razão para a perseverança
Condições de vida difíceis e perseguição violenta, esse é o quadro que Jesus e os primeiros cristãos encontraram. Sendo assim, é de se admirar que nenhuma daquelas pessoas tenha abandonado a fé cristã, mantendo-se firmes até o fim. É claro que passaram por altos e baixos, como Pedro, que chegou a negar Jesus três vezes. Mas ficaram firmes. Mas por que? A razão é simples: sua fé os sustentou.

Concluindo, o Natal e a vida de Jesus são ensinamentos permanentes sobre como viver uma vida baseada na fé em Deus.

Com carinho

quinta-feira, 27 de novembro de 2014

EU TENHO UM SONHO...

Eu tenho o sonho que meus quatro filhos pequenos um dia irão viver numa nação onde não serão julgados pela cor da sua pele mas pelo conteúdo do seu caráter…
Rev. Martin Luther King, em 28/08/1963, no discurso mais importante discurso da história recente dos Estados Unidos.

O Rev. King sempre sonhou com o fim do racismo no seu país, mesmo quando, no sul dos Estados Unidos, os negros ainda eram massacrados por organizações de homens mascarados. E, apenas com a força desse sonho, ele conseguiu angariar apoio político para mudar as leis que discriminavam os negros naquele país. 

Um sonho parecido teve o Mahatma Ghandi, quando lutou para libertar, também de forma pacífca, a Índia do jugo colonial. John Wilberforce também sonhou e liderou a luta para abolição da escravidão na Inglaterra. 

Sonhos são coisas importantes e é preciso manter a capacidade de sonhar, mesmo quando há obstáculos pela frente. Afinal, os sonhos são tão necessários como o ar que se respira. 

É preciso não perder a esperança. Nunca. Foi isso que o apóstolo Paulo ensinou em sua primeira carta aos Coríntios (capítulo 13, versículo 13). 

E Deus se dispõe a apoiar seus filhos(as) a superar as dificuldades ou a encontrar novos sonhos que venham a dar sentido às suas vidas. Lembro bem do depoimento que um homem deu durante uma aula de Escola Dominical que eu estava dirigindo. Esse homem, hoje um pastor Metodista, teve seus sonhos achatados em 2000 por um problema de saúde, que quase o tornou um paralítico, e pela morte trágica de sua filha. Mas o Espírito Santo o conduziu amorosamente em nova direção e restaurou sua vida, fazendo-o encontrar novo sentido para viver, dentro do pastorado. 

O apoio de Deus para a realização dos sonhos é fundamental. Sem isso, tudo se torna mais difícil. Mas só é possível contar com esse apoio quando o sonho for adequado, o certo para a vida daquela pessoa. Se a pessoa resolver sonhar uma coisa que pensa ser boa, mas que Deus sabe não ser adequada, Ele não vai se envolver. Não pode se envolver.

Mas como saber se um sonho é aprovado por Deus? A resposta é simples: perguntando para Ele. E o meio mais simples e direto para fazer isso é através da oração. Algumas vezes Deus também vai falar através de profecias. 

Pergunte e pode ter certeza que Deus irá responder. E se a confirmação vier, nunca perca a esperança, não importa o que venha a acontecer, pois nada poderá impedir a realização daquele sonho.

Que você, assim como o Rev. King, sempre possa dizer: “eu tenho um sonho e ele me alegra a alma”.

Com carinho

quinta-feira, 13 de novembro de 2014

REINTERPRETANDO O SOFRIMENTO

Uma mãe foi apresentar suas três filhas para uma visita. Apontou para a mais velha e disse: “essa é a minha filha mais feinha”. Essa história aconteceu cerca de 70 anos atrás e me foi contada, com lágrimas nos olhos, pela própria filha “mais feinha”. A filha nunca esqueceu - interpretou a declaração da mãe como uma rejeição, mesmo que essa não tenha sido a intenção original da mãe. 

Na verdade, os fatos que ocorrem na vida de cada pessoa acabam por ter o significado que ela lhes atribui. Um mesmo fato pode ter significado positivo para uma pessoa e negativo para outra. 

Como o significado vem da interpretação que cada pessoa dá aos fatos, é possível mudar o significado, por exemplo, tornando uma coisa ruim em algo bom, reinterpretando os fatos. E o cristão é ensinado a fazer exatamente isso. 

Vou tentar explicar isso melhor através de um exemplo, muito conhecido, que aconteceu com o próprio Jesus exatamente na noite em que foi preso. Ele sabia o que estava para acontecer e certamente sofreu a expectativa do sofrimento que estava por vir - a Bíblia chega a dizer que Ele suou sangue por conta da enorme tensão. Jesus aproveitou as últimas horas que tinha para comemorar a Páscoa dos judeus, participando de uma ceia em “família” (seus discípulos mais próximos). 

Para Jesus, aquela comemoração foi uma despedida da sua vida terrena e o início de um período de muitas dores. Durante a ceia, Jesus tomou o pão e o partiu e disse que aquilo era seu corpo, entregue ao martírio para salvação dos seres humanos. Depois tomou o vinho e disse que aquilo era seu sangue, a ser derramado por todos nós. E mandou que os discípulos continuassem a fazer o mesmo tipo de cerimônia em memória do seu sacrifício - foi instituída ali o sacramento da Santa Ceia (Marcos capítulo 14, versículos 22 a 26). 

A reinterpretação dos fatos feita por Jesus transformou um evento profundamente triste, num motivo de esperança para todos os seres humanos. E como Jesus conseguiu fazer isso? Olhando além dos fatos humanos - a abordagem humana somente conseguiria ver medo e tristeza. 

Quando Jesus colocou Deus na equação, o significado mudou. Haveria sofrimento sim, mas o sacrifício de Jesus iria abrir as portas da salvação para todos os seres humanos. O sofrimento de Jesus deixou de ser motivo de angústia e tristeza para se tornar no motivo de esperança. E foi isso que deu motivação aos discípulos para enfrentar todas as dificuldades que estavam por vir e pregar o Evangelho de Jesus a todos que viram pela frente.

