sexta-feira, 29 de novembro de 2019

JESUS CHOROU

"Jesus chorou."   João capítulo 11, versículo 35
O versículo acima é o mais curto da Bíblia. Mas ele não é apenas uma curiosidade literária. Sua importância é bem maior do que essa, pois o pequeno texto embute várias lições importantes.
Jesus chorou antes de ressuscitar Lázaro, que tinha morrido dias antes. Esse homem, juntamente com suas irmãs Maria e Marta, formava uma família muito querida por Jesus. Ele sempre se hospedava na casa da família de Lázaro quando visitava Jerusalém.

Jesus chorou a morte de uma pessoa querida. E aí está a primeira lição desse pequeno versículo: homens também choram. Parece surpreendente ter que falar sobre isso, mas evitar o choro, por vergonha de parecer fraco, ainda é uma lição frequentemente passada para os filhos em nossa sociedade machista. "Choro não é coisa de homem", ensinam esses pais.

E Jesus provou que homens choram sim, quando há motivo para isso. E não há vergonha em chorar, pois isso não desmerece ninguém. Muito ao contrário, o choro prova que o homem é sensível.

A segunda lição a ser tirada desse versículo mostra Jesus solidário com a dor física e emocional das pessoas. Ao viver neste mundo, Jesus aprendeu como é difícil sofrer. E Ele acabou passando por grandes sofrimentos, culminando com uma morte horrível na cruz.
A solidariedade de Jesus com a dor humana permanece até hoje. Isso significa que Deus se solidariza quando você sofre e chora junto com você. Portanto, você nunca estará sozinho/a quando em sofrimento. Jesus estará ao seu lado, repartindo sua dor e consolando você.
O terceiro ensinamento fica evidente na continuação da história, depois que Lázaro foi ressuscitado. Jesus não se limitou a chorar a perda do amigo querido. Ele fez mais: agiu de forma decisiva para resolver aquela situação difícil.

O choro de Jesus não é apenas uma forma solidariedade conosco. É muito mais: esse choro anuncia uma ação restauradora. Uma ação que muda a situação e transforma lágrimas em motivo de júbilo e gratidão a Deus.

"Jesus chorou". Uma frase muito pequena com um significado tão grande.

Com carinho.

quarta-feira, 27 de novembro de 2019

POBRE DIA DE AÇÃO DE GRAÇAS

Estamos comemorando o dia mundial de ação de graças. Essa tradição nasceu nos Estados Unidos e que acabou se espalhando por muitos países.  Lá é chamada de "Thanksgiving Day". No Brasil, sua comemoração fica restrita às igrejas evangélicas - na minha igreja sempre fazemos uma grande comemoração.

Infelizmente, há uma grande transformação para pior na comemoração do dia de Ação de Graças. Nos Estados Unidos, essa comemoração virou uma oportunidade para comer um farto almoço em família, que precisa incluir peru assado, e depois ver programações especiais na televisão. Bebe-se muito também.

E o dia seguinte, a chamada "sexta feira negra" ("black friday"), é quando o comércio faz promoções inacreditáveis, atraindo multidões de consumidores ávidos por aproveitar os preços baixos. E essa tradição está começando a pegar no Brasil também.

Comida e bebida em excesso, programação especial na televisão e grandes descontos para incentivar o consumo, a comemoração do dia de Ação de Graças está cada vez mais se afastando do seu propósito inicial, que é agradecer as bênçãos recebidas de Deus. Há cada vez menos orações, louvores e leituras bíblicas voltadas a demonstrar gratidão a Deus. As outras coisas tornaram-se muito mais importantes, acabaram virando a verdadeira razão para comemorar.

O mesmo está acontecendo com a comemoração do Natal, que acabou totalmente desvirtuada. Essa data, originalmente, era destinada a comemorar o nascimento de Jesus. A festa era para Ele e essa era a justificativa para enfeitar as casas e reunir a família - ler a Bíblia, cantar músicas especiais e encenar contos de Natal. Mas, o Natal acabou virando a festa do comércio: todo mundo nas ruas para comprar presentes, depois uma ceia no dia 24, com muita comida e bebida, e a distribuição dos presentes. E nada de lembrar de Jesus, exceto no presépio, nos poucos casos em que ele se faz presente.

A Páscoa, a data mais importante da cristandade, pois comemora a morte de Jesus na cruz e sua ressurreição, vai pelo mesmo caminho. Ao invés das pessoas meditarem sobre o significado do sacrifício de Jesus, virou o dia para comer chocolate. Quem dá as cartas é o "coelho" e, no máximo, as pessoas assistem um filme velho sobre a vida de Jesus na televisão.

O fato é que as datas religiosas importantes acabaram engolidas pelo comércio e pelo lazer. As práticas seculares desvirtuaram totalmente o significado do que deveria ser comemorado na Páscoa, no Natal e no Dia de Ação de Graças.

Amanhã, Dia de Ação de Graças, mesmo não sendo feriado no Brasil, lembre-se de dedicar uns bons minutos para agradecer a Deus as bençãos recebidas, juntando-se a milhões de pessoas que, felizmente, ainda não perderam o sentido original da comemoração. 

Somos totalmente dependentes das bençãos de Deus - afinal, tudo que existe foi criado e é mantido em funcionamento pelo seu poder. Simples assim.

E quando somos sinceramente gratos, deixamos de colocar a nós mesmos como o centro e a razão para tudo que existe. E encontramos, em Deus, um novo sentido, muito maior e mais profundo, para nossas vidas. 

Com carinho

segunda-feira, 25 de novembro de 2019

TRAJES

Quando você vai num parque, é possível ver as pessoas usando os trajes os mais diversos. A maioria das pessoas, talvez, esteja com roupa esportiva, pois quer praticar exercícios. Mas, também há quem esteja com roupas de passeio e até mesmo com roupas de casamento, para tirar fotos.

Os trajes que as pessoas usam, portanto, representam seus interesses diretos naquele momento - o que querem fazer, a causa que estão apoiando e assim por diante.

Aí eu faço uma pergunta para você: que traje você usaria para representar Jesus? Algumas pessoas acham que basta vestir um camiseta estampadas com símbolos religiosos cristãos ou versículos bíblico, que imediatamente vão passar a mensagem que Jesus está na vida dela. Mas, não é bem assim.

Que adianta as pessoas estarem suando símbolos religiosos se, ao mesmo tempo, são mal educadas e agressivas com o próximo? Na verdade, para representar Jesus bem neste mundo é preciso passar para o próximo o amor que Ele nos ensinou a ter, a paz que vem dele ou a esperança que só a fé verdadeira trás. A forma de representar Jesus não é um traje externo e sim algo que vem de dentro, que está no interior.

E é sobre isso que eu falo no meu mais novo vídeo - veja aqui.

Veja outros vídeos recentes meus aqui e aqui.

sábado, 23 de novembro de 2019

QUANDO O MEDO AJUDA

O medo é uma das emoções mais complicadas que existem. E às vezes o medo atrapalha e, noutras vezes, ele ajuda. O medo pode paralisar, impedindo que a pessoa progrida e venha a alcançar seus sonhos. Ele pode indicar também falta fé em Deus e uma vida espiritual pobre. Mas, também pode ser um amigo, alertando do perigo e fazendo a pessoa se prevenir.
Em diversos outros textos da série sobre o medo aqui no site, falei muito sobre o lado negativo do medo. Hoje é a hora de falar do outro lado: sobre quando o medo ajuda.

Outro dia li o depoimento de uma jovem executiva que sofria nas mãos de um chefe emocionalmente abusivo. Ele espalhava o terror entre seus subordinados e parecia sentir prazer com isso. O medo e o estresse dessa moça chegaram a um nível insuportável e isso obrigou-a a agir – era uma questão de sobrevivência.  

Quando entrou na reunião decisiva, onde estavam seu chefe, o chefe dele e outras pessoas, ela estava tremendo e suando frio. As pernas bambearam. Mas, não havia alternativa. A jovem enfrentou o chefe e, para surpresa dela mesma, venceu a parada.

