sábado, 28 de setembro de 2013

UM ESTUDO DO APOCALIPSE - PARTE 5

A visão do trono de Deus (capítulo 4)
João teve uma visão do trono de Deus e naturalmente precisou usar de muitos símbolos para descrever o que viu:
  • O arco-iris atrás do trono lembra a promessa de Deus feita a Noé de nunca mais destruir o mundo pelas águas (Gênesis capítulo 9, versículos 11 a 17). Sempre haverá uma forma de salvação. 
  • Os 24 anciãos, coroados, vestidos de ouro e sentados em torno do trono, representam o povo de Deus ao longo de toda a história – 12 por conta das tribos de Israel e os demais 12 por conta dos apóstolos da Igreja cristã.
  • O mar de cristal puro situado à frente do trono representa a santidade de Deus e de tudo aquilo que o cerca.
  • As 7 tochas de fogo representam as 7 manifestações do Espírito Santo.
O livro e os selos  (capítulo 5)
Aparece um livro selado na visão de João e mas nenhum ser criado - quer homem, quer anjo -, foi considerado digno de abri-lo. Qual era o conteúdo daquele livro? O livro estava seguro na mão direita de Deus, cuja simbologia é autoridade e poder, logo seu texto tinha a ver com a soberania d´Ele. 

Em outras palavras, o livro continha os propósitos de Deus, escondidos do homem ("selados") desde a queda de Adão e Eva. Por isso João ficou tão perturbado quando ninguém foi digno de revelar seu conteúdo - afinal, ele conhecia a promessa de Deus de redimir o mundo e ansiava por isso, assim como todos os cristãos.
O texto nos conta que apenas o Cordeiro de Deus, ou seja àquele que se sacrificou por nós na cruz do Calvário, Jesus Cristo, foi considerado digno de abrir o livro e conhecer os desígnios de Deus. E Ele abriu os selos e vários acontecimentos fantásticos, que irão acontecer no futuro, passaram a ser relatados. 
Os 4 cavaleiros  (capítulo 6, versículos 2 a 8)
Os 4 primeiros selos correspondem aos famosos "Cavaleiros do Apocalipse", que já deram origem a filmes, livros e peças de teatro. Mas seu significado simbólico é um pouco diferente daquele que normalmente é indicado nessas obras: os Cavaleiros representam forças impetuosas que invadem a história humana.

O "Cavaleiro do cavalo branco" representa as forças do Mal querendo se passar por uma manifestação de Deus - por isso o cavaleiro usa a cor da pureza. Esse cavaleiro não pode ser Cristo, como alguns defendem, porque o texto diz que "foi-lhe dada uma coroa", indicando que o tipo de autoridade passada para ele é igual ao dado para os demais Cavaleiros, o que não faria sentido caso Cristo estivesse envolvido.


O Cavaleiro do cavalo branco representa a ação do Anti-Cristo, que será aceito por muitas pessoas como um novo salavador da humanidade, tomando, para elas, o lugar do próprio Jesus.

O "Cavaleiro do cavalo vermelho" simboliza discórdias e guerras. 
O "Cavaleiro do cavalo preto" significa escassez de comida, que encarece em muito o preço dos alimentos - o texto fala que um denário (o salário de um dia de trabalho) vai conseguir comprar apenas uma medida de trigo, o que não dará para alimentar uma família. Por isso as pessoas precisarão comprar comida de menor qualidade – no texto, a cevada. Isso nem leva em conta suas outras necessidades – moradia e roupas – que ficariam totalmente desatendidas. 

O "Cavaleiro do cavalo amarelo" representa a morte, que se segue à guerra e à fome fruto da escassez de comida, consequência da passagem dos cavaleiros anteriores. São citadas também as “feras da terra”, ou seja, os próprios seres humanos que exploram, enganam e matam seus semelhantes. A morte aqui não significa só o término da vida física, mas também a morte espiritual, pelo afastamento de Cristo. 
A perseguição aos fiéis (capítulo 6, versículos 9 a 11)      
O quinto selo refere-se àqueles que morrem pela sua fé em Cristo - os mártires. O texo fala das almas dos mártires "debaixo do altar", aguardando o momento em que serão vingados(as). Essa imagem toma por base o que acontecia no Templo de Jerusalém, onde o sangue dos animais sacrificados era jogado debaixo do altar dos sacrifícios.
O grande terremoto (capítulo 6, versículos 12 a 17)
O sexto selo fala de um gigantesco terremoto, quando os astros são abalados e caem sobre a terra - evidentemente, trata-se de um símbolo, pois as estrelas são maiores do que a terra e não poderiam “cair” sobre ela. O significado é que se trata de um evento tal como nunca houve e nem haverá outro igual na terra e, com ele, vem o fim da sociedade humana como a conhecemos. 