Jesus ensinou que é preciso olhar para os fatos, especialmente aqueles que trazem sofrimento, buscando ver neles "as impressões digitais" de Deus. Sei que isso é muito difícil, especialmente quando o sofrimento é grande, mas quem consegue fazer isso tem sua vida inteiramente transformada.  

Trata-se de sempre tentar entender as coisas olhando para elas sob o ponto de vista de Deus. Já dei o exemplo do próprio Jesus, transformando seu sofrimento numa celebração periódica do plano da salvação de Deus. Um outro exemplo, esse relacionado com uma coisa boa, pode ser útil nessa discussão. 

Imagine que você recebeu uma promoção no emprego. É claro que isso é motivo de alegria e de realização pessoal - essa é a visão humana. Mas tente entender também o que Deus está mostrando para você a partir desse fato. Será que faz sentido pensar que Deus esteja esperando apenas que você passe a consumir mais, por ter mais dinheiro? Ou espera mais de você? 

Essa outra reflexão traz Deus para o centro da discussão e certamente vai levar você a conclusões bem distintas daquelas que chegaria se pensasse apenas no benefício material de um salário maior.

Portanto, tente sempre olhar para os fatos que acontecem na sua vida tanto sob o ponto de vista humano - aquele que normalmente é usado -, mas também tentando ver como Deus está olhando para aquilo que aconteceu. Isso é muito mais difícil de fazer quando há sofrimento envolvido, mas isso não deve desanimar você. Procure o sentido mais profundo das coisas, aquele que Deus dá. 

É claro que muitas vezes somente é possível ver o significado mais profundo do sofrimento anos depois. O sofrimento cega as pessoas e isso é natural. Muitas vezes somente é possível entender o lado de Deus tempos depois, quando há distanciamento emocional dos fatos.

Um bom exemplo disso é José, vendido como escravo, ainda adolescente, pelos próprios irmãos. Os irmãos cometeram essa barbaridade porque estavam enciumados com a preferencia que o pai deles, Jacó, demonstrava por José. O rapaz foi levado ao Egito, onde passou por muito sofrimento, mas eventualmente acabou se tornando o segundo homem mais poderoso daquele país - braço direito do faraó. Por conta disso, José teve condições de acolher sua família no Egito, salvando-a da grande fome que quase vinte anos depois aconteceu naquela região. 

Já velho, olhando sua vida em retrospectiva, José reinterpretou os fatos e percebeu naquilo tudo um plano de Deus para salvar sua família (Gênesis capítulo 50, versículos 15 a 21). E ele conseguiu perdoar os irmãos.

É claro que, se José fosse perguntado, quando ainda era escravo, o que estava achando daquilo tudo, provavelmente diria que Deus tinha se esquecido dele - que estava sofrendo de forma injusta. E seria normal esse tipo de reação. 

Com a perspectiva dos anos, José conseguiu olhar para o seu sofrimento com outro olhos e transformar algo ruim em uma coisa boa. E isso somente foi possível quando José percebeu a presença de Deus em tudo o que aconteceu.

Concluindo, quais são os fatos da sua vida que têm lhe causado sofrimento e podem ser reinterpretados, introduzindo Deus no quadro da sua análise? Será que seu sofrimento, embora duro e difícil, não pode passar a ter outro significado?

A Bíblia está cheia de relatos de pessoas - como Jesus ou José - que comprovam não ser possível evitar o sofrimento humano. Queiramos ou não, sofrer é parte da vida humana. E sempre é possível dar um novo significado à experiência vivida, mais positivo, que permite livrar você de sentimentos ruins, como raiva, mágoa, necessidade de vingança, etc.  

E a forma para conseguir fazer isso é entender o ponto de vista de Deus. O que Ele espera? O que pretende ensinar ou mostrar? E, como já disse antes, quem consegue fazer isso tem sua vida transformada. 

Com carinho    

terça-feira, 11 de novembro de 2014

DONS E MINISTÉRIOS

Lá por volta de 1985, eu estava numa reunião de oração. Minha vida espiritual não estava boa, o que é muito comum em pessoas jovens, no auge da sua carreira profissional.

Confesso que estava meio distraído durante as orações, até que um pastor olhou para mim e disse: “Deus me faz saber que o irmão tem dois dons espirituais, sendo o primeiro deles o ensino (da Palavra de Deus). Você conhecerá o segundo mais tarde...

Confesso que  não acreditei muito naquela revelação e cheguei a pensar: “esses pastores têm mania de encontrar dom espiritual para todo mundo”. E a minha vida seguiu.

Três anos depois, entrei numa livraria – mania que me faz comprar mais livros do que realmente consigo ler. De repente, vi um livro (em inglês) de introdução ao Velho Testamento. E tive vontade irresistível de comprá-lo, embora naquela época eu quase não lesse textos cristãos, exceto a Bíblia, de vez em quando. Só fui começar a ler aquele livro quase dois meses depois e um novo mundo se abriu para mim. 

Poucos meses depois, participei de um pequeno grupo de estudo bíblico realizado no consultório de uma amiga. Num dos encontros semanais, o mesmo pastor que tinha me dado a revelação inicial pediu-me para preparar um estudo para o grupo. Para minha surpresa, senti prazer em cumprir aquela tarefa. Não demorou muito e eu estava dirigindo o grupo. E nunca mais parei. 

Levou algum tempo até eu me dar conta que a revelação dada três anos antes tinha se cumprido: eu realmente recebera o dom de ensinar a Palavra de Deus. E falo isso com humildade, pois não se trata de mérito meu e sim de uma dádiva do Espírito Santo. 

Por que Deus me escolheu para essa atividade? Não tenho a menor ideia, mas fato é que essa escolha passou a determinar o rumo da minha vida.

