quarta-feira, 15 de junho de 2016

A BÍBLIA É MACHISTA?


Uma das críticas frequentes à Bíblia é ser um texto machista, o que obrigatoriamente tornaria o cristianismo uma religião também machista - já ouvi isso de muita gente respeitada. Na verdade, essas críticas não são justas. Muito ao contrário. E é relativamente simples demonstrar isso.

É certo que a Bíblia, além de ser a Palavra inspirada por Deus - uma das crenças básicas da fé cristã - também é um texto com raízes históricas. Por causa disso o texto bíblico reflete o contexto social e cultural da época em que foi escrito - entre 2.000 e 3.500 anos atrás. E é fácil perceber isso através das inúmeras referencias feitas no texto bíblico a tipos de roupas e alimentos, formas de governo e organização social e outros aspectos típicos daquela época.

O contexto em que as pessoas viviam então passou para o texto bíblico porque o processo de inspiração divina respeitou as individualidades dos autores dos vários livros da Bíblia. Em outras palavras, a inspiração divina permitiu que cada autor permanecesse no controle de suas faculdades mentais, dando-lhe condições de escrever a partir da sua própria matriz cultural. Cada autor escreveu na língua na qual se sentia confortável, com as palavras que conhecia e usou sua experiência de vida para compor o texto sendo escrito.

Assim, não é de estranhar que a sociedade descrita na Bíblia seja muito diferente da nossa. A sociedade bíblica era patriarcal e machista e nela as mulheres tinham posição social tão inferior que nem eram contadas nos recenseamentos (Números capítulo 1). Na prática, as mulheres dependiam dos homens para tudo.

Essa era a realidade está refletida com precisão no texto bíblico. Apenas isso. Portanto, essa descrição precisa de uma realidade não significa que Deus aprovava tal estado de coisas. Muito pelo contrário.

E tanto isso é verdade que poderemos perceber, se lermos a Bíblia com cuidado, que Deus agiu para mudar a injustiça da discriminação contra as mulheres. Apenas fez isso de forma gradual porque hábitos profundamente entranhados na sociedade somente podem ser mudados aos poucos. Costuma ser necessária a passagem de gerações para mudar de fato as coisas e essa é uma verdade demonstrada inúmeras vezes ao longo da história.

É fácil encontrar na Bíblia outros exemplos dessa abordagem gradualista de Deus no combate a práticas que Ele abomina, além da questão da discriminação contra as mulheres. Posso citar de imediato também as questões da violência contra os inimigos e da escravidão. Vejamos como isso se deu.

Começo por lembrar que há cerca de dois mil anos separando os Patriarcas de Israel - Abraão, Isaque e Jacó -, cujas vidas estão relatadas no início do Velho Testamento, de Jesus e seus seguidores, cujos feitos constam do Novo Testamento.

No início do Velho Testamento, a sociedade era nômade e rural e se organizava em tribos. Já no tempo de Jesus, o gigantesco e poderoso Império Romano dominava o mundo e grandes cidades, como Roma ou Jerusalém, já eram comuns. 

No tempo de Abraão, Isaque e Jacó prevalecia a ideia de retribuir sempre o mal recebido e causar o máximo possível de danos ao inimigo - por exemplo, se o inimigo matasse uma pessoa de determinada tribo, a resposta adequada seria massacrar toda uma aldeia da tribo inimiga. Isso era feito para gerar respeito e medo nos adversários, dando maior segurança à tribo capaz de fazer isso. 

Ora, num ambiente desses, uma lei mandando retribuir com proporcionalidade o mal recebido - "olho por olho e dente por dente" -, como Deus fez no início do Velho Testamento, já foi um grande avanço em relação às práticas da época. Já demonstrou mais justiça e consideração com o próximo.

Milhares de anos depois, Jesus fez a apologia do perdão e do amor mesmo ao inimigo. Um grande passo adiante e isso foi possível porque Jesus viveu num outro tipo de sociedade. O fato é que as pessoas que viveram na época dos Patriarcas de Israel nunca teriam entendido o que Jesus propôs. E mesmo no tempo d´Ele, poucos dentre os seus discípulos seguiram de fato o mandamento do amor. 