Os salvos (capítulo 7)
Há uma pausa no processo de abertura dos selos e a visão de João se volta para os salvos, cujo número é de 144.000 pessoas. Como já vimos na parte 2 deste estudo, esse é um número simbólico, que representa todo o povo de Deus, ao longo de toda a história do homem.
E é dito que 12.000 pessoas serão salvas de cada "tribo de Israel". Mas é importante perceber que há várias discrepâncias nas citações dessas tribos, em relação às tribos reais que aparecem no Velho Testamento. Isso ocorre porque se trata de uma lista simbólica que aponta para Jesus Cristo. Vejamos alguns exemplos dessas discrepâncias: 
  • A tribo de Ruben não é citada primeiro, embora ele fosse o primogênito. Judá é o primeiro a ser mencionado, pois essa é a tribo de Jesus, como descendente de Davi.
  • A tribo de Efraim, a maior e mais importante dentre todas, não é citada e isso acontece porque essa tribo foi a grande rival de Judá na história de Israel. Mas, agora não mais há qualquer competição possível, pois Judá é a tribo de onde veio o Messias.
  • Não havia tribo de José, cujo lugar entre as tribos de Israel foi tomado por seus dois filhos (Efraim e Manassés). Mas José é um símbolo para Jesus, pois ele sofreu (foi vendido como escravo) para poder salvar sua família da fome, quando se tornou o principal auxiliar do faraó.
O silêncio (cap. 8, versículos 1 a 6)
O sexto selo – o terremoto – significou o fim da história humana. Logo, a abertura do sétimo selo revela o que virá depois, ou seja o novo mundo. Mas, as revelações relativas à abertura do sétimo selo somente são apresentadas bem mais adiante no texto (a partir do capítulo 12), pois antes João explora as 7 trombetas, que reprisam os acontecimentos abrangidos pelos 7 selos.
Mas o sétimo selo começa com o silêncio absoluto. Ora, no céu, os anjos louvam continuamente a Deus e esse silêncio é surpreendente. Ele indica que a revelação do plano de Deus para a humanidade deve ser recebida com grande atenção e reverência (Habacuque capítulo 2, versículo 20). 

Um anjo então se dirigiu ao altar onde incenso era queimado e colocou nele as orações do povo de Deus. Depois atirou o fogo do altar na terra. O significado disto é que durante muitos anos, o povo de Deus repetiu "venha a nós o teu reino , seja feita a tua vontade". E finalmente essas orações estavam sendo atendidas. 
As trombetas e as taças (capítulos 8, 9,11 e 16)
As trombetas e as taças da ira são descrições paralelas ao que é relatado na abertura dos selos e ficaria muito longo detalhar aqui tudo que é dito no texto. 

Basta dizer que são lançadas sobre os seres humanos diversas pragas, sendo que várias delas repetem as pragas que Deus lançou contra os egipcios para conseguir tirar Israel da escravidão: por exemplo, águas transformadas em sangue, trevas, tumores e gafanhotos. Isto significa que Deus, com as novas pragas, está lutando para tirar o ser humano da escravidão das forças do Mal, que têm dominado o mundo. 

(CONTINUA)

terça-feira, 24 de setembro de 2013

UM ESTUDO DO APOCALIPSE - PARTE 4

Discernindo os tempos
Está próximo o fim do mundo e a segunda vinda de Cristo? Esta é uma pergunta que os cristãos tem se feito inúmeras vezes. E muitos momentos da história foram marcados pela percepção de que a consumação dos tempos estava próxima, causando grande impacto nas vidas das pessoas - por exemplo, na virada do ano 1000, as pessoas abandonaram sua vida normal e ficaram esperando esses fatos acontecerem. Por conta disso, a economia e a sociedade sofreram muito. 

Muitos cristãos hoje em dia acham que o final está próximo, mas essa posição não é unânime. Mas o que a própria Bíblia diz a respeito dessa questão? Jesus ensinou que ninguém sabe o dia nem a hora em esses fatos vão começar a acontecer, nem Ele mesmo sabia (Mateus capítulo 24, versículo 36)

Porém, Jesus incentivou as pessoas a discernirem os "sinais dos tempos” (Mateus capítulo 16, versículo 3) - isto quer dizer que é possível ter uma idéia aproximada do desenrolar dos fatos, prestando atenção a certos sinais, embora não seja possível precisar uma data para o final dos tempos. E há três sinais que podem ser notados nos dias de hoje, os quais parecem confirmar que esse final se aproxima. 

