quarta-feira, 29 de abril de 2020

O ESTRANHO CASO DE ANANIAS E SAFIRA

O caso de Ananias e Safira é uma daquelas situações relatadas na Bíblia que são difíceis de entender e até mesmo aceitar (dentro dos padrões atuais de julgamento). 

A história desse casal é simples e está relatada em Atos dos Apóstolos capítulo 5, versículos 1 a 11: Eles venderam uma propriedade que tinham e doaram boa parte do valor recebido para o caixa comum que os membros da primeira igreja cristã mantinham - esse dinheiro ficava sob a guarda dos apóstolos. O restante do valor obtido na venda o casal guardou, para ter alguma segurança. 

O problema apareceu quando os dois afirmaram para os apóstolos que tinham entregue para eles todo o produto da venda da sua propriedade. Ananias e Safira quiseram o melhor dos dois mundos: posar de bons cristãos e ter a segurança de um dinheiro guardado.

O casal mentiu para seus líderes espirituais e foi hipócrita, achando que podia enganar o Espírito Santo. E foram castigados com a morte. Será que essa dureza com Ananias e Safira foi justificada?

Acredito que sim, mas para que você possa entender todo o alcance daquela situação espiritual, preciso primeiro falar da vida na primeira comunidade cristã, fundada pelos apóstolos, em Jerusalém.

Os membros daquela comunidade decidiram ter todos os bens em comum, para que cada pessoa recebesse aquilo que precisava para viver com dignidade (Atos capítulo 2, versículos 44 a 47; capítulo 4, versículos 32 a 37). Essa medida foi tomada porque boa parte daquelas pessoas tinha vindo de outras regiões do império romano e teria dificuldade para se manter em Jerusalém, local onde não tinham raízes. Além disso, os primeiros cristãos enfrentaram discriminação social por causa da sua fé, o que tornou vários deles incapazes de prover o próprio sustento.

A prática de ter tudo em comum somente funcionou naquela comunidade e ela não pode ser tomada como mandamento de Deus - foi uma escolha livre de daquelas pessoa. E tanto foi assim, que a Bíblia, em outra passagem (Atos capítulo 11, versículos 27 a 30), fala de uma doação feita pela igreja cristã em Antioquia em favor dos irmãos mais pobres de Jerusalém. Nesse outro momento não houve compartilhamento de bens e sim uma oferta de ajuda financeira, como é comum acontecer hoje em dia. 

A ideia de ter bens em comum somente teve sentido na primeira comunidade cristã, em Jerusalém, grupo com forte sentido de coesão e comunhão, com uma liderança (os apóstolos) especialmente preparada por Jesus (veja Atos capítulo 5, versículos 3 e 4 para maiores detalhes). 

Se Ananias e Safira tivessem sido sinceros e assumido, perante os apóstolos, terem guardado parte do dinheiro, nada lhes teria acontecido. Certamente teriam sido olhados com desagrado e desconfiança por membros da igreja de Jerusalém, mas não teria passado disso.

Mas o casal pensou que podia enganar o Espírito Santo e isso foi um pecado muito sério. Afinal, tudo que aconteceu naquela primeira comunidade foi fundamental para o desenvolvimento do cristianismo. E Deus não poderia permitir que a mentira e a hipocrisia prosperasse naquele meio. Por isso a punição foi tão severa.

Ensinamentos para os dias de hoje
Quais ensinamentos podemos tirar para os dias de hoje? Há muitos, mas vou me concentrar em três deles.

Primeiro, é preciso dar com alegria. Se você tiver alguma dúvida no seu coração quando for fazer uma oferta para a obra de Deus, é preferível não dar nada. Só dê com o coração leve, com alegria de ter o privilégio de estar contribuindo para o Reino de Deus.

Segundo, nunca assuma compromissos com Deus que não tenha intenção de cumprir. Infelizmente, vejo isso acontecendo com frequência nas igrejas - por exemplo, as pessoas se inscrevem como voluntárias para cumprir determinadas tarefas (ou seja dizem que vão dar do seu tempo para a obra de Deus) e depois nada fazem. E, ainda pior, não demonstram qualquer preocupação ao agir assim.

Finalmente, com Deus não se brinca. Ananias e Safira acharam que poderiam enganar o Espírito Santo, demonstrando falta de temor e respeito por Deus. E isso não pode acontecer. Nunca.

Com carinho

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