Depois da reunião, ela sentiu grande alívio. Foi como se um peso enorme tivesse sido tirado das suas costas. E só aí ela se deu conta que o medo a tirara da sua zona de conforto. Empurrara-a para agir. O medo fora seu amigo.
A Bíblia também tem relatos de situações assim. Por exemplo, Davi, antes de subir ao poder, foi muito perseguido pelo rei Saul, que tinha ciúme da sua popularidade entre o povo de Israel. Davi precisou fugir várias vezes e viveu uma vida errante, sem ter pouso certo. A certa altura dos acontecimentos, Davi passou a morar na cidade de Queila, em relativo conforto. Tudo parecia bem. Mas, aí se deu conta de haver perigo à vista - veja o relato de 1 Samuel 23:10-13:
Então orou: "Ó Senhor, Deus de Israel, este teu servo ouviu claramente que Saul planeja vir a Queila e destruir a cidade por causa dele. Será que os cidadãos de Queila me entregarão a ele? Saul virá de fato, conforme teu servo ouviu? Ó Senhor, Deus de Israel, responde". E o Senhor disse: "Ele virá". Davi, novamente, perguntou: "Será que os cidadãos de Queila entregarão a mim e a meus soldados a Saul? " o Senhor respondeu: "Entregarão". Então Davi e seus soldados, que eram cerca de seiscentos, partiram de Queila, e ficaram andando sem direção definida. Quando informaram a Saul que Davi tinha fugido de Queila, ele interrompeu a marcha.
Davi ficou sabendo que Saul vinha no seu encalço. E sentiu medo. Como Queila era uma cidade murada, os muros da cidade o protegeriam de um ataque de surpresa, mas também poderiam se transformar numa arapuca, impedindo-o de fugir, caso fosse necessário. Tudo iria depender, portanto, da fidelidade dos líderes da cidade para com ele.
O medo de Davi fez com que ele ficasse alerta e perguntasse a Deus sobre sua situação. Perguntou o que iria lhe acontecer, caso continuasse em Queila. E Deus respondeu que ele seria traído e entregue a Saul. Essa passagem traz um ensinamento paralelo importante – Deus não sabe somente o que vai acontecer, mas também o que poderia ter acontecido em diferentes circunstâncias (o chamado conhecimento hipotético).

A partir da revelação que Deus lhe deu, Davi saiu do seu relativo conforto e fugiu de novo, voltando à vida errante. Mas, conservou a vida.
O medo ensina
Todo sentimento forte tem algo a informar e, portanto, precisa ser escutado. No caso do medo, antes de qualquer coisa, é preciso entender que se trata de um processo provocado por reações químicas no cérebro, começando com uma descarga de adrenalina, seguida de aceleração cardíaca, tremores e suores frios. O gatilho desse processo é um estímulo físico e/ou mental, ou seja, um sinal qualquer de perigo.
Essa resposta fisiológica tem por objetivo preparar o corpo humano para fugir ou reagir às ameaças. E sem ela, não haveria como a pessoa se antecipar ao perigo. Ela continuaria agindo normalmente, sem perceber a ameaça. Nesse sentido, o medo é uma reação útil, pois ajuda a manter a integridade física e emocional da pessoa.

Fica claro, então, que o medo é inevitável e, portanto, não se trata de tentar evitá-lo, coisa impossível. Lembro que até Jesus teve medo, na noite em que foi preso, quando estava orando no jardim do Getsêmani – Ele chegou a suar sangue. A questão real é aprender a lidar com esse sentimento de forma positiva. Transformá-lo num amigo. Trata-se de conquistar o medo.
Uma boa metáfora para explicar a postura adequada diante do medo é a luz amarela de um semáforo. Trata-se de um sinal de alerta, levando o motorista a tomar cuidado. Em outras palavras, a presença do medo indica ser preciso avaliar a situação e tomar as necessárias cautelas, antes de prosseguir. O medo avisa sobre o perigo de agir de forma impulsiva, pois poderá isso poderá trazer grande arrependimento.
Agora, o medo não pode ser visto como uma luz vermelha, aquela que manda parar imediatamente e não mais seguir em frente. Considerar o medo como uma luz vermelha, sem qualquer análise mais profunda da situação, faz com que a pessoa fique paralisada e inibida, que já discutimos em outro momento (veja mais).

Outro aspecto importante do medo é que ele é bom nas doses certas e quando dirigido para o alvo correto. Quando leva você a refletir e se acautelar. E é ruim quando extrapola do razoável e/ou é focado no lugar errado. Como, então, separar o medo “bom” do medo “ruim”? De que forma diferenciar entre o medo que ajuda daquele que atrapalha? Você precisa desenvolver discernimento e há cinco coisas que ajudam muito a fazer isso:
A primeira delas é orar sempre. Pedir a Deus sabedoria e discernimento para entender a situação à sua frente, as causas do seu medo e assim por diante. Todos os grandes heróis da fé tinham na oração constante seu principal trunfo.
Segundo, aprenda a fazer seu “inventário” emocional. Isto é, passe a entender os próprios sentimentos e como eles influenciam seu comportamento. Torne-se consciente dos sinais que seu corpo emite e aprenda a decodificar essas informações. E uma coisa que ajuda muito nesse aprendizado é fazer “autópsias”, ou seja, analisar suas reações em eventos passados e as consequências delas. Tentar entender qual foi o encadeamento de pensamentos que levou você a agir de uma forma e não de outra.

A terceira delas é adquirir a capacidade de separar o “joio” do “trigo”, isto é, passar a entender claramente o que é importante em cada situação que vier a desafiar você. Isso parece simples de fazer, mas as pessoas costumam ter muita dificuldade em separar o “joio” do “trigo”, pois confundem o importante com aquilo que é acessório.
Há um exemplo disso na Bíblia que é muito bom. Certa vez Jesus estava na casa de Lázaro, Marta e Maria. E estava ensinando às pessoas presentes. Maria sentou-se aos pés de Jesus e ouvia seus ensinamentos, mas Marta ficou pela casa, atarefada com os trabalhos domésticos, e acabou se incomodando com a aparente “folga” da irmã. Veja o relato de Lucas 10:38-42):
Caminhando Jesus e os seus discípulos, chegaram a um povoado, onde certa mulher chamada Marta o recebeu em sua casa. Maria, sua irmã, ficou sentada aos pés do Senhor, ouvindo-lhe a palavra. Marta, porém, estava ocupada com muito serviço. E, aproximando-se dele, perguntou: "Senhor, não te importas que minha irmã tenha me deixado sozinha com o serviço? Dize-lhe que me ajude!" Respondeu o Senhor: "Marta! Marta! Você está preocupada e inquieta com muitas coisas; todavia apenas uma é necessária. Maria escolheu a boa parte, e esta não lhe será tirada".
Marta tinha boa intenção, apenas queria receber bem seu hóspede (Jesus). Mas, perdeu noção daquilo que importava verdadeiramente. Maria, sua irmã, entendeu melhor qual deveria ser sua prioridade e focou naquilo que de fato importava.
Assim como aconteceu com Marta, é comum a pessoa focar naquilo que importa pouco, mas, por algum motivo, lhe angustia. E o que importa, no caso do medo, é entender os gatilhos que levam a pessoa a reagir dessa forma, os dados da realidade à sua frente e as possíveis consequências dos seus atos. As outras importam menos.
Em quarto lugar, é preciso ter capacidade de aprender. Há pessoas que conseguem usar suas próprias experiências de vida para crescer. Já outras repetem continuamente seus passos, fazendo as mesmas escolhas repetidamente e, mesmo assim, se irritam quando colhem os mesmos resultados ruins.
José aprendeu com sua experiência. Ele era um adolescente mimado, por ser o filho preferido de Jacó. Não tinha muita sensibilidade para o ciúme que despertava nos dez irmãos mais velhos – não se importava muito com isso. Nunca se deu conta dos sinais de perigo.

Um dia os irmãos decidiram ser ver livre dele e o venderam como escravo para uma caravana que ia para o Egito. Chegando naquele país, José teve uma vida muito difícil, mas, com a ajuda de Deus, acabou progredindo e chegou a ser o primeiro-ministro do faraó. E, nesse cargo, José conseguiu salvar sua família, quando ela passou por grave crise de falta de alimentos em Canaã.
José aprendeu com seu sofrimento e mudou. Tanto assim, que perdoou os irmãos e conseguiu entender que sua trajetória cumpriu um plano divino. José entendeu que Deus tinha feito do “limão” uma “limonada” na sua vida e aprendeu com essa constatação.
Finalmente, é preciso pedir ajuda quando o medo bate às portas. E essa ajuda pode vir de mentores, pastores, terapeutas e/ou familiares. O importante é encontrar alguém que possa ajudar você a analisar suas questões de vida, de forma racional. E, inclusive, entender os eventuais desdobramentos espirituais das suas possíveis decisões.