Dons espirituais e ministérios
Dons espirituais são o revestimento de poder que as pessoas recebem do Espírito Santo para realizar a obra de Deus. Qualquer pessoa que se disponha sinceramente a trabalhar na obra de Deus receberá os dons necessários para isso. Não é privilégio de ninguém.

Assim, dons são dados não para proveito pessoal de quem quer que seja - por isso não se pode ganhar dinheiro com eles.

Agora, gostaria de introduzir outro conceito importante: ministério. Trata-se da missão que cada pessoa executa na obra de Deus. Por exemplo, este blog é um ministério de ensino da Palavra de Deus. Uma pessoa que visite doentes terminais em hospitais públicos, para levar-lhes conforto, estará exercendo o ministério de misericórdia. Um pregador, que trabalha para ajudar a converter pessoas para Cristo, estará exercendo o ministério de evangelista. E assim por diante.

Algumas igrejas, como a metodista (a qual frequento), chamam as diferentes áreas da sua organização de “ministérios”. E isso acaba gerando confusão, pois um ministério como o que tenho aqui no blog é diferente do que acontece numa igreja local. Aqui não tenho nenhuma organização por trás de mim. Agora, quando atuo na minha igreja local, por exemplo na área de ação social, preciso seguir as normas que foram estabelecidas ali. 

Dons e ministérios precisam se complementar. Para exercer um determinado ministério, a pessoa precisa dos dons que a capacitem para os desafios a serem enfrentados. Por outro lado, se a pessoa tem um dom e não o coloca em uso num ministério, estará desperdiçando aquilo que o Espírito Santo lhe deu e será cobrada por isso. 

Há uma parábola em que Jesus conta que certo rei (Deus) saiu em viagem e deu determinada quantia de dinheiro (dons espirituais) para três diferentes servos. Dois deles fizeram o dinheiro crescer, aplicando-o em atividades rentáveis (usaram com sucesso o poder recebido na obra de Deus). O terceiro, com medo de perder o que lhe tinha sido dado, enterrou o dinheiro (desperdiçou o poder que Deus lhe deu). Quando o rei voltou, os dois que fizeram o dinheiro render foram premiados, enquanto o que nada fez, foi punido (Mateus capítulo 25, versículos 14 a 30). 

Em outras palavras, quem recebe dons espirituais precisa aplicá-los para que a obra de Deus prospere. Se não fizer isso, seremos cobrado(a) por Deus. Agora, com base na minha própria experiência, posso garantir que usar um dom e ver a obra de Deus prosperar é motivo para enorme satisfação e realização pessoal. Quando a pessoa realmente se coloca a disposição da obra fará aquilo que for necessário sem sacrifício e com alegria. 

Você quer usar os dons que Deus tem reservados para você? Antes de qualquer coisa, ore e peça a orientação do Espírito Santo, porque a obra é dirigida por Ele.

Aí faça aquilo que seu coração mandar: ensine a Palavra, ajude um necessitado, console alguém caído, visite doentes, etc. Pode ter certeza que você não vai se arrepender.

Com carinho

sexta-feira, 7 de novembro de 2014

PROVA ARQUEOLÓGICA DA EXISTÊNCIA DE DAVI

Cerca de 25 anos atrás, havia uma grande discussão histórica: será que o rei Davi realmente existiu mesmo ou não passa de uma figura mitológica? 

Para nós, cristãos, que acreditamos no testemunho da Bíblia, essa dúvida nunca existiu. Davi é uma figura fundamental da história de Israel.

Mas o fato é que não havia nenhum artefato arqueológico que provasse a existência de Davi. Somente textos, como a Bíblia ou escritos dos rabinos judeus, faziam referência a ele. Ora, alguns historiadores e arqueólogos, que passaram a ser conhecidos como minimalistas, lançaram dúvidas sobre a existência de Davi. Para eles, esse homem não passa de um mito - uma figura de fantasia criada pela cultura judaica que estava em busca de um herói que inspirasse as pessoas. 

O debate continuou durante muito tempo e muita gente deu atenção aos minimalistas. Muitos cristãos se sentiam confusos, achando que havia aí um grande problema com o relato bíblico. Até que foi encontrada uma inscrição, numa escavação arqueológica no local de Tel Dan, fazendo referência à "casa (dinastia) de Davi", que reinava sobre Judá à época. A inscrição foi feita em 830 AC, cerca de 150 anos depois do reinado de Davi - a parte realçada na foto abaixo é onde é feita essa referência. 


Ora, o costume daquela época era que cada dinastia fosse referenciada pelo nome do seu fundador. E a dinastia que reinava sobre Judá, a parte sul do reino de Israel (depois que ele se dividiu), descendia de Davi. Além disso, como a inscrição data de apenas 150 anos depois do reinado de Davi, não haveria tempo hábil para um mito ser criado - os estudos mostram que a criação de mitos leva várias centenas de anos. Portanto, essa inscrição é uma prova real da existência do homem Davi - confirma exatamente aquilo que a Bíblia afirma. 

É claro que os minimalistas tentaram reagir, primeiro dizendo que a inscrição era forjada e depois questionando a tradução fazendo referência à "casa de Davi". Mas eles acabaram sendo desmentidos por outros especialistas e a veracidade da inscrição se sustentou. E, a partir daí, os minimalistas foram perdendo credibilidade e embora ainda resistam, gozam de pouca reputação hoje em dia. 

Os minimalistas cometeram um erro conhecido: tomaram a ausência de evidencias (provas) concretas como evidencia da ausência de alguma coisa (no caso, Davi). Esse tipo de erro lógico infelizmente é muito comum - tropeçamos nele a toda hora. Por exemplo, quando os ateus alegam que não encontram provas que Deus existe e, portanto, isso prova que Ele não existe, estão cometendo o mesmo tipo de erro.   
A inscrição encontrada em Tel Dan chamou recentemente a atenção da mídia pois é parte de uma grande exposição de artefatos arqueológicos que está sendo apresentada no Museu Metropolitano de Nova Iorque. Pena que não posso ir a Nova Iorque vê-la de perto. Se você for, não perca essa chance. 

