segunda-feira, 10 de abril de 2017

CUIDADO COM OS TRUQUES USADOS PARA DISTORCER UM DEBATE

Já assisti muitos debates - políticos, religiosos, esportivos, etc. E participei diretamente de outros.

Debates são positivos, desde que conduzidos de forma educada e respeitosa, pois são bons instrumentos para testar e transmitir ideias, sendo essenciais para a vida democrática e até para a liberdade religiosa.

Jesus, nossa referencia para tudo na vida, também participou de debates, especialmente com fariseus e doutores da Lei, pessoas que não concordavam com as ideias d´Ele e fizeram tudo para desacreditá-lo. Ele nunca se furtou a discutir suas ideias, como também sempre deixou clara sua discordância quanto àquilo que pensava ser errado.

As redes sociais aumentaram o espaço para os debates na vida moderna - antes as pessoas tinham que debater pessoalmente, agora basta um clique no Facebook. E isso é bom, embora às vezes canse um pouco, pois frequentemente ocorrem excessos.

Normalmente, as pessoas não sabem debater - atropelam as outras com suas ideias ou tornam-se agressivas, quando contestadas. É comum que elas levem a discordância para o lado pessoal - pensar diferente torna-se uma ofensa. E não por acaso, muitas amizades foram rompidas nesses últimos tempos, em que a luta política no Brasil se acirrou. 

Também são comuns as agressões à lógica - por exemplo, veja os comentários aqui no site, em resposta a alguns das minhas postagens polêmicas, como aquela em que questiono o ateísmo. 

Todos(as) os(as) cristãos(ãs) precisam aprender um pouco mais sobre como participar e/ou analisar um debate, pois vão viver essa situação em muitos lugares, ao discutirem dúvidas teológicas nas suas igrejas ou ao defenderem o cristianismo contra ataques injustos. Daí minha motivação de escrever este texto.

A melhor forma para fazer isso é conhecer bem quais são os cinco truques que os(as) debatedores(as) costumam usar para fazer seu ponto de vista prevalecer. Eles agridem a lógica, sem dúvida, mas as pessoas com menos experiência têm dificuldade de perceber isso. Os cinco truques são: 

1. Confundir eventos sucessivos com relação de causa/efeito
Um exemplo simples explica isso bem: todo dia o galo canta quinze minutos antes do sol nascer. Mas, não é verdade que o sol nasce porque o galo canta.

O galo sempre canta antes do sol nascer - o canto é o aparecimento do sol são eventos sucessivos -, mas não há relação de causa e efeito entre as duas coisas.

É claro que muitas vezes duas coisas que se sucedem tem relação de causa e efeito - por exemplo, um jogador chuta a bola e ela entra no gol. O chute vem antes porque é ele que faz a bola se movimentar. Mas, nem sempre isso é verdade, como o exemplo do galo demonstrou. 

Esse tipo de confusão é muito comum no meio cristão e causa grande estrago. Por exemplo, a pessoa cometeu um erro sério e pouco tempo depois apareceu um problema na vida dela. Aí muita gente na igreja daquela pessoa monta uma relação de causa e efeito entre as duas coisas: o novo problema na vida da pessoa é castigo pelo erro cometido. O erro é a causa e o problema o efeito.

Ora, sem outras evidências, ninguém pode tirar tal tipo de conclusão. Pode ser simples coincidência. Simples assim.

2. Atacar o caráter da pessoa e não sua ideia
Normalmente, quando alguém tem argumentos mais fracos, procura compensar atacando o caráter da pessoa com quem está debatendo. Vemos isso com muita frequência nos debates políticos: Por exemplo, políticos de esquerda encurralados imediatamente acusam o(a) oponente de fascista, elitista ou de não pensar nos pobres, etc. Os de direita, quando na mesma situação, acusam o adversário de irresponsáveis com os gastos públicos ou demagogos(as).

Os cristãos também fazem uso desse recurso, quando acusam a pessoa de quem discordam de ser herege e/ou fazer a obra de Satanás. Atacam a pessoa e não as ideias dela.

3. Criar um "espantalho" 
Trata-se de repetir a tese do oponente mas de forma ligeiramente diferente daquela que foi originalmente apresentada. E essa distorção sutil pode fazer toda a diferença, tornando mais fácil rebater a ideia da qual não se gosta. 