Os homens têm muito mais dificuldade de fazer isso do que as mulheres. Eles frequentemente acham que buscar ajuda é prova de fraqueza e negam-se a dar esse passo. E com isso jogam fora um instrumento que poderia vir a ajudá-los muito.

Mulheres usam melhor esse recurso, mas, às vezes, cometem o erro oposto. Falam com gente demais, procuram conselhos em todos os lugares e acabam confusas, pois recebem sugestões contraditórias. Isso quando não dão origem a fofocas por sua incontinência verbal.

Esses cinco passos vão ajudar você a entender se o medo à sua frente é do tipo “bom” ou “ruim” e orientá-lo na melhor forma de lidar com ele. Sempre com ajuda de Deus. Amém.

quinta-feira, 21 de novembro de 2019

JESUS E O BATISMO DE ARREPENDIMENTO


Você sabia que Jesus foi batizado para arrependimento? Esse é um dos fatos mais importantes da vida de Jesus e ocorreu logo no início do seu ministério.

O batismo de Jesus foi ministrado por João Batista (veja mais), que vinha chamando o povo de Israel para o arrependimento – o povo devia abandonar seus caminhos maus e se arrepender dos pecados cometidos (Mateus capítulo 3, versículos 1 a 10).

Agora, por que Jesus se deixou batizar para arrependimento já que não tinha pecados e, portanto, é não tinha do que se arrepender? Essa é uma pergunta muito coerente que merece atenção.
Como Deus lidou com o povo de Israel
Deus lidou com o povo de Israel, segundo o relato do Velho Testamento, de forma diferente do que Ele lida conosco hoje em dia. Israel era o povo escolhido e estava debaixo da promessa dada a Abraão e depois reafirmada a Moisés, Davi, etc.
Portanto, quem nascia dentro desse povo herdava automaticamente todas as promessas feitas por Deus e passava a fazer parte da Aliança feita com Abraão. Mas, assim como havia promessas coletivas para Israel, cuja posse podia ser reivindicada por qualquer pessoa que pertencesse a esse povo, também havia responsabilidades coletivas.
Assim, certos pecados cometidos por um único israelita podia ter reflexo no povo como um todo. Um bom exemplo disso é o caso de Acã, que desobedeceu a Deus e causou a derrota de Israel na batalha pela cidade de Aí (Josué capítulo 7).

É claro que também existiam pecados - como o adultério ou o roubo - para os quais a responsabilização era individual, como foi o caso do rei Davi, ao adulterar com Bate-Seba.

Os pecados que tinham impacto coletivo eram aqueles relacionados diretamente com a Aliança de Israel com Deus - adoração a outros deuses, desobediência a Deus, revolta contra os líderes indicados por Ele, etc.
Jesus e o pecado do povo de Israel
Jesus era judeu e participou das práticas religiosas daquele povo – respeitava os feriados religiosos, foi circuncidado, não comia alimentos proibidos, etc. Pode parecer estranho afirmar isso, mas, Jesus, como parte do povo escolhido, estava dentro da Aliança feita por Deus com Abraão. Assim, Jesus também era coletivamente responsável pelos pecados cometidos por outros judeus contra a Aliança com Deus, mesmo não tendo cometido nenhum pecado individual.
Em outras palavras, Jesus não pecou pessoalmente mas carregou sua parte da culpa coletiva de Israel. E a Bíblia deixa isso claro: quando Jesus se aproximou para ser batizado, João Batista lhe disse que não podia batizá-lo, pois não era digno de fazer isso. E Jesus respondeu: "...Deixa, por enquanto, para que se cumpra toda a justiça..." (Mateus capítulo 3, versículos 13 a 15).
"Justiça" na frase acima tem o significado de cumprimento da lei dada por Deus a Moisés. Ou seja, como judeu, Jesus carregava seu quinhão dos pecados coletivos de Israel, embora não fosse diretamente responsável por nenhum deles. Daí fazia sentido que Jesus se batizasse pelo arrependimento coletivo do povo, cumprindo a lei dada por Deus a Moisés.
Comentários finais
Vivemos hoje dentro da chamada Nova Aliança, caraterizada pela morte de Jesus na cruz para remissão dos nossos pecados (Mateus capítulo 26, versículos 26 a 28). A nova Aliança não é coletiva, como é a Aliança feita por Deus com o povo de Israel. A  nova Aliança é individual.
Cada pessoa entra na nova Aliança quando aceita Jesus como seu Salvador e não por ser descendente de outra (como acontecia na Aliança com Israel). Assim, na nova Aliança ninguém pode transferir sua salvação para outra pessoa, mesmo seus descendentes. Casa pessoa precisará tomar esse passo por si mesma. 

Em contrapartida, na nova Aliança ninguém precisa carregar pecados coletivos. Cada pessoa é responsável apenas pelo que faz individualmente e só precisa se arrepender disso. 

Portanto, na nova Aliança o gesto de Jesus - deixar-se batizar por João Batista para arrependimento - não faz sentido, pois Ele não tinha pecados pessoais. Mas, como Jesus viveu dentro da Aliança com israel, esse batismo passa a fazer todo sentido.

Com carinho 

terça-feira, 19 de novembro de 2019

DIALOGANDO EM SITUAÇÕES DE CONFLITO

Dialogar de forma construtiva em situações de conflito é tarefa difícil e delicada.  O desafio é sempre o mesmo: entender as outras pessoas e fazer-se entender por elas. Não permitir que as emoções embaralhem a razão. E isso é válido em todas as situações, seja com pessoas da família, amigos, colegas de trabalho ou irmãos na fé.

As livrarias estão cheias de livros de autoajuda que pretendem ensinar as pessoas a navegar bem pelo mar tempestuoso das suas relações e lidar bem com o conflito. Já li diversos deles e confesso que aproveitei pouco - normalmente estão cheios de clichês e conselhos vazios.

E isso ocorre porque os conselhos dados nesses livros partem de uma visão adocicada do ser humano e das suas motivações. Esses livros não levam em conta que, frequentemente, as pessoas escolhem o mal por que gostam disso. Entram em situações de conflito porque querem se vingar, estão com raiva e/ou guardam mágoas.

Os livros de autoajuda vendem a imagem que o ser humano é bom e só erra por ignorância e/ou precipitação, nunca pela decisão consciente de optar pelo mal. E isso não é verdade, considerando o que a Bíblia ensina.  

Os melhores conselhos que já li sobre como se relacionar melhor com as outras pessoas em situações de conflito são aqueles que Deus nos deu e estão registrados na Bíblia. Muitas vezes, não são conselhos fáceis de seguir até porque costumam contrariar a natureza humana, ou seja, as tendências naturais dos seres humanos.  

Mas, quais são esses conselhos? Aí vai o resultado de breve pesquisa que fiz sobre esse tema na Bíblia. Espero que esses conselhos sejam úteis para você, como foram para mim:
1.  Ouça com atenção as razões da outra pessoa
Se você se apressa em dar sua opinião, antes de ouvir os fatos, é um tolo e passará vergonha. Provérbios capítulo 18, versículo 13 
2.  Seja paciente
...nunca se esqueça de que cada um deve estar pronto para ouvir, deve demorar para falar e mais ainda para ficar irado. Tiago capítulo 1, versículo 19
3.  Não guarde rancor 
...jamais guarde rancor. Perdoe como o Senhor perdoou vocêColossenses capítulo 3, versículo  13
4. Você não sabe tudo ou é "dono" da verdade
O tolo sempre acha que sua opinião é a certa, mas o sábio ouve os conselhos recebidos com atençãoProvérbios capítulo 12, versículo 15
5. Evite falar demais
...quem fala demais acaba arruinando sua vidaProvérbios capítulo 13, versículo 3
6. Cuidado com o quê você fala 
Uma resposta amiga acalma o furor, mas quem responde com raiva provoca a iraProvérbios capítulo 15, versículo 1
O tolo explode em gritos... mas o homem de bom senso controla suas reações. Provérbios capítulo 29, versículo 11 
7. Nunca discuta
Começar uma discussão é como a primeira rachadura numa barragem, por isso procure fazer as pazes antes que a discussão comeceProvérbios capítulo 17, versículo 14
Siga esses sábios conselhos e você vai se relacionar muito melhor com as pessoas à sua volta.

Veja mais sobre esse tema aqui.

