sábado, 28 de março de 2020

VOCÊ ESTÁ DECEPCIONADO COM DEUS?


Será que você anda decepcionado com Deus? Se sua resposta é sim, saiba que há muita gente como você.
Tempos atrás li um estudo sobre o comportamento dos cristãos que apontou como principal razão para as pessoas abandonarem a fé é ficar decepcionado com Deus. Isso responde por cerca de 60% dos casos de afastamento da fé.
É comum ficar decepcionado com Deus quando a pessoa pensa que Deus falhou: não a protegeu ou não a abençoou como ela esperava. E, sentindo-se decepcionada, essa pessoa rompe com Deus, cortando seus laços com Ele. Conheço vários casos como esse.

Esse forma de pensar  parte de uma premissa que as pessoas nem percebem estar adotando, quando fazem seu julgamento sobre o comportamento de Deus. Essa premissa é: só devem ser mantidos os relacionamentos que valem à pena.

A origem dessa premissa é a "teoria das trocas sociais". Segundo tal teoria, as pessoas só devem manter relacionamentos cujos "benefícios" são maiores do que os "custos". O "benefício" de uma relação vem das vantagens que ela gera para os participantes, coisas como realização sexual, carinho, apoio nos momentos difíceis e assim por diante. Já o "custo" é representado pelo tempo e esforço emocional necessários para manter a relação funcionando. 
Quando o "custo" fica maior que o "benefício", a teoria das trocas sociais estabelece que a relação deve ser abandonada, ou no mínima, reformulada. Relações consideradas saudáveis são aquelas cujos "benefícios" são sempre maiores do que os "custos".
Vou dar um exemplo prático de como isso funciona na prática. Imagine que um rapaz e uma moça se apaixonam para valer. Ora, viver uma grande paixão costuma gerar um "benefício" tão grande que praticamente compensa quase qualquer "custo". Por isso costumamos dizer que as pessoas ficam "cegas" pela paixão.

Com o passar do tempo, a paixão do casal diminui, portanto, o "benefício" da relação vai sendo reduzido. Aí o "custo" - por exemplo, suportar os defeitos da pessoa amada - começa a pesar mais e mais. E quando esses defeitos da pessoa amada se tornam muito pesados para carregar, a separação do casal passa a se tornar uma perspectiva concreta. Nessa altura dos acontecimentos, o "custo" da relação tornou-se maior que o "benefício".

Por outro lado, ao longo do tempo, novos "benefícios", além da paixão, podem se juntar ao pacote que acompanha a relação desse casal - por exemplo, o apoio mútuo para enfrentar problemas sérios na vida, a existência de filhos, interesses comuns, dentre outros. E os novos "benefícios" ajudam a suportar o "custo" da relação, quando a paixão diminui. É por isso que os casais, frequentemente, conseguem aturar defeitos sérios dos parceiros de vida. 
Voltando ao caso de quem fica decepcionado com Deus, essa pessoa pode até chegar à decisão de se afastar dele por usar a "teoria das trocas sociais", mesmo sem perceber que fez isso. Ela compara o "custo" do relacionamento com Deus com o "benefício" gerado desse mesmo relacionamento, e conclui que não compensa mais ter Deus em sua vida.
O "custo" para uma pessoa se manter próxima a Deus inclui, dentre outros aspectos, deixar de lado hábitos de vida que podem gerar prazer, mas são errados (como os vícios), dedicar tempo a frequentar cultos religiosos e acompanhar estudos bíblicos, deixando de lado o próprio lazer; e assumir compromisso de sustentar a obra de Deus, desviando para ela dinheiro que pode ser usado em outro lugar; dentre outros. Já o "benefício" da relação com Deus vem da proteção e das bênçãos que as pessoas imaginam que Ele pode proporcionar. 