Por exemplo, num caso hipotético, João diz que é contra a pichação feita sem autorização. Aí Pedro muda um pouco as coisas, chamando pichação de grafite e dizendo que se trata de uma manifestação cultural popular.

Ora, é mais fácil criticar quem se opõe a uma manifestação cultural popular (o "espantalho" desse caso) do que quem é contra uns rabiscos feitos sem autorização, danificando o patrimônio de terceiros (a pichação). 

Esse tipo de recurso é usado com frequência contra o cristianismo, que é apresentado pela imprensa como intolerante e defensor de crenças absurdas. O dízimo, por exemplo, costuma ser apresentado pela mídia como uma exploração de pessoas ignorantes (os cristãos) promovida por pastores(as) desonestos. Cria-se um "espantalho" (a exploração dos indefesos) para tornar mais fácil atacar a ideia (a prática do dízimo).

Quem faz isso nunca comenta que o dízimo objetiva dar sustento à obra de Deus e financiar a ajuda aos menos favorecidos. Boa parte dos cristãos entende isso perfeitamente e não se sente de forma alguma explorada - é claro que há pastores(as) inescrupulosos(as), mas isso tem a ver com o caráter dessas pessoas e não com a prática do dízimo.

4. Fazer falsa analogia
Muitas vezes um dos participantes do debate faz uma analogia interessante e até engraçada que parece destruir o argumento da outra pessoa. Mas, na verdade, a analogia não se enquadra bem na situação sendo discutida. Quase todo mundo usa esse recurso, incluindo os cristãos.

Certa vez, ouvi um debate onde um cristão e um ateu discutiam a teoria da evolução (darwinismo). O ateu defendia que as mutações que geram mudanças nos organismos vivos se dão por acaso, não sendo preciso recorrer a uma inteligência superior (Deus) para explicar o que acontece. 

Aí o cristão, querendo justificar que tudo é parte de um plano de Deus, fez uma analogia, comparando as mutações dos seres vivos com as mudanças que ocorrem periodicamente nos modelos de carros, que são sempre planejadas pelos projetistas de automóveis. Ora, mudanças em carros são muito diferentes de mutações em seres humanos - uma coisa tem pouco a ver com a outra. A analogia, embora interessante, distorceu completamente o debate. 

5. Criar falso dilema
Trata-se de apresentar a situação como uma escolha simples entre duas alternativas, sem qualquer possibilidade de haver um meio termo. Essa é uma estratégia muito usada por políticos(as).

Por exemplo, um político afirma que as alternativas para resolver o problema do deficit público são cortar gastos públicos, provocando recessão, ou ver a inflação aumentar, pela necessidade do governo imprimir dinheiro para financiar esse deficit. O falso dilema é "recessão" ou "mais inflação". Podemos escolher, mas somente entre um e outro.

Ora, é possível controlar a inflação sem provocar recessão, pois há alternativas intermediárias - muitos governos já conseguiram fazer isso. Por exemplo, é possível melhorar a produtividade da mão-de-obra, dando-lhe melhores equipamentos para trabalhar e/ou educando-a melhor. As pessoas passam a produzir mais com os mesmos recursos, ou seja nem se faz recessão e nem se produz inflação.

Quem cria o falso dilema procura forçar a escolha da opção que prefere, ao apresentá-la como o menor de dois males. No exemplo acima, o político tenta influenciar os(as) eleitores(as) a concordar com o aumento da inflação, para evitar a recessão (isso aconteceu durante muito tempo no Brasil).

Cristãos(ãs) também usam esse recurso, por exemplo quando afirmam que se a pessoa fizer tal coisa estará praticando o bem, enquanto se fizer o contrário, estará pecando. Por exemplo, um líder cristão diria: "dar é sempre bom e não dar é pecado".

Esse é um falso dilema, pois a Bíblia diz que dar dinheiro para quem precisa é bom, mas apenas quando isso é feito com amor. Se a pessoa doa para ganhar elogios, estará pecando. E também há situações em que dar é mal - por exemplo, se a doação for usada para comprar drogas. 

Palavras finais
Procure se familiarizar com o que expliquei acima e tente aplicar o que aprendeu quando participar ou assistir um debate de ideias. Certamente você vai se surpreender com a mudança na forma como vê as coisas. 

Com carinho

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