Com carinho

domingo, 17 de novembro de 2019

ESTOU ASSUSTADO

Todo mundo já passou por algum momento em que ficou muito assustado por uma notícia ou informação ruim. Algo que apontava que havia um grave risco à frente. Por exemplo, a possibilidade de uma doença grave, de perder o emprego, de uma crise familiar, de sofrer uma violência e ou outra coisa assim.

Lembrei disso recentemente ao ver um programa de televisão que contava sobre o caso de uma moça muito assutada ao saber que havia risco do retorno de um câncer que ela entendia já ter sido erradicado da sua vida. Pensou que aquele risco tinha sido superado, mas de repente deu-se conta que o perigo continuava bem presente na sua vida.

O que fazer nesse tipo de situação. Qual a conduta certa quando se está assustado porque o perigo bateu à porta e não parece haver uma saída boa para aquela situação? O ensinamento da Bíblia é olhar para Deus. Entregar o problema para Ele e ter fé que Deus haverá de fazer o melhor em cada circunstância. A única resposta, portanto, é o exercício da própria fé. 

É sobre isso que eu falo no meu mais novo vídeo - veja aqui.

Veja outros vídeos recentes meus aqui e aqui.

sexta-feira, 15 de novembro de 2019

AS DUAS NATUREZAS DE JESUS

A doutrina cristã ensina que Jesus tem duas naturezas: humana e divina. Mas, esse entendimento nem sempre foi aceito por todos e outras interpretações apareceram ao longo da história, gerando muito debate. Por exemplo:
  • Houve quem defendesse que Jesus foi apenas um homem, mas tão especial ,que Deus o ressuscitou e o chamou para junto de si. Essa linha teológica foi defendida, por exemplo, pelos Ebionitas.
  • Outros acreditavam que Jesus é Deus, mas viveu na terra "disfarçado" de homem - sua morte, na verdade, teria sido uma grande encenação. Essa doutrina foi defendida pelos docetistas.
Somente no começo do século V, no Concílio de Calcedônia, a igreja cristã resolveu de uma vez por todas essas questões e aceitou a doutrina que Jesus tem duas naturezas simultâneas - humana e divina.

Mas, aí a dúvida somente mudou de lugar. As pessoas passaram a questionar como essa dupla natureza funciona na prática - afinal, não parecia haver nenhum paralelo para essa ideia na natureza. Em outras palavras, a dupla natureza de Jesus parecia não ser mais do que uma invenção dos teólogos cristãos. E, em resposta, os cristãos só podiam oferecer sua fé.

Quando a física ajuda a teologia
Por incrível que pareça, foram os cientistas que vieram em "socorro" dos teólogos cristãos, apesar de muitos deles serem ateus. Eles encontraram um exemplo de dupla natureza no mundo físico. Refiro-me ao comportamento da luz, somente entendido mais completamente ao longo da primeira metade do século XX.

Tradicionalmente a luz sempre foi vista como uma onda, como acontece com o som. A famosa experiência do prisma, que divide a luz branca em faixas de cores (desde infra-vermelho até ultra-violeta) leva em conta exatamente esse tipo de comportamento.

Mas, o avanço da ciência mostrou algumas "anomalias" no comportamento da luz como onda. Sabe-se que ondas precisam de um meio físico para se difundir - é por isso que, no vácuo, não há som. A luz, porém, anda pelo espaço vazio sem qualquer problema.

E os cientistas acabaram descobrindo que a luz também funciona como um feixe de partículas - como se um "canhão" ficasse disparando balas minúsculas (chamadas fótons), uma atrás da outra. Essas "balas" andam em qualquer meio, mesmo no vácuo.

Portanto, a luz tem duas naturezas - ora se comportando como onda, e ora como feixe de partículas. São naturezas que se "complementam" e é preciso usar as duas para explicar como a luz funciona de fato.

Os teólogos cristãos ficaram muito felizes com essa descoberta pois a luz tornou-se um excelente exemplo de como duas naturezas podem co-existir na prática. E a realidade das duas naturezas de Jesus deixou de parecer tão impossível assim, deixou de ser algo que só pode ser admitido pela fé. 

Os sinais da natureza divina de Jesus
Assim, se a dúvida sobre a natureza de Jesus for levantada na sua presença, basta responder: "pense nas duas naturezas de Jesus como se fosse o comportamento da luz..." E nunca podemos esquecer que Ele é mesmo a luz do mundo - que linda constatação!

Agora, como essas duas naturezas funcionaram na prática? A resposta é relativamente simples: para poder viver dentro do frágil invólucro do corpo humano, Jesus precisou se "esvaziar" da sua glória e majestade como Deus. Ele não perdeu as características divinas, apenas se "despiu" das vestes reais e passou a vestir a "roupa" de um simples cidadão.

Será que há provas da existência dessas duas naturezas? É fácil entender que Jesus foi homem, pois Ele viveu na terra e morreu numa cruz. Jesus sofreu e sangrou como qualquer pessoa.

Mas, e quanto à sua natureza divina? Há provas quanto a isso? A demonstração da divindade de Jesus está na tarefa que Ele cumpriu e  que nenhum outro ser humano, nem antes nem depois, poderia cumprir.
Não foram os milagres que Jesus fez que atestaram sua divindade, pois os apóstolos (Paulo, Pedro e João), bem como vários profetas (Moisés, Elias e Eliseu) fizeram milagres tão grandes quanto os d´Ele. E não foram também seus ensinamentos, pois outros homens também falaram e escreveram palavras sábias, como Salomão ou Moisés e até filósofos como Sócrates ou Confúcio.

Se não foram os milagres e os ensinamentos, o que foi então? Primeiro, Ele perdoou pecados: nenhum profeta tinha feito isso e nenhum apóstolo o fez depois d´Ele. Tanto assim que, quando Jesus fez isso, sempre causou escândalo, pois os judeus pensaram que Ele estaria usurpando uma atribuição divina.

Mas, os críticos do cristianismo sempre podem argumentar que não há como comprovar a veracidade desse tipo de perdão. Ou seja, é certo que Jesus declarou ter perdoado pecados, mas essa pode ter sido uma declaração gratuita, onde Ele tentou se fazer passar por mais do que de fato era.

Portanto, essa não é uma prova aceitável da natureza divina de Jesus. No máximo prova que Jesus acreditava ter natureza divina, só isso.

E o mesmo tipo de dúvida é levantada a respeito de outras declarações suas, como quando garantiu que algumas pessoas estavam salvas (como o ladrão crucificado ao seu lado na cruz) ou que vai voltar no final dos tempos. São declarações que somente podem ser validadas pela fé da pessoa, não por evidencias físicas.

Mas, há sim fatos que destacam Jesus dentre os demais seres humanos. Por exemplo, o episódio da sua transfiguração, quando suas vestes brilharam e Elias e Moisés apareceram para falar com Ele, evento testemunhado por três apóstolos (Mateus capítulo 17, versículos 1 a 8).

E também sua ressurreição, bem como seu comportamento logo depois, quando apareceu e desapareceu diante dos discípulos, conservou as marcas da tortura na cruz e foi elevado aos céus diante de muitas pessoas (Lucas capítulo 24, versículos 50 a 53). Essas são evidências que de fato demonstram a divindade de Jesus.

Mas, os críticos do cristianismo nunca vão se satisfazer: quando um dúvida é respondida pelos teólogos cristãos, aparecem outras. Por exemplo, em relação aos episódios que acabei de citar, os críticos alegam que as testemunhas mentiram ou exageraram.

E não há com escapar dessa "armadilha", ou seja, de serem pedidas mais e mais evidencias. Isso ficou bem claro para mim, certa vez, quando estava conversando com um ateu. Eu lhe perguntei qual evidencia seria suficiente para ele acreditar que Jesus era mesmo o Filho de Deus. A resposta demonstrou bem essa "armadilha": nada o faria se convencer disso. Se Deus escrevesse essa verdade nos céus, meu amigo disse que iria procurar uma explicação científica para tal evidencia. 

Portanto, para os cristãos, a Bíblia fornece provas claras sobre as duas naturezas de Jesus e o paralelo com o comportamento da luz é excelente para explicar como isso é possível. Mas, muita gente nunca vai acreditar nisso.

Com carinho

quarta-feira, 13 de novembro de 2019

POR QUE JESUS NOS PEDIU PARA DAR A OUTRA FACE?

