quinta-feira, 26 de outubro de 2017

CONHECEMOS O VERDADEIRO TEXTO DA BÍBLIA?


Será que conhecemos o verdadeiro texto da Bíblia. Aquele que foi escrito milhares de anos atrás e tem autoridade por ter sido inspirado por Deus? Pretendo esclarecer essas dúvidas no texto abaixo.

A Bíblia é composta de duas partes. O Velho Testamento foi escrito mais ou menos entre 1.450 AC (Antes de Cristo) e 400 AC, ou seja ao longo de quase mil anos. Já o Novo Testamento foi todo escrito na segunda metade do século I DC (Depois de Cristo), ou seja cerca de 50 anos. 

Evidentemente não dispomos dos originais desses textos pelo grande tempo que decorreu desde que foram escritos. O que temos são cópias, de cópias, de cópias. Para o Velho Testamento, as cópias mais antigas que temos datam do sec I AC (os manuscritos de Quram) e, para o Novo Testamento, do sec II DC (apenas fragmentos) e IV DC (texto completo).

Por causa da longa história do texto bíblico, muita gente tem dúvida quanto à autenticidade do texto bíblico hoje disponível. Seria ele fiel ao que foi escrito milhares de anos atrás pelos autores da Bíblia? 

A resposta para essa questão é fundamental pois o cristianismo defende que a Bíblia é a Palavra de Deus e, como tal, ela tem autoridade única, pois é a nossa regra de fé. Simples assim.

Agora, se o texto hoje disponível for diferente do original, essa autoridade ficou perdida. Aí a Bíblia não seria diferente de qualquer outro livro. Portanto, é fundamental termos certeza que o texto hoje disponível é fiel ao original.

Argumentos a favor da fidelidade do texto existente
Felizmente, há muitos argumentos fortes para nos dar tranquilidade quanto a essa questão: Você pode ter certeza que a Bíblia que tem nas suas mãos é fiel ao texto original e, portanto, sua Bíblia tem autoridade sim. 

O primeiro argumento forte a favor da fidelidade do texto bíblico é que todo cuidado foi tomado pelos copistas no processo de fazer cópias dos vários livros da Bíblia. Afinal, esses textos eram considerados sagrados.

Cópias de livros da Bíblia feitas em épocas diferentes, ao serem comparadas entre si, permitem aos/às estudiosos/as verificarem o grau de “contaminação” que o processo de cópia gerou ao longo dos séculos. 

Por exemplo, quando os Manuscritos do Mar Morto foram encontrados, estavam incluídos nesse achado cópias de quase todos os livros do Velho Testamento. E o mais importante é que essas cópias dos textos bíblicos eram vários séculos mais velhas do que aquelas disponíveis até então. 

Ora, quando os/as estudiosos/as compararam as cópias encontradas no Mar Morto com aquelas até então disponíveis, deram-se conta que as diferenças eram mínimas - uma letra aqui, uma palavra ali, mas nada de importante -, comprovando que a fidelidade dos textos originais foi preservada.

O segundo argumento a favor da fidelidade do texto bíblico atual leva em conta que, por serem muito populares, há mais cópias dos diferentes livros da Bíblia do que de qualquer outro texto antigo. Por exemplo, temos cerca de 24.000 manuscritos antigos, com o texto total ou parcial do Novo Testamento. Em comparação, existem apenas sete manuscritos antigos dos escritos do grande filósofo grego Aristóteles. 

Se os/as estudiosos/as consideram fiéis os escritos de Aristóteles e de outros escritores da antiguidade, com base em poucos manuscritos, com muito mais razão podem assumir a fidelidade dos textos bíblicos.

Por que o número de cópias antigas é importante para garantir a fidelidade de um texto? Simples, se alguém quisesse distorcer propositadamente determinada parte do texto da Bíblia, conseguiria ter influência apenas sobre uma “família” de cópias, aquelas feitas a partir da adulteração do texto original. Mas, esses corruptores do texto não teriam como influenciar outras “famílias” de cópias, não corrompidas.

Assim, por simples comparação entre os textos de “famílias” diferentes de cópias é possível identificar e avaliar distorções nos textos. 

A história que os 24.000 manuscritos existentes do Novo Testamento conta é que muito grande as divergências entre diferentes famílias é pequena. E elas não tratam de aspectos essenciais da fé. Mesmo assim as traduções da Bíblia de boa qualidade hoje publicadas tomam o cuidado de indicar os pontos de divergência entre as várias famílias de manuscritos colocando o texto em dúvida entre colchetes ou fazendo referência a notas de rodapé.

Posso garantir para você que nenhum texto antigo foi tão verificado como a Bíblia, inclusive por estudiosos/as não cristãos/ãs, cuja maior satisfação teria sido justamente abalar as estruturas do cristianismo. E os textos bíblicos passaram com louvor por todos os testes. 

