sábado, 17 de agosto de 2013

O RABINO E AS GRAVATAS

A edição do dia 08/08/2013 do jornal O Estado de São Paulo trouxe um entrevista muito importante com o Rabino Henry Sobel, que foi o Rabino Chefe da principal Sinagoga de São Paulo por muitos anos, até que se aposentou em 2007. Ele tem sido sempre uma figura muito respeitada pela opinião pública brasileira.

O Rabino Sobel foi uma importante figura na luta pela redemocratização do Brasil, na década de 80, tendo unido forças com outros religiosos importantes, como o Cardeal Arcebispo de São Paulo (D. Paulo Evaristo Arns) e o Pastor Benjamim Wright. 

Em particular, o Rabino Sobel foi fundamental no esclarecimento do caso da morte violenta do jornalista Vladimir Herzog na sede do DOI-CODI, em São Paulo. Houve a tentativa dos torturadores do jornalista de transformar o ocorrido  num suicídio. O Rabino não aceitou a versão oficial e permitiu que a vítima, que era de origem judaica, fosse enterrada em local normal do cemitério judaico - os judeus suicidas são enterrados em local à parte. Além disso compareceu a uma cerimônia ecumênica na Catedral da Sé em São Paulo, dirigida pelo Cardeal Arns, onde a memória do jornalista morto foi honrada e a atrocidade cometida exposta publicamente.

É preciso não esquecer que, naquela época, desafiar o regime militar colocava a vida das pessoas em perigo. E o Rabino Sobel aceitou correr esse risco para que a verdade viesse à tona e o assassinato de Herzog não ficasse impune. E sou um admirador dele por conta disso, assim como devem ser todos os democratas brasileiros.

Em 2007, porém, o Rabino foi preso nos Estados Unidos com algumas gravatas de grife roubadas de uma loja e esse episódio chocou toda a opinião pública brasileira. Na época, a explicação dada, confirmada depois no livro de memórias dele, foi que o Rabino cometeu esse ato sem precedentes sob o efeito de psicotrópicos que estava tomando à época. Essa explicação satisfez a opinião pública, mas o episódio levou o Rabino a se aposentar da direção da sua sinagoga.

Na entevista a que me referi, o Rabino confessou publicamente que de fato roubou as gravatas e que a versão dos remédios foi usada para proteger sua reputação. Confessou sua falha e pediu perdão, num ato de grande coragem e dignidade pessoal.
  Todos nós, ao longo das nossas vidas, cometemos atos dos quais não nos orgulhamos. E ficaríamos muito envergonhados de ver essas verdades tornadas públicas. E o Rabino teve a coragem, mesmo depois de ter conseguido construr uma mentira que o protegia, de falar a verdade e dar um exemplo admirável. E sua atitude so fez aumentar minha admiração por ele.

E essa notícia também traz outro ensinamento importante: Deus é capaz de transformar coisas ruins em boas - nesse caso o ponto de partida foi uma experiência ruim (o roubo e a mentira que se seguiu), que deu origem a um exemplo de vida admirável (a coragem para reconhecer publicamente o erro e o pedido de perdão).

Com carinho

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