Com carinho

quarta-feira, 22 de outubro de 2014

UMA RELIGIÃO LIBERTADORA


Muitas pessoas com quem converso sobre o cristianismo se surpreendem quando falo que se trata de uma religião libertadora do ser humano. Isso por que a imagem do cristianismo que tem sido passada, em muitos casos, é exatamente a oposta: uma religião que oprime com seus dogmas, regras de comportamento, ameaças de punição com o inferno, etc. 


Acho que essas duas percepções têm seu núcleo de verdade. O cristianismo é sim uma religião libertadora, quando entendido e praticado da forma correta. Por outro lado, muitas vezes essa religião tem sido abusada, tornando-se uma caricatura daquilo que Jesus defendeu e lutou para implantar. 

E a razão para isso é fácil de entender: as religiões são desenvolvidas e conduzidas por seres humanos e a imperfeição deles muitas vezes acaba por impactar as práticas religiosa do dia a dia, mesmo quando a doutrina básica é maravilhosa. Um excelente exemplo disso é o caso do Pastor Jim Jones que levou centenas de seguidores ao suicídio coletivo. Outro exemplo bem ilustrativo é a Inquisição conduzida pela Igreja Católica.

Jesus nos disse que a verdade haveria de libertar as pessoas. E também que Ele mesmo era o caminho, a verdade que liberta e a vida eterna para as pessoas. Onde Jesus está, a liberdade floresce. E se existem cadeias é porque Jesus está muito longe dali.

E quando a religião se torna "tóxica", a primeira coisa que fica perdida é a liberdade pessoal. E isso ocorre por causa de três coisas, às quais você precisa ficar atento:

Legalismo 
Trata-se da "ditadura" das regras. Os dirigentes religiosos estabelecem padrões de comportamento que devem ser seguidos por todos(as) e quem não faz isso, por qualquer motivo, é considerado pecador(a), discriminado(a) pela comunidade e ameaçado(a) com o inferno. 

Os que defendem o legalismo apontam para as mais de 600 regras que a Bíblia apresenta no Velho Testamento, para provar que Deus gosta de controlar o comportamento humano. Ora, essas pessoas esquecem que, quando estabeleceu essas regras, Deus estava construindo uma nação a partir de um povo (Israel) formado por escravos fugidos do Egito. E toda sociedade precisa de leis para funcionar bem. Basta lembrar, por exemplo, das milhares de leis federais que temos em nosso país. Somos muito mais legalistas do que a sociedade que Israel construiu sob a inspiração de Deus. 

O principal problema com o legalismo é a criação de regras que não deveriam existir. Um bom exemplo é usar o Velho Testamento para estabelecer um código de vestimenta para os dias de hoje, o que é absurdo. Mas muitos líderes religiosos fazem isso. 

E há um poderosos incentivo para os líderes religiosos serem legalistas: o poder. Afinal, ter condição de ditar o comportamento das outras pessoas dá poder para quem estabelece e controla o cumprimento das regras. E era isso que acontecia com os escribas e fariseus na época de Jesus e a principal razão porque Ele se desentendeu tanto com aquelas pessoas.

Patrulhamento
Essa prática normalmente acompanha o legalismo - é outra face da mesma moeda. Para entender bem seu funcionamento, vou recorrer ao regime comunista, hoje já quase desaparecido do mundo. Aquele tipo de regime nunca teria conseguido se manter no poder se não tivesse tido a cooperação da própria população por ele oprimida. As pessoas eram ensinadas desde cedo pela cartilha comunista e se tornavam os “olhos e ouvidos” do regime, denunciando qualquer desvio de conduta – houve casos até de filhos denunciando os próprios pais.

O mesmo acontece em muitas igrejas hoje em dia: discipuladas por uma cartilha de comportamento rígida, as passam a se controlar umas às outras, denunciando à liderança os "pecados" percebidos. E, quando pegas em "delito", as pessoas denunciadas são disciplinadas publicamente, muitas vezes não lhes sendo permitido tomar comunhão, liderar ministérios da igreja ou participar de certas atividades, como o louvor. Há casos até em que as pessoas precisam fazer confissão pública dos seus pecados. 

Quando há patrulhamento, vai-se embora a liberdade e passa a imperar a hipocrisia – o importante deixa de ser "fazer o certo" e passa a ser "parecer que se faz o certo".

Controle do acesso a Deus
Tal desvio se caracteriza quando o líder religioso tenta regular o acesso das pessoas a Deus - por exemplo, tudo deve ser feito através dele(a) ou com seu conhecimento. As pessoas precisam confessar seus pecados para ele(a), as bênçãos são ministradas apenas por ele(a), a doutrina é estabelecida por ele(a) e assim por diante.

Ora, quando o relacionamento das pessoas com Deus passa a ser controlado por alguém há um enorme risco dessa pessoa conduzir as demais por caminhos errados - o caso do Jim Jones, a que me referi acima, mostra exatamente isso. Os desvios da Igreja Católica na Idade Média, quando os fiéis eram desincentivados a lerem a Bíblia e, portanto, somente conheciam a doutrina pelo que os padres lhes ensinavam, é outro exemplo real desse tipo de situação. 

Palavras finais
Se sua igreja mostra sinais fortes de um ou mais desses três sintomas e se você se sente acuado e sem "espaço para respirar", o erro não está em você, mas na sua igreja. Mude de igreja pura e simplesmente, sem qualquer remorso. E, se puder, dê esse depoimento para outros(as) frequentadores dessa igreja - sua coragem poderá ajudá-los(as) a tomar a mesma decisão.

Vá para um lugar onde o Evangelho pregado seja aquele que Jesus defendeu, qual seja aquele que salva o ser humano e o(a) liberta dos vícios, ódio, hipocrisia, etc. A igreja é um lugar de liberdade e, se não for, não é uma igreja como aquela que Jesus estabeleceu. Simples assim.