Quando não percebem esse gradualismo existente na Bíblia, as pessoas chegam a conclusões erradas. Quando se olha para o significado da lei dada na época patriarcal, parece, com base nos padrões atuais, que Deus era vingativo e cruel. Mas quando se olha para os ensinamentos Jesus, o quadro muda: Deus parece ser completamente diferente, amoroso, capaz de perdoar, etc. Há até quem pense que são retratados na Bíblia dois seres diferentes. 

Outro bom exemplo de abordagem gradual é a questão do combate à escravidão - essa prática estava arraigada na sociedade há milhares de anos e também não poderia ser erradicada de uma hora para outra. Deus primeiro estabeleceu, ainda no tempo de Moisés, que os escravos precisavam ser tratados com humanidade (Êxodo capítulo 21, versículos 1 a 16). Já era um avanço sobre as práticas normais daquela época e basta comparar essa lei com o tratamento dado pelos egípcios aos seus escravos judeus para comprovar o que acabei de falar. Mais tarde, depois de Jesus, Paulo chegou a dizer que os escravos deviam ser tratados como amigos (Filemon capítulo 1, versículos 1 a 17), o que significava uma abolição da prática.

É interessante perceber que os defensores da abolição da escravidão no Brasil procederam da mesma forma: patrocinaram a aprovação de várias leis, sucessivamente restringindo cada vez mais o alcance da escravidão: a primeira lei estabeleceu que quem fosse filho de escravos estaria livre (Lei do Ventre Livre), a segunda lei garantiu a libertação de cada escravo que chegasse à velhice (Lei dos Sexagenários) e assim por diante. 

Olhar para a Bíblia e dizer que Deus convivia bem com a escravidão é um absurdo total. Seria o mesmo que dizer que José do Patrocínio, o maior dos abolicionistas no Brasil, apoiava essa prática horrível. A abordagem gradualista foi uma necessidade frente à dificuldade em mudar uma prática social muito arraigada. 

E foi exatamente assim que aconteceu com a luta contra a discriminação das mulheres. O combate a ela foi gradual, através de leis dadas aos poucos, até que Paulo, no passo final, deixou claro que todos - homens e mulheres - são iguais perante Deus, já no final do Novo Testamento (Gálatas capítulo 3, versículo 28).

Não é por acaso que a Bíblia relata Deus prestigiando as mulheres de forma nunca vista antes. Por exemplo, Ele sancionou que mulheres, como Débora, liderassem o povo de Israel e transmitissem sua vontade (profecias). Estabeleceu leis defendendo o direito das mulheres mais vulneráveis, como as viúvas. E assim por diante.

Jesus levou essa ideias ainda mais além e isso ficou claro em situações como a da mulher adúltera que ia ser apedrejada e foi salva por ele (João capítulo 8, versículos de 1 a 11) - é importante perceber nesse evento que nenhum homem tinha sido acusado junto com aquela mulher, embora ninguém possa adulterar sozinho...

E tanto Jesus inovou nesse campo, demonstrando consideração incomum pelas mulheres, que elas foram suas mais fieis seguidoras. 

Concluindo, a Bíblia não é machista, assim como não apoia a escravidão ou defende a violência contra os inimigos. Seu texto apenas registra a realidade de uma sociedade com características machistas, escravocratas e violentas.

Deus tratou de mudar esse estado de coisas e fez isso de forma gradual, pois mudanças de hábitos sociais arraigados somente podem acontecer aos poucos, pelas próprias características dos seres humanos.

Portanto, quem afirma que a Bíblia é machista não estudou suficientemente seu texto. Ou, se o fez, busca encontrar um pretexto para criticar o cristianismo. Simples assim. 

Com carinho

19 comentários:

  1. Se era um livro para os homens da época, que fique lá no passado.

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  2. O seu comentário é interessante, mas acho que indica falta de percepção do que eu disse.

    Nossa sociedade é cheia de textos do passado que são usados para formar a cultura em que vivemos. Por exemplo, os textos de filosofia começaraam a ser escritos cerca de 500 anos antes de Cristo. Se levarmos sua ideia ao limite, não teríamos a chamada "cultura ocidental".

    Sempre vamos ter que nos apoiar em textos do passado. Agora ao estudá-los, é preciso entender em que época e condições eles foram escritos. O mesmo vale para a Bíblia. Este é o espírito do texto que escrevi.

