quarta-feira, 10 de janeiro de 2018

O LUCRO É PECADO?

Um principio muito aceito no meio cristão é a separação entre as coisas do mundo secular (aquelas relacionadas com a sociedade em geral) e as do mundo sagrado (aquelas voltadas exclusivamente para Deus e sua obra). É entendimento comum que o mundo secular está contaminado pelo pecado, enquanto o mundo sagrado não (ou bem menos).

A esse respeito, veja o depoimento dado, anos atrás, por John Beckett, fundador e dirigente de empresas, que também atua como pastor: 
Durante anos, pensei que meu envolvimento com os negócios era uma atividade de segunda classe – necessária para colocar pão na mesa, mas menos nobre do que ações mais sagradas, como estar no ministério pastoral ou ser missionário. A impressão que tinha era que, para servir a Deus verdadeiramente, seria preciso entrar no ministério tempo integral. Ao longo dos anos eu encontrei incontáveis pessoas que pensavam da mesma forma.
Essa restrição parece ficar ainda mais forte quando se trata de atividades de negócios, que , naturalmente, visam o lucro. A sensação de muita gente é que o lucro é pecado, pois tem a ver com a ganância e a exploração dos mais fracos.

O grande teólogo A. W. Tozer, analisando essa questão, fez uma advertência muito séria contra essa separação entre o mundo secular e o mundo sagrado:
Um dos maiores obstáculos para haver paz com os cristãos é o hábito arraigado de dividir as coisas em duas áreas, secular e sagrado. Se essas áreas tivessem sido concebidas para existir separadas, sendo moral e espiritualmente incompatíveis, e nós fôssemos compelidos pela necessidade de viver sempre cruzando essa fronteira, para trás e para frente, de uma lado para outro, nossa vida interior tenderia a quebrar e nós viveríamos uma vida partida ao invés de uma vida unificada... A maioria dos cristãos cai nessa armadilha.
Agora, é interessante perceber que Jesus nunca mostrou desprezo pelo mundo dos negócios, até porque, de certa forma, Ele foi um pequeno empresário, antes de começar seu ministério.

Com efeito, na época em que Jesus viveu, artesãos e operários especializados (como Jesus) trabalhavam por conta própria e agiam como pequenos empresários, usando a própria família como mão-de-obra.

Jesus trabalhou por quase duas décadas como "tektōn" - pequeno construtor, que trabalhava com madeira, pedra e até metal para construir ou fabricar coisas (Marcos capítulo 6, versículo 3). A palavra usada para referir-se a essa profissão (carpinteiro) não caracteriza bem a natureza da profissão de Jesus. 

E, como filho mais velho de José, Jesus certamente herdou de seu pai a liderança do pequeno negócio que sustentava a família (Mateus capítulo 13, versículos 55 e 56).

A experiência de Jesus no mundo dos negócios explica porque quase metade das suas parábolas são ambientadas nesse mundo. Por exemplo, ao falar do custo do discipulado cristão, Jesus mencionou que a pessoa devia ter os fundos necessários para completar uma construção, antes de dar início à obra (Lucas capítulo 14, versículo 28), que é um conselho muito prático. 

Jesus nunca se colocou contra as atividades lucrativas, tendo criticado sim, até com veemência, a cobiça, a ganância e outros sentimentos pecaminosos. Mas não o lucro em si, quando obtido de forma honesta e haver exploração dos mais fracos. 

Afinal, muita gente de talento se esforça e acaba conseguindo obter excelentes resultados do seu trabalho honesto. E lucrando com isso, não havendo qualquer pecado aí. 

Esse tipo de lucro é positivo, pois impulsiona as pessoas a crescerem, a se esforçarem e a correrem riscos. As pessoas ganham e a sociedade, como um todo também ganha e prospera. 

Concluindo, qualquer atividade lucrativa desenvolvida honestamente e dentro dos preceitos cristãos é agradável aos olhos de Deus. Não há, para Deus, atividades de segunda categoria. 

Com carinho

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