terça-feira, 13 de outubro de 2015

PERDÃO NÃO É RECONCILIAÇÃO

Perdão é um tema que sempre gera dúvidas e ansiedades. Por um lado, trata-se de ordenança - é coisa tão séria que o perdão de Deus vem na mesma medida em que a pessoa conseguir perdoar seu próximo, como está na oração do Pai Nosso: "...e perdoa-nos as nossas dívidas assim como temos perdoado aos nossos devedores..." (Mateus capítulo 6, versículo 12).

Mas não vou discutir aqui sobre a necessidade de  perdoar - já fiz isso em outro post que você pode consultar (aqui). A discussão hoje é sobre reconciliação, como consequência do perdão. 

E começo definindo reconciliação: é a recomposição do relacionamento, trazendo-o de volta às bases anteriores, isto é voltar ao que era antes apesar do acontecido.  Agora, será que também há mandamento para haver reconciliação com quem ofendeu e/ou fez mal, como o que existe mandando perdoar

Por exemplo, uma mulher que foi agredida pelo marido é obrigada a voltar a viver com ele como se nada tivesse acontecido? Ou ainda, um pai que foi roubado pelo filho dependente de drogas deve continuar a mantê-lo dentro da sua casa? Em outras palavras, o cristão(ã) é obrigado(a) a retomar o relacionamento nas mesmas bases anteriores, mesmo correndo o risco de passar pelos mesmos problemas? 

Perdão é diferente de reconciliação
Essa questão gera muita insegurança e pode ter certeza que a confusão entre perdão e reconciliação é uma das principais razões para a dificuldade das pessoas em perdoar. Muitas acham que, se perdoarem, serão também obrigadas a se reconciliar e não desejam isso de forma nenhuma.

Repito o que disse antes: perdão e reconciliação são coisas diferentes e o primeiro não implica obrigatoriamente no segundo. Deve haver perdão - há um mandamento para isso - mas a reconciliação não é uma obrigação. Simples assim. 

E a Bíblia está cheia de situações em que houve perdão mas não reconciliação. Por exemplo, quando estava morrendo, Jesus pediu a Deus que perdoasse seus algozes porque não sabiam o que faziam (Lucas capítulo 23, versículo 34). Ele perdoou mas não fez qualquer tentativa de se reconciliar com os soldados romanos que o martirizavam.

A grande diferença que existe entre perdão e reconciliação é que o primeiro deve ser unilateral. Isto é, a pessoa deve perdoar sem levar em conta o que pensa seu(ua) ofensor(a). Pode até ser que quem ofendeu não tenha se arrependido do que fez, mas ainda assim o perdão precisa acontecer. Até porque o perdão beneficia quem perdoa pois dos ombros dessa pessoa uma carga de rancor e amargura que pode acabar por corroê-la por dentro.

Mas a reconciliação depende em muito do que faz e pensa aquela pessoa que ofendeu ou causou mal. Trata-se de um processo bilateral

As condições para reconciliação
Para que haja reconciliação, é preciso que quem ofendeu se arrependa sinceramente, reconheça o mal que causou e peça perdão. Sem isso, não há qualquer chance de recuperar o estrago feito.

Mas mesmo isso não pode não ser suficiente. A viabilidade da reconciliação depende também da natureza do estrago gerado pois, em muitas casos, deixa de ser possível voltar à situação anterior. 

Imagine uma mulher que, num ataque de ciúmes, mata um filho do primeiro casamento do homem que ama. O pai enlutado pode até perdoar, mas não será possível recompor sua relação com a assassina. A reconciliação nesse caso é impossível.

Uma mulher que tenha sido agredida pelo marido a ponto de guardar marcas físicas e emocionais permanentes, não vai ter como se reconciliar com seu agressor. Simplesmente não conseguirá mais confiar nele e viver de forma despreocupada em sua companhia. Um homem que passou pela traição da mulher que ama talvez não consiga mais retomar seu casamento. E assim por diante.

Lembro que não há na Bíblia qualquer mandamento em relação à reconciliação e nem poderia haver, considerando que isso pode não ser viável, conforme os exemplos que acabei de dar demonstram. É claro que quando possível, é preciso tentar promover a reconciliação, pois preservar relacionamentos é importante. Mas há fatores que podem impedir que a reconciliação ocorra. 

Concluindo, não hesite em perdoar - trata-se de mandamento de Deus. E essa é uma atitude boa para sua saúde espiritual e emocional. Agora, não deixe de perdoar por receio de ter obrigação de se reconciliar - uma coisa não obriga a outra. Você não é obrigado a retomar um relacionamento de amor ou de amizade que seja falido, doente e prejudicial para sua vida. Deus não pede isso de você.

Com carinho

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