sexta-feira, 16 de dezembro de 2016

A IMPORTANCIA HISTÓRICA DA CARTA AOS CORÍNTIOS


Pois o que primeiramente lhes transmiti foi o que recebi: que Cristo morreu pelos nossos pecados, segundo as Escrituras, foi sepultado e ressuscitou ao terceiro dia, segundo as Escrituras, e apareceu a Pedro e depois aos Doze. Depois disso apareceu a mais de quinhentos irmãos de uma só vez, a maioria dos quais ainda vive, embora alguns já tenham adormecido. Depois apareceu a Tiago e, então, a todos os apóstolos. Depois destes, apareceu também a mim... 1 Coríntios capítulo 13, versículos 3 a 8
Estes versículos da primeira carta de Paulo à igreja de Corinto talvez componham o trecho do Novo Testamento mais estudado pelos historiadores(as), sejam eles(as) cristãos(ãs) ou não.

Isso porque aí está contido aquilo que se acredita ser uma mais antigas tradições cristãs. Algo como o primeiro credo da Igreja cristã, cuja origem pode ser rastreada até poucos meses depois da morte de Jesus.

E tal constatação tem enorme importância. Afinal, um dos ataques mais frequentes que o cristianismo sofre parte da tese que os(as) primeiros cristãos - as pessoas que testemunharam os fatos ocorridos e sabiam o que aconteceu mesmo - não pregavam que Jesus morreu para nos salvar. Essa crença teria surgido bem depois e não passaria de uma lenda. 

O texto citado acima é uma prova importante que essa crítica não corresponde à verdade: logo depois da morte de Jesus, os(as) primeiros(as) cristão(ãs) já acreditavam na sua ressurreição e no seu sacrifício para nos salvar. Não há qualquer lenda construída posteriormente.

Mas antes de explicar porque afirmo isso, é preciso que você entenda uma coisa importante: para o(a) historiador(a) não cristão(ã), os textos bíblicos não são a Palavra de Deus e sim apenas textos antigos, que têm valor histórico, mas não são diferentes de qualquer outro texto da mesma época.

E vamos aceitar essa posição dos(as) historiadores(as) não porque eu concorde com ela, mas para poder construir um argumento que eles(as) não possam deixar de lado, afirmando que não concordam com as conclusões tiradas.

O ponto de partida, portanto, será tomar o Novo Testamento apenas como uma coleção de textos antigos e somente usar como evidência apenas fatos com os quais todos(as) concordem, mesmo quem não for cristão(ã). E feita essa introdução, vamos então ao que interessa.

A primeira carta de Paulo aos coríntios é uma das seis cartas aceitas quase universalmente como tendo sido realmente escritas por ele - os(as) cristãos acreditam que há diversas outras, mas isso não importa no momento. Essa carta foi escrita mais ou menos por volta do ano 55 da nossa era e Paulo se referiu, no trecho citado acima, a uma visita anterior que fez a Corinto três anos antes. 

Ou seja, no ano 52, pouco mais de 20 anos depois da morte e ressurreição de Jesus - para efeito deste post considerei que a paixão de Cristo ocorreu na Páscoa do ano 30 - Paulo ensinou aos coríntios que Jesus morreu pelos nossos pecados. Mas quando foi que Paulo aprendeu essa mensagem?

Para responder, precisamos recorrer a outra carta, também universalmente reconhecida como da autoria de Paulo. Refiro-me a Gálatas, onde ele escreveu:
Quando lhe agradou revelar o seu Filho em mim, para que eu o anunciasse entre os gentios, não consultei pessoa alguma... Depois de três anos, subi a Jerusalém para conhecer Pedro pessoalmente, e estive com ele quinze dias. Não vi nenhum dos outros apóstolos, a não ser Tiago, irmão do Senhor. Gálatas capítulo 1, versículos 15 a 19
Três anos depois da conversão de Paulo, ele foi a Jerusalém e se encontrou apenas com Pedro e Tiago (irmão de Jesus), tendo ficado ali por quinze dias. Ora, Paulo se converteu cerca de dois anos depois da morte de Jesus, portanto, essa visita ocorreu por volta do ano 35.

É evidente que as conversas que Paulo teve naquela oportunidade com Pedro e Tiago não versaram sobre o tempo ou a situação política na Palestina. O interesse que esses três homens tinham em comum era o Evangelho de Jesus e certamente foi disso que falaram.

Foi nessa oportunidade que Paulo ficou sabendo o que Pedro e Tiago ensinavam a seus discípulos. E foi essa mesma mensagem que Paulo passou para diante, inclusive na visita que fez a Corinto. 

Como podemos ter certeza disso? Simples: quatorze anos depois da primeira visita (no ano 35), Paulo foi lá de novo e dessa vez conversou com Pedro, Tiago e João. Seu objetivo foi justamente verificar se estava pregando o mesmo Evangelho que eles. Veja o relato dessa segunda visita em Gálatas:
Catorze anos depois, subi novamente a Jerusalém, dessa vez com Barnabé, levando também Tito comigo. Fui para lá por causa de uma revelação e expus diante deles o evangelho que prego entre os gentios, fazendo-o, porém, em particular aos que pareciam mais influentes, para não correr ou ter corrido em vão... tais homens influentes não me acrescentaram nada. Reconhecendo a graça que me fora concedida, Tiago, Pedro e João, tidos como colunas [da igreja], estenderam a mão direita a mim e a Barnabé em sinal de comunhão... Gálatas capítulo 2, versículos 1 a 10
Os demais líderes cristãos reconheceram que a teologia de Paulo estava em linha com a deles e o abençoaram, impondo-lhe as mãos. 

Portanto, os documentos que temos provam que Paulo esteve pela primeira vez com Pedro e Tiago, apenas cinco anos depois da morte de Jesus, quando foi instruído numa série de coisas. No ano 49, Paulo voltou a Jerusalém e checou com Pedro, Tiago e João, que sua mensagem continuava correta e foi essa mensagem que ele passou para os coríntios. 

Agora, desde quando os líderes cristãos estavam falando que Jesus tinha morrido por nós e ressuscitado? Sabemos que Paulo recebeu esse credo 5 anos após a morte de Jesus. Mas segundo quase todos os(as) estudiosos(as) essa mensagem, na mesma forma como Paulo a reproduziu, data de meses depois dos acontecimentos.

Em outras palavras, sabemos com certeza que muito pouco tempo depois da morte de Jesus, os(as) primeiros(as) cristãos(ãs) já acreditavam no seguinte: Ele morreu pelos nossos pecados, segundo as Escrituras, foi sepultado e ressuscitou ao terceiro dia, tendo aparecido depois para uma série de pessoas. E esse é o núcleo da fé cristã.

Se tudo fosse uma lenda, como algumas pessoas hoje afirmam, não haveria razão para que as testemunhas dos fatos estivessem dispostas a morrer por sua fé, como de fato aconteceu - praticamente todos os apóstolos foram martirizados.

Na verdade, os(as) historiadores(as) mais responsáveis, cristãos(ãs) ou não, acreditam que naõ se trata mesmo de lenda e que várias daquelas pessoas viram sim Jesus depois da sua morte.

Nós, cristãos(âs) acreditamos que a para isso é sua ressurreição. Já os(as) historiadores(as) não cristãos(ãs) atribuem essas visões a outras causas, como alucinações. Mas não negam sua existência. Nem consideram o relato como lenda.

É claro que a tese de alucinações coletivas não se sustenta e há bons argumentos para rebatê-la. Mas seria necessário outro post para fazer isso e este já está muito longo. Falarei sobre isso em outra oportunidade.

Com carinho

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