    Vinicius

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  3. Aí está algo que me intriga no cristianismo; a questão da interpretação. Aliás, das DIVERSAS interpretações feitas ao longo do tempo e pelas mais diversas denominações *cristãs existentes ainda, ou que já existiram.
    Cresci frequentando uma igreja evangélica, que ao meu ver era muito acurada quanto ao que pregava (eu mesma tinha por hobbie estudar a Bíblia, suas profecias, o contexto histórico e social e também as mais diversas seitas e igrejas cristãs, enfim, o cristianismo como um todo), e tentei de todo coração tomar cada preceito aprendido e botar em prática...Porém, uma dúvida sempre me veio a mente:
    Como um Deus amoroso permite o Inferno?
    E se permite (e existem tais *Leis Espirituais que determinam o destino de cada alma) , por que não fez sua palavra ser mais, assim, digamos, *UNIVERSAL?
    Isso é, por que não deixou como *manual da conduta e da salvação eterna da humanidade algo que fosse mais claro e mais abrangente? Por que tanta confusão, tantas interpretações?
    Entende o que quero dizer?
    Por que tanto *Ah, não irmão isso é legalismo, veja bem, tal questão era cultural!
    E
    *Não irmão, daí já é liberal demais!
    ?
    Acredito que essa é minha principal questão com esse Deus cristão (que eu tentei seguir por tanto tempo, e , sinceramente, não sei se ainda tenho ânimo para seguir, tanto ele quanto qualquer divindade..Posso dizer que me encontro a beira do ateísmo).
    Não sei se esse comentário será lido um dia, muito menos respondido, mas enfim... Paz para o autor do texto.

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    1. Costumo responder todos os comentários, pois considero todas as dúvidas relevantes. A resposta à sua pergunta parte do conceito do livre arbítrio.

      Deus nos deu o direito de fazer nossas escolhas, pois quer de nós um amor sincero, dado a Ele de forma livre. Assim, podemos decidir o que fazer em cada caso. Inclusive não fazer aquilo que Ele nos pede, escolhendo caminhos diferentes. E aí nasceu o pecado.

      O Inferno é a separação de Deus. Como fomos feitos para estar com Ele, essa separação causa sofrimento ao ser humano. E Deus se separa daqueles que escolheram livremente ficar longe d´Ele. Essa vontade é respeitada e Deus se afasta. É por isso que alguns teólogos dizem que as portas do Inferno estão "trancadas" por dentro, pois foram as próprias pessoas que se colocaram lá.

      Deus não poderia nos revelar tudo que se refere a Ele porque nem conseguiríamos entender. Como a realidade completa de um Deus infinito pode caber na mente de um ser humano finito? Impossível. Portanto, sempre existirão mistérios. Isso é inevitável.

      Mas, mesmo quando Deus se manifestou com toda a clareza - como nos milagres que levaram o povo de Israel a sair do Egito - ainda assim o povo duvidou e quis voltar para trás. Isso é dá natureza humana.

      Mais revelação por parte de Deus não resolveria o problema, pois a cada pergunta respondida as pessoas apareceriam com dezenas de outras e isso nunca ia acabar. Assim, Deus optou por dar uma revelçaõ limitada e pediu que tivéssemos FÉ. Essa é a chave para poder lidar com as coisas de Deus.

      Finalmente, as interpretações divergem tanto porque os seres humanos são diferentes entre si, têm diferentes culturas, vivem em épocas históricas distintas e têm interesses diversos. Há divergências que são fruto de discussões teológicas honestas. Mas em muitos outros casos, o problema com as interpretações é que alguns líderes religiosos querem torcer o texto bíblico para que ele se adapte às suas necessidades.

      Agora, mesmo com essas dificuldades, aquilo que importa de fato - como podemos alcançar nossa salvação - é bem claro. Ter fé em Jesus Cristo e professar isso abertamente.

      Abraço
      Vinicius

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    2. Oi Sr . Vinicius , meu nome é Beatriz Menezes, eu achei seu blog em buscas de respostas em relação ao machismo na bíblia , e encontrei respostas para muitas outras coisas que fortaleceram minha fé, não sei se ainda escreve ou ao menos da uma olhadinha no seu blog, mas se um dia ver meu comentário peço que não pare pois vc foi uma bênção pra mim, me pôs de pé, obrigada.