O primeiro deles é a a fundação do estado de Israel, ocorrida em 1948, quando os judeus puderam voltar para sua terra pela primeira vez desde o ano 70 (quando Jerusalém foi destruída pelos romanos). A reconquista de Jerusalém, ocorrida cerca de 20 anos depois, também foi prevista na Bíblia (Isaías capítulo 11, versículos 11 e 12). E o profeta Amós disse que, uma vez tendo retornado à sua terra, os judeus nunca mais sairão da Palestina (capítulo 9, versículos 14 e 15), o que vem se confirmando.

O segundo sinal é o crescimento dos ataques à Bíblia e à figura de Jesus, o que pode ser percebido nos escritos dos chamados "novos ateus", como Richard Dawkins ou Sam Harris, que consideram a religião cristã um dos maiores males da história da humanidade. 


Muitas pessoas vem se afastando da fé cristã, o que é especialmente notável entre as populações educadas dos países do primeiro mundo, como a Europa Ocidental - quanto mais ricas e desenvolvidas ficam as pessoas, menos elas acham que precisam de Deus.  

A cronologia dos eventos futuros
O texto do Apocalipse lista uma série de eventos futuros que culminarão no final dos tempos: 

  1. O aparecimento de diversos sinais, conforme comentei acima - são citados ainda na Bíblia, além dos eventos já mencionados, guerras e desastres naturais de grandes proporções. 
  2. O arrebatamento da Igreja, que é o encontro dos salvos com Jesus, antes da sua volta à terra. 
  3. A "grande tribulação", como Jesus chamou uma série de eventos catastróficos (Mateus capítulo 24, versículos 21 e 22) - Ele chegou a alertar que, se Deus não tivesse encurtado esse período, ninguém resistiria. Esse período também é caracterizado pela ação da Trindade Satânica (Satanás, o Anti-Cristo e o Falso Profeta). 
  4. A segunda vinda de Cristo, juntamente com a Igreja, para derrotar Satanás numa grande batalha. 
  5. O milênio, quando Cristo reinará com seu povo na terra por um longo período. 
  6. A última tentativa de Satanás e sua derrota definitiva. 
  7. O julgamento final. 
  8. A nova terra (nova Jerusalém) é instalada.
Nem todos os estudiosos concordam com a cronologia acima estabelecida – a estrutura dos fatos que apresentei é a mais tradicional, mas não é a única. As controvérsias mais importantes envolvem as seguintes questões:
  • O arrebatamento da Igreja: no esquema que apresentei acima, ela ocorrerá antes da grande tribulação, isto é a Igreja de Cristo não passará por esse período terrível – esta é a perspectiva chamada de pré-tribulacionista. Outra possibilidade é aquela que coloca o arrebatamento após a tribulação, indicando que a Igreja estará presente durante esses acontecimentos, perspectiva que é chamada de pós-tribulacionista. 
  • O milênio: há duas alternativas, sendo que uma importante corrente de pensamento - por ex. os presbiterianos e os católicos - defende que se trata do espaço de tempo entre a primeira vinda e a segunda vinda de Cristo, durante o qual Jesus já reina conosco, através da presença do Espírito Santo, corrente chamada amilenista. Aqueles que acreditam na existência do milênio como defini acima são chamados de milenistas
Os selos, as trombetas e as taças
A grande tribulação é caracterizada por uma série de eventos que demonstram a ira de Deus contra os desmandos da humanidade - o Apocalipse se refere a eles como a "abertura de 7 selos" (capítulo 5), o "ressoar de 7 trombetas" (capítulo 8) e o "derramamento do conteúdo de 7 taças" (capítulo 11). Não são acontecimentos sucessivos e sim a descrição dos mesmos eventos de forma diferente - é o que se chama de circularidade, pois o relato parece andar em círculos. Mas os selos dão mais atenção às tribulações dos salvos, dos gentios e do povo judeu, enquanto as trombetas e as taças mostram mais o impacto da ira divina sobre o mundo em si.

Mas, a grande tribulação também será um período de grande ação do Mal, liderada pelo Anti-Cristo, cujo relato começa no capítulo 13 e vai até o 19. Ou seja, os eventos descritos ali ocorrem em paralelo com os selos, as trombetas e as taças - sendo que o desespero gerado por essas catástrofes ajudam o Anti-Cristo a adquirir grande ascendência sobre as pessoas.