Resolvida a dúvida quanto à fidelidade das cópias, ainda resta outra questão: Será que a Bíblia contem todos os textos que deveria ter? Afinal, sabemos que há textos que ficaram de fora tanto do Velho como do Novo Testamento.

Como o Velho Testamento chegou até nós
O Velho Testamento foi escrito ao longo de cerca de mil anos. A maioria dos livros (como o Pentateuco, ou seja, os cinco primeiros livros atribuídos a Moisés) já era considerada canônica (parte da Bíblia) no tempo de Jesus. E esses textos foram referenciados em pregações e discussões teológicas tanto por Jesus como pelos seus principais seguidores. 

Poucos livros, como Cantares de Salomão, ainda não tinham sido amplamente aceitos como canônicos na época de Jesus. E eles foram objeto das discussões por um grupo de rabinos, por volta do ano 70 DC, ou seja, cerca de 40 anos depois da morte de Jesus.

Jerusalém e seu templo tinham sido destruídos pelos Romanos, evento que abalou as fundações da religião judaica. Por causa disso, um punhado de rabinos escondeu-se na pequena cidade de Jamnia onde fundaram uma academia para dar continuidade aos ensinamentos do judaísmo, em risco por causa da destruição do Templo de Jerusalém, o centro da fé judaica até então. 

E, dentre as tarefas desse grupo de rabino, estava definir, de uma vez por todas, se certos livros deveriam ser considerados canônicos. O processo foi concluído cerca de 20 anos depois, quando livros como Cantares foram confirmados e outros, como 1 e 2 Macabeus, Eclesiástico (Ben Sira), Tobias, Baruc/2 Esdras e Judite, deixados de fora.

Aqui vale uma alerta: Quando conto isso não estou querendo dizer que seres humanos tomaram esse tipo de decisão por conta própria. Como a Bíblia é um texto inspirado por Deus, entendemos também que as pessoas que participaram desse processo - no caso do Velho Testamento, os rabinos da academia em Jamnia - foram inspirados pelo Espírito Santo a tomarem a decisão certa. E o mesmo aconteceu com o Novo Testamento. 

O conjunto de textos produto dessas discussões é aquele usado até hoje pelos judeus e foi o mesmo que Martinho Lutero, no início do séc XVI, usou como referencia para traduzir o Velho Testamento para o alemão. 

Lutero entendeu que o povo judeu era o guardião das tradições bíblicas do Velho Testamento e, portanto, deveria seguir o mesmo conjunto de textos adotado por eles. As denominações protestantes (evangélicas), a seguir, adotaram o mesmo princípio.

Já os católicos chegaram ao texto do Velho Testamento por caminho um pouco diferente e, por isso, a lista de livros que essa igreja aceita para o Velho Testamento é diferente, incluindo aqueles livros excluídos pelos rabinos judeus de Jamnia. 

Eu não tenho espaço a causa dessa diferença, e muito menos para argumentar pró e contra essa ou aquela posição, mas acho que a decisão de Lutero - aceitar o texto usado pelos judeus - foi correta. De qualquer forma, os livros que geram essa discórdia em nada modificam as teses básicas do cristianismo.

Como o Novo Testamento chegou até nós
O Novo Testamento teve uma história mais simples, pois é muito mais recente e foi escrito em apenas 50 anos, na segunda metade do sec I da nossa era, ou seja, no máximo 70 anos depois da morte de Jesus. 

É verdade que outros textos competiam pela honra de serem considerados canônicos, além daqueles que hoje compõem o Novo Testamento. E isso gerou algumas controvérsias.

Alguns textos como os quatro Evangelhos que adotamos (Mateus, Marcos, Lucas e João), Atos dos Apóstolos e as cartas de Paulos foram rapidamente aceitos pela comunidade cristã como inspirados por Deus. Praticamente nunca houve dúvida quanto a esses textos serem partes da Bíblia.

Uns poucos textos - como o Apocalipse - tiveram um processo de adoção um pouco mais difícil, mas acabaram sendo incluídos no Novo Testamento.

A lista definitiva de textos acabou sendo oficializada em alguns Concílios da Igreja cristã, ao longo do século IV, ou seja, apenas 300 anos depois de terem sido escritos. 

No caso do Novo Testamento, não há divergência entre o que pensam católicos e protestante (evangélicos), pois o conjunto de textos aceitos é o mesmo. 

Comentário final
Acredito que os livros contidos na Bíblia são aqueles que ali deveriam estar e também que conhecemos os seus textos originais com fidelidade.

Isto quer dizer que nenhuma parte da Bíblia pode ser eliminada e nada pode ser acrescentado ali. O Cânone está fechado e assim ficará até a consumação dos tempos. Amém.

Com carinho

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