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    3. Cara Beatriz

      Eu sempre respondo os comentários das pessoas. Fico feliz de poder interagir com elas.

      Agradeço suas palavras de apoio. E se tiver qualquer dúvida, pode mandar uma mensagem que ficarei feliz em responder.

      Abs
      Vinicius

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  4. Abandonei o cristianismo justamente por acreditar que a bíblia seja um livro machista. Entendo que isto nada mais é do que reflexos culturais descritos nela, porém, muitos homens, se apoiam neles para legitimar sua superioridade, assim como os homens da época usavam o nome de Deus para se colocar em uma posição superior em relação ás mulheres, como consequência, somos inferiorizadas nas diversas religiões cujos seguimentos têm origens no cristianismo. Frequentei diversas denominações, e percebi, que em todas elas, as mulheres ocupavam papéis secundários e estes sempre são definidos por homens, a liderança em certos departamentos eram negada pelo simples fato de ser uma mulher(mesmo a bíblia citando mulheres que lideravam). *Marisa

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    1. Além disso, vemos diversos trechos na bíblia que são discriminatórios, e o pior da questão, ordenados por deus. Veja:Falou mais o Senhor a Moisés, dizendo:
      Fala a Arão, dizendo: Ninguém da tua descendência, nas suas gerações, em que houver algum defeito, se chegará a oferecer o pão do seu Deus.
      Pois nenhum homem em quem houver alguma deformidade se chegará; como homem cego, ou coxo, ou de nariz chato, ou de membros demasiadamente compridos,
      Ou homem que tiver quebrado o pé, ou a mão quebrada,
      Ou corcunda, ou anão, ou que tiver defeito no olho, ou sarna, ou impigem, ou que tiver testículo mutilado.
      Nenhum homem da descendência de Arão, o sacerdote, em quem houver alguma deformidade, se chegará para oferecer as ofertas queimadas do Senhor; defeito nele há; não se chegará para oferecer o pão do seu Deus.
      Ele comerá do pão do seu Deus, tanto do santíssimo como do santo.
      Porém até ao véu não entrará, nem se chegará ao altar, porquanto defeito há nele, para que não profane os meus santuários; porque eu sou o Senhor que os santifico.
      Levítico 21:16-23( Discriminação aos deficientes)

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    2. 3 Mas quero que saibais que Cristo é a cabeça de todo o homem, e o homem a cabeça da mulher; e Deus a cabeça de Cristo.( Como assim ? Não tenho liberdade ? Tenho que ser guiada pela cabeça de um homem, nada machista, né...)
      Porque também o homem não foi criado por causa da mulher, mas a mulher por causa do homem.
      1 Coríntios 11:9( Quer dizer que fui criada para satisfazer a vontade do homem? Não posso ter vontade própria?)
      As vossas mulheres estejam caladas nas igrejas; porque não lhes é permitido falar; mas estejam sujeitas, como também ordena a lei.
      E, se querem aprender alguma coisa, interroguem em casa a seus próprios maridos; porque é vergonhoso que as mulheres falem na igreja.
      Porventura saiu dentre vós a palavra de Deus? Ou veio ela somente para vós?
      1 Coríntios 14:34-36( Quer dizer que eu não posso ensinar por ser mulher ? Quer dizer que pelo fato de ter uma vagina, Deus não poderá enviar sua palavra a mim ? E por ser mulher, não posso falar,pois isso é vergonhoso? Isso não é silenciamento? Não é machismo? E o pior, de acordo com Paulo, isso está na lei, mas a lei não foi dada por Deus? Que Deus machista, concluo. E incoerente, pois isso está no NVT...)

