domingo, 22 de março de 2020

O PEDIDO MAIS DIFÍCIL QUE DEUS JÁ FEZ


Qual foi o pedido mais difícil que Deus já fez a um ser humano? Acredito que tenha sido o pedido feito a Abraão:
Toma teu filho, teu único filho, Isaque, a quem amas, ...e oferece-o ali em holocausto, sobre um dos montes que eu te mostrarei. Gênesis capítulo 22, versículo 2
Deus ordenou a Abraão que sacrificasse seu filho, Isaque e essa ordem foi dada sem qualquer explicação prévia ou justificativa. Foi um pedido muito, mas muito, difícil. E o mais impressionante é que Abraão obedeceu sem hesitar. 

Três dias depois de receber essa ordem, ele levou Isaque para o local estabelecido para esse sacrifício - trata-se do mesmo local onde, mais de mil anos depois, Salomão veio a construir o Templo de Jerusalém. 

Ao chegarem lá, Isaque foi amarrado ao altar construído para o sacrifício. Abraão pegou a faca para sacrificar o filho e exatamente nesse instante ouviu Deus dizer-lhe para libertar Isaque e usar no sacrifício um carneiro que milagrosamente apareceu ali.

O relato bíblico termina com Deus confirmando sua Aliança perpétua com Abraão e prometendo-lhe derramar bençãos sem limite sobre ele e sua descendência.

Agora, mesmo com o final feliz, essa história gera muitas perguntas que não são fáceis de responder. Por que Deus precisou expor pai e filho a um teste tão difícil? Deus tinha direito de exigir a morte do filho a Abraão? É justo que a obediência a Deus gere sofrimento para o ser humano?

Por que Deus deu aquela ordem?
Deus realmente não precisava fazer qualquer tipo de teste para saber como Abraão iria reagir, pois Ele sabe todas as coisas. Mas, Abraão não sabia como iria reagir quando sua fé fosse testada naquele nível. Em outras palavras, o teste foi para Abraão saber algo que não sabia até então. E assim acontece com cada pessoa que passa por um teste de fé: somente nessa circunstância é que ela saberá sua reação verdadeira. 

Quando foi testado, Abraão demonstrou que sua fé era verdadeira: confiou em Deus até o final. E por causa dessa e de outras atitudes semelhantes, Abraão ficou conhecido como o "Pai da Fé", passando a servir de fonte inspiração para todos que creem em Deus.

O teste, mesmo extremamente difícil e doloroso, serviu para avaliar e fortificar a fé de Abraão. Tornou-se também um testemunho vivo do que a fé pode fazer e esse exemplo tem sido útil para muitas gerações de pessoas enfrentarem as próprias dificuldades na vida.

Há ainda outra razão para o pedido de Deus e essa é um pouco mais sutil: tratou-se de uma referencia profética ao sacrifício de Jesus, que viria a ocorrer cerca de 2.000 anos depois. 

Em outras palavras, Deus não pediu a Abraão nada diferente do que Ele mesmo foi capaz de fazer. Com a diferença que Abraão não precisou sacrificar de fato o próprio filho, enquanto Jesus não teve a mesma sorte e morreu numa cruz, em meio a grande sofrimento. 

As consequências do teste
O "sacrifício de Isaque" gerou diversas consequências importantes. A maior delas foi reafirmar a Aliança entre Deus e Abraão, que foi herdada por todo o povo judeu. 

Isso ficou bem evidente durante a última ceia de Jesus com seus discípulos. Essa ceia foi tomada na noite em que Ele foi traído e, em dado momento, Jesus tomou pão e vinho como representações de seu corpo e sangue. E disse também que ali se formava a Nova Aliança (Lucas 22:14-20). 

Ora, se estava sendo forjada ali uma Nova Aliança, é porque existia uma Aliança anterior, justamente aquela estabelecida por Deus com Abraão, que era exclusiva para o povo judeu. Para nós, cristãos, a Nova Aliança, via o sangue de Jesus, é a que interessa. Mas, a Aliança de Deus com Abraão tem igual importância para o povo judeu. 

A segunda consequência do sacrifício de Isaque foi que Abraão e Sara nunca mais se falaram. Abraão mudou-se para outro local (Berseba), enquanto Sara continuou em Hebron. Ele se casou de novo e teve outros filhos com a nova esposa. E é fácil entender a razão desse rompimento: Sara não perdoou Abraão por tê-la deixado de fora dos acontecimentos. Afinal, o filho também era dela. 

Outra consequência dos acontecimentos impactou o próprio Isaque: ele nunca foi próximo de Deus como seu pai tinha sido ou seu filho (Jacó) viria a ser. Tanto foi assim, que a Bíblia chega a se referir a Deus como "o terror de Isaque" (Gênesis capítulo 31, versículo 42).

Coisas boas como ruins (aos olhos humanos) podem decorrer do ato de obedecer a Deus. A separação de Abraão e Sara, assim como o distanciamento de Isaque em relação a Deus testemunham que fazer a vontade de Deus traz sim custos para quem obedece a esse chamado. 

Obedecer a Deus não sai de graça, como muita gente pensa. E o apóstolo Paulo alertou sobre isso, quando descreveu as dificuldades pelas quais ele mesmo passou ao longo do seu ministério (2 Coríntios capítulo 11, versículos 11 a 27). 

Eu sou testemunha disso: meu avô foi pastor metodista no início do século passado, quando os evangélicos eram minoria no Brasil. As igrejas evangélicas naquela época eram pobres e a vida da família de um pastor costumava ser muito difícil (meu avô teve seis filhos). A família de meu avô sempre dependeu da ajuda de irmãos na fé, em melhor situação financeira, para conseguir viver com dignidade. 

Concluindo, discutir histórias como a do sacrifício de Isaque é muito importante para o crescimento da fé. Cada vez que levantamos perguntas sobre o que aconteceu e buscamos novas interpretações, aprofundamos os ensinamentos recebidos. E, como disse um autor cristão, somos transformados de leitores em autores. 

Com carinho

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