sábado, 12 de maio de 2018

O QUE É CERTO OU ERRADO?


O que você acha certo ou errado? Qual a referência que você usa para chegar a essa conclusão? O que influencia as escolhas que você faz na vida? 

A experiência mostra que há três caminhos alternativos que as pessoas costumam adotar para definir o que é certo ou errado no seu dia-a-dia: 
  • priorizar aquilo que é melhor para elas mesmas, rotulando como "certo" aquilo que está de acordo com suas necessidades pessoais e "errado" o que alguma forma vai contra seus objetivos.
  • rotular como "certo" aquilo que contribui para o bem estar da coletividade (o grupo social com o qual as pessoas se identificam). 
  • confiar que "certo" é aquilo que Deus definiu dessa forma. 
Pessoas diferentes escolhem caminhos distintos, conforme sua formação, fé e experiência de vida, e, naturalmente, chegam a conclusões diferentes sobre o que é "certo" e o que é "errado". E nasce aí a grande divergência de opiniões na sociedade atual, que atinge até contornos agressivos durante a discussão de questões polêmicas como o enfrentamento da miséria, a pena de morte, o aborto, a eutanásia, o homossexualismo, etc.

Vamos ver mais de perto como funciona cada uma dessas formas alternativas de pensar o mundo: 

A necessidade pessoal é o mais importante
Muitas pessoas pensam que devem sempre privilegiar aquilo que contribui para satisfazer suas necessidades pessoais (reais ou imaginadas). E para que isso seja possível, entendem que é preciso ter ampla liberdade de ação - só assim poderão buscar e/ou conquistar o que desejam/precisam. 

Essa a ideia básica por trás do capitalismo. Ela envolve o princípio que os agentes econômicos (pessoas e empresas) precisam ser inteiramente livres para tomar suas próprias decisões (o que comprar, vender ou produzir), que naturalmente irão ser tomadas buscando o máximo de ganho possível para esses mesmos agentes. 

Para quem pensa assim, qualquer lei que procure regular o livre mercado - por exemplo, estabelecendo o preço máximo pelo qual determinado produto pode ser vendido - é uma indesejada restrição à liberdade individual. Mesmo que o objetivo dessa lei seja corrigir injustiças ou distorções geradas pelo livre mercado. Para quem pensa assim, quanto menor for a ação do estado, melhor.

É certo que a liberdade individual é um direito fundamental e as sociedades que mais prosperam são aquelas que reconhecem isso. Mas também é fato que a liberdade individual irrestrita acaba por introduzir graves distorções na sociedade, pois os mais fortes acabam por prosperar às custas daqueles/as que são indefesos/as. 

O bem comum é o mais importante 
O segundo caminho alternativo é estabelecer que o mais importante é o bem comum do grupo social (por exemplo, o país onde se mora). Por isso cabe a esse mesmo grupo definir, através de leis e/ou regras de comportamento, o que é certo ou não fazer. 

Naturalmente, essas leis e regras reduzem a liberdade individual das pessoas e empresas tomarem suas próprias decisões e haverá momentos em que elas precisarão fazer sacrifícios em prol do bem comum. 

Por exemplo, na China, até bem recentemente, o governo se achava no direito de definir quantos filhos as famílias poderiam ter para evitar a superpopulação, que jogaria o país no caos. O governo podia até obrigar mulheres grávidas a abortar. Assim, violava-se a liberdade individual das famílias em prol do controle do crescimento da população. 

Outro exemplo muito comum hoje em dia são as leis e regras visando preservar o meio ambiente. Digamos que alguém comprou uma fazenda - essa pessoa não vai poder cortar todas as árvores que existem na sua terra, para ampliar a área de plantio, por causa das restrições ambientais. O dono da terra vai precisar abrir mão de ganhar mais, ao restringir sua liberdade de fazer o que quiser na sua terra, em prol do bem comum. 

Restrições desse tipo se aplicam em muitas outras áreas da vida em sociedade como, por exemplo, na questão dos direitos humanos. E costumam ser especialmente fortes em momentos especiais da história, como no caso de catástrofes, epidemias ou guerras. 

Algum grau de restrição à liberdade individual é imprescindível para a vida harmoniosa em sociedade - afinal minha liberdade precisa acabar onde começa a sua. Mas a história mostra que há sociedades onde esse princípio foi levado a extremos tais, que as liberdades individuais praticamente acabaram, como é o caso dos regimes comunistas. 

Obedecer a Deus é o mais importante
O terceiro caminho é acreditar que Deus já estabeleceu o que é certo ou errado e basta seguir suas orientações - afinal, Ele sabe melhor do que ninguém pois foi Ele criou o universo e as próprias pessoas. 

