domingo, 16 de janeiro de 2011

UMA BOA AÇÃO QUE SE FRUSTROU. E AGORA?

Zeca (vou chamá-lo assim para proteger a identidade real) é morador de rua e vive perto do meu apartamento. Ganha a vida catando papel, latas e outras coisas. Ele tem família – filha, irmãs e irmãos – e já teve uma vida bem confortável, mas jogou tudo fora por causa do vício do álcool. A família tentou por inúmeras vezes recuperá-lo, mas sem sucesso.

Alicia, minha mulher, acabou desenvolvendo uma amizade com ele, nas várias vezes em que se aproximou dele para dar roupas, cobertor e outras coisas que ele necessitava. Um dia, a conversa avançou um pouco e ele disse para Alicia que contava com Deus para tirá-lo daquela vida. Movida pelas palavras dele, ela se mobilizou para ajudá-lo: conseguiu vaga numa entidade evangélica que trata dependentes de drogas – o Projeto Nova Vida –, arranjou apoio financeiro para fazer frente aos custos e avisou a família, que concordou com o internamento.

Tudo arranjado, conversamos, Alicia e eu, com Zeca e ele – sóbrio naquele momento – confirmou que estava disposto a mudar de vida. Sendo assim, Alicia, junto com nosso amigo Carlão, levou-o até Ribeirão Pires, onde fica o Pronovi, uns dias antes da passagem de ano. Chegando lá, ele foi  internado e Alicia voltou para casa feliz – afinal tinha sido feita a vontade de Deus.

Duas horas depois, veio a notícia que Zeca tinha fugido – sem dinheiro, sem documentos e sem qualquer bagagem. Todos ficaram angustiados por dois dias, até que ele reapareceu, de volta para o mesmo lugar, sempre perto de nossa casa.

Apesar do alívio por vê-lo bem, sobrou uma grande frustração para todos. Afinal, mais uma oportunidade foi perdida para tirá-lo daquela vida terrível. E a vontade de Deus parece ter sido frustrada.

Esse é daqueles momentos em que a perplexidade aparece e ficamos tentando fazer sentido das coisas. Por que não foi possível arrancar Zeca daquela vida? Se estava sendo feita a vontade de Deus, por que Ele não interveio?

Deus nos deu o livre arbítrio, o que permite ao ser humano fazer as escolhas que quiser, inclusive aquelas que contrariam a vontade de Deus – por que Deus nos dá essa liberdade de escolha, é uma questão que foge ao escopo deste post e será tratada futuramente.

Zeca tinha o direito de escolher e exerceu esse direito. É claro que a própria doença – o alcoolismo – teve um papel importante nessa decisão, não há como negar isto. Mas, segundo o depoimento da própria família, ele sempre tem desperdiçado as oportunidades que lhe foram dadas ao longo da vida. Deus poderia ter forçado Zeca a sair do seu caminho autodestrutivo, mas, não é assim que Deus faz as coisas, ou não nos teria concedido o livre arbítrio.  

O que nos cabe então fazer numa situação como essa? Em primeiro lugar, ter disponibilidade para ajudar de novo, quando a oportunidade se apresentar. Não importa que as tentativas anteriores tenham sido frustradas, sempre se deve continuar a tentar, pois  uma semente foi plantada e nunca se sabe quando e como ela dará frutos.

Em segundo lugar, continuar a interceder junto a Deus pela pessoa, para que ela tenha forças para deixar a prisão em que o Mal a colocou e a mantém. Sabemos que a oração sincera tem poder e esse poder pode até mover montanhas, como Jesus bem nos ensinou.

Não sei qual é futuro de Zeca – espero que seja ao lado de Jesus Cristo. Mas, nosso compromisso, da minha mulher e o meu, é continuar a interceder por ele e estar presente para ajudá-lo, se a oportunidade se apresentar de novo.

Vinicius

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