Com carinho

quarta-feira, 8 de outubro de 2014

TEOLOGIA TÓXICA

Hoje vou falar de teologia tóxica, algo com o quê você deve tomar muito cuidado. Esse é um grande perigo para sua vida espiritual.
Anos atrás, atrás morreu precocemente a cantora Whitney Houston. Ela tinha voz de anjo, grande beleza e um talento musical extraordinário, o que fez dela uma das cantoras pop mais conhecidas e premiadas da sua época.
O que ficou escondido por trás de todas as homenagens que foram feitas a Whitney na época da sua morte foi o fato de que ela era profundamente cristã - a última música que cantou falava justamente do seu amor por Jesus. E foi muito triste perceber que uma pessoa tão abençoada e cristã verdadeira tenha tido final tão triste. 

O fato é que Whitney foi vítima de duas forças terríveis que acabaram destruindo sua vida física e emocional: o abuso doméstico e a obediência cega a uma teologia errada. Vejamos o que aconteceu.

Bobby Brown, o marido de Whitney, a quem ela amou profundamente (chegou a se declarar "viciada" em amá-lo), é um artista menor, que tinha inveja do sucesso da própria esposa. E ele fez tudo para acabar com a autoestima de Whitney, aproveitando-se de sua personalidade frágil, inclusive levando-a a consumir drogas. Amor sem medida dedicado a uma pessoa abusiva e manipuladora é caminho certo para o desastre. E foi isso que aconteceu com Whitney.
Mas, ela também foi vítima de uma  teologia tóxica que escolheu seguir cegamente. O fato é que Whitney permaneceu por longos anos num casamento terrível porque achava que era isso que Deus queria dela. Numa entrevista que deu para Oprah Winfrey em 2009 (disponível no Youtube), ela disse que, como cristã, era seu dever ficar casada a qualquer custo e chegou a citar Mateus capítulo 19, versículo 6: “Portanto, o que Deus ajuntou, não o separe o homem”. Citou ainda a passagem bíblica que, na percepção dela, dava ao seu marido poder de dirigir sua vida (Efésios capítulo 5, versículos 22 a 33). 
Na mesma entrevista, ela contou que certo dia começou a pedir a Deus ajuda para sair daquele inferno. Orou para ter forças por apenas um dia e Deus atendeu seu pedido e ela saiu de casa apenas com a roupa do corpo. Mas seu afastamento do marido abusivo veio tarde: o mal físico e emocional que lhe tinha sido feito cobrou seu preço. Whitney nunca mais conseguiu se recuperar – basta ver suas últimas fotos. 
Os custos de uma teologia tóxica
O cristianismo é uma religião que liberta o ser humano e portanto nunca pode defender algo que o escravize. E qualquer teologia que aponte na direção dessa escravização deve ser considerada tóxica. Vejamos o que estava errado naquilo que ensinaram a Whitney. 
Sou um defensor do casamento e acho que sempre deve haver um grande esforço para preservá-lo. Mas essa preservação não pode ocorrer a qualquer custo, como aconteceu com aquela mulher. E o versículo de Mateus - nenhum ser humano deve separar aqueles que Deus juntou -, citado pela própria cantora, não a obrigava, como lhe foi ensinado por alguns pastores, a esse tipo de sacrifício. 

E é fácil de entender a razão para o que acabei de afirmar. Basta perguntar: quando é que Deus junta verdadeiramente um homem e uma mulher? A maioria dos evangélicos responderia que isso ocorre quando as pessoas se casam na igreja, frente a um pastor. Mas quem pode garantir que a união feita numa cerimônia religiosa é equivalente a uma união feita por Deus? Onde isso está dito na Bíblia? Posso afirmar que em lugar nenhum.

Para confirmar o que acabei de dizer, basta lembrar de Isaías capítulo 1, versículos 13 e 14, onde Deus afirma que detesta liturgias religiosas vazias. Elas nada significam. 
E o casamento algumas vezes pode virar uma liturgia vazia. Eu me explico. Por exemplo, há cerimônias religiosas de casamento onde um dos noivos está ali apenas para cumprir uma obrigação social, já que nem acredita direito em Deus. Acho que também não tem valor espiritual a cerimônia onde um dos noivos se casa por interesse ou esconde suas reais intenções em relação ao outro.  
O casamento religioso na igreja e a união feita por Deus são coisas diferentes. Até acredito que boa parte dos casamentos feitos nas igrejas envolve uniões feitas por Deus, mas certamente não é sempre assim que acontece. E o caso de Whitney certamente foi um caso em que Deus nada teve a ver com a união. 

Outro aspecto tóxico da teologia que a cantora seguia é a questão da autoridade absoluta e inquestionável do marido sobre a esposa. Muitos evangélicos entendem que o texto de Efésios capítulo 5 dá ao marido esse papel, o que não é verdade. Afinal, no mesmo texto, é dito que o marido deve amar a mulher como a seu próprio corpo, como Cristo faz com a igreja. 

Na verdade, o texto defende uma submissão mútua, já que o corpo (a esposa) cria limite físicos para a alma (o marido). Paulo defendeu que o marido e mulher devam se submeter um ao outro, ou ninguém se submete a ninguém. 

A situação em que a mulher se submete cega e unilateralmente ao marido, como aquela que Whtiney aceitou viver, não está prevista na Bíblia. E nem é razoável, não podendo ser do agrado de Deus. 
Por que a teologia tóxica permanece?
Há várias razões para isso. A primeira delas é a ignorância pura e simples - as pessoas não sabem que há algo errado no que lhes foi ensinado e simplesmente se limitam a repetir o que aprenderam. 
A segunda razão é que as pessoas se acomodam nos papéis que aprendem a desempenhar. E muitas vezes parece ser mais confortável deixar como estar, para ver como fica... As pessoas somente mudam quando a dor torna-se insuportável, pois mudar também incomoda. Doeu muito para Whitney abandonar seu casamento, conforme ela mesmo declarou e essa foi uma das razões pela qual ela hesitou tanto em fazer isso.

