quinta-feira, 12 de novembro de 2015

O SONHO DA MULHER DE PILATOS

De vez em quando, pessoas comuns, como você ou eu, são colocadas diante de situações que podem ter repercussões muito grandes. Por exemplo, os tripulantes do avião que transportou a bomba atômica lançada sobre a cidade de Hiroshima não tinham a menor ideia da dimensão do que estavam fazendo, tanto foi assim que o piloto apelidou o avião de "Enola Gay", nome da sua própria mãe, que acabou ficando tristemente famosa por causa disso.

Cláudia Prócula, esposa de Pôncio Pilatos, o Governador da Judeia que condenou Jesus à morte na cruz, passou por uma situação desse tipo. Cláudia vinha de família romana importante e foi o casamento com ela que abriu para Pilatos as portas para uma vida melhor. Ele subiu rapidamente no serviço público, culminando com a designação para governar a Judeia no tempo de Jesus.

Agora, para você entender o que aconteceu com ela é preciso falar um pouco sobre o contexto dos fatos que levaram à condenação de Jesus. Ele foi preso na madrugada de uma sexta feira por ordem dos líderes religiosos judeus. Esses homens tinham poder para prender e julgar qualquer judeu mas uma condenação à morte precisava, segundo as leis romanas, ser confirmada pelo Governador (João capítulo 18, versículos 28 a 31).

Os principais sacerdotes judeus estavam vivendo um dilema naquela oportunidade. Foram avisados por Judas Iscariotes (o discípulo que traiu Jesus) que haveria uma oportunidade para prendê-lo na noite de quinta para sexta feira. Segundo o relato bíblico, esse aviso chegou até os principais sacerdotes por volta de nove horas da noite de quinta. Eles levaram algum tempo para preparar tudo e conseguiram prender Jesus já na madrugada de sexta feira.

O dilema ao qual me referi consistia no prazo extremamente curto que eles tinham para julgar, condenar e executar Jesus - o prazo acabava às seis da tarde de sexta feira, pois aí começaria o sábado judaico e todo trabalho precisava ser interrompido. E havia um agravante: os judeus estavam comemorando na mesma data a Páscoa e, após o sábado, viriam mais 7 dias de feriado. Assim, se não conseguissem condenar e executar Jesus naquelas poucas horas, somente poderiam fazê-lo cerca de 8 dias depois.

Ora, durante a Páscoa, Jerusalém ficava lotada de peregrinos (a população era multiplicada por quase 10) e Jesus era uma figura muito popular por causa dos muitos milagres que tinha realizado. Quando a notícia da prisão d´Ele se espalhasse, havia grande risco de haver uma revolta popular, coisa que os principais sacerdotes judeus queriam evitar a qualquer custo. 

Portanto, antes de prender Jesus, os sacerdotes precisavam se assegurar que Pilatos iria confirmar a condenação à morte e que concordaria em fazer isso muito cedo, já na manhã de sexta feira. Assim, quando receberam o aviso de Judas Iscariotes, o sumo-sacerdote correu para o palácio do Governador, para conversar com Pilatos. 

A Bíblia não relata essa conversa, mas percebemos que ela ocorreu por várias razões. Primeiro, porque era a coisa lógica naquela situação. Depois, porque houve uma demora de mais de duas horas entre o aviso de Judas e a partida do grupo que foi prender Jesus, conforme fica claro na cronologia do relato bíblico - esse foi o tempo necessário para manter a conversa, tomar a decisão final e dar ordens à guarda do Tempo (que fez a prisão).

Como o sumo- sacerdote procurou o Governador já tarde da noite (as pessoas deitavam e acordavam cedo naquela época), o que era surpreendente, é natural que Pilatos tenha comentado o ocorrido com sua esposa, que também estava em Jerusalém ( a residência oficial do Governador da Judeia era na cidade de Cesareia Marítima).

Então, Cláudia foi dormir com a informação que Jesus seria condenado e executado na manhã seguinte, com a concordância de Pilatos. E aí ela teve um sonho para avisar Pilatos a não dar apoio ao que estava para acontecer. 

E estando ele [Pilatos] no tribunal, sua mulher mandou dizer-lhe: Não te envolvas com esse justo [Jesus], porque hoje em sonho muito sofri por seu respeito.                                                             Mateus capítulo 27, versículo 19
O sonho de Cláudia é mais uma prova de que ela sabia da conversa entre Pilatos e o sumo-sacerdote, ocorrida na noite de quinta feira, caso contrário o tal sonho não teria feito o menor sentido para ela.

Isso tudo deixa claro que, na manhã de sexta feira, ao acordar, Cláudia percebeu que Pilatos já saíra para tratar do caso de Jesus. Avisada em sonho, ela percebeu que estava diante de um momento que pode mudar toda a história de uma vida, conforme comentei no começo deste post.

Ela então decidiu mandar avisar o marido para não seguir em frente com o combinado pois isso traria maldição para sua vida. Pilatos recebeu a mensagem e realmente mudou de comportamento - o relato bíblico conta que ele tentou por várias vezes inocentar Jesus, chegando a oferecer trocá-lo por outro prisioneiro, Barrabás (Mateus capítulo 27, versículos 15 a 18).

Sua mudança inesperada de comportamento enfureceu os líderes judeus, que começaram a ameaçar Pilatos, dizendo que iriam denunciá-lo para o Imperador romano (João capítulo 19, versículo 12). E o Governador não teve personalidade suficiente e acabou cedendo à pressão. Num último gesto, tentou tirar a responsabilidade dos seus ombros, lavando de forma simbólica as suas mãos (Mateus capítulo 27, versículo 24).

Não adiantou: Pilatos passou para a história como o carrasco de Jesus e, a partir daquele acontecimento, sua carreira política foi por água abaixo - poucos anos depois ele acabou perdendo seu cargo e foi para o exílio, em desgraça perante o Imperador.

Uma pessoa comum - Cláudia - foi colocada numa situação desafiadora: sabia que seu marido ia cometer um ato muito grave e tentou evitar isso. Mas não teve sucesso.

É provável que Cláudia pudesse ter feito mais - talvez se tivesse ido pessoalmente falar com Pilatos, o resultado teria sido outro -, mas não podemos saber com certeza. O fato é que ela não conseguiu evitar a má ação do marido e acabou pagando um alto preço, pois as consequências ruins que vieram sobre Pilatos certamente também afetaram sua vida.

Fica aí um importante ensinamento: há momentos na vida onde não a pessoa não pode deixar de fazer a coisa certa, pois as consequências de um erro naquela situação podem ser desastrosas.

Com carinho

Um comentário:

  1. Muito bom!! Muito bom mesmo este estudo, eu não havia ouvido falar em Claudia até então....Tenha um bom dia na Paz do ''SENHOR''
    Camila Leite

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