É claro que as leis dadas Deus (como "amar o próximo") certamente concorrem para o bem comum, como também enfatizam a liberdade individual (lembre-se que foi Deus quem nos deu o livre arbítrio), mas o motivo principal para obedecê-las é a obediência a Deus. Em outras palavras, confiamos que as leis de Deus promovem o melhor para todos/as porque foram propostas por Ele mesmo, que é a fonte de todo bem. 

As incoerências humanas
Resumindo o que vimos até agora, há três caminhos a escolher: dar prioridade às necessidades pessoais e à liberdade pessoal para satisfazer-las; priorizar o bem comum, abrindo mão de boa parte da liberdade pessoal; e obedecer a Deus, confiando que daí resultará o máximo de bem possível. 

Naturalmente, conforme o caminho escolhido, as conclusões às quais as pessoas vão chegar, quanto ao que é certo ou errado, vai variar muito. E basta olhar em torno para perceber isso com clareza. Por isso a vida num país capitalista, como os Estados Unidos, é tão diferente dum país comunista, como a Coréia do Norte. 

E é também por isso que, mesmo dentro de um mesmo país e numa mesma cidade, os grupos sociais diferem tanto entre si - por exemplo, os/as frequentadores de uma igreja evangélica se comportam de forma bem diversa dos membros de um partido político. 

A esse quadro, que já é complexo por si mesmo, se junta outro problema que torna as coisas ainda mais confusas: a incoerência das pessoas - ora elas fazem escolhas como se seguissem um desses caminhos e ora privilegiam aspectos do outro. 

Em algumas situações, as pessoas podem privilegiar sua liberdade pessoal (por exemplo, quando defendem o direito à eutanásia ou ao aborto), enquanto em outras situações defendem o bem comum na frente de tudo, mesmo sob pena de restringir sua liberdade (por exemplo, quando defendem que a preservação do meio ambiente precisa ser conseguida a qualquer custo). Ou então, num momento dizem ser guiadas pela vontade de Deus (por exemplo, quando se colocam contra a pena de morte) e em outro privilegiam seus interesses pessoais (por exemplo, quando não querem fazer qualquer sacrifício em prol das pessoas menos favorecidas). 

Na prática, as pessoas variam sua abordagem de acordo com a circunstância e/ou tema que estão tratando, não tendo qualquer preocupação com a coerência de pensamento. E essa incoerência gera ainda mais confusão.

O que fazer?
Acho que nós, cristãos/ãs, precisamos adotar verdadeiramente a tese que a obediência a Deus precisa ser sempre nossa referência. Tudo que fazemos precisa passar pelo crivo da vontade d´Ele. 

Mas como manter a coerência das nossas escolhas e decisões nos vários momentos da vida? Aí vão algumas sugestões que acredito possam ser úteis: 
Toda vez que você tiver dúvida sobre qual decisão tomar, procure entender bem qual é a orientação real de Deus para aquela questão ou situação. E cuidado para não tomar uma decisão primeiro e depois tentar encontrar versículos bíblicos para dar suporte ao que você já decidiu. 
Aceite desde já que coerente com sua fé nem sempre será fácil ou deixará você em posição simpática aos olhos das outras pessoas. Jesus não agradou todas as pessoas com quem lidou, especialmente os poderosos da época e não foi por acaso, Ele acabou crucificado. 
Nunca pense que você é o "dono/a da verdade". Em outras palavras, esteja sempre aberto a discutir suas razões com outras pessoas, especialmente aquelas cuja opinião você respeita. Afinal, seu entendimento sobre o que é a vontade de Deus certamente pode variar ao longo do tempo à medida em que você amadureça espiritualmente. Por exemplo, o apóstolo Paulo se considerava um fiel seguidor da vontade de Deus e por isso participou da perseguição aos primeiros cristãos. Até que teve uma visão e Jesus lhe mostrou que ele estava errado e Paulo se converteu ao cristianismo.
Tenha coragem para mudar seu pensamento quando perceber que está errado/a. Essa talvez seja a parte mais difícil, especialmente se você tiver investido muito tempo e esforço na defesa de certa ideia ou posição. É preciso humildade e coragem intelectual para fazer isso. Eu mesmo já mudei de opinião ao longo da minha vida religiosa - nunca deixei de acreditar em Jesus, como meu Salvador pessoal, mas deixei de lado vários "penduricalhos" teológicos que antes tinha aceitado sem questionar direito.

Com carinho

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