A terceira razão é que não interessa a algumas pessoas mudar essas doutrinas tóxicas, pois tiram vantagem delas. Por exemplo, para um homem machista, desejoso de controlar a vida da sua mulher, a visão teológica que estabelece a dominação da esposa pelo marido cai como uma luva. 
Palavras finais
Uma boa teologia deve iluminar mentes, libertar almas e encaminhar pessoas na direção do Reino de Deus. A teologia tóxica pega pedaços da Bíblia, fora de contexto, e os usa para dominar e aprisionar pessoas. E aí daquele que tiver a audácia de se rebelar contra esses ensinamentos distorcidos pois, no mínimo, vai ser rotulado de fazer a obra de Satanás. 
Há inúmeros exemplos de teologias tóxicas, todas com resultados destrutivos. Falei aqui um pouco sobre a teologia errada que leva a esposa à submissão ao marido e a permanecer num casamento a qualquer custo, mas há outros exemplos importantes como aquela que defende que "cristãos verdadeiros não adoecem" (a chamada "confissão positiva") ou que "Deus nos quer ver a todos prósperos" (a teologia da prosperidade). Cuidado com elas.

Com carinho

sábado, 4 de outubro de 2014

COMO VOCÊ COMPRA LARANJAS?

Você pode comprar laranjas no supermercado de duas formas. A primeira é pegar um pacote que já tem certo número de frutas e está etiquetado com o peso delas. A outra forma é escolher as laranjas uma a uma, num pilha de frutas, levando aquelas que você considerar melhores. A primeira forma torna a compra mais rápida e simples, enquanto a segunda garante que o(a) comprador(a) tenha um produto final melhor. 

As relações humanas são muito similares à compra de um "pacote" fechado de laranjas. Se você escolher se relacionar de alguma forma com alguém, "comprará" o "pacote" fechado de qualidades e defeitos dessa pessoa, as coisas boas e ruins que são parte da vida dela. Não é possível, por exemplo, ficar apenas com as qualidades pois o "pacote" vem fechado - muitos(as) até se iludem achando que vão conseguir, com base no seu amor, mudar aqueles(as) com quem se relacionam, mas isso quase nunca acontece. 

O mesmo tipo de situação é encontrado quando as pessoas escolhem seguir o cristianismo. Existe um "pacote" doutrinário fechado que acompanha a fé cristã e as pessoas que desejam segui-la precisam "comprar" essas ideias. 

Agora, muitas pessoas se convertem ao Evangelho de Jesus mas querem tirar as "laranjas indesejadas" do "pacote" doutrinário cristão. Essas "laranjas" são os ensinamentos e doutrinas desagradáveis como "o inferno", "a natureza pecaminosa do ser humano", "cada cristão tem sua cruz para carregar", "a necessidade de amar o próximo" e outras coisas desse tipo. 

Essas pessoas desejam ser cristãs mas querem seguir um modelo de cristianismo próprio, formado apenas pelas doutrinas que elas gostam e querem seguir. E isso é muito mais comum do que parece ser o caso - eu diria que uma parte expressiva dos cristãos(ãs) pensa e age exatamente assim. 

Ora, o "pacote" doutrinário do cristianismo não pode ser alterado pois foi "embrulhado" pelo próprio Deus. Se você quer se considerar cristão precisa aceitar integralmente aquilo que Jesus ensinou e pediu que você faça, mesmo quando essas coisas sejam difíceis de aceitar e não sejam agradáveis. 

Para ser um(a) cristão(ã) verdadeiro, você precisa aceitar todas as "laranjas" que Deus colocou no "pacote" do cristianismo e, mais do que isso, confiar que são todas de boa qualidade e absolutamente necessárias para sua vida. Simples assim.

Com carinho   

terça-feira, 30 de setembro de 2014

OS QUATRO TIPOS DE AMOR


"...Se não tiver amor, nada serei. O amor é paciente, é benigno, o amor não arde em ciúmes, não se ufana, não se ensoberbece, não se conduz inconvenientemente, não procura os seus interesses, não se exaspera, não se ressente do mal e não se alegra com a injustiça, mas regozija-se com a verdade, tudo sofre, tudo crê, tudo espera, tudo suporta. O amor jamais acaba..."                                 1 Corintios capítulo 13
A passagem acima é muito conhecida e se deve ao apóstolo Paulo. E ninguém falou melhor sobre o amor verdadeiro do que ele. 

Acontece que esse texto é muito usado em casamentos - já perdi a conta das vezes em que vi isso acontecer. Mas Paulo falou que o amor que estava descrevendo não arde em ciúmes. Ora, não há nada que mais "arda em ciúmes" do que o amor entre um homem e uma mulher. E quem diz o contrário, nunca amou. 

Será que Paulo errou na sua descrição, talvez por não ter sido casado? Na verdade, Paulo estava falando de outro tipo de amor. E é um erro de interpretação usar 1 Corintios 13 para falar do amor entre homem e mulher.
 
Esse erro de interpretação tão comum nasceu, na verdade, na tradução do texto original do Novo Testamento do grego koine para o português. O problema é que existem quatro palavras ("eros", "storge", "philia" e "agape") no grego que são todas traduzidas pela mesma palavra em português, "amor". E somente o contexto permite saber do que o autor está falando em cada situação particular. 

O problema de não conseguir encontrar a palavra adequada numa língua quando se traduz da outra é muito comum. Por exemplo, a palavra saudade praticamente não existe fora do português. Outro exemplo é a palavra "chuva" que no japonês pode ser traduzida de 20 diferentes formas.

A seguir explico melhor os quatro diferentes sentidos que a palavra "amor" pode ter na Bíblia. 