(CONTINUA)

sexta-feira, 20 de setembro de 2013

UM ESTUDO DO APOCALIPSE - PARTE 3

As divisões do texto do Apocalipse 
No começo da visão, Cristo mandou João escrever "as coisas que viste, e as que são, e as que hão de acontecer depois destas" (capítulo 1, versículo 19). Isso caracteriza que o texto do Apocalipse tem três partes. A primeira - “... as coisas que viste” - refere-se à visão do próprio Cristo glorificado, que abre o texto no capítulo 1.  A terceira parte - “...as coisas que vão acontecer depois destas” - refere-se às profecias que Cristo passou para João, a partir do capítulo 4. Portanto, os capítulos 2 e 3 do Apocalipse correspondem à segunda parte do texto: “as coisas que são”. E isso corresponde às mensagens mandadas às 7 igrejas da Ásia. 

Em resumo, as três partes do texto são: a introdução do texto, incluindo a visão do Cristo glorificado; as mensagem dadas às 7 igrejas; e as profecias sobre o final do mundo e a volta de Cristo. 

As 7 cidades da Ásia Menor (capítulos 2 e 3)
A mensagem enviada a cada igreja segue sempre o mesmo padrão: indicação da igreja destinatária; apresentação de quem envia a mensagem (Cristo); julgamento (pontos fortes e fracos) da igreja; exortação e promessas (recompensas e/ou punições).

A mais longa das mensagens é dirigida à igreja de Tiatira, que ficava na cidade menos importante de todas. A mais curta foi endereçada a Esmirna, cidade muito famosa. Logo, não há relação direta entre a importância política, econômica e/ou social da cidade e o impacto espiritual da igreja nela situada na obra de Deus. 

Diversos comentários ou mesmo profecias refletem a situação geográfica, social ou econômica das cidades onde as igrejas se situavam. Éfeso era uma importante cidade com cerca de 250.000 habitantes. Ali ficava o templo da deusa Diana, considerado uma das 7 maravilhas do mundo antigo, que trouxe fama e riqueza para a cidade. 


Esmirna era uma importante cidade, onde ficava o maior porto marítimo da Ásia Menor. A cidade tinha diversos templos e outros prédios situados no topo do monte Tagos, conhecido como a “coroa” de Esmirna - há um paralelo sobre isso no capítulo 2, versículo 10, comparando essa “coroa” arquitetônica à “coroa” da vida (o que verdadeiramente importa). 


Pérgamo era a capital da Província romana da Ásia, famosa pelos seus grandes templos pagãos, incluindo um em honra do imperador romano, situado no ponto mais alto da cidade - vem daí a expressão "trono de Satã" (capítulo 2, versículo 13).


Tiatira era sede de uma guarnição romana, mas era relativamente pequena, se comparada a Pérgamo, por exemplo, mas tinha uma importante indústria de metal.


Sardes era uma das mais antigas cidades da Ásia Menor. No ano 17 foi destruída por um terremoto, tendo sido reconstruída pelo imperador romano Tibério - em agradecimento, a comunidade construiu um templo em honra dele. A advertência de Cristo de que viria como ladrão (capítulo 3, versículo 3) rememorou o fato que a cidade foi capturada de supresa, por seus inimigos, por duas vezes. A cidade tinha importantes indústrias para tingimento e manufatura de tecidos (veja referencia no capítulo 3, versículos 4 e 5).


Filadélfia era o centro da cultura grega na Ásia Menor e também tinha um papel comercial importante. Foi destruída pelo mesmo terremoto que atingiu Sardes e reconstruída pelo imperador Tibério. Para homenageá-lo, a cidade mudou seu nome para Neocesarea, posteriormente alterado para Filadélfia e depois para Flávia (veja referencia no capítulo 3, versículo 12). 


Laodicéia era um importante centro administrativo, comercial, bancário e de manufatura de produtos de lã. Tinha ainda uma escola de medicina, de onde provinha um colírio muito conhecido (veja referência no capítulo 3, versículo 18). A cidade era muito rica, por isso foi capaz de recusar subsídios governamentais, quando foi destruída por terremotos. A citação de que era morna espiritualmente (versículo 16) faz referencia às fontes de água quente de uma cidade próxima, Hierópolis, e as de água fria encontradas em Colossos. 


O problema com as igrejas cristãs ontem e hoje 

O texto do Apocalipse aponta três problemas importantes que essas igrejas enfrentavam: perseguição (Esmirna e Filadélfia); falsas doutrinas (Éfeso, Pérgamo e Tiatira) e complacência (Sardes e Laodicéia). 

