domingo, 30 de abril de 2017

NEM SEMPRE VOCÊ COLHE O QUE PENSOU TER PLANTADO


A "lei da causa e efeito" é bem conhecida por todo mundo: ela estabelece que se há um efeito, certamente houve uma causa para ele. Assim, se uma porta bateu (efeito), houve uma rajada de vento (causa). Se alguém ficou gripado (efeito), é porque foi contaminado por uma bactéria ou um vírus (causa). 

E a própria Bíblia parece concordar com isso quando afirma que quem semeia ventos [dá causa], colhe tempestades [sofre o efeito do que fez]. Até aí tudo bem.

O problema está no fato que as pessoas costumam inverter a ordem das coisas: quando percebem determinado efeito, concluem que a causa necessariamente esteve presente. E isso às vezes funciona: por exemplo, se uma porta bateu sozinha, é razoável imaginar que houve uma rajada de vento, mesmo que ninguém tenha sentido ou ouvido nada. Não é possível ver a olho nu uma bactéria ou um vírus, mas se a pessoa pegou uma gripe dá para concluir que um desses micro-organismos esteve presente.

Em outras palavras, muitas vezes é razoável concluir que, se há uma tempestade na vida de alguém foi porque essa pessoas semeou ventos que não devia ter plantado. Ela deu motivos para os problemas que está passando.

Mas, nem sempre é assim e a Bíblia demonstra isso com clareza: às vezes, a pessoa colhe aquilo que não plantou. Ela não deu causa para o problema que está vivendo.

O livro de Jó (capítulos 2 a 7) conta a história de um homem justo e temente a Deus. Aí Satanás pediu permissão ao Criador para colocar dificuldades na vida de Jó, para testar se ele continuaria a agir corretamente. Deus permitiu que o teste fosse feito e a vida de Jó deu uma reviravolta completa.

Repare que, nesse caso não houve qualquer relação entre aquilo que Jó tinha feito e os problemas que passou a enfrentar. Houve sim uma causa para os problemas de Jó, mas ela foi externa: Jó não plantou ventos, mas ainda assim colheu tempestades.

É interessante lembrar que o relato bíblico fala que Jó foi visitado por quatro amigos. O problema é que eles acreditavam piamente na tese que "se havia tempestade na vida de Jó é porque ele semeara ventos". E ficaram longo tempo tentando convencer Jó a reconhecer pecados ("os ventos semeados") que ele não tinha cometido. O pobre do Jó, além de lidar com uma grande quantidade de problemas, ainda se viu pressionado a reconhecer uma culpa que não tinha - não sei como não enlouqueceu. 

Talvez o melhor exemplo que eu possa dar que nem sempre colhemos aquilo que plantamos é a Graça de Deus. Se não fosse por ela, caracterizada pelo sacrifício de Jesus numa cruz, ninguém herdaria a vida eterna, pois todo mundo peca. Se as pessoas fossem tratadas por Deus como merecemos, ninguém seria salvo(a).

A Graça de Deus nada tem a ver com a "lei de causa e efeito", pois dá às pessoas algo - a salvação - para o que não tiveram qualquer mérito. Em outras palavras, as pessoas "colhem" aquilo que não "plantaram" de fato. 

Eu queria destacar três ensinamentos que decorrem dessa discussão. O primeiro deles é que, ao perceber um problema na vida de uma pessoa, não tire a conclusão que ela fez por merecê-lo, por conta de um pecado ou qualquer outra atitude errada. 

O segundo ensinamento que quero deixar aqui é o seguinte: nem sempre os esforços de uma pessoa são adequadamente recompensados. Às vezes a pessoa planta e não colhe na medida em que plantou, pois fatores que não dependem dela podem atrapalhar a colheita. Como exemplo, basta comparar o que ganham, no Brasil, um bom jogador de futebol e uma boa professora. 

O terceiro e último ensinamento é que o sucesso não é sinônimo de mérito. Afinal, as pessoas podem receber recompensas da vida que não fizeram por merecer, pois apenas estavam no lugar certo, na hora certa. Um bom exemplo é uma grande herança que chega inesperadamente. 

Concluindo, é preciso ter mais humilde ao analisar as situações que encontramos no dia-a-dia. Sabemos muito menos das coisas do que imaginamos. Podemos ver mérito onde ele não existe de fato ou ver pecado onde tal erro não aconteceu.

E sempre precisamos levar em conta que a lógica de Deus é muito diferente da lógica humana - coisas como Graça, perdão, amor ao próximo, não fazem qualquer sentido num mundo estritamente baseado na "lei de causa e efeito". Mas, fazem todo sentido para Deus. 

Com carinho

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