Por que Jesus nos pediu para dar a outra face, quando agredidos? Esse é um dos ensinamentos dele mais difíceis de entender e seguir. Vejamos o texto onde esse ensinamento está relatado:
...mas a qualquer que te ferir na face direita, volta-lhe também a outra e ao que demandar contigo e tirar-te a túnica, deixa-lhe também a capa. Se alguém te obrigar a andar uma milha, vai com ele duas." Mateus capítulo 5, versículos 39 a 41
Como já disse, esse é um ensinamento difícil de aceitar. Mas, ainda assim, precisamos obedecê-lo se quisermos ser cristãos verdadeiros. E a melhor forma de fazer isso é entender as razões de Jesus. Aí fica mais fácil obedecer.

No texto acima, Jesus ensinou que a pessoa não deve retribuir o mal (físico, moral ou espiritual) recebido e, o que ainda mais difícil, deve fazer algo positivo por quem lhe fez mal, caso isso for possível.

Esse ensinamento é muito mais exigente e desafiador do que a lei usada no Velho Testamento: retribuir "olho por olho e dente por dente", ou seja, o mal deveria ser retribuído de forma proporcional ao prejuízo sofrido (Êxodo capítulo 21, versículo 24). Mas, a orientação de Jesus é retribuir o mal até com o bem. 

Por quê Jesus pediu isso? Afinal, a lei do Velho Testamento parece mais justa e razoável. Mas, se Jesus ensinou algo diferente, devem haver razões fortes para isso. Acredito que há pelo menos três razões:

A primeira é que a tal "retribuição justa" ("olho por olho") não é possível de aplicar na prática. Eu me explico. Digamos que eu mate o filho de alguém e essa pessoa mate meu filho, em retribuição. Pela matemática, parece ter ficado tudo certo. Mas, se eu tiver apenas um filho e a outra pessoa tiver três, eu teria perdido tudo e o outro apenas um terço da sua prole.
Esse exemplo simples explica como é difícil praticar a retribuição justa. Afinal, são muitas as variáveis a considerar. E, por causa disso, a regra do "olho por olho" tende a perpetuar os conflitos. Um dos lados sempre vai achar que sofreu ficou com saldo negativo e vai querer descontar a diferença, fazendo mais mal para o lado que pareceu beneficiado.

Voltando ao exemplo anterior, digamos que eu ache que matar meu único filho foi injusto. Vou lá e, para equilibrar as coisas, no meu ponto de vista, mato os outros dois rapazes do meu inimigo. Minha prole acabou e agora, a do meu inimigo também. Parece justo. Aí o pai dos rapazes mortos vai achar que a conta ficou desequilibrada e vai retaliar em outra área da minha vida. E assim acabará sendo gerado um ciclo de vinganças e retaliações.

É por isso que há um ditado muito sábio: "quando se usa a regra do olho por olho, a longo prazo todos acabam cegos". Esse ditado retrata com clareza a impossibilidade de, na prática, encontrar a retribuição justa ao mal recebido.

A segunda razão pela qual Jesus nos pediu para dar a outra face e não retaliar os inimigos é porque a lógica do reino de Deus é baseada na graça e não na causa e efeito". Graça significa que Deus deixa de punir a pessoa de acordo com seus pecados. Isso significa que, se a pessoa aceitar Cristo como seu salvador, ela será perdoada. 

E a graça de Deus está disponível para todos - basta aceitá-la. Mas, se alguém entra no campo de graça, é exigido dele/a que aja de forma semelhante: aprenda a perdoar e não retaliar. Daí o mandamento de Jesus.

A terceira razão trata da exigência de dar a outra face trata especificamente da questão de fazer o bem a quem lhe fez mal, caso isso seja possível. A lógica de Jesus aqui é que uma ação positiva pode iniciar um processo de restauração da relação quebrada. E isso é ainda melhor do que simplesmente quebrar o ciclo de retaliação. Os resultados tornam-se muito mais significativos.

Veja mais sobre esse tema aqui.

Com carinho

segunda-feira, 11 de novembro de 2019

NEM JESUS FOI PROFETA NA SUA TERRA

Há uma verdade da qual ninguém consegue fugir: não é possível ser profeta na própria terra. Em outras palavras, não é possível exercer liderança espiritual de pessoas com quem se tem intimidade.

Até Jesus teve enorme dificuldade em vencer essa barreira - veja o que a Bíblia diz a esse respeito:
Tendo Jesus partido dali, foi para sua própria terra... passou a ensinar na sinagoga e muitos, ouvindo-o, se maravilhavam dizendo: ...Que sabedoria é essa que lhe foi dada? ...Não é este o carpinteiro, filho de Maria, irmão de Tiago, José, Judas Judas e Simão? ...Jesus, porém, lhes disse: não há profeta sem honra senão na sua terra, entre os seus parentes e na sua casa. [Jesus] não pôde fazer ali nenhum milagre, senão curar uns poucos enfermos... Marcos capítulo 6, versículos 1 a 5
E é fácil entender a razão para essa limitação. Imagine que eu tivesse sido criado com um primo, jogando futebol, indo junto à praia e festinhas. Sempre percebi que meu primo era uma pessoa inteligente e bondosa, mas, ainda assim, parecia um garoto normal. Anos depois, recebo a notícia que esse meu primo tornou-se um grande líder religioso e que muitas pessoas estão afirmando ser ele o Messias, o salvador da humanidade. Será que eu iria acreditar nisso? É muito pouco provável. Eu iria lembrar toda a minha história de vida com ele e teria muita dificuldade de vê-lo preenchendo um papel espiritual desse porte. Eu seria uma das pessoas mais difíceis de convencer quanto ao ministério do meu primo.
E foi exatamente isso que aconteceu com os irmãos e conterrâneos de Jesus, conforme o texto acima demonstra. Quando Jesus começou a ser visto como o Messias, aqueles que tinham privado da sua intimidade, antes dele começar seu ministério, recusaram-se a aceitar essa verdade. Acharam isso absurdo.

Qualquer pessoa que tenha um ministério espiritual enfrenta esse mesmo tipo de barreira. Por exemplo, minha família dificilmente se interessa postagens que publico aqui - meu trabalho aqui simplesmente fica fora do radar dessas pessoas, embora todas elas tenham amor por mim. E assim é com todo mundo.
Mas, o que isso tem a ver com você? Muito, mais do que você talvez consiga perceber à primeira vista. Eu me explico.
Se você tem alguém na família ou um/a amigo/a próximo/a que não é convertido/a, certamente tem vontade de ver essa pessoa se rendendo a Jesus. E quando procurar falar sobre Jesus para essa pessoa que não é convertida, provavelmente vai enfrentar a mesma barreira que todo profeta enfrenta quando tenta agir na própria terra. Essa pessoa próxima a você vai resistir a suas palavras. Pode parecer surpreendente, é mais fácil ela vir a aceitar a pregação de um pastor que não conheça. 

Ocorre que esse familiar ou amigo/a próximo/a conhece você muito bem, inclusive seus defeitos e qualidades. E dificilmente vai conseguir ver em você uma referencia para sua própria vida espiritual cristã.

Mas, ainda assim, é preciso seguir o mandamento de pregar o Evangelho para quem cruzar nosso caminho. E isso inclui as pessoas que possam vir a rejeitar a mensagem do Evangelho que você venha transmitir.

É preciso sempre ter em mente que quem converte as pessoas é o Espírito Santo e não quem prega o Evangelho. Assim, quem leva a palavra é apenas o "cano" que conduz a "água viva" do Evangelho. Sem o "cano", a "água" não poderá chegar onde se faz necessária, mas não é esse "encanamento" que mata a "sede" e sim a "água viva".

Portanto, quando você tentar falar do Evangelho para alguém próximo e enfrentar resistências, não desanime, pois isso já é esperado. Não tente empurrar seus argumentos pela garganta dessa pessoa abaixo. Não se irrite com a eventual resistência e nunca brigue com a pessoa por causa disso.
Fale apenas o mínimo indispensável para essa pessoa e não se esqueça de convidá-la de ir visitar sua igreja. Faça sua parte. Eu, por exemplo, quando surge aqui no site algum tema que pode interessar familiares e ou amigos/as, conto para essas pessoas o que está sendo discutido e resumo o argumento cristão em resposta às dúvidas levantadas. Às vezes recebo algum comentário, dizendo que o texto ajudou, mas, na maioria das vezes, ninguém fala nada. 
Isso nunca me aborrece, pois fiz a tarefa que me cabia. O resto é com o Espírito Santo. Cabe a ele mudar a pessoa. Afinal, ninguém é mesmo profeta na sua própria terra.