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    3. Vós, mulheres, sujeitai-vos a vossos maridos, como ao Senhor;
      Porque o marido é a cabeça da mulher, como também Cristo é a cabeça da igreja, sendo ele próprio o salvador do corpo.
      De sorte que, assim como a igreja está sujeita a Cristo, assim também as mulheres sejam em tudo sujeitas a seus maridos.
      Vós, maridos, amai vossas mulheres, como também Cristo amou a igreja, e a si mesmo se entregou por ela,
      Efésios 5:22-25( autonomia, liberdade e escolha, nada... Tenho que viver de acordo com o pensamento do marido.. Machista nem um pouco, né ?)
      1Timóteo2:14 - E Adão não foi enganado, mas sim a mulher, que, tendo sido enganada, tornou-se transgressora.( Como assim não foi enganado? Ué? Deus disse para AMBOS que não deveria ingerir tal fruto,quer dizer que Adão não sabia ? Foi um pobre coitado ?)
      1Timóteo2:15 - Entretanto, a mulher será salva dando à luz filhos — se elas permanecerem na fé, no amor e na santidade, com bom senso.( Esse verso reforça a ideia machista que a mulher está no mundo apenas para engravidar, além, é claro, de condicionar sua vida para servir o homem, ser escrava da vontade masculina)
      1Pedro3:7 - Do mesmo modo vocês, maridos, sejam sábios no convívio com suas mulheres e tratem-nas com honra, como parte mais frágil e co-herdeiras do dom da graça da vida, de forma que não sejam interrompidas as suas orações.(Esse é o pior. Tenta usar de eufemismo para colocar a mulher como um sujeito fraca. Bem, eu e muitas outras mulheres não são frágeis). Eu até entendo que certas questões são aspectos culturais, mas alguns versos, são machistas e escritas, de acordo com os "homens de deus" sob orientação do espirito santo, é o famoso: "deus disse". Posso estar tendo uma ideia equivocada, mas até que ninguém me justifique isso, ainda considerai a bíblia machista. Jesus foi um bom filosofo, mas seus seguidores em geral, são machistas, preconceituosos e homofóbicos... Enfim, continuo ateia. *Marisa

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    4. Acho que você faz uma confusão entre Jesus e seus seguidores. Ele não é responsável pelas besteiras que os seus seguidores fazem mesmo quando agem em seu nome. Não seria justo culpá-lo por isso.

      Boa parte da leitura machistas que esses seguidores fazem é da responsabilidade única deles. O machismo sempre está na interpretação, nunca no texto em si.

      Você cita inúmeros exemplos e tenho resposta para cada um deles, mas ficaria muito longo falar sobre tudo isso aqui. Vou responder, a titulo de exemplo, dois casos apenas.

      O caso mais conhecido é aquele que fala que Cristo é o cabeça da igreja e o homem o cabeça do casal. E esse caso é muito simples de responder. Há duas interpretações possíveis para esse texto. Uma delas é a machista, que faz de Cristo o líder da igreja e do homem o líder do casal. Para essas pessoas, cabeça = líder.

      Mas há outra interpretação, melhor do que essa. É aquela que fala que Cristo é o cabeça da igreja no sentido que Ele é sua origem. É o mesmo sentido em que usamos "nascente" como cabeça (cabeceira) do rio. E isso faz sentido porque a igreja começou com Jesus, mas seu líder hoje em dia não é Ele e sim o Espírito Santo.

      Da mesma forma, o marido é considerado como a origem do casal e isso nada tem a ver com machismo. Trata-se apenas de um costume, pois naquela época era o homem que recebia a mulher em casamento. Isso nada tem a ver com liderança. Simples assim.

      O texto de Coríntios que você citou se refere a uma situação momentânea e de ordem cultural. Não é um mandamento para a igreja. Tanto é assim que muitas igrejas ordenam mulheres e as admitem em todos os cargos de liderança - a igreja onde congrego, a metodista, tem até uma bispa.

      É claro que mesmo nessas igrejas as mulheres ainda não têm a presença que deveriam ter. Mas isso nada tem a ver com o machismo na doutrina e sim nos costumes arraigados na sociedade. Por isso as mulheres também são minoria no Congresso, nas direções das empresa, etc, embora não lhes seja vedado ocupar esses cargos.

      O problema a que Paulo se referiu era a falta de traquejo social das mulheres que, naquela época, não estavam habituadas a participar de cerimônias solenes. Por causa disso, quando frequentavam os cultos ficavam falando entre si, tumultuando os trabalhos. Aí Paulo, para colocar ordem na casa, proibiu que elas falassem. Pode ter sido ou não a melhor medida - afinal, Paulo era humano - mas não se tratou de mandamento.