Eros
É o amor que existe entre homem e mulher, incluindo os aspectos sexuais. A Bíblia descreve com bastante propriedade esse tipo de amor no livro Cântico dos Cânticos, escrito por Salomão. A palavra paixão descreve uma parte desse amor, o seu aspecto mais físico, mas o amor "eros" vai além disso. 

O "eros" é um amor exigente, pois espera retribuição. Quer exclusividade e sofre muito com o ciúme.

Storge
É o amor existente entre uma mãe e seus filhos ou entre irmãos. Mas não seria errado dizer que também está presente no amor de uma pessoa pelo seu cachorro. 

Uma palavra no português que descreve um pouco melhor o amor "storge" é "afeição", mas essa tradução não é perfeita, pois "storge" tem um sentido mais forte do que "afeição".

"Storge" talvez seja o tipo mais simples de amor. Não exige exclusividade e nem retribuição. É universal pois todas as pessoas esperam receber tal tipo de amor e quando isso não ocorre, sofrem grande trauma emocional - basta ver os problemas que existem entre pais e filhos(as).

Uma característica interessante do amor "storge" é que ele lida mal com a mudança. Para os pais, os filhos nunca crescem e os filhos não gostam muito de ver mudanças nos pais – por exemplo, um novo amor "eros" na vida da mãe ou do pai.

Philia
Esse termo se refere ao amor que existe entre amigos. É semelhante à amizade, porém mais forte. Por exemplo, o Novo Testamento fala que Jesus amava o apóstolo João e o termo usado é exatamente "philia". 

É o amor que deve existir dentro de uma comunidade cristã e também o que mais se aproxima daquele que haverá entre as pessoas salvas, no Paraíso. 

O amor "philia" também pode existir entre marido e mulher ou entre irmãos e certamente sua existência reforça em muito a ligação existente entre essas pessoas.  

"Philia" não é um amor exigente. Não tem limitações de sexo, raça, situação social, etc. É um amor que normalmente não sofre muito com ciúmes – sempre cabe mais um numa roda de amigos. 

Infelizmente, o amor "philia" era mais importante na cultura antiga do que no mundo moderno. Antigamente, as sociedades tinham muitas características tribais, onde a cooperação humana era fundamental. Hoje as pessoas podem viver nas grandes cidades quase sem amigos. 

Agape
Esse é o amor que Deus tem por nós. Também é o tipo de amor que o cristão deve ter pelo próximo se obedecer o mandamento que Jesus estabeleceu. 

Muitos traduzem "agape" como caridade, mas esse tipo de amor vai além disso, pois envolve também carinho, misericórdia, compaixão, etc.

O amor a que Paulo se refere no texto acima é justamente o "agape". É a essência do cristianismo. E foi por isso que Paulo deu tanta importância a ele".

Com carinho

quarta-feira, 24 de setembro de 2014

O PAPEL DE ISRAEL NO PLANO DA SALVAÇÃO

Qual é o papel de Israel no Plano de Salvação que Deus estabeleceu para a humanidade? Qual é a diferença entre Israel e a igreja cristãAcho que essas questões são relativamente simples de responder, mas as respostas muitas vezes ficam obscurecidas por uma série de concepções erradas. 

E a confusão somente vem aumentando com a mania recente de vários pastores de apelar para práticas de culto usadas pelos israelitas nos tempos do Velho Testamento - um bom exemplo é o "Templo de Salomão" que uma denominação evangélica acabou de inaugurar em São Paulo (veja mais).    

O papel de Israel
Israel foi o povo escolhido por Deus para cumprir uma missão fundamental: gerar o Messias, o salvador da humanidade. E o papel de Israel na história deve sempre ser olhado sob esse ponto de vista.

O povo de Israel foi estabelecido por Deus a partir de um homem muito sincero e fiel, Abraão. E para que esse povo pudesse levar adiante sua missão, Deus lhe prometeu um território, a Palestina, onde poderia viver, prosperar e se defender dos seus inimigos. Ali haveria de nascer e ser criado o Messias.  

Israel cumpriu sua missão mesmo aos trancos e barrancos. Passou por muitas dificuldades, como durante os 400 anos em que foi escravizado no Egito ou no período em esteve no exílio na Babilônia.  Teve também seus pontos altos durante os reinados de Davi e Salomão, reis ricos e poderosos. O fato é que Deus sempre intercedeu a favor de Israel para dar-lhe condições de cumprir seu papel.

O papel de Israel foi fundamental. E as promessas que Deus fez para os israelitas visavam facilitar a execução desse objetivo. É por causa disso que as promessas feitas a Israel, geralmente não se aplicam, nem poderiam ser aplicadas, a nós.

O papel da Igreja 
Nosso papel começou depois da morte e ressurreição de Jesus, conforme relata o livro de Atos dos Apóstolos. E trata-se de papel espiritual e não material. Não tem a ver com a manutenção de territórios físicos ou do estabelecimento de reinos poderosos. Nada disso. 

O papel da igreja, conforme Jesus deixou claro, é bem diferente. Trata-se de testemunhar sobre o Reino de Deus e contribuir para implantá-lo aqui. Portanto, as promessas feitas para nós têm cunho eminentemente espiritual e se destinam a nos dar condições de desempenhar o papel que nos foi atribuído. 

É claro que existem ramificações materiais, pois para podermos testemunhar o Reino de Deus e ajudar o próximo precisaremos estar vivos e em boas condições. Mas o foco não está no nosso bem estar material e sim no testemunho que precisamos dar para o mundo. 

Palavras finais
O papel de israel e da igreja cristã são ambos fundamentais. Mas são muito diferentes entre si. A Aliança de Deus com Israel envolveu a criação de condições materiais para que o Messias pudesse vir ao mundo, crescer e realizar seu ministério. O enfoque tinha que ser material e por isso Deus deu territórios a Israel, estabeleceu um reino ali, etc. Essa foi também a razão porque Deus tomou medidas para orientar Israel a construir um Templo, a lutar guerras, etc.