Veja mais sobre esse tema aqui.

Com carinho

sábado, 9 de novembro de 2019

COMUNIDADE

Estamos acostumados a viver em comunidade. Isto é, em grupos de pessoas, com origens e características diversas, mas que se juntam por causa de um propósito ou interesse comum. E na vida participamos de várias comunidades diferentes, como família, empresa, escola, igreja e assim por diante. 

Uma igreja cristã não deixa de ser uma comunidade, pois é formada por pessoas com histórias de vida e naturezas distintas, reunidas para cultuar a Deus e fazer sua obra. As igrejas cristãs são comunidades de fé, pois a crença em Cristo é o elo que une todos os membros desses grupos.

E, por mais que algumas pessoas tentem dizer o contrário, não é possível construir uma relação profunda com Cristo sem frequentar alguma igreja. Sem ter um lugar onde congregar e buscar apoio espiritual e emocional para as próprias dificuldades, bem como também dar o mesmo tipo de apoio para quem estiver precisando. Não é possível desenvolver a própria vida espiritual sozinho/a, isolado de outras pessoas.

Por isso a Bíblia é muito clara quanto à necessidade de viver a vida espiritual em grupo, participando de uma comunidade com irmãos e irmãs na fé. E é sobre isso que eu falo no meu mais novo vídeo - veja aqui.

Veja outros vídeos recentes meus aqui e aqui.

quinta-feira, 7 de novembro de 2019

O MEDO QUE PARALISA

Há um tipo de medo que paralisa. Ele acontece quando a pessoa se sente intimidada por outras pessoas e fica inibida, sem ação. Meio que “congela” e não consegue fazer nada. Esse medo pralisa mesmo.
Um bom exemplo é o profeta Elias, quando foi intimidado pela rainha Jezebel. O mais interessante nesse caso é que a intimidação de Elias aconteceu depois que ele realizou seu maior milagre, ao enfrentar sozinho 400 profetas de Baal, no monte Carmelo, quando desceu fogo do céu para consumir seu sacrifício. Logo após esse milagre, a rainha Jezebel ficou inconformada com a derrota dos profetas de Baal e ameaçou Elias – veja 1 Reis 9:2-10:
Por isso Jezabel mandou um mensageiro a Elias para dizer-lhe: "Que os deuses me castiguem com todo o rigor, caso amanhã nesta hora eu não faça com a sua vida o que você fez com a deles". Elias teve medo e fugiu para salvar a vida… e entrou no deserto, caminhando um dia. Chegou a um pé de giesta, sentou-se debaixo dele e orou, pedindo a morte. "Já tive o bastante, Senhor. Tira a minha vida; não sou melhor do que os meus antepassados." Depois se deitou debaixo da árvore e dormiu. De repente um anjo tocou nele e disse: "Levante-se e coma".

Elias olhou ao redor e ali, junto à sua cabeça, havia um pão assado sobre brasas quentes e um jarro de água. Ele comeu, bebeu e deitou-se de novo. O anjo do Senhor voltou, tocou nele e disse: "Levante-se e coma, pois a sua viagem será muito longa". Então ele se levantou, comeu e bebeu. Fortalecido com aquela comida, viajou quarenta dias e quarenta noites, até que chegou a Horebe, o monte de Deus. Ali entrou numa caverna e passou a noite. E a palavra do Senhor veio a ele: "O que você está fazendo aqui, Elias?" Ele respondeu: "Tenho sido muito zeloso pelo Senhor, Deus dos Exércitos. Os israelitas rejeitaram a tua aliança, quebraram os teus altares, e mataram os teus profetas à espada. Sou o único que sobrou, e agora também estão procurando matar-me".
Elias era um homem espiritualmente poderoso e não deveria ter dado muita bola para a ameaça de Jezebel. Mas, surpreendentemente, o profeta intimidou-se com a ameaça e entrou em pânico. Esqueceu-se de tudo que já tinha feito, ficou deprimido e fugiu para salvar a vida. Nesse processo, Elias teve o medo que paralisa, perdeu sua visão ministerial e sua autoridade espiritual. Foi preciso que Deus lhe mandasse ajuda, através do profeta Eliseu.
 Pedro também se deixou intimidar. Isso ocorreu quando o apóstolo estava sentado junto ao fogo, no pátio da casa do sumo-sacerdote, na noite em que Jesus foi preso – veja Lucas 22:54 a 62:
Então, prendendo Jesus, levaram-no para a casa do sumo sacerdote. Pedro os seguia à distância. Mas, quando acenderam um fogo no meio do pátio e se sentaram ao redor dele, Pedro sentou-se com eles. Uma criada o viu sentado ali à luz do fogo. Olhou fixamente para ele e disse: "Este homem estava com ele". Mas ele negou: "Mulher, não o conheço". Pouco depois, um homem o viu e disse: "Você também é um deles". "Homem, não sou! ", respondeu Pedro. Cerca de uma hora mais tarde, outro afirmou: "Certamente este homem estava com ele, pois é galileu". Pedro respondeu: "Homem, não sei do que você está falando! " Falava ele ainda, quando o galo cantou. O Senhor voltou-se e olhou diretamente para Pedro. Então Pedro se lembrou da palavra que o Senhor lhe tinha dito: "Antes que o galo cante hoje, você me negará três vezes". Saindo dali, chorou amargamente.
A intimidação, nesse segundo caso, foi velada. Não foi uma ameaça direta pois não havia nada de concreto contra Pedro. Mas, mesmo assim, o apóstolo também teve o medo que e fez algo muito ruim: negou Jesus para afastar a ameaça, esquecendo-se de todas as promessas que tinha feito de ter lealdade irrestrita a seu Mestre. Mais tarde, quando percebeu o que tinha feito, Pedro chorou amargamente. Ele precisou de tempo para poder recuperar seu ministério. Elias já não teve a mesma sorte, pois seu ministério nunca se recuperou de todo.
O apóstolo Paulo estava bem ciente do perigo que representa o medo que paralisa. E escreveu para Timóteo, seu filho na fé, para alertá-lo sobre isso. Timóteo era jovem, ainda pouco experiente no ministério, mas já tinha importantes tarefas a desempenhar na obra de Deus: pregar o Evangelho e pastorear igrejas. Veja o texto de 2 Timóteo 1:6-8:
Por essa razão, torno a lembrar-lhe que mantenha viva a chama do dom de Deus que está em você mediante a imposição das minhas mãos. Pois Deus não nos deu espírito de covardia, mas de poder, de amor e de equilíbrio. Portanto, não se envergonhe de testemunhar do Senhor, nem de mim, que sou prisioneiro dele, mas suporte comigo os sofrimentos pelo evangelho, segundo o poder de Deus…
Paulo explicou que um dom espiritual não usado, acaba se apagando. Assim como um membro do corpo, quando fica sem uso, acaba se atrofiando. O medo que paralisa impede que a pessoa faça aquilo que sabe e pode fazer, inclusive na obra de Deus. Esse tipo de medo torna a pessoa covarde. Tira a coragem dela.
Repare que Paulo usou na sua carta a Timóteo a palavra “armadilha”, que tem o significado de “laço”. Esse era um recurso usado para aprisionar animais. Paulo estava alertando que se deixar intimidar é como cair num laço que aprisiona a própria vida.
Dons precisam ser usados com frequência e liberdade. Quando são postos à serviço de boas causas e ajudam a implantar o reino de Deus aqui na terra, eles frutificam e crescem. 
As táticas da intimidação
Você precisa aprender a reconhecer as táticas de intimidação. Aquelas que levam ao medo que paralisa. Elas são muito usadas no trabalho, nas relações sociais e até na família - conheci um chefe de família que vivia ameaçando a mulher e os filhos de abandoná-los, deixando-os em situação financeira difícil.
Há casos em que a ameaça não é tão clara assim, sendo feita de forma sutil. Uma abordagem comum é alegar que a pessoa sendo intimidada precisa deixar de fazer isso ou aquilo para seu “próprio bem”, ou seja, para evitar consequências ruins para sua vida.