Os mesmos três problemas continuam presentes na vida das comunidades cristãs. Continuam a haver perseguições, tanto físicas (p. ex. em países comunistas ou muçulmanos), como culturais (para muitos, o cristão é sempre atrasado culturalmente, preconceituoso e/ou intolerante). 

Complacência e acomodação costumam aparecer quando a comunidade já está constituída e com seus problemas financeiros devidamente equacionados. E é justamente essa situação privilegiada que pode se tornar um veneno - os países de primeiro mundo estão cheios de igrejas nessas condições, definhando lentamente.


Doutrinas estranhas, o terceiro tipo de problema, também continua comum. Algumas delas são importadas de fora do mundo cristão, mas acabam por ter enorme influência nele, pelas respostas fáceis que proporcionam - p. ex. as doutrinas esotéricas (Nova Era) e as terapias alternativas.


Mas doutrinas estranhas também acabam sendo geradas dentro da própria Igreja, levando muitas pessoas a se desviar do caminho certo. Um bom exemplo é a chamada doutrina da “confissão positiva” que defende a superação de quaisquer problemas físicos ou materiais se a pessoa tiver fé 
"suficiente".



A mensagem que Cristo enviou para aquelas igrejas foi válida naquela época e continua válida hoje em dia. Ela pode ser resumida da seguinte forma: não importa as circunstâncias da vida, mantenham-se firmes e não façam concessões ao Inimigo pois a vitória final certamente virá.

(CONTINUA)

segunda-feira, 16 de setembro de 2013

UM ESTUDO DO APOCALIPSE - PARTE 2

A visão que o apóstolo João teve incluiu imagens terríveis do final dos tempos – terremotos, pestes, guerras, etc. Mas elas têm um significado teológico: quando Deus vier, toda oposição a ele será destruída. Em outras palavras, ela nos conta que a ação de Satanás já ocorreu - Jesus foi martirizado e morto -, mas a vitória final está plenamente garantida, pois Ele ressuscitou dentre os mortos e voltará para implantar o Reino de Deus. O texto, portanto, exorta os cristãos(ãs) a trabalhar e se engajar para contribuir na obra de Deus que já se desenrola diante dos seus olhos na história humana. 

As chaves para interpretação
O texto do Apocalipse é cheio de simbolismos e isso precisa ser levado em consideração na interpretação. Evidentemente, há trechos do texto em que cabe uma interpretação literal - p. ex. as 7 igrejas da Asia Menor, para quem o texto foi endereçado, eram comunidades cristãs reais -, mas na ma na maior parte do livro é preciso entender o significado dos símbolos.  

E há alguns aspectos a serem considerados nessa interpretação. O primeiro é a circularidade: o relato não é linear, ou seja a mensagem volta aos mesmos temas, como se o relato andasse em círculos. 

O segundo aspecto é o grande uso de referências do Velho Testamento - são mais de 400 ao longo do livro. Por conta disso, não é possível entender o Apocalipse corretamente sem também entender diversas coisas que são ditas na primeira parate da Bíblia. 

O terceiro aspetco é contexto: é preciso entender que o texto está inserido num período particular da história. Há claras referências nele ao império romano e às perseguições que o imperador Domiciano moveu contra os cristãos, bem como às tensões existentes entre o cristianismo e o judaismo. 

Sendo assim, para explicar os símbolos usados é preciso entender seu sentido para os cristãos(ãs). Veja a seguir uma lista de símbolos usados e seu significado: 
      -  Cor branca = vitória ou pureza.
-   Cor vermelha = violência, simboliza o sangue dos mártires
-   Cor preta = morte ou impiedade
-   Chifre = poder
-   Cabelos brancos = eternidade ou sabedoria
-   Trombeta = anuncia que Deus vai falar
-   Vestes talares (compridas) = dignidade, poder
-   Ouro = poder, realeza
-   Dragão = Satanás
-   Anti-Cristo = a Besta
-   número “3” = a Santíssima Trindade
-   “4” = totalidade (p. ex., os quatro cantos do mundo)
-   “6” = o homem (foi criado no sexto dia)
-   "666" = símbolo do Anti-Cristo
-   “7” = perfeição
-   “12” = o povo de Deus (Israel e a Igreja cristã)
-   “1000” = grande quantidade

Os números também podem ser multiplicados. Por exemplo,  
144.000 = 12 (Israel) x 12 (a Igreja) x 1000 (grande quantidade) = "o povo de Deus em todos os tempos".