Vivemos o papel de testemunhar o Reino de Deus. É um enfoque diferente. O lado material entra indiretamente como um recurso necessário para que possamos executar as tarefas a nosso cargo. Foi por isso que Jesus não se preocupou de estabelecer reinos materiais, de construir templos, de criar exércitos e assim por diante.  

Foram duas Alianças com Deus totalmente diversas, uma com Israel e outra com a igreja cristã. Dois papéis diferentes. Deus deu a Israel e à igreja missões distintas e daí decorrem necessidades diversas. E Deus age para preencher essas necessidades, o que significa dar bençãos de diferentes naturezas a um (Israel) e à outra (a igreja cristã).    

Com carinho

sábado, 6 de setembro de 2014

A JOVEM QUE VOLTOU PARA CASA

Uma mulher viúva tinha duas filhas com quem aparentemente se dava muito bem. Foi surpreendida quando a filha mais nova, de vinte e um anos apenas, disse que queria sua parte na herança deixada pelo pai, pois pretendia viver de forma independente, sem mais ter que dar satisfações dos seus atos para a mãe. 

Seu pedido foi atendido, até porque a jovem tinha direito legal à parte da herança deixada pelo pai. Ela recebeu então um valor próximo a quatro milhões de reais e resolveu morar na Inglaterra, onde a vida lhe parecia mais interessante. Nem se despediu direito da mãe e da irmã mais velha, pois sabia que ambas discordavam da sua escolha.

A jovem viveu em Londres por quatro anos, sem se preocupar em economizar. Sua vida somente teve como objetivo o divertimento, sem se preocupar muito com as consequências. A jovem experimentou um pouco de tudo, inclusive drogas variadas. Relacionou-se com vários homens, tentando encontrar em algum deles quem viesse a preencher suas carências emocionais, mas somente experimentou decepções.

Ao fim desse período, a jovem ficou em situação difícil, depois de desperdiçar todo o seu dinheiro. Sem qualquer formação profissional e não podendo contar com a ajuda de amigos sinceros e/ou família, foi caindo de padrão de vida e acabou como moradora de rua. 

Certa noite, andava pelas ruas de Londres sem saber bem o que fazer. Sem esperança ou perspectiva. Passou então por uma igreja, ainda aberta naquela hora da noite. Entrou e começou a orar, pedindo ajuda para sair daquela situação difícil. Sabia que tinha errado muito e estava pagando o preço das suas escolhas ruins. 

Foi aí que o pastor da igreja se aproximou, ao perceber as lágrimas que rolavam pelo rosto da jovem. E perguntou-lhe o que estava acontecendo. A jovem praticamente "vomitou" sua história.  E não escondeu as besteiras que tinha feito e nem tentou se justificar. Confessou ainda que sua única vontade era conseguir uma passagem de volta para o Brasil.

O pastor disse-lhe que conhecia um programa do governo inglês para repatriar imigrantes na situação dela. A jovem foi levada pelo pastor para um abrigo, onde pelo menos teria um teto pelos próximos dias, enquanto esperava a passagem ser emitida.

Poucos dias depois a jovem pegou o avião de volta para o Brasil. E durante as quase dez horas de viagem ficou pensando como seria recebida pela mãe - as críticas que precisaria enfrentar e a vergonha que iria sentir. Mas ainda assim seria melhor do que continuar a viver quase como mendiga em Londres. 

Chegou ao Rio de Janeiro e, como não tinha dinheiro, pediu carona até o centro da cidade. Depois teve que andar por quase duas horas até a zona sul, onde ficava a casa da mãe. Chegou no prédio em que a mãe morava e foi reconhecida pela porteiro que a conhecia desde pequena. 

O porteiro deixou-a entrar no prédio, mesmo espantado ao ver as condições em que a jovem estava - magra, abatida e usando roupas envelhecidas. Com o coração batendo forte, a jovem bateu na porta do apartamento da mãe. E aguardou, olhando para o chão, pois lhe faltou coragem para encarar a mãe de frente. 

Quando a mãe abriu a porta, tomou um grande susto. Ali estava sua filha querida, que julgava perdida para sempre. E sentiu seu coração apertar ao ver o estado da filha. Sem mais hesitar, a mãe atirou-se no pescoço da filha, chorando de alegria e dando graças a Deus por tê-la de volta. Foi um daqueles momentos em que a vida das pessoas envolvidas muda para sempre. 

Mãe e filha entraram no apartamento abraçadas. Conversaram por horas, matando as saudades e, algumas vezes, choraram juntas. Mágoas foram superadas e feridas emocionais finalmente começaram a cicatrizar. 

Horas depois, a filha mais velha chegou do trabalho e viu a irmã, já de roupa nova, cabelo cortado, muito mais apresentável, abraçada à mãe. Revoltou-se, pois entendeu que a mãe estava sendo feita de boba e nem quis falar com a irmã mais nova. Mas com ela seria diferente: algumas lágrimas derramadas e um pedido de perdão nunca seriam suficientes. Seria preciso mais, muito mais. 

A mãe, ao perceber o que estava acontecendo, chamou a filha mais velha para conversar e tentou explicar: "Sua irmã voltou e é isso que mais importa. Por que você não entende isso?" 

O final do caso 
O relato acima foi baseado na famosa parábola do "filho pródigo", que Jesus contou para seus discípulos - se você quiser saber o final do caso, leia Lucas capítulo 15, versículos 11 a 32

A figura do pai (ou da mãe) representa Deus. O(a) filho(a) pródigo(a) é a pessoa que se afasta de Deus e se "perde" no mundo, passando a viver de forma errada. E o(a) filho(a) mais velho(a) é aquele(a) que nunca se afastou de Deus.

Essa parábola é uma fantástica lição sobre o perdão e a misericórdia de Deus. Mostra também como essa misericórdia muitas vezes não é compreendida pelas demais pessoas, menos capazes de perdoar e dar outra oportunidade para aqueles que se afastam do caminho certo, do que o próprio Deus.  

Com carinho