São duas as táticas muito usadas para intimidar. Uma delas é ameaçar alguma retaliação, conforme o fazia o chefe de família ao qual me referi acima. Trata-se de chamar a atenção da pessoa que se quer intimidar para a possibilidade de ocorrer algo desagradável na vida delas, se não mudar seu comportamento. Foi isso que a rainha Jezebel fez com Elias.
Outra forma de intimidação é a confrontação. Boa parte das pessoas tem medo de ser questionada. Não gostam que lhes seja pedido justificativas para aquilo que pensam ou para suas ações. Por isso é muito comum as pessoas evitarem ter certas conversas dolorosas. Fogem até de tratar os problemas familiares abertamente
Já vi cristãos engasgarem quando questionados e serem chamados de otários por darem o dízimo, não conseguindo articular uma resposta. Bateu neles o medo que paralisa. E é importante lembrar que a Bíblia nos manda estar preparados para responder aos questionamentos sobre nossa fé – veja 1 Pedro 3:15:
…Estejam sempre preparados para responder a qualquer um que lhes pedir a razão da esperança que há em vocês.
A falta de fé em Deus não é a única razão para as pessoas se deixarem intimidar. E talvez você se surpreenda quando afirmo isso. É claro que esse é um fator importante e foi ele que causou a fuga de Elias e Pedro. Mas existem dois outros fatores de muito peso, que também levam ao medo que paralisa.

Um desses fatores é dar importância demasiada ao que as outras pessoas pensam, isto é, não querer ser criticado/a e/ou temer a rejeição. Aí é mais fácil ficar calado quando se é questionado.

O outro fator é a falta de convicção, a incerteza da pessoa de estar no caminho certo. Em outras palavras, ela não estabelece uma identidade cristã forte, em termos de ideias, valores e comportamentos abraçados. Quem não tem essa identidade forte, ao ser questionado/a, fica com dúvida se a eventual crítica não está correta. É isso que acontece, por exemplo, com os cristãos que não conseguem responder às críticas quanto ao dízimo.
Repare que esses fatores estão interligados. Quando se quer agradar os homens, geralmente não se consegue agradar a Deus. Quando não se tem certeza da própria relação com Deus, não é possível desenvolver fé e conseguir nele de forma absoluta. E por aí vai.
O ensinamento da Bíblia é que o importante mesmo é focar em Deus e procurar agradá-lo. Veja o Salmo 118:6: O Senhor está comigo, não temerei. O que me podem fazer os homens?
Foi assim que agiram Pedro e João, quando o Sinédrio tentou intimidá-los. Foi assim que eles enfrentaram o medo que paralisa. Veja (Atos 4:1-20):
Enquanto Pedro e João falavam ao povo, chegaram os sacerdotes, o capitão da guarda do templo e os saduceus. Eles estavam muito perturbados porque os apóstolos estavam ensinando o povo e proclamando em Jesus a ressurreição dos mortos. Agarraram Pedro e João e, como já estava anoitecendo, os colocaram na prisão até o dia seguinte…No dia seguinte, as autoridades, os líderes religiosos e os mestres da lei reuniram-se em Jerusalém. Estavam ali Anás, o sumo sacerdote, bem como Caifás, João, Alexandre e todos os que eram da família do sumo sacerdote.

Mandaram trazer Pedro e João diante deles e começaram a interrogá-los: "Com que poder ou em nome de quem vocês fizeram isso?" Então Pedro, cheio do Espírito Santo, disse-lhes: "Autoridades e líderes do povo! Visto que hoje somos chamados para prestar contas de um ato de bondade em favor de um aleijado, sendo interrogados acerca de como ele foi curado, saibam os senhores e todo o povo de Israel que por meio do nome de Jesus Cristo, o Nazareno, a quem os senhores crucificaram, mas a quem Deus ressuscitou dos mortos, este homem está aí curado diante dos senhores. Este Jesus é ‘a pedra que vocês, construtores, rejeitaram, e que se tornou a pedra angular’. Não há salvação em nenhum outro, pois, debaixo do céu não há nenhum outro nome dado aos homens pelo qual devamos ser salvos".

Vendo a coragem de Pedro e de João, e percebendo que eram homens comuns e sem instrução, ficaram admirados e reconheceram que eles haviam estado com Jesus. E como podiam ver ali com eles o homem que fora curado, nada podiam dizer contra eles. Assim, ordenaram que se retirassem do Sinédrio e começaram a discutir, perguntando: "Que faremos com esses homens? Todos os que moram em Jerusalém sabem que eles realizaram um milagre notório que não podemos negar. Todavia, para impedir que isso se espalhe ainda mais entre o povo, precisamos adverti-los de que não falem mais com ninguém sobre esse nome". Então, chamando-os novamente, ordenaram-lhes que não falassem nem ensinassem em nome de Jesus. Mas Pedro e João responderam: "Julguem os senhores mesmos se é justo aos olhos de Deus obedecer aos senhores e não a Deus. Pois não podemos deixar de falar do que vimos e ouvimos".
A intimidação que Pedro recebeu no pátio da casa do sumo-sacerdote foi menor do que essa outra. Mas, agora, Pedro não se deixou intimidar. Ele passou a ter certeza do seu lugar reino de Deus e não mais se preocupava com o que as pessoas pensavam dele. Assim, já não dava bola para ameaças. Tinha certeza de estar debaixo da proteção de Deus e sabia ter sido revestido de poder, depois da chegada do Espírito Santo (no Pentecoste).
A atitude dos apóstolos, nesse caso, ensina uma coisa outra importante. A forma de enfrentar uma tentativa de intimidação não é fugir. É fazer justamente o contrário: ir na direção da fonte da intimidação, na origem do medo que paralisa. Pedro e João enfrentaram o Sinédrio e explicaram abertamente que, para eles, era mais importante obedecer a Deus do que obedecer aos homens.

E essa é uma grande lição de vida para nós. Assim como os apóstolos, você também pode aprender a enfrentar o medo que paralisa.

Com carinho

terça-feira, 5 de novembro de 2019

VOCÊ JÁ LEU ATOS DOS APÓSTOLOS?

Dois livros da Bíblia - Evangelho de Lucas e Atos dos Apóstolos - foram escritos pela mesma pessoa, Lucas, médico e companheiro de Paulo em algumas de suas viagens missionárias. Na verdade, os dois livros formam uma única obra. A primeira parte (o Evangelho) trata da vida e do ministério de Jesus na terra. A segunda parte (Atos dos Apóstolos) conta a história dos primeiros tempos da igreja cristã.

Esse período inicial de vida do cristianismo também é conhecido como "igreja apostólica" pois foi liderado pelos apóstolos. Tratavam-se de um grupo de doze homens escolhidos diretamente por Jesus para testemunhar sobre seu ministério. Posteriormente, a esse grupo inicial, juntou-se Paulo, tornado apóstolo após uma visão que teve de Cristo. E também Tiago, irmão de Jesus, homem de grandes princípios morais, cujo apelido era "o Justo". 

Paulo acabou se tornando a principal figura da igreja apostólica. Ele escreveu cerca de metade do Novo Testamento e implantou um bom número de igrejas entre os gentios (os não judeus). Tiago tornou-se o chefe da igreja cristã mãe de todas, a de Jerusalém. E Pedro também teve grande papel de liderança, na igreja apostólica, especialmente depois que foi viver em Roma.

O livro de Atos descreve , dentre outras coisas, os seguintes acontecimento importantes:
  • O Pentecoste, o derramar do Espírito Santo que deu início à história da igreja cristã. Naquela oportunidade, cerca de 3 mil homens foram convertidos ao Evangelho de Jesus (Atos capítulo 2, versículos 1 a 41).
  • As primeiras perseguições sofridas pelos cristãos, por serem considerados hereges pelos judeus. Foi nessa época que ocorreu o primeiro martírio, o do diácono Estevão, que morreu apedrejado (Atos capítulos 6 e 7).
  • A forma como os primeiros cristãos viveram - compartilhando seus bens e usando-os para suprir as necessidades de cada pessoa (Atos capítulo 2, versículos 42 a 47).
  • As primeiras desavenças dentro da comunidade cristã, causadas pela diferença cultural entre os judeus originários da Palestina e os originários de outros lugares (Atos capítulo 6, versículos 1 a 7). 
  • O Primeiro Concílio da igreja cristã, liderado por Tiago, Pedro e Paulo. Essa reunião resolveu a questão das exigências que deveriam ser feitas para as pessoas se tornarem cristãs. Foram abolidas diversas exigências, como a circuncisão dos homens, que atrapalhavam o crescimento da fé cristã (Atos capítulo 15).
  • Os acontecimentos relacionados com as três viagens missionárias de Paulo pela Ásia Menor (atual Turquia) e Grécia. Foi nesse período que Paulo desenvolveu a teologia cristã (em cartas como Romanos, 1 e 2 Coríntios, Gálatas, etc). E resolveu conflitos no seio das comunidades cristãs.
  • A prisão de Paulo e sua viagem a Roma para ser julgado pelo imperador  romano (Atos capítulo 28, versículos 16 a 31). Sabe-se que o apóstolo ficou preso cerca de dois anos naquela cidade, antes de ser martirizado.  
Esses são apenas alguns exemplos dos fatos relatados no livro de Atos. Há muito material a ser aproveitado ali. Trata-se de leitura fácil, pois Lucas escreve de forma muito agradável, diferentemente do que acontece, por exemplo, com Paulo. 