O Cristo glorificado (capítulo 1, versículos 12 a 20)
João ouviu uma voz como que de trombeta, deixando claro que Deus queria falar diretamente com ele. Oara, a trombeta na Bíblia é usada com o significado de uma convocação de Deus - no livro do Êxodo, quando Moisés levou o povo para se encontrar com Deus no Monte Sinai, ouviram-se trombeta (capítulo 19, versículos 16 a 19).

João então viu Jesus Cristo glorificado, ou seja como Ele é hoje no Reino de Deus. A reação de João foi a de cair como morto, idêntica à dos profetas Isaías e Daniel quando tiveram visões desse tipo. Isso ocorre porque o ser humano, na sua impureza, não consegue ficar na presença gloriosa e santa de Deus.

Tal fato coloca em dúvida alguns relatos que são publicados sobre supostas visões que as pessoa tiveram de Jesus, onde Ele se comporta como um “amiguinho”. Jesus, o homem, não existe mais, pois quem vive hoje é o Cristo glorificado e vê-lo joga a pessoa por terra. Qualquer coisa diferente disso, contraria o que a Bíblia relata.

A pessoa que João viu era completamente diferente do Jesus humano, tanto que o apóstolo não o reconheceu de imediato. A aparência de Cristo é majestosa e João a descreveu através de vários símbolos: vestes talares e cinto de ouro (parte da vestimenta do sumo-sacerdote, significando que Cristo é o chefe da Igreja); cabelos branco como a neve (eternidade e sabedoria para julgar); olhos como chama de fogo (o ouro era refinado peloo fogo, portanto esse símbolo representa o conhecimento de Cristo, que vê o interior das pessoas); pés semelhantes ao bronze polido (força, poder e estabilidade, um claro contraste com os pés de barro da imagem do um falso ídolo que o profeta Daniel viu ); e da boca saía-lhe uma espada afiada (a Palavra de Deus).

(CONTINUA)

sábado, 14 de setembro de 2013

O DIA DO PERDÃO

Hoje, nossos irmãos judeus comemoram o "Dia do Perdão", festa de grande importância na religião judaica. Para homenageá-los, aí vai um texto que explica as bases bíblicas para essa comemoração. 
A comemoração do Dia do Perdão (Yom Kippur) é um mandamento perpétuo dado por Deus ao povo judeu, para marcar a oportunidade em que Deus julga os pecados de Israel e concede ao povo o seu perdão. 

Nesse dia, o pecado do povo era transferido para um bode expiatório (vem daí a expressão no popular), que levava sobre si esses pecadosPrecisamos lembrar que o sistema sacrificial, ao qual Israel estava submetido, previa duas fases para o perdão de Deus. Na primeira, as pessoas faziam seus sacrifícios regulares, onde ficava caracterizado seu desejo de serem perdoadas. O Kippur representava o momento inverso, onde Deus expressava sua vontade de perdoar o povo - era como se os sacrifícios regulares somente se completassem no Dia do Perdão. 

O ritual do Kippur  
Dois bodes semelhantes fisicamente eram separados para esse ritual.  Um era escolhido para oferta de pecado para Deus e outro para Azazel (o precipício de uma montanha alta). 

O primeiro bode era morto e seu sangue aspergido sobre a Arca da Aliança, que ficava no Santo dos Santos, o local mais sagrado do Templo de Jerusalém. Ali somente o sumo sacerdote podia entrar e apenas no Dia do Perdão - tanto assim que ele era amarrado com uma corda, antes de entrar, para ser puxado, caso algo de errado acontecesse. 

Sobre o segundo bode o sumo sacedote falava a seguinte oração: Deus eu agi de forma iníqua, transgredi, e pequei perante Ti: eu, minha casa, e os filhos de Arão [o Patriarca dos sacerdotes, irmão de Moisés] – teus santos. Deus, perdoa as iniqüidades que eu, minha casa, e os filhos de Arão – seu povo santo – cometeram perante ti, como está escrito na Torá [Pentateuco] de Moisés, teu servo, pois neste dia Ele vos perdoará, e vos limpará de todos os seus pecados perante Deus; e sereis limpos.”

Um sacerdote era então escolhido para levar esse bode a um precipício no deserto, sendo acompanhado em parte do caminho pelos homens mais proeminentes da comunidade. Diz a tradição judaica que o precipício (Azazel) era tão alto e de superfície tão áspera que, antes de chegar ao fim do precipício, as costelas do bode já estavam totalmente quebradas. Esse bode representava alguém que carregava consigo os pecados do povo, se afastando do Templo de Jerusalém (simbolicamente de Deus) e sendo lançado no precipício do inferno. 