      Faça também uma pequena reflexão histórica. Tanto o cristianismo não é machista como você percebe - esse é um fenômeno que tem muito a ver com a sociedade brasileira - que os países de matriz cristã (p. ex. Europa Ocidental e Estados Unidos) são exatamente aqueles onde os direitos das mulheres são mais respeitados. Basta comparar com o que acontece nos países islâmicos para perceber a diferença.

      Concluindo, não confunda Cristo, que é muito mais do que um bom filósofo, com as obras daquelas que os seguem. Os erros dos cristãos não apagam a qualidade e inspiração dos ensinamentos de Jesus. Os homens que agem assim não são bons cristãos. Só isso.

      Não se afaste do cristianismo por causa disso. Procure uma igreja onde as mulheres sejam respeitadas e desenvolva ali sua fé e seus dons espirituais.

      Abs
      Vinicius

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  5. Os países mais igualitários são menos religiosos. As desigualdades de gênero são claramente evidenciadas nos países religiosos( como o Brasil e o EUA). Basta dar uma olhadinhas nas pesquise recentes em relação ao tema. O homem ser o cabeça e a mulher ser submissa e ensinada por ele são aspectos da filosofia Aristotélica e Platônica. Você sugerir que o termo "cabeça" está relacionado a origem, é apenas mais uma confirmação do machismo empregado: A mulher tem origem, simbolicamente, no homem... Quando na realidade, são vocês que saíram do nossos úteros. Enfim, a misoginia dos homens da bíblia não foi justificada e nunca será. Exploraram o nome de deus para se colocarem em posição de semi deuses em relação ás mulheres. Mulheres que tem um mínimo de dignidade, deveriam se tornar ateias. Não sei qual o problema racional que elas enfrentam para permanecer numa religião misógina como a cristã...

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    1. Você está discutindo uma coisa diferente daquela que eu afirmei. Eu disse que a matriz do pensamento de todos os países onde as mulheres são mais respeitadas é cristã. Por exemplo, toda a formação filosófica da Europa Ocidental é cristã. Essa é uma realidade histórica que não há como negar.

      O fato desses países serem pouco religiosos hoje - e isso é uma verdade - não elimina a influência da religião cristã na sua história.

      Agora, discutir porque a religião está decadente nesses países é um tema muito interessante. Mas essa é outra questão, inteiramente diferente.

      Vinicius

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    2. http://mundoestranho.abril.com.br/materia/qual-e-o-pais-com-mais-ateus-no-mundo?utm_source=redesabril_jovem&utm_medium=facebook&utm_campaign=redesabril_mundoestranho

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  6. Os países cujas mulheres são respeitadas e tem igualdade foram marcadas por lutas femininas que contrariaram o pensamento cristão. Não foi os ensinos cristãos que trouxeram igualdade as mulheres, mas foram as lutas das mulheres e alguns homens que trouxeram direitos. O cristianismo, na verdade, foi( e ainda é) um grande responsável pela a desigualdade de gênero. Muitas empresas negam trabalho as mulheres por acreditar que o lugar delas e no fogão de casa, conforme Paulo descreveu. Liderar ? Também não, isso é coisa para o cabeça. O homem ter uma licença a paternidade semelhante a maternidade ? Não. Cuidar dos filhos é coisa de mulher. Não adianta querer camuflar. O cristianismo coloca a mulher em posição inferior. Apenas pessoas que não amam a lógica aceitam.

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  7. Os países cujas mulheres são respeitadas e tem igualdade foram marcadas por lutas femininas que contrariaram o pensamento cristão. Não foi os ensinos cristãos que trouxeram igualdade as mulheres, mas foram as lutas das mulheres e alguns homens que trouxeram direitos. O cristianismo, na verdade, foi( e ainda é) um grande responsável pela a desigualdade de gênero. Muitas empresas negam trabalho as mulheres por acreditar que o lugar delas e no fogão de casa, conforme Paulo descreveu. Liderar ? Também não, isso é coisa para o cabeça. O homem ter uma licença a paternidade semelhante a maternidade ? Não. Cuidar dos filhos é coisa de mulher. Não adianta querer camuflar. O cristianismo coloca a mulher em posição inferior. Apenas pessoas que não amam a lógica aceitam.

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