quarta-feira, 8 de janeiro de 2020

IGREJA E TECNOLOGIA FAZEM UM BOM PAR?


A igreja cristã e a tecnologia fazem um par? Creio que sim. E eu me explico.

Tempos atrás li um comentário que achei muito interessante. O autor lembrou que Moisés, o autor dos primeiros cinco livros da Bíblia, viveu cerca de 3.500 anos atrás. E que o grande pregador John Wesley, fundador do metodismo, viveu cerca de 250 anos antes de nós. No comentário que li o autor provou que Wesley, na sua forma de viver, estaria mais próximo de Moisés do que de nós. Em outras palavras, Wesley seria capaz de entender muito melhor o mundo em que Moisés viveu do que a civilização atual, embora nós estejamos muito mais próximos dele no tempo.

Vivemos num mundo em que o avanço da tecnologia é cada vez mais veloz. Eu me lembro que, cerca de quarenta anos atrás, quando participei da construção da obra de Itaipu, ainda hoje uma das maiores do mundo, não tínhamos fax, computador pessoal e nem Internet. Os recursos tecnológicos com os quais contávamos eram essencialmente o telefone e a calculadora de bolso.

Hoje a construção de uma obra desse porte seria feita de forma bem diferente, usando modelagem tridimensional para fazer os desenhos construtivos, elaboração automática das listas de materiais e assim por diante. Sem contar que os celulares são computadores de bolso muito poderosos. 

E a tecnologia transforma não somente o mundo em que vivemos, mas também a forma como nos comportamos. Por exemplo, experimente tirar de uma adolescente seu celular e ela vai se sentir excluída socialmente, enquanto eu vivi minha adolescência contando apenas com uma única linha de telefone fixo na casa dos meus pais. 

E o impacto do avanço tecnológico sobre a vida das igrejas têm sido enorme. É importante lembrar que as pessoas somente começaram a ter exemplares pessoais da Bíblia nas primeiras décadas do século XX, pois antes disso elas eram muito caras e basicamente só estavam disponíveis nas igrejas e bibliotecas. No máximo, as pessoas tinham acesso a panfletos, contendo porções do texto bíblico. Por causa disso, a prática das pessoas lerem a Bíblia em conjunto (uma pessoa lia o texto no exemplar disponível enquanto as outras apenas ouviam) foi a tradição da igreja cristã desde sua fundação até meados do século passado.

Os exemplares da Bíblia individual permitiram que as pessoas pudessem estudar o texto individualmente, quando quisessem e isso tornou tudo mais fácil. Mas, isso tornou muito menos comum o compartilhamento comunitário do texto bíblico, gerando uma perda na convivência das pessoas nas suas comunidades cristãs.

Hoje muitas pessoas nem exemplares em papel da Bíblia têm mais, pois trocaram seus exemplares por aplicativos instalados nos seus celulares.  Eu mesmo, embora tenha muitas Bíblias em papel, não as levo mais para a igreja, pois fica mais fácil ler a partir do aplicativo.

Esses aplicativos permitem, por exemplo, que as pessoas contatem cristãos do mundo inteiro, que partilham os mesmos recursos, no embrião de comunidades internacionais. Com isso, por exemplo, ficou fácil saber quais os versículos bíblicos são mais populares, difundir reflexões e assim por diante. Novos usos coletivos da Bíblia passaram a ser possíveis.

Tudo isso causa um grande receio nas pessoas, especialmente nas mais velhas, sobre as consequências do uso da tecnologia. Nas igrejas cristãs, ambientes normalmente mais conservadores, esse desconforto com o avanço da tecnologia costuma ser ainda maior. E isso é compreensível.

O mesmo receio que temos do avanço das tecnologias também existiu cerca de cinquenta anos atrás, quando os televangelistas começaram a se popularizar. Havia um receio que as igrejas fossem esvaziadas pelos cultos televisados e as grandes campanhas missionárias que esses pastores passaram a fazer. Tanto foi assim, que conheci vários pastores de igrejas cristãs locais que desaconselhavam seus fiéis a verem cultos televisados, tentando, de certa forma, proteger seu "território".  

E é interessante observar que o desconforto com o avanço da tecnologia já existia até nos tempos bíblicos. O apóstolo João, em duas cartas datadas de cerca de 1.900 anos atrás, lamentou precisar escrever para se comunicar com os cristãos (2 João capítulo 1, versículo 12 e 3 João capítulo 1, versículo 13). Ele preferia a comunicação face a face, em lugar da comunicação via escrita e achava que essa última não era tão efetiva.

É claro que a rapidez da mudança tecnológica hoje em dia é maior e isso torna a preocupação com a mudança das coisas mais aguda. Mas, não há como parar o progresso tecnológico e também não é possível impedir que as novas tecnologias afetem a forma como as pessoas vivem, bem como o funcionamento das igrejas.

O mundo que temos é aquele que está à nossa frente e não dá para pedir que o “ônibus” da sociedade pare, para podermos saltar. É preciso aprender a usar as novas tecnologias de forma positiva, como fez o apóstolo Paulo, quando passou a mandar cartas para todas as igrejas que não podia visitar pessoalmente. E também escolher quais tecnologias podem ajudar de fato.

Isso porque nem todas as tecnologias contribuem para o bem das pessoas. Algumas delas tornaram a vida da sociedade moderna francamente pior (p. ex. a bomba atômica), enquanto outras resolveram problemas, mas também criaram dificuldades (p. ex. o automóvel nos deu liberdade de deslocamento mas gerou engarrafamento de trânsito e poluição urbana). Eu mesmo já escrevi neste site alertando para o perigo que algumas tecnologias podem representar e os cuidados que precisamos ter com elas (ver mais). 

Mas, há coisas fantásticas em novas tecnologias, como as redes sociais. Vou dar um exemplo que ilustra isso. Tempos atrás atrás um pastor apareceu com um câncer muito agressivo. E sua igreja se mobilizou em oração, para ajudá-lo a enfrentar essa terrível dificuldade. Um dos membros teve uma ideia brilhante: instalou no celular do pastor um aplicativo que os membros da sua igreja também tinham. Cada vez que um membro orava pelo pastor, ele/a acionava o aplicativo e o celular do pastor fazia um pequenos apito.

E assim, dia e noite, o pastor foi sendo continuamente avisado, por inúmeros apitos, que sua comunidade estava junto com ele, em oração. O pastor acabou ficando curado e testemunhou como essa experiência de receber os apitos, dia e noite, foi importante para lhe dar forças em sua batalha diária. 

Se quiser continuar a ser relevante no mundo em que vivemos, a igreja cristã vai ter que se adequar ao uso das novas tecnologias, como as redes sociais, e não criar resistências desnecessárias à sua difusão. O grupo religioso amish se recusa a aceitar os avanços tecnológicos, vivendo hoje como se estivesse no século XIX. E eles têm enorme dificuldade de reter os jovens nas suas comunidades e se tornaram irrelevantes no mundo moderno. 

Com carinho

2 comentários:

  1. Existem muitos recursos para Igrejas, como por exemplo o software para automação para Igrejas Evangélicas Shalom 5.2, com mais de 30 modelos de carteirinhas, certificados, cartas, cadastro de membros com foto etc.

    http://www.4freires.com.br

    ResponderExcluir