quarta-feira, 23 de agosto de 2017

OS NOSSOS HÁBITOS

Há um livro muito interessante chamado “O poder do Hábito”, escrito por Charles Duhigg, falando sobre a ciência da formação de hábitos, aplicável tanto às pessoas, como às organizações e à sociedade em geral. 

A verdade é que o ser humano é um “animal” de hábitos e isso é confirmado por inúmeros estudos. Todas as pessoas têm hábitos e em algumas pessoas isso fica mais evidente, especialmente quando chegam à velhice. 

Nos últimos anos de sua vida, meu pai sempre almoçava no mesmo restaurante, no centro do Rio de Janeiro, sentava-se à mesma mesa, sempre por volta de 12:30 hs e comia a mesma coisa. Quando mais jovem, ele não era tão sistemático assim, embora sempre tenha tido hábitos marcantes. Com a chegada da idade, os hábitos passaram a dominar seu comportamento. 

A ciência do marketing há muito tempo percebeu a tendência do ser humano a ter hábitos e tem usado esse conhecimento para gerar bons lucros para as empresas. 

Um exemplo clássico é o de Claude Hopkins, publicitário que foi fundamental para que o povo americano criasse o hábito de escovar os dentes todos os dias. 

Por mais de uma década, sob orientação desse publicitário, a pasta de dentes Pepsodent foi constantemente anunciada numa campanha de publicidade estrelada por artistas de cinema famosos, que davam testemunho das vantagens de escovar os dentes para ter um sorriso bonito e um hálito agradável. 

Nesse curto período de tempo, mais da metade da população norte-americana adquiriu um hábito que não tinha (escovar os dentes) e tal hábito foi se tornando mais e mais popular com o correr do tempo - somente depois vieram as pesquisas científicas comprovando a vantagem da escovação para manter a saúde dos dentes. 

O marketing moderno faz extenso uso da ciência que estuda a formação de hábitos, levando em conta, inclusive, os mais modernos estudos neurológicos que procuram entender os processos mentais por trás da formação dos hábitos, permitindo a criação de técnicas visando conseguir, quando necessário, alterar hábitos ou mesmo substituí-los por outros. 

E todo esse conhecimento é usado em todo tipo de situação, desde a propaganda de novos produtos, até a definição de políticas públicas pelos governos. 

Anatomia dos hábitos
Os estudos mostram que há três componentes na formação de qualquer hábito: gatilho, recompensa e sinal. O gatilho é aquilo que aciona o comportamento habitual (hábito). 

Por exemplo, os fumantes sempre relatam que beber café traz vontade de fumar. No caso do hábito de escovar dentes, o gatilho é o mau hálito - vale lembrar que, durante boa parte da história da humanidade, ninguém se preocupou com o mau hálito próprio ou das outras pessoas, pois todo mundo tinha hálito ruim. 

A recompensa, na formação de um hábito, é aquilo que traz benefício para a pessoa. No caso do cigarro, trata-se do prazer que o viciado sente quando a nicotina chega ao seu cérebro. No caso da pasta de dentes, há duas recompensas, a propaganda estabeleceu duas recompensas: o sorriso mais bonito e o hálito mais fresco. 

O sinal indica que a recompensa foi alcançada. Por exemplo, no caso do uso da pasta de dentes, costuma haver um leve ardor demonstrando que o produto "funcionou" bem - esse ardor não tem nada a ver com a qualidade do produto em si, mas é importante para sinalizar para as pessoas que o produto funcionou. Estudos mostraram que as pessoas acham que as pastas de dente que tem o tal ardor são consideradas mais eficientes. 

Os hábitos cristãos
Os(as) cristãos(ãs) também acabam por criar hábitos relacionados com sua vida espiritual e é natural que façam isso. E Deus conhece bem essa característica humana, pois foi Ele quem nos criou. 

E não é por acaso que Deus sempre procurou incentivar a formação de hábitos espirituais pelas pessoas. Exemplos clássicos, no Velho Testamento, são as orações diárias, os sacrifícios e as festas que o povo judeu tinha. 

As orações diárias lembravam às pessoas quem elas eram e sua relação com Deus. Já os sacrifícios, apontavam para seus pecados e a necessidade de purificá-los. As festas (Páscoa, Dia do Perdão, etc) criaram o hábito de comemorar momentos importantes da história de Israel (como a saída do povo da escravidão no Egito), mantendo viva memória do que Deus tinha feito por esse povo. 

No Novo Testamento, Jesus agiu da mesma forma. O melhor exemplo é o hábito que Ele estabeleceu, para o povo cristão de tomar periodicamente a comunhão (pão e vinho). Tal cerimonial tem por objetivo fazer com que o povo cristão nunca se esqueça do sacrifício de Jesus na cruz. 

O gatilho para o hábito de tomar a comunhão (Santa Ceia) é conscientização das pessoas que são pecadoras. Essa é a razão porque a liturgia do culto cristão sempre tem uma parte que pede as pessoas para se autoanalisarem, tomarem consciência dos seus pecados, arrepender-se deles e pedir perdão a Deus. 

Porque ao se perceber pecadora, a pessoa anseie pela Santa Ceia. Em outras palavras, a consciência do pecado faz com que a pessoa procure a “cura”, o sacrifício de Jesus, que abre as portas para a reconciliação das pessoas com Deus. 

E essa "cura" é a recompensa do hábito de tomar a Santa Ceia. E isso se traduz na paz de espírito e no alívio que a pessoa passa a sentir ao se sentir perdoada.

Finalmente, o sinal de que a recompensa está sendo alcançada é o ato de comer o pão e beber vinho. E é exatamente por isso que a Santa Ceia envolve um ato físico na Santa Ceia e não é uma cerimônia totalmente simbólica. 

Quando as pessoas sentem o gosto desses elementos nas suas bocas, seus cérebros recebem a mensagem de que elas estão participando da Graça de Deus. 

Há outras práticas, também instituídas por Jesus, buscando criar outros hábitos espirituais para o povo cristão. Por exemplo, Jesus ensinou a oração do Pai Nosso, atendendo um pedido feito pelos seus discípulos. 

O objetivo dessa fórmula pronta é facilitar o hábito de orar, extremamente importante para a vida espiritual das pessoas. E podemos usar o mesmo tipo de análise anterior para facilitar o entendimento da razão para haver diversas práticas acompanhando a oração, como fechar os olhos, concluir a oração “no nome de Jesus” e assim por diante. E o mesmo pode ser dito de outros hábitos espirituais, como louvor, meditação ou jejum. 

A teologia apelida esse conjunto de hábitos de "disciplinas espirituais" e aponta que todos são fundamentais para o crescimento espiritual das pessoas. Aqui no site eu falo sobre cada uma dessas disciplinas - basta você procurar. Também há vídeos do Rogers e da Alicia sobre o mesmo tema. 

Concluindo, hábitos espirituais são muito importantes para a vida espiritual das pessoas e precisam ser incentivados e mantidos. Afinal, não vivemos sem nossos hábitos...

Com carinho

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