Ficar decepcionado com Deus vem do fato de não se sentir atendido por Ele, ou seja, de não receber dele o "benefício" esperado. Aí a relação com Deus se desequilibra, o "custo" dela pesa mais e a pessoa decepcionada decide se "divorciar" de Deus. O depoimento de um rapaz católico, extraído do estudo que citei acima, deixa isso bem claro: 
Eu orei e orei e as coisas nunca melhoraram... na verdade, ficaram piores. E eu pensei, tudo bem, se Deus pode virar as costas para mim, também posso fazer o mesmo".    
O erro nessa forma de pensar
Nunca podemos esquecer que nem sempre são as trocas sociais que regem as relações humanas. Por exemplo, na relação de uma mãe com seus filhos, "custos" e "benefícios" não costumam entrar muito na avaliação feita pela mãe. O amor de mãe costuma ser quase sempre incondicional, ou seja, na maioria das vezes, não depende do que os filhos fazem. E é por isso que vemos tantas mães semanalmente vistando na cadeia os filhos presos.
E as trocas sociais também não deveriam balizar a relação do ser humano com Deus. Elas não deveriam tornar ninguém decepcionado com Ele. A lógica da relação com Deus deveria ser outra, afinal o ser humano depende dele para sua própria existência - é Deus quem sustenta o universo. Aliás, nem há como cortar  de fato a relação com Deus, mesmo estando decepcionado com Ele. A pessoa até pode pensar que conseguiu romper seus laços com Ele, mas isso é pura ilusão.

Portanto, é preciso adotar outro modelo para avaliar a relação do ser humano com Deus. E uma alternativa possível, dentre diversas outras, é o modelo "senhor" e "servo".  Nesse caso a relação é baseada no poder do senhor (Deus) e na dependência e obediência do servo (o ser humano).

Eu sei que as pessoas não gostam muito desse tipo de abordagem, preferindo ver Deus, por exemplo, como um Pai amoroso, mas nunca como senhor. Mas a Bíblia é muito clara quanto à soberania de Deus sobre nós e em muitos textos somos chamados de servos  - por exemplo João capítulo 12, versículo 26 ou Apocalipse capítulo 22, versículos 3 e 4.

Servos não se decepcionam com seu senhor e nem cortam sua relação com ele. Isso não existe nesse tipo de relação. Portanto, quando as pessoas tentam romper seus laços com Deus é porque não perceberam bem qual é o seu lugar na ordem natural das coisas. 

Em outras palavras, é uma grande pretensão das pessoas acharem que podem questionar Deus e, quando não gostarem da resposta divina para seus problemas pessoais, se afastar dele. Somente o amor que Deus tem com o ser humano explica sua paciência com esse tipo de comportamento.
A Bíblia explica isso em vários textos e um dos melhores exemplos está num diálogo de Deus com Jó. Esse homem passava por grande sofrimento, por razões que não entendia. E questionou Deus, cobrando uma explicação para sua situação e a resposta que recebeu foi esclarecedora:
Onde você [Jó] estava quando lancei os alicerces da terra? Responda-me, se é que você sabe tanto. Quem marcou os limites das suas dimensões? Talvez você saiba! Ou estendeu sobre ela a linha de medir? E os seus fundamentos, sobre o que foram postos? E quem colocou sua pedra de esquina... Jó capitulo 38, versículos 4 a 6
Deus perguntou qual foi o papel de Jó na criação do mundo. E usou de ironia para passar a seguinte mensagem: "quem é você Jó, para me questionar".
Concluindo, a relação de Deus com o ser humano não pode se basear na comparação entre "custo" e "benefício", no que chamamos trocas sociais. Esse tipo de comparação até pode fazer sentido em outros tipos de relação, como nos casamentos ou no caso de amizades, mas não é aplicável na relação com Deus. Nossa relação com Ele é de dependência e de inferioridade absoluta, nunca de igualdade. E quanto antes as pessoas entenderem isso, melhor será para elas mesmas.

Com carinho

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