O Yom Kippur hoje 
Como o Templo de Jerusalém destruído e nunca reconstruído, como fica a comemoração do Yom Kippur pelos judeus hoje em diaNa realidade, o sacrifício era apenas parte da celebração. Levítico capítulo 16, versículo 29, diz que as pessoas devem "afligir" suas almas nesse dia. O entendimento é que, ao se abster de alimento, a pessoa faz exatamente isso. Há vários outros exemplos de textos na Bíblia onde a expressão "afligir" a alma é usada para significar jejum, como Salmo capítulo 35, versículo 13 ou Isaías capítulo 58, versículo 3. 

Assim, todos os judeus considerados adultos (meninos acima dos 13 e meninas acima dos 12) devem 
jejuar. Esse jejum pode ser completo, parcial (apenas de alimentos sólidos) ou aquele que evita todos os alimentos, exceto verduras e frutas (o chamado "jejum de Daniel"). 

Dada sua importância, é considerada transgressão gravíssima trabalhar no Yom Kippur (por isto esse dia é também chamado o "Sábado dos Sábados"). A pessoa também não pode buscar entretenimentos, pois esse é um dia de aflição. 

As sinagogas promovem reuniões para que o povo busque o perdão em comunidade. O serviço possue três partes principais: Kol Nidrei, oração onde se pede perdão e anulação de todos os votos que as pessoas fizeram a Deus e não cumpriram; as orações de Ashamnue Al Cheit, para confissão dos pecados, tanto do povo, quanto individuais; e a Neilá, a conclusão do Yom Kippur, onde as pessoas têm a última oportunidade de se arrepender. Essa última parte da cerimônia também simboliza o julgamento de Deus.  

Paralelos com Jesus Cristo
O sacrifício do Yom Kippur tinha início com um banho de purificação pelo qual o sumo sacerdote (a quem cabia conduzir todo o cerimonial) obrigatoriamente passava. Assim também, Jesus iniciou seu ministério público sendo batizado por João Batista. 

O bode que era morto e tinha seu sangue aspergido sobre a Arca era uma símbolo precursor de Jesus - Ele teve seu sangue derramado na cruz e sua morte fez com que cortina,  que separava o Santo Lugar (onde os sacerdotes entravam diariamente) do Santo dos Santos (onde ficava a Arca da Aliança e só se entrava uma vez por ano), fosse rasgada demostrando que, a partir dali, todos passavam a ter acesso direto a Deus. 

O bode que era lançado no abismo também era um símbolo precursor de Cristo, pois Ele carregou nossos pecados e os tirou da presença de Deus. 

A grande diferença entre o cerimonial do Yom Kippur e Cristo é que o sacrifício desse último ocorreu apenas uma vez e foi suficiente para o perdão dos nossos pecados para sempre.

Com carinho

terça-feira, 10 de setembro de 2013

UM ESTUDO DO APOCALIPSE - PARTE 1

"Apocalipse", o último livro da Bíblia, é um texto misterioso e impressionante. É nele que encontramos temas importantes como a profecia relativa aos acontecimentos que levarão ao fim do nosso mundo. 

O livro está cheio de um simbolismo obscuro e até meio extravagante para os padrões culturais de hoje - a Besta que emerge do mar, o Cordeiro com sete chifres, um exército de gafanhotos-guerreiros, os Quatro Cavaleiros que parecem trazer desgraça para o mundo, dentre outros. 

E é justamente esse simbolismo que tem dado margem a livros e filmes cheios de profecias tão aterradoras como falsas, mas que geram ótimos negócios especialmente para aqueles que vivem de mercantilizar a fé ingênua das pessoas.

Não há dúvida que o Apocalipse é um dos textos da Bíblia mais difíceis de entender. Por isso penso que é interessante desenvolver aqui um breve estudo contendo as principais diretrizes sobre como entender esse livro fascinante. Mas não terei espaço para discutir cada detalhe do texto, mas acho que será possível abordar as questões principais. Naturalmente, o estudo precisará ser desenvolvido em partes - seis no total -, que serão publicadas aos poucos.  

Finalmente, lembro ainda que o único livro da Bíblia que promete uma benção para quem o estudar é justamente o Apocalipse (capítulo 1, versículo 3). E isso já deveria ser justificativa suficiente para o que pretendo fazer aqui.

As circunstâncias históricas 
O Apocalipse foi escrito nos últimos anos do século I da nossa era, época em que o imperador romano Domiciano promovia grande perseguição aos cristãos. Isso porque ele queria se fazer adorar como deus e os cristãos não se curvavam a essa imposição.