Vale a pena investir tempo para ler esse livro, o que pode ser feito em pouco mais do que três horas de leitura. Você não vai se arrepender se fizer esse esforço.

Com carinho 

domingo, 3 de novembro de 2019

O MEDO DA REJEIÇÃO

O medo da rejeição tem a ver com a percepção da falta de valor próprio. E é fácil explicar a razão: ninguém rejeita algo que tenha muito valor. Portanto, se alguém é rejeitado é porque implicitamente ele/a não tem valor. Não tem muita importância ou significado na sociedade. Discutir o medo da rejeição é, então, fazer uma discussão sobre o medo de não ter valor. O medo de evaporar e ninguém sentir falta.
Esse medo é uma constante na vida da maioria das pessoas. E é por causa dele que você se incomoda quando amigos ou parentes se esquecem de ligar no dia do seu aniversário, ou quando as pessoas se dirigem a você usando um nome errado. Pelas mesmas razões, ninguém gosta de ser tratado como “gado”, como fazem, por exemplo, as empresas aéreas e os call centers das grandes empresas.
As pessoas querem receber atenção e reforço positivo pelo que são e fazem. Por isso o elogio do chefe, do professor ou do pastor é tão importante. E é pela mesma razão que elas ficam excitadas quando recebem atenção de alguém famoso, como um grande esportista, um artista famoso ou um político de sucesso. Nessa situação, as pessoas tentam ligar, de alguma forma, sua identidade com a dessa pessoa importante, deixando sua insignificância para trás. O lema adotado nesses casos é: conecte-se com alguém especial e você se tornará especial também.

Mas, é comum as pessoas se sentirem sem valor, dispensáveis, portanto, fortes candidatas à rejeição. Afinal, elas trabalham em profissões pouco interessantes, moram em condições que não são boas, sofrem no transporte público e assim por diante.
O medo da rejeição e falta de valor tem consequências importantes na economia e na vida em sociedade. Por exemplo, ele está na raiz do marketing das empresas que vendem moda. Essas organizações sempre tentam passar a seguinte mensagem para seus consumidores em potencial: você é importante e não mais será rejeitado se vestir-se bem, usando os produtos da marca tal e qual.
O mesmo sentimento move boa parte dos esforços de benemerência. Os bilionários, quando percebem que sua vida vai acabar muito antes do seu dinheiro, criam fundações com seus nomes, onde procuram fazer coisas boas, tornando-se, aos olhos da opinião pública, pessoas socialmente responsáveis e cidadãos respeitáveis. Pela mesma razão, as pessoas gostam de ter seus nomes em ruas, praças e pontes, garantindo-lhes reconhecimento e certa imortalidade. E é também por isso que os artistas famosos são tão invejados: eles/as se tornam imortais pelas obras de arte que criam.
Embora frequentemente as pessoas se sintam sem importância, não é isso que Deus pensa a respeito delas. A Bíblia diz que você é valioso porque é criatura de Deus. Veja o que Jesus ensinou em Lucas 12:6-8:
Não se vendem cinco pardais por duas moedinhas? Contudo, nenhum deles é esquecido por Deus. Até os cabelos da cabeça de vocês estão todos contados. Não tenham medo; vocês valem mais do que muitos pardais! "Eu lhes digo: quem me confessar diante dos homens, também o Filho do homem o confessará diante dos anjos de Deus.
Pardais não valiam nada naquela época - não tinham nenhum propósito aparente. Por isso eram vendidos de baciada, custando duas moedas de valor muito baixo. E ainda assim, conforme Jesus disse, nenhum pardal é esquecido por Deus. E muito menos ainda você é esquecido por Ele.
A percepção que você tem valor para Deus costuma mudar a vida e o comportamento das pessoas. John Bentley trabalha como missionário na China, na província de Henan. Ele descreveu a seguinte experiência que teve num orfanato de crianças surdas. Na China, essas crianças são rejeitadas pelos pais, pois são consideradas sem valor - nasceram “com defeito”.
O missionário, durante sua visita ao orfanato, leu para as crianças o livro escrito por um conhecido escritor cristão chamado Max Lucado, cujo título é “Você é especial”. Trata-se da história de um boneco de madeira, chamado Punchinello, que morava numa vila habitada por outros bonecos iguais a ele. O costume naquele lugar era pregar no corpo dos bonecos sinais indicando como seu desempenho. Estrelas indicavam a obtenção de resultados importantes e pontos de interrogação sinalizavam fracassos.

Punchinell tinha tantos pontos de interrogação pregados no seu corpo, que os outros bonecos lhe davam novos sinais desse tipo porque todo mundo imaginava que ele não tinha qualquer valor. Foi aí que Pulchinello encontrou Eli, o artesão que o tinha feito. E Eli lhe disse para não considerar os sinais presos ao seu corpo, pois eles apenas traduziam as opiniões dos outros. Justificou sua afirmação dizendo: “Eu fiz você e sou um artesão muito experiente e competente. Não cometo erros.” Quando o boneco ouviu isso, os pontos de interrogação pregados ao seu corpo começaram a cair e seu corpo ficou limpo de sinais.
Essa mensagem mudou a cabeça das crianças daquele orfanato. Veja o que o depoimento do missionário:
Num certo momento, todos começaram a chorar. E eu não podia entender essa reação…afinal, nós, americanos, estamos acostumados a receber reforço positivo. Aquelas crianças começaram a chorar porque entenderam que tinham valor, por terem sido feitas por um artesão maravilhoso, o próprio Deus. E com elas, os professores também choraram.”
Você tem valor sim e nunca deixe que outras pessoas duvidem disso. E não duvide desse valor. Até porque o medo da rejeição e falta de valor acaba gerando profecias que se cumprem sozinhas. Em outras palavras, esse medo faz com que a pessoa tome atitudes que acabam por gerar exatamente os resultados que temia.

Por exemplo, uma jovem que tem medo da rejeição pelo seu grupo social pode começar a fazer coisas que não gostaria de fazer, imaginando que assim vai ser aceita. Veste uma máscara, para esconder seu “eu” verdadeiro e se torna uma pessoa artificial. E as outras pessoas frequentemente acabam percebendo isso e não gostando do que veem e aí sim a rejeição se torna certa. Outro exemplo é o de um rapaz que vê à sua frente uma nova oportunidade na vida, mas acha que não é bom o suficiente para se apropriar dela, para torná-la realidade. E, por causa desse estado de espírito, acaba fracassando ao tentar explorar aquela chance.
Deus não rejeita você. Não importa quem você seja, seu aspecto físico e suas realizações. Ele lhe ama porque você é obra dele. Ele ama como o artista ama suas boas obras (Efésios 2:10):
Porque somos criação de Deus realizada em Cristo Jesus para fazermos boas obras, as quais Deus preparou de antemão para que nós as praticássemos.
Portanto, você pode até ser rejeitado pelo mundo, por não se adequar aos padrões da sociedade e/ou por seguir ideias que pareçam quadradas ou estranhas para muita gente. Mas isso não importa. E se sua firmeza de propósito gerar rejeição, você pode se consolar lembrando que Jesus foi rejeitado pelos judeus. Paulo também passou por inúmeras rejeições ao longo do seu ministério.
E eles sabiam que seria assim mesmo. Sabiam que essa seria a coisa a esperar da sociedade ao seu redor, pois as coisas do cristianismo parecem loucura para o mundo. E o mesmo pode acontecer com você. Mas, você nunca será rejeitado por quem de fato importa: pelo seu criador.
Portanto, confie em Deus e deixe esse medo para trás.

Com carinho