quarta-feira, 9 de setembro de 2015

QUAL O CONTEÚDO VERDADEIRO DO NOVO TESTAMENTO?

O “mercado” de livros sobre a Bíblia está cheio de relatos alegando que existem outros evangelhos, além dos quatro incluídos no Novo Testamento, e que se eles tivessem feito parte do Cânone, a história e a doutrina do cristianismo seriam totalmente diferentes. 

Por trás disso tudo, além de enormes interesses comerciais, pois livros que criticam o cristianismo vendem muitíssimo bem, existem também algumas questões que precisam ser consideradas com seriedade. 

Os críticos do cristianismo alegam que a relação de livros incluídos no Novo Testamento somente foi definida mais de dois séculos depois do ultimo livro (Apocalipse) ter sido escrito. E como o processo de escolha foi demorado, ele teria sofrido muitas influências (inclusive políticas, devidas ao Imperador romano Constantino) que distorceram o resultado final. 

Alegam esses(as) estudiosos(as) que por causa dessas influências indevidas, teriam sido deixados de fora do Novo Testamento textos muito importantes, como o Evangelho de Tiago ou o Evangelho de Judas. 

Mas será que isso aconteceu mesmo? E se não foi assim, quem fez a escolha sobre o que seria incluído?  

A autoridade apostólica   
A resposta cristã tradicional para essas perguntas é afirmar que o Espírito Santo guiou as pessoas que fizeram essa escolha, garantindo que a Bíblia tivesse exatamente o conteúdo determinado por Deus. 

Eu acredito nisso, mas essa não é uma boa resposta para aqueles(as) que não são cristãos(ãs). Afinal, há aí um raciocínio circular, uma falha de lógica: sabemos que a Bíblia foi inspirada pelo Espírito Santo porque isso está escrito nela. Em outras palavras, usamos o que está escrito na Bíblia para validá-la, o que é incoerente. É preciso encontrar uma resposta melhor, que não fuja à lógica e ela, felizmente, existe. 

No final do primeiro século da nossa era, quando o último livro do Novo Testamento foi escrito, as pessoas tinham acesso, nas suas igrejas locais, aos textos mais populares do Novo Testamento, como os quatro Evangelhos (Mateus, Marcos, Lucas e João) e algumas cartas de Paulo (como Romanos ou 1 Coríntios). 

Mas também estavam disponíveis para as pessoas outros textos, que hoje nem estão no Novo Testamento, como o “Pastor de Hermas”. Como ainda não havia uma relação canônica de livros integrantes do Novo Testamento, havia muito risco de serem ensinadas doutrinas conflitantes, como de fato aconteceu. 

Mas quem tirava a dúvida das pessoas quanto à doutrina certa? A resposta tem a ver com a chamada "autoridade apostólica". Os apóstolos tinham recebido seu ensinamento diretamente de Jesus e tinham autoridade espiritual inconteste no meio cristão por causa disso. 

A autoridade especial atribuída pelos(as) cristãos(ãs) aos apóstolos pode ser percebida no Atos dos Apóstolos (capítulo 1 versículos 21 a 26 e capítulo 15), em 1 Coríntios (capítulos 4 e 5) ou ainda em Gálatas (capítulo 1, versículos 1 a 12). Esse fato tem, portanto, farta atestação histórica.

Quando os apóstolos morreram, ficaram no seu lugar seus discípulos diretos, chamados de "Pais da Igreja". E a autoridade dessa segunda geração de líderes cristãos vinha dos seus mestres, os apóstolos. 

Coube aos Pais da Igreja, ensinar e guiar as pessoas na direção da doutrina certa e foram eles que lideraram o processo de escolha de quais livros seriam ou não incluídos no Novo Testamento.

O critério para inclusão
O critério usado pelos Pais da Igreja para incluir um texto no Novo Testamento foi sua relação direta com algum apóstolo. Quando era possível definir que o texto tinha sido escrito por algum deles ou por um de seus discípulos reconhecidos, ele tinha o "selo" de autoridade e era incluído. Caso contrário, não. 

E é importante lembrar que Paulo sempre foi incluído no restrito grupo de apóstolos, pois o entendimento geral era que ele tinha sido instruído diretamente por Jesus, através de visões, mesmo não tendo convivido diretamente com Ele.

Vários textos foram imediatamente aceitos por toda a comunidade cristã como canônicos. Esse é o caso dos quatro evangelhos canônicos, atribuídos a apóstolos (Mateus e João) ou a discípulos muito chegados a eles (João Marcos e Lucas). O próprio apóstolo Pedro, num dos seus textos, reconheceu que os escritos de Paulo, embora difíceis de entender, eram canônicos (2 Pedro capítulo 3, versículos 15 e 16). 

Isso significa que a controvérsia entre o que deveria ter sido ou não incluído no Novo Testamento não foi tão grande como os(as) críticos(as) do cristianismo querem fazer crer. A discussão ficou restrita a poucos livros, como p. ex. o Apocalipse e a carta de Judas (que entraram); o Pastor de Hermas e a Didaque (que não entraram).

E na discussão sobre se um texto era canônico ou não, o critério da origem apostólica sempre foi invocado. Veja o que um dos líderes da igreja, falou por volta do ano 150, sobre o "Pastor de Hermas": 
"[O autor] Hermas escreveu bem recentemente, na nossa época, na cidade de Roma... Logo, embora o texto deva ser lido, sem dúvida ele não deve ser lido publicamente para o povo da igreja pois não pode ser contado entre os profetas (seu número já está completo) nem entre os apóstolos (pois já passou o tempo deles)."
Outro líder da igreja, Serapião, disse por volta do ano 200: 
"Nós, irmãos e irmãs, recebemos Pedro e os demais apóstolos como teríamos recebido o próprio Cristo. Mas aqueles escritos que são falsamente atribuídos aos seus nomes, nós somos cuidadosos em rejeitar, sabendo que nenhum desses escritos deveria ter sido passados para nós."
A questão debatida não era se o conteúdo de determinado texto incomodava essa ou aquela pessoa. Se determinado texto tinha ou não apoio do Imperador. Nada disso. Os(as) críticos(as) estão errados. 

A preocupação sempre foi a mesma: saber se o texto em questão tinha sido escrito por quem tinha autoridade espiritual, evitando fraudes. Só isso.

E foi por essa causa que os evangelhos de Tiago e Judas ficaram de fora: eram fraudes pois foram escritos muito mais tarde, não podendo ser atribuídos aos próprios apóstolos ou aos seus discípulos diretos. E o mesmo aconteceu com o Pastor de Hermas, a Didaque e alguns outros textos.

Eu não tenho espaço aqui para discutir a história de cada livro incluído no Novo Testamento - explicar quem escreveu, quando e dar as razões pelas quais foi aceito no Cânone. Mas há excelentes textos didáticos que fazem exatamente isso - se você estiver interessado(a), me escreva que eu terei prazer em passar as referências.

O que importa aqui é que você saiba haver razões de sobra para que cada um dos livros tenha sido incluído no Novo Testamento, mesmo aqueles que foram alvo de alguma controvérsia, como o Apocalipse.

É claro que acreditamos que todo esse processo foi inspirado e dirigido pelo Espírito Santo - isso nos traz ainda maior certeza quanto à correção do que aconteceu. Mas não é preciso acreditar nisso para defender o Novo Testamento, conforme expliquei acima.

Portanto, pode confiar na sua Bíblia: ela é a verdadeira Palavra de Deus. E você tem em mãos o texto que precisava ter, nem mais e nem menos.

Com carinho

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