O apóstolo João, a quem a autoria desse texto é tradicionalmente atribuída, estava preso na ilha de Patmos, um pequeno pedaço de terra situado no mar Mediterrâneo, a pouco mais de 100 km da cidade de Éfeso. Ele tinha sido condenado a trabalhos forçados nas minas de mármore, apesar da sua idade avançada (mais de oitenta anos). 

Num domingo, teve uma visão que gerou o livro - é interessante notar que está no Apocalipse a primeira referência que existe ao domingo como "o dia do Senhor", substituindo o tradicional sábado judaico (capítulo 1, versículo 10).

Introdução ao texto
Na solidão do seu cativeiro, João louvava e orava, apesar da condição precária em que se encontrava. Foi quando teve uma visão de Jesus Cristo, com instruções para escrevê-la e transmiti-la para os cristãos (capítulo 1, versículos 9 a 11). 

O relato entrelaça duas realidades, a física e a espiritual, que se desenrolam em paralelo. Por exemplo, em Mateus (capítulos 1 e 2) e Lucas (capítulos 1 e 2) temos relatos do nascimento de Jesus, visto sob o ponto de vista do mundo físico. Já no Apocalipse capítulo 12, temos o relato de como o Natal aconteceu do ponto de vista espiritual, inclusive contando a luta de Satanás para impedir a chegada do menino Jesus ao mundo.

O significado do texto e o princípio básico para sua interpretação são fornecidos logo no início, no capítulo 1, versículo 1: 
“Revelação de Jesus Cristo, que Deus lhe deu, para mostrar as coisas que brevemente devem acontecer; e pelo seu anjo as enviou, e as notificou a João seu servo...”
Esse versículo começa explicando o próprio título do livro: “Apokalupsis” no grego quer dizer “tirar o véu”, isto é revelar. O assunto da revelação é o que deverá acontecer no final dos tempos, incluindo a segunda vinda de Jesus Cristo ao mundo.

O princípio a ser usado para a interpretação do texto também está indicado pois a palavra "notificou" (semainõ) significa “ensinou por símbolos”. Assim, as verdades do livro foram transmitidas através de símbolos, cuja interpretação precisa ser buscada considerando o contexto da época em que o texto foi escrito. 

O tempo para a consumação dos eventos relatados é indicado como sendo “breve” (en tachei). Mas é preciso entender que, para Deus, "um dia é como mil anos, e mil anos como um dia" (2 Pedro capítulo 3, versículo 8). Ou seja o tempo físico para a consumação dessa profecia não é conhecido e Jesus deixou isso bem claro em seus ensinamentos (Mateus capítulo 24, versículo 36). 

O texto tem a forma de cartas dirigidas a 7 igrejas da Ásia Menor (atual Turquia), sobre as quais João tinha autoridade apostólica: Éfeso, Esmirna, Pérgamo, Tiatira, Sardes, Filadélfia e Laodicéia. Essas 7 igrejas realmente existiram e tinham defeitos e qualidades reais, que podiam ser também encontradas em outras igrejas daquela época, assim como também podem ser encontradas hoje em dia.


Assim, a mensagem do Apocalipse foi aplicável a todo o povo cristão daquela época, que sofria nas mãos das autoridades romanas e buscava consolo em Deus. E, de maneira similar, também se aplica ao povo de Deus nos dias de hoje, conforme comentarei mais adiante.  

A origem do texto
O texto afirma que a mensagem recebida por João teve origem em Deus (capítulo 1, versículos 4 e 5):
"Graça e paz a vós outros, da parte daquele que é, que era e que há de vir, da parte dos sete Espíritos que se acham diante do seu trono, e da parte de Jesus Cristo, a fiel testemunha, o primogênito dos mortos e o soberano dos reis da terra."
Deus Pai é "aquele que era, que é e que há de vir", uma referencia a como Ele se auto-denominou para Moisés (Êxodo capítulo 3, versículo 14). O Espírito Santo está presente na expressão "os sete Espíritos que se acham diante do seu trono", uma referência a Zacarias capítulo 4, versículo versículo, onde é dito: "...aqueles sete olhos são os olhos do Senhor, que percorrem toda a terra." Já a referência a Jesus é direta e não deixa dúvidas. 
Concluindo, para um mundo que, normalmente, só aceita o que pode ver e tocar, o Apocalipse é a porta de entrada para o mundo espiritual. O livro não fornece um conhecimento detalhado desse mundo paralelo, mas atesta que mesmo quando parece não haver esperança alguma, Deus se faz presente na história do seu povo. 

(CONTINUA)